28.3.15

NOVO PRESIDENTE DA FEB ELEITO EM MARÇO DE 2015




O Conselho Superior da Federação Espírita Brasileira elegeu no último dia 22 de março de 2015 o Sr. Jorge Godinho Barreto Nery como seu novo presidente.

Jorge Godinho é Tenente Brigadeiro do Ar da reserva da aeronáutica, tendo ocupado diversos cargos em sua trajetória profissional, inclusos o de Diretor Geral do DAC, Chefe do Estado Maior da Aeronáutica e Conselheiro Militar na Conferência de Desarmamento Mundial da Organização das Nações Unidas, em Genebra. O novo presidente optou por omitir estes cargos e títulos nas comunicações oficiais, preferindo apresentar sua "folha de serviço" como espírita.

A trajetória espírita de Jorge Godinho pode ser vista em  http://nrsp.nl/wp-content/uploads/2013/11/Godinho.pdf Ele foi presidente do Centro Espírita Léon Denis – CELD, no Rio de Janeiro na década de 70. Este grupo é muito conhecido pela ação proativa na divulgação do espiritismo e publicação de obras de estudo e memória do movimento.

A experiência com o movimento espírita europeu (Suíça, Holanda, Itália e Áustria) e a direção do Grupo de Apoio e Assistência aos Povos da África (GRAAPA) podem significar um cuidado da Federação com o apoio às organizações espíritas do exterior. Quase todos os vice-presidentes e diretores da gestão de Antônio César Perri de Carvalho estão mantidos em seus cargos, segundo informe da própria Federação. http://www.febnet.org.br/blog/geral/noticias/eleito-novo-presidente-da-feb/

Em sua fala inicial, o novo presidente não apresenta ainda um projeto de trabalho para os próximos anos, limitando-se a convocar aos espíritas para:

“...colocarmos o Evangelho como roteiro; mantermos a consciência tranquila como consolo; esquecermos o mal como  estratégia; e utilizarmos a prece como fortaleza.


O Espiritismo Comentado deseja sucesso para a nova direção da Federação.

26.3.15

RELAÇÃO ENTRE CENTROS ESPÍRITAS E ÓRGÃOS DO ESTADO




Desde Kardec, na sua "Constituição Transitória do Espiritismo" (1868), encontramos preocupações com a ação organizada dos espíritas na sociedade. O fundador francês pensava em uma comissão central que, entre muitas ações de ordem cultural (museu, biblioteca, etc.), também teria por objetivos a construção de um dispensário (semelhante aos nossos postos de saúde atuais), um asilo e  uma caixa de socorros e previdência. Eles seriam construídos a partir da doação de recursos, que criariam um fundo financeiro e o rendimento deste seria utilizado para a manutenção dos órgãos sociais. 

No Brasil a história do movimento espírita está muito marcada com a construção de instituições de saúde, assistência social, cuidado e educação. Geralmente são laicas e públicas e voltadas à população de baixa renda, ao contrário do que pensa o senso comum, que crê terem por objetivo a conversão das pessoas, talvez por associarem fantasiosamente nossas instituições com igrejas que têm por missão a conversão. 

Aos poucos o legislador no Brasil foi percebendo a necessidade de incentivar-se este tipo de iniciativas sociais, e de tomar cuidados para que não haja desvio de recursos por estas instituições. Os três poderes têm recursos e interesses na manutenção de instituições de ação social, porque é mais fácil e econômico apoiar o que já existe que construir infra-estrutura e aumentar os quadros de servidores públicos do Estado, hoje limitados pela lei de responsabilidade social dos gestores.

Há diversas formas de se conseguir apoio do Estado: o reconhecimento da utilidade pública (municipal, estadual e federal) assegura imunidade (a proibição do Estado cobrar impostos) e diversas isenções e reduções de taxas de serviços. Os três poderes podem dar recursos financeiros através de subvenções, convênios e, mais recentemente, termos de parceria (que são convênios simplificados, mas exigem que a organização se qualifique como organização da sociedade civil de interesse público - OSCIP).

Com a formalização destes instrumentos de gestão em nossa sociedade, houve pessoas desonestas que enxergaram nesta possibilidade um caminho de obtenção ilícita de recursos. Isso criou um grande alvoroço no legislativo, cuja fala informal e inconsequente de nossos representantes criou o termo "pilantropia", o que aumentou não apenas os cuidados do Estado com seu controle,  mas criou uma "aura" preconceituosa em torno das parcerias entre organizações do terceiro setor e os órgãos do estado.

No movimento espírita (pelo menos no mineiro) a relação com os órgãos do estado sempre foi vista com muita cautela, porque os dirigentes se preocupam em depender do estado e, de repente, ter o repasse de recursos atrasado ou circunstanciado, ou ainda ter que criar toda uma área-meio, burocrática, para atender as exigências dos órgãos parceiros. Houve sempre uma preocupação saudável em deixar as instituições espíritas à larga dos compromissos políticos partidários, ou pior, "devendo favores" a candidatos, que costumam "cobrar" em votos, no período eleitoral.

Cautelas à parte, penso que nas últimas décadas houve uma proximidade maior com o poder público, mesmo porque, o Estado Brasileiro foi assumindo responsabilidades sociais. No caso das creches, por exemplo, elas se tornaram uma atribuição das prefeituras, mas em uma cidade grande como Belo Horizonte, não há como construir uma rede de creches que atenda a centenas de milhares de crianças em idade pré-escolar em curto espaço de tempo. Da mesma forma, fica muito caro às sociedades espíritas a manutenção de educação infantil de qualidade, atendendo a todos os avanços de que foram sendo objeto. 

Precisamos conhecer mais e melhor estas iniciativas, para viabilizarmos honestamente um trabalho de promoção social que efetivamente dê resultados nas comunidades em que nos encontramos, até que o Estado Brasileiro seja capaz de cumprir seu papel sem necessitar da parceria com o terceiro setor, o que não parece ser algo viável nas próximas décadas.


25.3.15

COMO PESQUISAR NO ESPIRITISMO COMENTADO



O Espiritismo Comentado está comemorando em março, oito anos de publicações, comentários e diálogos muito ricos sobre seu tema central. Foram até agora quase 850 matérias sobre assuntos diversos, quase 490 mil visualizações, acessos de 123 países (27 deles fizeram 50 ou mais acessos registrados pelo flagcounter)

Nesse meio tempo, comentamos um grande número de livros espíritas que lemos e consideramos que vale a pena conhecer, como uma forma de tentar quebrar a resistência pelo novo que se instalou no movimento espírita, em função de um grande número de livros escritos com informações contraditórias e isoladas, recentemente. Outra frente de trabalho foi o resgate de autores já desencarnados, que aos poucos vão sendo esquecidos, pela falta de mídia ou pela falta de discussão sobre suas obras nos centros espíritas.

Tomei a liberdade de divulgar a Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE), nossa frente de trabalho com interessados de todo o Brasil, seus encontros, suas publicações. Falta muito ainda para que este trabalho seja conhecido no Brasil, apesar do interesse de movimentos do exterior, como o movimento francês. Um trabalho quase quixotesco tem sido a divulgação dos livros da coleção "Espiritismo na Universidade", composta até o momento de teses e dissertações defendidas no Brasil e que poderiam ficar na obscuridade e no desconhecimento do movimento espírita. Sei que se trata de trabalhos de interesse restrito e que jamais se tornarão best-sellers.

Tenho sempre recebido cortesias de livros da editora Lachâtre, que tem sido parceira na publicação de nossas traduções e psicografias. Como gosto de sua linha editorial, séria e aberta, tenho sempre comentado livros deles em minhas publicações, mas não há qualquer financeiro ou de mercado nisso, nem eles nunca me pediram que divulgasse nada. Uma pesquisa no blog constatará que escrevo sobre quaisquer editoras espíritas que tenham publicado livros que considero do interesse do movimento.

Outro interesse do EC é o resgate das vidas de espíritas que trabalharam e produziram pelo movimento e de instituições espíritas interessantes, que têm realizado ações de promoção social, inovações nas atividades dos centros espíritas, apresentado ou solucionado problemas de interesse mais amplo. 

O público nos tem sinalizado interesse em temas relacionados à mediunidade, à doutrina espírita em geral e ao comentário de eventos atuais, como foi o caso da publicação sobre o incêndio de Santa Maria, com mais de dois mil acessos. Continuaremos tratando disso.

Ontem, o leitor e amigo José Lourenço me perguntou sobre publicações antigas, então resolvi mostrar um instrumento que temos no blog e que não é muito utilizado. Na régua superior do blog (de quem acessa por notebook ou desktop, não pelos celulares) há uma caixa de pesquisa à esquerda do símbolo do google +. Veja abaixo:


 mais  Próximo blog»


Para pesquisar dentro do Espiritismo Comentado, basta escrever a palavra dentro da caixa de pesquisa e pressionar a tecla enter

No caso do amigo Lourenço, ele está interessado em uma pesquisa sobre determinismo. Aparecerão três matérias, e eu recomendo a matéria "O Determinismo dos Deuses Gregos", para o estudo dele.

Boas pesquisas, leitores e obrigado pela confiança em nosso trabalho!

3.3.15

11o. ENLIHPE APRESENTARÁ PESQUISAS SOBRE REENCARNAÇÃO



A Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE) é uma rede de interessados no estudo do espiritismo. É composta por pessoas de todo o país, com ou sem formação acadêmica, com a finalidade principal de intercâmbio, troca de informação e produção/divulgação de conhecimento.

Há mais de uma década temos promovido, em parceria com o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro (CCDPE-ECM) (o fundador da rede) um encontro nacional. Este ano será em São Paulo, dias 29 e 30 de agosto, no auditório da União das Sociedades Espíritas de São Paulo (USE-SP), mas mantendo a parceria com o CCDPE-ECM.

Este ano o tema central é o "Panorama Atual das Pesquisas Científicas sobre a Reencarnação". Já fizemos um levantamento de dezenas de artigos que tratam do tema, publicados em inglês, nas áreas de parapsicologia, medicina, antropologia, ética, história e psicologia, e identificamos as publicações de pesquisadores famosos sobre este tema, como Erlendur Haraldson, Antônia Mills, Ian Stevenson e Jim Tucker. Membros da LIHPE e do CCDPE estão se organizando para estudar os trabalhos e analisá-los no encontro. O evento está sendo coordenado pelo prof. Adilson Assis, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com muita dedicação e competência.

Independente desta iniciativa, como sempre, estamos aguardando as submissões de trabalhos relacionados à finalidade da LIHPE no período de 1 de março até 31 de maio. Mais informações sobre a chamada de trabalhos podem ser obtidas no site http://www.lihpe.net/wordpress/?p=1450

As inscrições para participar do evento ainda não estão abertas, Avisaremos no Espiritismo Comentado e no site da LIHPE



Quem desejar adquirir a publicação do ENLIHPE de 2014, pode me escrever no e-mail espiritismocomentado@gmail.com, enviando o endereço completo, que repasso uma conta para depósito e envio pelos correios. Para os leitores do Espiritismo Comentado, o livro e o envio pelos correios (como impresso, não como sedex) fica em 30 reais.

Venham a São Paulo em agosto participar conosco desta iniciativa!

28.2.15

ALLAN KARDEC E O ISLAMISMO




Vivemos hoje uma época de muita tensão entre cristãos e muçulmanos, fruto de ações militares em países muçulmanos, ações contra a vida de civis nos Estados Unidos, na França (Charlie Hebdo), das posições iconoclastas dos militantes do ISIS e do velho preconceito dos países ocidentais, que insiste em generalizar atos cometidos por indivíduos e organizações para todos os adeptos de uma religião no mundo.

Allan Kardec sempre teve uma conduta de tolerância entre as religiões, não uma tolerância ingênua, que pressupõe bondade em tudo, mas uma aceitação de diferenças e uma possibilidade de convivência apesar delas.

Na Revista Espírita de 1866, Kardec escreveu dois artigos com o título "Maomé e o Islamismo", nos quais denuncia o conhecimento apenas legendário dos Europeus sobre o Islamismo, a ação do espírito de partido, que ressalta "os pontos mais acessíveis à crítica, muitas vezes, e de propósito" deixa na sombra as partes favoráveis. "Disto resultou que sobre o fundador do islamismo se fizeram ideias muitas vezes falsas ou ridículas, baseadas em preconceitos, que não encontravam nenhum corretivo na discussão." (página 225- Edicel)

Ele consultou um livro publicado por Saint Hilaire (Mahomet et le Coran), pela livraria Didier, que sintetiza as principais considerações dos orientalistas de sua época, formando uma opinião diversa da que era veiculada em sua época.

Ele trata das origens do islamismo entre os povos árabes, da luta de Maomé contra os ídolos que dividiam os povos árabes e faz uma biografia de Maomé voltada ao seu contexto, às dificuldades de enfrentou e destacando um homem pacífico por décadas, que só se lançou à guerra quando foi sitiado em Medina. 

"Maomé foi, pois, guerreiro, pela força de circunstâncias, muito mais que por seu caráter, e terá sempre o mérito de não ter sido o provocador." (páginas 321 e 322 - Edicel)

Kardec, portanto, defende a desconstrução de um Maomé ambicioso, sanguinário e cruel. Ele considera o homem em seu tempo, em contato com povos belicosos.

Outro ponto destacado nos artigos dizem respeito às percepções que Maomé afirma ter com o anjo Gabriel, origem das Suratas. 

Allan Kardec não concorda com o casamento poligâmico de Maomé após a morte da sua esposa Khadidja. "Permitindo quatro mulheres legítimas, Maomé não pensou que, para que sua lei se tornasse a da universalidade dos homens, era preciso que o sexo feminino fosse ao menos quatro vezes mais numeroso que o masculino". (página 323 - Edicel)

"Mau grado suas imperfeições, o Islamismo não deixou de ser um grande benefício para a época em que apareceu e para o país onde surgiu, porque fundou o culto da unidade de Deus sobre as ruínas da idolatria." (página 323 - Edicel)

Essa religião era a mais simples de todas: "Crença num Deus único, onipotente, eterno, infinito, presente em toda a parte, clemente, misericordioso, criador dos céus, dos anjos e da Terra. Pai do homem, sobre o qual vela e o cumula de bens; remunerador e vingador numa outra vida, onde nos espera para nos recompensar ou castigar, conforme os nossos méritos. Vendo nossas ações mais secretas e presidindo ao destino inteiro de suas criaturas que não abandona um só instante, nem neste mundo, nem no outro; submissão a mais humilde e confiança absoluta em sua vontade santa": eis os dogmas.

Há o destaque no antigo e do novo testamento na religião muçulmana, que reconhece Jesus como profeta: enviado de Deus para ensinar a verdade aos homens, assim como Moisés. O codificador destaca que Maomé não tinha sentimentos hostis pelos cristãos e no próprio Alcorão recomenda habilidade para com eles, "mas o fanatismo os englobou na proscrição geral dos idólatras e dos infiéis" (página 331 - Edicel)

Vejam três citações:

"Os Cristãos serão julgados segundo o Evangelho; os que os julgarem de outro modo serão prevaricadores" (Surata V, v. 51)

"Não discutais com os Judeus e os Cristãos senão em termos honestos e moderados. Entre eles confundi os ímpios: Dizei: Nós cremos no livro que nos foi revelado e em nossas escrituras. Nosso Deus e o vosso são apenas um. Somos muçulmanos (Surata XXIX, v. 45)

"Não façais violência aos homens por causa de sua fé. A via da salvação é bem distinta do caminho do erro. (Surata I, v. 257)

Kardec reproduz diversas passagens das Suratas sobre o paraíso de Maomé e critica a pilhéria que àquela época faziam dele.

"Tal é o famoso paraíso de Maomé, do qual tanto pilheriam e que, certamente, não procuraremos justificar. Apenas diremos que estava em harmonia com os costumes desses povos e que devia agradá-los muito mais que a perspectiva de um estado puramente espiritual, por mais esplêndido que fosse..." (páginas 336 e 337 - Edicel)

O segundo artigo termina com uma promessa que até o momento não encontrei (se alguém encontrar, por gentileza, me avise) "Em próximo artigo examinaremos como o Islamismo poderá ligar-se à grande família da humanidade civilizada."

Em outras palavras, ainda que discordasse de alguns pontos da religião islâmica, Kardec publicou na defesa do respeito e do entendimento entre cristãos e muçulmanos. Desconstruiu algumas lendas que corriam em seu país sobre os muçulmanos e fez uma análise histórica, ainda que marcada em alguns pontos pelo entendimento comum de sua época da superioridade da cultura ocidental. Parece que estes textos têm sua significância nos dias de hoje, em que um grande debate se faz em torno das relações entre os países ocidentais e os países árabes e muçulmanos em geral.

23.2.15

DIVALDO NO FANTÁSTICO



Considero muito feliz o trabalho da equipe de reportagem do Fantástico com o Divaldo Franco. Para quem não conhece (se é que algum leitor deste blog não conhece o Divaldo), ele é um orador espírita, médium baiano, com uma obra social admirável.

Após uma entrevista rápida com o Divaldo e algumas cenas envolvendo a prática mediúnica, mostrou-se a Mansão do Caminho, que já mostramos antes no Espiritismo Comentado (http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/search?q=mansão),

Foi muito feliz mostrar a comunidade do Pau da Lima, e a relação dos excluídos com o trabalho do Divaldo. Encontrar pessoas que foram adotados por ele ou estudaram na Mansão, com suas profissões, décadas depois da infância, é algo que toca e incentiva quem quer que esteja buscando fazer um trabalho de inclusão social.


No link abaixo você tem a matéria e a transcrição da entrevista com Divaldo.

http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/02/principal-medium-do-pais-psicografa-diante-das-cameras-do-fantastico.html

20.2.15

FELICIDADE E SOFRIMENTO: QUAL É O RECADO DE TONINHO BITTENCOURT?




Ontem líamos o livro "Ideias e ilustrações", que é uma coletânea de psicografias de Chico Xavier. Cada capítulo tem uma história, geralmente do Irmão X, seguida de poesias e citações sobre o mesmo tema.

O capítulo de ontem agrupou os textos sob o título "Do aperfeiçoamento", e trata de uma pedra que sofre humilhações impingidas pelos instrumentos de lapidação para se tornar um brilhante de um cetro real. O consolo da pedra, ao longo do percurso, eram os trabalhadores que se beneficiavam do seu sofrimento.

Intrigou-nos uma poesia, ditada pelo espírito Toninho Bittencourt, de difícil interpretação:

"Sem a dor que a forme no peito,
Felicidade perdura
Como sendo indiferença, 
Ingenuidade ou loucura."

O que ele deseja dizer? Penso que ele não argumenta em defesa de um masoquismo, um culto da dor pela dor. 

O que pude depreender é que o mundo apresenta tanto sofrimento, tantos problemas, que não é possível não percebê-lo, e, ao fazê-lo, sentir compaixão ou empatia com os que sofrem.

Talvez Toninho queira dizer que as pessoas que vivem apenas uma vida de prazeres, fecham os olhos ao sofrimento do mundo. Por isso sentem-se felizes, mas são indiferentes, ingênuos ou loucos.

Como você interpreta a poesia, leitor?

8.2.15

YVONNE E O AMBIENTE METAETÉRICO



Yvonne é uma das raras médiuns que estudou seus próprios fenômenos, sempre empregando os clássicos do espiritismo e da pesquisa psíquica. No livro Devassando o Invisível encontramos a médium em uma residência do Rio de Janeiro, da época do segundo império, passando alguns dias com amigos.

Ao deitar, Yvonne não conseguia dormir e tinha seu campo de percepção alterado. A casa onde estava desaparecia e em seu lugar se encontrava uma fazenda com senzala, milharais e canaviais. As ruas desapareciam e ela via a paisagem rural, com escravos cantando, carregando cestas e sacos, feixes de lenha, ferramentas e enxadas.

Uma escrava de saia preta e camisa de algodão, com lenço branco e colher de pau mexia um tacho onde se fazia o antigo sabão de cinza. Outra escrava servia-se da palmatória para corrigir um moleque de oito a doze anos, em seu colo.

Um escravo idoso, no pelourinho, preso pelos pulsos, era chicoteado e repetia em voz alta:

- "Meu Deus do céu! Meu anjo da guarda! Tenham dó de mim!"

Ele via também uma dama de aspecto senhorial, esbelta, bonita, trajando um vestido de tafetá azul forte, com cabelos negros "penteados com esmero" e brincos com pingentes de ouro.

Ao levantar-se pela manhã, conversou com a dona da casa que confirmou que antigamente ali funcionava uma fazenda de escravos, levando Yvonne para conhecer as ruínas de um pelourinho que resistira ao tempo.

Yvonne parece ver as cenas como as de um filme ou porta retratos digital, distinguindo os personagens que viu dos espíritos, com quem usualmente conseguia interagir.

Então ela nos recorda da teoria do ambiente metaetérico, de Myers, que afirmava ser possível encontrar virtualmente "organismos vivos" que eram percebidos pelos sensitivos que pesquisou. São criações  mentais fluídicas, ou, como denominou André Luiz, "formas pensamento", que se mantém após terem sido criadas pelas pessoas que lá viveram e sofreram. Yvonne denomina sua faculdade com a expressão psicometria "de ambiente", ou seja, ela tem percepções psicométricas ao entrar em contato com um local e não apenas com um objeto dele. Mais informações sobre esta faculdade no capítulo VIII do livro Devassando o Invisível, publicado pela Federação Espírita Brasileira.






3.2.15

PROVAÇÃO, PROVA, EXPIAÇÃO E MISSÃO



Um espírita de muitos anos de casa perguntou-nos qual era a diferença entre expiação, prova e missão. Resolvi inserir também o conceito de provação, empregado por Kardec em sua obra.

Kardec usa missão como uma tarefa que um espírito se coloca ou concorda em realizar a pedido de seus superiores. Como toda tarefa, ela tem suas dificuldades, mas estas não se acham ligadas a erros do passado, são apenas “ossos do ofício”. Alfred Schweitzer, por exemplo, tomou como missão pessoal a construção do hospital em Lambaréné, no Gabão - África e seu trabalho como cirurgião. Ele já era um organista de sucesso e um teólogo cristão, quando decidiu realizar esta tarefa. Embora desconheçamos o passado de Albert, se ele não tiver nenhuma dívida do passado com a comunidade africana, podemos considerá-lo um missionário.


Fotos de Lambaréné por Joel Mattison

O dicionário Houaiss definiu provação como “situação aflitiva ou sofrimento muito grandes, que põe à prova a força moral, a fé religiosa, as convicções de um indivíduo” e ao definir prova ele coloca como sinônimo de provação.

Aceitar este conceito tem uma consequência importante no entendimento espírita da vida. Nem todas as situações que passamos são remissões de erros passados. O sofrimento não é necessariamente algo articulado à culpa e ao erro, mas pode ser uma circunstância da vida que nos possibilita o autoconhecimento, mobiliza nossas energias e talentos. Mais importante que explicar ou dar sentido ao sofrimento empregando a reencarnação, o conceito de prova ou provação põe ao ser humano consciente e lúcido a tarefa de saber superá-lo.

As provas costumam ser objeto de escolha dos espíritos minimamente lúcidos ainda antes da encarnação (questão 269 de O livro dos espíritos), mas, como na vida, ele pode optar por provas que são superiores à sua força e sucumbir a elas.

Por expiação, o Houaiss entende como “purificação de crimes ou faltas cometidas”. Seria uma situação da vida que envolve sofrimento físico ou psicológico, que se acha ligada a um evento passado, que o sujeito percebe como errado, ou de cujas consequências não consegue se evadir facilmente. Os espíritos com quem Kardec dialogou explicam que encarnações como a das crianças com paralisia cerebral (ele não usa este termo) geralmente estão ligadas a algum “abuso temporário” (questão 373 de O livro dos espíritos).


Quando se observa em alguém que passa por uma expiação, não se pode concluir esta pessoa seja má. Todos cometemos equívocos, e nenhum de nós, em sã consciência, consegue sustentar que tem um passado reencarnatório imaculado. Daí a proposta de tolerância e caridade uns para com os outros, o que, convenhamos, quase nunca é fácil.

2.2.15

SENSAÇÕES DOS MÉDIUNS




Em nossa reunião mediúnica, há um mês ou dois, estávamos em uma sala muito quente e abafada. O ventilador não conseguia, senão circular ar quente entre os membros, quando terminamos a parte de estudos e iniciamos as comunicações com os espíritos. Em pouco tempo, três comunicações simultâneas deram início.

Uma das comunicações despertou o tema deste texto. A médium começou a sentir frio, e o espírito relatou um acidente em um local muito frio, que provocou sua desencarnação. Como a médium pode sentir frio em um local tão quente? Se o espírito comunicante não está mais encarnado e também não se encontra no local em que desencarnou, por que relata sentir frio?

Nas pessoas encarnadas as sensações são frutos dos órgãos dos sentidos. Os olhos são uma espécie de transdutores de luz, que transformam as ondas luminosas de certa faixa de frequências em impulsos nervosos. Os ouvidos fazem o mesmo com ondas sonoras. Paladar e olfato transformam os sabores e odores; o tato transforma sensações de frio/calor, pressões sobre o corpo e movimentos. O sistema nervoso leva os impulsos ao cérebro. A teoria espírita entende que, no caso dos encarnados, estes impulsos são processados pelo Espírito, através do perispírito.

Os espíritos desencarnados não têm tato, porque se encontram desligados do seu organismo. Como podem sentir frio? Após conversar com diversos espíritos, Kardec concluiu que os relatos de sensações por espíritos são recordações, memórias (questões 256 e 257 de O Livro dos Espíritos), empregadas para descrever o estado em que se encontra. O fundador do espiritismo usa a expressão latina sensorium commune para deixar claro que não há no perispírito o equivalente aos sensores da derme ou da audição e que o Espírito sente como um todo. Em outras palavras, a consciência é uma faculdade espiritual, e não perispiritual. O Espírito desencarnado, contudo, ainda tem o registro das sensações que anteriormente eram recebidas do organismo, podendo trazê-las à consciência como evocamos uma recordação de infância.

Por que então, Espírito comunicante, e, por consequência, a médium, relatavam sentir frio? Por que o Espírito acreditava estar ainda em meio à neve. Ele não era capaz de perceber que se comunicava através de uma médium que estava em uma sala quente, porque se sentia ainda confuso após a desencarnação. O frio que a médium sentia é, portanto, uma percepção profunda da consciência um pouco perturbada do espírito comunicante.


Em situações como esta, dar a notícia da desencarnação é menos importante que dialogar com o comunicante. Ao nos relatar suas vivências, sentimentos e sensações, ele vai aos poucos organizando sua experiência e assenhorando-se dela. Ele pode passar de um estado de confusão, a um estado em que é capaz de se comunicar com outros espíritos em melhor estado, capazes de auxiliá-lo.

29.1.15

TIA BIDU



Tia Bidu, à direita, de verde, ao lado de Tancredo e uma amiga. Atrás, quatro sobrinhas.


Peço licença aos leitores do Espiritismo Comentado para fazer uma homenagem a uma tia querida da minha esposa, umbandista, que acaba de retornar ao mundo dos espíritos.

Quando a conheci, ainda namorando minha esposa, ela se apresentou da seguinte forma:

- Prazer! Meu nome é Nair Nunes Coelho, mas pode me chamar de Bidu.

E ela se transformou imediatamente na minha tia Bidu, cuja alegria e encanto nos permitiu ser aceito imediatamente na família.

_ “Quando eu era jovem, um circo passou por nossa cidade”. Ela contava.

- “Eu decidi, então, fugir com o circo. Procurei o encarregado e me ofereci para trabalhar com eles”. Ele me perguntou:

- “O que você sabe fazer?”

- “Eu canto, danço e sou melodramática!” E ria com a gargalhada mais gostosa do mundo, da ingenuidade da sua juventude.

Alma indomável, era irmã de uma católica superdevota, respeitada por todo o padroado de Valadares e caridosíssima. Bidu se tornou médium umbandista e dona de centro. Contudo, não abandonou a marca da família, e também era uma alma bondosa, querida por todos e capaz de ajudar a quem precisasse. Vez por outra o Juquinha, uma das entidades da umbanda, sabendo que eu não ia às reuniões, me mandava uma balinha, um bom conselho e uma palavra de incentivo. Ela sempre respeitou minhas convicções e nunca me cobrou nada, apenas acolheu e foi amiga.

Sempre me lembro da Bidu com as damas de Valadares. Um grupo de senhoras que parecia um colar de pérolas, dedicadas, empreendedoras, e a Bidu parecia um rubi no meio delas. As diferenças nunca impediram de trabalhar juntas pelo que consideravam bom e justo. E também se divertiam, viajavam juntas, Poços de Caldas, Caldas Novas...



Tia Bidu, cantando aos 81 anos, no aniversário da irmã.

Tia Bidu ficou toda entusiasmada quando recebi uma única mensagem de um espírito que se identificava como preto velho. Ele explicava por que assumiu esta imagem e qual era seu trabalho na umbanda. Pediu cópia e guardou o papel. Disse que queria mostrar para alguém. Nunca soube que fim levou esta mensagem.

Quando soube que eu andava psicografando, Bidu aproveitou uma conversa telefônica com meus sogros para dizer que queria comprar os livros. Eu mandei de presente o “Casos e descasos” e “O observador”. Criada da forma antiga, e sem acesso à internet, ela me telefonou de Valadares, o que era um ato e tanto, já que a situação financeira dela sempre foi regrada. Eu fiz a pergunta que todo médium ou autor deseja fazer ao seu leitor:

- E aí Bidu? Já deu tempo de ler algum deles? O que está achando?

Bem humorada, ela me respondeu:

- Jáder, seus livros são ideais para gente velha.

- Por que tia?

- Eles têm letras grandes e histórias pequenas! E ria gostosamente.

No ano que se passou, o seu companheiro de "cama, mesa e centro", o Tancredo, décadas de união estável, desencarnou. Alguns meses depois ela teve uma trombose mesentérica, que a levou de imediato à mesa de cirurgia e à UTI. Eu ainda acalentava o desejo de melhoras, já que ela estava animada para fazer uns consertos no seu apartamento na ilha e reconstruir sua vida, mas Deus lhe destinou um apartamento maior e a possibilidade de reencontrar com seu companheiro querido. Nós estamos em lágrimas, mas acho que ela irá gargalhar mais uma vez depois que se recuperar do lado de lá.

27.1.15

BOICOTE NA CASA ESPÍRITA


Seu centro espírita é um arquipélago?

Recentemente recebi uma consulta de um amigo de muitos anos, que atua em uma casa de Minas Gerais e tenta auxiliar a direção geral em seus propósitos. A atual diretoria, composta de pessoas com algum tempo de vida, na casa dos sessenta/setenta anos, tem superado as dificuldades pessoais, deixado o pijama no armário e tenta investir esforços para a realização de coisas necessárias para o centro como um todo.

Sempre que me entendi por gente no movimento espírita, talvez pela influência de autores como Chico Xavier (Emmanuel), Raul Teixeira, Divaldo Franco, Herculano Pires, Deolindo Amorim, Carlos Imbassahy e muitos outros cuja abordagem considero benéfica e relevante, entendo que o espiritismo tem um autor importante que desenvolveu a estrutura do pensamento espírita, que é Allan Kardec, e seu trabalho vem sendo desenvolvido ao longo dos tempos por diversos autores, encarnados e desencarnados, cuja obras convencionamos chamar de subsidiárias.

Esta forma de perceber o pensamento espírita parece-me muito semelhante à da filosofia, por exemplo, que demanda de todos aqueles que pretendem formar-se nesta área que dominem bem os gregos antigos, como Platão e Aristóteles. Não conheço físico que consiga estudar mecânica quântica, sem conhecer as leis de Newton. A psicanálise, nos dias de hoje, não prescinde da leitura de Freud cujas ideias podem até ser criticadas por autores contemporâneos, mas são a base de uma das escolas de pensamento psicológicas de hoje. Não tenho conhecimento enciclopédico, mas creio que poderia continuar falando de outras áreas do conhecimento. Seja estudando diretamente, seja indiretamente, todas têm seus clássicos, com ideias que funcionam como estruturas do pensamento, com o passar dos anos.

Herculano dizia que o espiritismo é “o grande desconhecido”, e vemos que a obra de Kardec, desenvolvida no contexto da Europa do século XIX, ainda é pouco estudada no movimento espírita. Acho que os espíritas do nosso tempo têm a ilusão, após um ou dois anos de centro espírita, que Kardec é fácil ou rápido de se aprender. Na verdade, o que penso que acontece é uma falta de programação de estudos das casas espíritas que faz com que os expositores falem sempre dos mesmos temas. Há muitos expositores, ainda, que estudam pouco, então se tornam repetitivos e aprendem apenas de oitiva, o que gera um círculo vicioso. Creio que “O evangelho segundo o espiritismo” e “O livro dos espíritos” são as obras mais lidas e comentadas em estudos de Kardec, mas os demais livros e a Revista Espírita, que contém o processo da construção teórica e prática do movimento espírita, ainda são conhecidos por poucos.

Perdoem se divaguei, voltemos à história do início da matéria. Sensíveis à necessidade de revitalizar em sua casa o conhecimento do pensamento de Allan Kardec, os dirigentes convocaram reuniões para sensibilizar os dirigentes para uma ação do centro como um todo, valorizando Kardec, e meu amigo surpreendeu-se com uma reação que ele não esperava na casa espírita: o boicote.

Na administração de casas espíritas, boicote seria um grupo, sob uma direção superior, se recusar a ter relações com os dirigentes que ele próprio escolheu, ou deixou escolherem. Geralmente é um boicote branco, ou seja, não se vai nem se faz representar nas reuniões convocadas, não se cumpre uma decisão coletiva, inviabilizando a gestão. Não é um conflito ou divergência, apenas indiferença. Nas casas maiores, formadas com muitos grupos, é cômodo ficar apenas no âmbito da sua reunião ou grupo de trabalho e fingir que os problemas da casa são dos outros, uma vez que quando uma casa cresce, seus problemas também crescem.

Ilhar-se dentro da casa espírita é uma forma de criar inúmeros grupos dentro de um centro, dificultando sua administração. Com o tempo, os grupos podem desenvolver idiossincrasias e podem ignorar as decisões tomadas pela comunidade, até mesmo as mais democráticas. Não há conflito nem discordância, mas aos poucos as pessoas começam a perceber, e as vezes comentar, as diferenças. Humberto de Campos falou deste problema em um conto intitulado “Bichinhos”.

O problema fica ainda maior quando uma casa com grande número de frequentadores se torna um “arquipélago”. A tentativa de empreender ações coordenadas e de obter apoio para realizações maiores é cheia de espinhos, fica difícil encontrar pessoas dispostas a ocupar cargos de direção, pelas seguidas frustrações impostas pelo “clima de boicote”.

Por esta razão, ouvi de um conhecido expositor espírita sobre a importância de se ter um espaço que congregue as lideranças da casa. Não é um espaço administrativo, apenas deliberativo ou informativo, mas uma reunião ou evento periódico, que possibilite que as lideranças se conheçam, se encontrem e estudem/trabalhem juntas, evitando a territorialização dos grupos espíritas. São necessários esforços para que haja uma convergência de atitudes e objetivos ou o centro se fragmenta.


Gostaria de deixar aos dirigentes de reuniões que leram heroicamente este artigo até o final algumas perguntas: Você tem apoiado a diretoria que elegeu? Sabe quais são os problemas da casa, que ela vem tentando solucionar? Você sabe quais são as tarefas da sua casa e incentiva seus colegas de reunião a auxiliar na sua realização? Ou será que você tem incentivado a todos a ficarem em uma ilha em um arquipélago que leva o nome de centro espírita?

8.1.15

OBRAS RARAS DA FEB



Mais uma vista da portaria de entrada da Federação Espírita Brasileira


Continuo exibindo as fotos da visita à Federação Espírita Brasileira em 2014. Este prédio redondo é o prédio Unificação, onde se encontram, entre outros espaços, a Biblioteca de Obras Raras e a sala de reuniões do Conselho Federativo Nacional.



Fui gentilmente recebido pela Cacá nas Obras Raras, que me apresentou pacientemente o acervo. 



As obras raras estão em uma sala redonda e climatizada. O ambiente é sóbrio, de bom gosto. 


As estantes semicirculares recheadas de livros e outras formas de publicação atraem a vista dos interessados no espiritismo.



Não dá para falar muito do acervo, então fotografei alguns livros. Abaixo se encontram obras de Camille Flammarion no original francês.



Aqui um livro autografado por Chico Xavier.


Na outra metade do semicírculo, encontramos uma exposição de imagens do fundador da revista Reformador e de todos os presidentes da Federação.




O que o leitor do Espiritismo Comentado acha de mais uma publicação mostrando as fotos da sala de reuniões do Conselho Federativo Nacional?

28.12.14

VISITANDO A FEB EM 2014 - MUSEU E EXPOSIÇÕES




Agradeço ao pessoal da Comunicação da FEB a acolhida para visitar a instituição no mês de setembro de 2014. Minha primeira ideia era levar ao leitor do EC algumas imagens pouco divulgadas da Federação. A frente do conjunto de prédios tem um gradil com placas como esta distribuídas regularmente. 



Esta foto mostra a fachada do primeiro prédio da FEB, chamado Administração. Nele se encontra a simpática funcionária que nos recebe e encaminha para o ponto desejado da Federação. Visitei também o grande e bem montado auditório, a livraria e um pequeno museu com mostras em dois pisos.



O Museu apresentava uma exposição sobre os 130 anos da Federação.




Um dos painéis mostra a linha do tempo ao centro. Acima os presidentes da Federação e abaixo, em vermelho, alguns eventos da época e fotos.




Poster da exposição tratando dos presidentes e das sedes da FEB.



Máquina da antiga oficina de impressão da FEB.







Edições antigas e raras dos livros psicografados por Chico Xavier e publicados pela FEB.




Painel com logomarcas da FEB.





Documento comemorativo do Pacto Áureo (acordo entre entidades representativas estaduais e a Federação Espírita Brasileira, que entre outras medidas criou o Conselho Federativo Nacional, órgão representativo de caráter propositivo e deliberativo envolvendo questões ligadas ao movimento espírita nacional).

Eu identifiquei muitas assinaturas de espíritas importantes: Armando de Assis, Antônio Lucena, Lauro Santhiago, Luciano dos Anjos, Carlos Jordão da Silva, Nestor Masotti, Umberto Ferreira, Maria Melo, entre outros e outras. 

Em uma próxima publicação vou mostrar um pouco o prédio Unificação e a biblioteca de Obras Raras da FEB.

24.12.14

O SOLSTÍCIO E O NATAL


Foto: No solstício de inverno, após a noite mais longa, o sol nasce entre as árvores.


Estamos na véspera do Natal, ou pelo menos da data que foi escolhida para comemorar o nascimento de Jesus Cristo. Parece que na história da igreja se escolheu o final de dezembro por ser a data do solstício de inverno europeu, a noite mais longa do ano.

Em Roma se comemorava o “Dies natalis invicti solis”, festa na qual os escravos agiam como se fossem homens livres. Nesta época também havia a Saturnália e uma festa que alguns autores consideram germânica e outros escandinava, o Yule. Nela o criador é representado como uma criança. Na exótica China antiga, uma cultura tão diferente da nossa, também se comemora a fertilidade.

No mundo católico, Júlio I ordenou que se fizesse uma pesquisa e decretou, no ano 350 que o 25 de dezembro seria a data do nascimento de Jesus. O imperador Justiniano, interessado no grande número de cristãos romanos, decretou feriado. Outra religião influente em roma o Mitraísmo, o culto do deus sol dos persas, que teria nascido no dia 25.

Não sou capaz de dizer quando teria sido o dia da manjedoura, o dia em que nasceu um mestre humilde, capaz de dividir a história apenas com suas palavras e ensinamentos. Ainda procuram algum fenômeno astronômico que pudesse explicar a estrela de Belém, mas prefiro me ater ao significado simbólico, de uma nova luz que se acende nos céus da humanidade. Há historiadores preocupados com o suposto censo decretado por César, que teria deslocado José e Maria, de Nazaré até Belém, a cidade do rei David de Israel, mas acho mais comedido entender que a realeza de Jesus não vem de Israel, mas do reconhecimento dos que aceitam sua mensagem como imperiosa, sem ser imperial. Também sou incapaz de avaliar a virgindade de Maria, semelhante às histórias antigas de mulheres que concebiam de deuses pagãos, então prefiro observar atentamente sua castidade interior e a angelitude de seus propósitos descrita pelo evangelista Lucas. Prefiro me ater à bênção da maternidade, uma instituição milenar na qual uma mulher passa a se dedicar ao filho de forma tão íntima e abnegada, que faz pensar em uma humanidade mais irmã e menos patroa.

Como o leitor pode ver, não sei muita coisa, mas sei que as famílias se reúnem, sei que as pessoas se saúdam, desejando felicidade umas às outras, que se faz um esforço para estar bem, uns com os outros. Vejo os carteiros levarem desejos de paz, saúde e até prosperidade. Vejo os telefones soando diferente, vencendo distâncias para levar uma palavra de alegria. Vejo as pessoas se acotovelando nas lojas para comprar presentes, mas vejo também que tentam encontrar algo que desperte um sorriso, que satisfaça a um pequeno desejo, que revele que eles se importaram.

E se nesta hora conseguimos, ainda que por um momento passageiro, construir uma experiência de paz e de trégua das coisas do mundo, vale a pena vivê-lo e compartilhá-lo. Os filmes contam histórias de pessoas que deixam de lado seus rancores e mágoas e tentam a reconciliação com antigos amores, parentes, pais, filhos, nesta época diferente. Quem sabe não seria uma oportunidade?

Como espírita, sei também que os mortos costumam aproveitar para falar de Jesus em nossos grupos e reuniões. Sei que à noite, mesmo no lar cristão mais simples, ergue-se uma prece em memória do filho de Maria. Sei que médiuns se emocionam, e que os grupos vivem uma experiência diferente. Quem sabe não encontramos um tempo em nossas assembleias para falar do Mestre? 

Em nossa casa já se distribuíram as cestas de natal, e se elas não mudaram a pobreza, acenderam uma luz fugidia nos olhos de quem sofre, e uma chama no coração de quem participou do milagre de sua construção e distribuição.

Desejo que todos os que leem esta crônica possam usufruir de um minuto memorável de encontro com Jesus, através do encontro amoroso e desinteressado com os homens.