27.5.14

QUANDO OS ESPÍRITAS SE ENCONTRAM COM A SOCIEDADE




O movimento espírita de Juiz de Fora realizou neste último sábado o 9º. Fórum Espírita. Seiscentas pessoas, aproximadamente, acomodaram-se confortavelmente no salão do Clube Tupi, para debater com três conferencistas sobre o tema morte.
A entrada, em uma grande antessala, onde também foram servidos os coffee-breaks chamava a atenção pelo clima de reencontro e alegria. Pessoas das mais diferentes casas espíritas da cidade participaram da organização e muitas pessoas de fora, beneficiaram-se do evento. 



Uma exposição de fotos das casas espíritas da cidade compôs um grande painel, onde alguns participantes paravam para identificar as sua ou trocar lembranças com outros interessados.

Fui apresentado a uma simpática pesquisadora que chegou recentemente da Alemanha, e que fez parte da equipe que investigou o funcionamento cerebral de médiuns pintores, com neuroimagem. Vi a juventude e a seriedade da colega, e recordei-me de quando era mais jovem, tentando provocar os médicos  espíritas da época a estudarem com eletroencefalografia o transe mediúnico. À época eles julgavam a técnica pouco produtiva, mas o avanço da tecnologia, aliado à coragem acadêmica, nos presentearam com novos horizontes para a investigação da mediunidade e do espírito.



A palestra da manhã, feita pelo Dr. Alexander Moreira-Almeida, médico psiquiatra, apresentou o método de Kardec para a pesquisa da vida após a morte e as pesquisas que se fazem em nosso tempo de hoje. Rica em citações e referências, abriu um universo de leitura para quem deseja informar-se mais das tentativas do homem retirar o véu que cobre o segredo da grande viagem. As perguntas iniciaram-se ligadas ao tema, mas em pouco tempo o público dirigiu questões para o psiquiatra, esquecendo-se do tema central do fórum, mas procurando ouvir algo sobre suas dores e conflitos íntimos.



À tarde, apresentamos um trabalho sobre o processo de morrer e os relatos dos espíritos, colhidos pela mediunidade dos colaboradores de Kardec, pelas pessoas que informaram Camille Flammarion e pelos espíritos que continuam usando a psicografia hoje como canal de comunicação entre dois mundos. Temas diversos, como as mortes violentas, e dentre elas o suicídio, foram tratadas e tocaram as pessoas. O caso de Daniela ilustrou bem este tema nada fácil. Lembrei-me dos estudos que papai fazia sobre o tema, décadas atrás e da curiosa desencarnação de minha avó, que compartilhei com o público. Papai estaria presente? Se estivesse sentiria um pouco de nostalgia dos tempos de trabalho com o movimento espírita e lembrar-se-ia das muitas vezes que estivemos juntos ao redor do tema da morte e do morrer.

As perguntas foram francas, diretas e algumas, apesar do nosso apelo ao público, muito pessoais. Enquanto algumas perguntas vinham direto do intelecto, outras vieram diretamente do coração dolorido pela perda ou pelo sofrimento. Perceber o caráter consolador do espiritismo é tocante. Agradeço à ajuda de dois mundos pela inspiração das respostas. Sozinho não conseguiria perceber o significado profundo das perguntas que chegavam aos borbotões.



Após a palestra dirigimo-nos a uma mesinha simpática, para autografar  os nossos O observador e outras histórias e Casos e descasos na casa espírita. Os interessados formaram uma fila, sempre recebidos pela Julieta, nosso “anjo da guarda”, para autógrafos. Rapidamente, nos abraçavam, contavam suas histórias, trocavam impressões. Víamos pessoas de diversos lugares, presentes por diversos motivos, interessados em romper com o tabu, e algumas delas em lidar com as dores, as perdas de seres muito queridos que as anteciparam na grande viagem.

A fila continuava mesmo com o final do intervalo, o que não nos possibilitou assistir ao trabalho de Angélica Maia, sobre “educação para a morte”. Impossível deixar as pessoas que nos procuravam e que esperavam pacientemente sua hora de colher o autógrafo e compartilhar alguma coisa. Terminada a fila, outro compromisso. Uma entrevista para a tradicional revista “O médium”, que tantas histórias e reflexões trouxe ao movimento espírita ao longo de muitas décadas. Há um projeto de voltar a imprimi-la. Seguiu-se diálogo rico, com um jornalista bem informado e perspicaz. A palestra da Angélica ficou mesmo para uma próxima oportunidade.



As pessoas encomendaram os DVDs do evento e pude abraçar ainda uma família querida meio belorizontina e meio juiz-forana, que participava entusiasmada da organização do evento. O fórum será levado a outros, que não puderam estar presentes.



Perdoe o leitor por tantas observações pessoais, mas penso que só assim poderia transmitir o sentido de um evento  tão trabalhoso como este, que envolve tantos trabalhadores voluntários e participantes. Meses de organização se justificam, não apenas pelo conhecimento que se veicula, mas pelo encontro, esta coisa tão fora de moda, tão ofendida pela comunicação rápida dos tablets e celulares.

10.5.14

DESENCARNA LUCIANO DOS ANJOS (03/05/2014)



Não conheci pessoalmente o Luciano dos Anjos. Tive um contato breve, cordial e distante, pela internet. Eu havia escrito um trabalho sobre a identidade de André Luiz, mostrando a falta de evidências para a tese de ele ser Oswaldo Cruz ou Carlos Chagas (este último, conhecido pessoal da minha família). Luciano defendia outra identidade para André Luiz. A partir deste contato, vez por outra, Luciano dava notícias e de ordinário envolviam polêmicas.

Apaixonado pelo espiritismo e defensor das ideias de J.B. Roustaing, Luciano tinha um verbo forte, era conhecido pelos textos duros que publicava, doesse a quem doesse. Após afastar-se da FEB, com o final da gestão de Armando de Oliveira Assis, que admirava, ele trabalhou muitos anos em um pequeno grupo de estudos, que denominou “Grupo dos Oito”.

Da sua produção bibliográfica, “O atalho” é um livro curioso, no qual faz uma análise pessoal do movimento espírita e das instituições espíritas contemporâneas. Como era amigo das polêmicas, defendeu ideias próprias, independente da organização do movimento.

Fez uma defesa contundente da mediunidade de Divaldo Franco, no seu livro “A anti-história das mensagens co-piadas”.  Outro livro importante, no qual participou como personagem central e coautor, foi “Eu sou Camille Desmoulins”, no qual ele participa de sessões de regressão de memória e passa a relatar uma suposta encarnação passada como um dos atores sociais de destaque na Revolução Francesa. As sessões foram conduzidas por Hermínio Miranda, que gravou e analisou os resultados da hipnose induzida por passes.

Uma de suas últimas ações de notoriedade pública foi uma ação que moveu contra a mudança do estatuto da Federação Espírita Brasileira, que iria, entre outras transformações, retirar um parágrafo que colocava como papel da federativa a “obrigatoriedade do estudo dos Quatro Evangelhos” [de Roustaing]. Ele alegou que se tratava de uma cláusula pétrea, não podendo ser retirada dos estatutos, mas a última informação que recebemos foi de um acórdão do Tribunal de Justiçado Rio de Janeiro posicionando-se à favor das mudanças do estatuto pela assembleia, como se pode ler no link a seguir: http://www1.tjrj.jus.br/gedcacheweb/default.aspx?UZIP=1&GEDID=00048D6CB18F2361140253909B2FF41A8298C502352D0804


Luciano publicou alguns livros sobre Roustaing, como “Jean-Baptiste Roustaing - O Missionário da Fé” e “Para entender Roustaing”. Ele tem alguns títulos de lançamento previsto para 2014, esperamos que a desencarnação não impeça que estes trabalhos venham à luz. Sua personalidade ímpar deixou marcas no movimento espírita brasileiro, desejamos que ele encontre o apoio espiritual que merece na nova vida que inicia e dirigimos à família um abraço afetuoso.

7.5.14

O PERÍODO RELIGIOSO




Dezembro de 1863. Allan Kardec dava mostras de alguma tristeza quando publicou  “Período de Luta” na Revue Spirite. Os últimos anos não haviam sido fáceis. Após o acolhimento inicial de seu primeiro livro espírita, diversos grupos começaram a se organizar pela Europa ou a enviar correspondências para o autor da boa notícia. Queriam trocar informações, queriam orientações de funcionamento, queriam diálogo. Os anos subsequentes ao abril de 1857 foram muito frutuosos, e ele havia revisto e ampliado “O livro dos espíritos”, publicado um livro introdutório para os iniciantes, impresso um guia, espécie de manual, que explicava o que é mediunidade e como organizar sessões experimentais. Sua maior realização, entretanto, havia sido a publicação de uma revista mensal, para a qual não faltavam assinantes de diversas partes do continente e fora dele.

Após o sucesso inicial do Espiritismo, termo que ele cunhou para distinguir a doutrina desenvolvida em diálogo com Espíritos que comunicavam através de médiuns, Kardec começou a enfrentar as críticas e até pequenas agressões verbais que surgiam de diferentes segmentos da sociedade. A princípio ele acreditava que o estudo científico-filosófico da vida após a morte poderia ser uma alternativa ao desgastado pensamento religioso, e que religiosos de diversas designações poderiam se interessar e tornarem-se estudiosos dos ensinamentos espirituais.

A igreja, contudo, havia dado o que considerava ser um golpe de misericórdia na doutrina nascente: inserira no index prohibitorum seus dois livros mais populares, fechando as portas do Espiritismo aos católicos fiéis. A Europa, contudo, já não era mais o grande feudo cultural do século XVI, e os livros continuavam sendo procurados, as assinaturas continuavam chegando, a correspondência aumentava.

Após tanto desgaste pessoal, e diante do aumento de trabalho, entrevendo a dificuldade das instituições antigas reverem seus dogmas e abrirem mão de seu poder secular, Kardec comunica em apenas uma linha que reveria a linha de trabalhos adotada até então:

“A luta determinará uma nova fase do Espiritismo e levará ao quarto período, que será o período religioso.” 

Em apenas quatro meses, um novo livro seria publicado: Imitação do evangelho segundo o espiritismo, que na segunda edição já apresentava o título que o transformaria no livro mais vendido de Kardec nas terras brasileiras, ao longo dos séculos XX e XXI. Kardec começa a publicar sobre o cristianismo e o Cristo, dando bases a uma proposta ética do movimento nascente.


Dali para o futuro, todos os livros passariam a tratar diretamente dos ensinamentos de Jesus à luz do conhecimento espírita. Estava consolidado o período religioso.

2.5.14

PRIMEIRO ENCONTRO REGIONAL DA LIHPE - UBERABA-MG


Local: Universidade Federal do Triângulo Mineiro - Uberaba-MG
Data: 17 de maio de 2014 - das 8:30 às 17:30 horas
Coordenação: Prof. Ozíris Borges Filho
Organização: PET-Letras da UFTM e Coordenação da LIHPE

Trabalhos já confirmados

Dr. Alexandre Caroli Rocha - O Caso Humberto de Campos: autoria literária e mediunidade
Ms. Cíntia Alves Silva - Autoria, edição e veridicção: uma análise semiótica das cartas de Chico Xavier
Dr. Jáder Sampaio - Pesquisas Atuais sobre a mediunidade
Dr. Ozíris Borges Filho - O lá e cá de Augusto dos Anjos
Dr. Adilson Assis - Uma leitura espírita do diálogo "Íon" de Platão
Mestrando Luiz Fernando Bandeira de Melo - Religião e mediunidade de Sócrates em Platão
Tatiana de Souza F. Marchesi - A espacialidade em Nosso Lar
Rodrigo Junqueira Souto - A construção do espaço em "A Casa do Escritor", de Patrícia

Taxa de inscrição: 25 reais


Mais informações podem ser obtidas em:
http://erlihpeminas.blogspot.com.br/
http://lihpe.net