28.3.16

O QUE UM PAPEL KRAFT TEM A VER COM DEUS?




A segunda aula de Antonina foi um desafio. O programa indicava “atributos da divindade” como tema. Como ensinar um tema tão filosófico e tão abstrato a um grupo de meninos que ainda estava no pensamento operacional-concreto?

- Que tal fazermos alguma atividade lúdica e física para abordar o tema? Pensou Antonina.

O planejamento da aula ficou assim: os atributos da divindade foram escritos em fichas, com letras grandes, e as crianças brincariam de “corre-cutia”.

Quem ficasse com o papel, tentava explicar o significado da palavra.

Depois uma atividade igualmente lúdica para ver se haviam apreendido as palavras novas. Um grande caça-palavras, em uma folha de papel Kraft foi feito.

Começou a aula. Os alunos já traziam a ideia repetida nos anos anteriores de que “Deus é nosso pai e Jesus é nosso irmão”, e sabiam que Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas (criador).

Antonina perguntou:

- Vocês conhecem uma brincadeira chamada “corre cutia”?

Um aluno replicou de imediato:

- Ih, tia! Tem um tempão que a gente não brinca disso!

Acendeu o sinal amarelo. Isso podia significar que a brincadeira é de meninos pequenos e que eles não aceitariam fazê-la. Infelizmente, foi isso mesmo que aconteceu. Eles começaram, mas não queriam continuar com o jogo.

Nestes momentos, um pouco de intuição, na falta de um plano B, é muito importante. Em vez de insistir e confrontar, Antonina aceitou o que sinalizou a turma.

- Já que vocês não querem, então vamos sentar e ver uma a uma as fichas que eu trouxe.

Deu certo! Apesar das provocações contínuas, uns com os outros, os alunos se interessaram pelas palavras e seus significados. Não deu, e era esperado, para fazer as demonstrações que Allan Kardec faz em O livro dos espíritos e A gênese. Demandaria lógica e noções de filosofia. Pedir demais para crianças na segunda infância.

Parte final da aula. A evangelizadora abriu um grande papel kraft, contendo todas as palavras estudadas, na vertical e horizontal, ocultas. Cada aluno ganhou um pincel atômico de uma cor, e passaram todos a tentar descobrir no mesmo caça-palavras, os atributos da divindade.

Não havia como consultar as palavras. Eles teriam que pelo menos reconhecer e recordar para conseguir identifica-las. Algumas delas, como onipotente e onisciente eram totalmente desconhecidas antes da aula. De repente, começou uma nova brincadeira, desta vez criada por eles.

Meninos desta idade são competitivos. E eles começaram a disputar quem achava mais palavras. As reações foram interessantíssimas.

- “Nu, véi!” Que palavra grande!

As palavras inteligência suprema ocupavam uma linha inteira do caça-palavras, de um lado a outro.

Os atributos foram sendo desvendados, um a um. A evangelizadora não interferiu, nem ajudou. As palavras eram recordadas, como se fossem objetos preciosos. Aos poucos a disputa ficou entre dois dos alunos. Quem ganharia?
Uma das palavras foi descoberta pelos dois ao mesmo tempo! Antonina virou árbitro. Então ela disse:

- Os dois descobriram ao mesmo tempo. Então a palavra vai ficar com as cores dos dois, ambos a circularão.

A última palavra era como um saci. Escondida! Ninguém achava. Ela poderia empatar ou desempatar a disputa recém criada.

Deu empate. Mas não teve revolta, o resultado foi justo.


Antonina saiu surpresa com a turma. Eles aprenderam novas palavras e eram capazes de dizer quais eram os atributos de Deus.

21.3.16

UMA HISTÓRIA DE AMOR E MÚSICA







Plínio Oliveira é um músico que tem usado seu talento para causas sociais e espirituais. A influência de Chico Xavier e de Divaldo Franco aparecem em suas palavras e escolhas. 

Já publicamos no Espiritismo Comentado um vídeo com uma das canções da sinfonia que ele compôs e apresentou com orquestra em homenagem a Chico Xavier. http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2013/01/sinfonia-do-amor.html

A sinfonia também foi utilizada para o musical "No céu da vibração", que também noticiamos aqui. http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2015/06/no-ceu-da-vibracao.html

Espero que gostem da história e da música.

18.3.16

ESPIRITISMO DE OITIVA?




Estamos estudando ainda o livro “À luz do consolador”, de Yvonne Pereira, que é constituído de artigos que ela publicou na revista Reformador, entre as décadas de 1960 e 1980, a maioria sob o pseudônimo de Frederico Francisco.
Ela escreveu o seguinte:

“Está-nos a parecer, pois, que determinados leitores desprezam o verdadeiro estudo doutrinário, preferindo aceitar o espiritismo por ouvirem dele falar.” (PEREIRA, 2014, p. 145)

Lembrei-me  de um expositor que trabalhava em nome de uma federativa. Fiquei muito amigo dele e o estimava muito, mas ele só falava de oitiva. Quando alguém perguntava ou questionava algo, ele dizia: fulano disse assim, ou é a opinião de beltrano.

Uma vez alguém tomou a liberdade de falar com ele que ele deveria ler, para conhecer a origem e o sentido claro daquilo que ele falava. Ele redarguiu:

- Tenho um filho pequeno que exige minha atenção, por isso não posso ler.

Fiquei pensando como alguém pode expor sem estudar, com todo o respeito à dedicação do companheiro.

Uma das primeiras críticas que recebi na vida acadêmica veio de uma professora muito experiente, que analisou meu texto e questionou se algumas coisas que eu houvera escrito não eram “de oitiva”. Tive que rever e citar corretamente as fontes das partes do texto analisado.

O espiritismo não pode ser conhecido apenas por “ouvir falar”. No Brasil o movimento espírita sempre promoveu a divulgação do livro impresso, montou livrarias, criou bibliotecas, inventou “feiras do livro espírita”, fez edições populares para dar acesso aos que tinham poucos recursos financeiros. Nosso grupo de mocidade tinha um “mimeógrafo” à tinta, onde se imprimiram muitos textos de apoio aos estudos, apostilas, jornaizinhos entre outros.

Yvonne tem razão. É preciso que os centros espíritas prezem o incentivo à leitura, principalmente dos clássicos, cujo tempo tornou a linguagem mais distante da empregada hoje, para que o movimento não fique à mercê de opiniões.


15.3.16

O QUE UMA BOLA TEM A VER COM O ESPIRITISMO?



Jáder Sampaio

Mais um ano letivo se iniciou para a evangelização em uma das cidades satélite de Belo Horizonte, num bairro de classe média baixa. A jovem professora ia trabalhar pela primeira vez com a turma de alunos de 9 e 10 anos de idade. No primeiro dia, apenas duas crianças na sala, o que fez com que a turma se unisse à de 11 e 12 anos.

As professoras encontraram três crianças assentadas com a cabeça baixa, desviando o olhar em sinal de vergonha.

- Bom dia. Eu me chamo Antonina! Qual é o seu nome?

As respostas eram como um resmungo triste, um sussurro cheio de vergonha.
Preocupada, Antonina tirou sua arma secreta. Uma bola vermelha, meio rosa, de plástico, comprada por dois reais.

Os meninos ergueram o olhar e perguntaram assombrados:

- Mas já??

A monótona organização das aulas geralmente tem formato fixo. Prece, música, exposição dialogada e atividade de fixação. Quanto maior a dificuldade na escola, maior a dificuldade com a exposição, especialmente se não for interativa. Talvez uma história possa chamar a atenção, mas nada pior para uma criança de nove anos que ser confundida com uma de cinco.

O objetivo da aula era fazer uma avaliação diagnóstica das crianças. O que elas eram capazes de fazer? Quem eram? Onde moravam? O que gostavam/não gostavam de fazer? Com estas e muitas outras respostas, poder-se-ia planejar melhor as atividades do futuro.

Antonina respondeu:

- Aqui é assim. Viemos para brincar e aprender!

Fizeram uma rodinha, talvez um pentágono, já que eram apenas cinco (três alunos e duas evangelizadoras). Feita uma pergunta, a pessoa que tinha a bola respondia e escolhia outra para responder, para quem a lançava. Atividade simples, mas os olhos brilhavam.

As informações foram surgindo. Primeira descoberta bem verbalizada: eles não gostavam de ficar sentados ouvindo! Sinal amarelo para uma exposição que não fosse dialogada. Moderação com os slides de powerpoint.

Segunda descoberta: eles gostavam de massinha! Achei meio extemporâneo, mas não é hora de psicologia do desenvolvimento, e sim, de valorizar o interesse dos meninos.

A escolha das cores, como eram todos meninos, já estava irremediavelmente associada às camisas dos seus times de futebol preferidos. Quando se falou da família, outra vergonha apareceu; alguém morava com os avós. Avós, irmãos mais velhos, apenas mãe e irmãos, não ter mãe e pai faz com que se considerem pessoas menores. Sinal amarelo para as aulas comemorativas da família, baseadas apenas na família nuclear. Talvez seja preciso fazer um poema da gratidão, semelhante ao de Amélia Rodrigues, para se valorizar que eles tenham um avô ou avó, um irmão mais velho que cuida, até um vizinho.

As mais de quinze perguntas foram se esgotando rapidamente, e veio a pergunta que não queria calar: podemos brincar com a bola?

Assim terminou a história, ou quase. Na outra semana, quando Antonina chegou, os meninos perguntaram:

- Hoje vai ter bola?

Bola não teve, mas teve massinha. Esta história eu conto depois.

11.3.16

ESPIRITISMO COMENTADO FAZ NOVE ANOS!



Há nove anos, na mesma hora da publicação desta matéria, saía a primeira página do Espiritismo Comentado. O blog havia sido criado apenas para divulgar o site com o mesmo nome, mas a acessibilidade fez o blog crescer e o site desaparecer. 

Aprendemos a escrever textos menos extensos e mais diretos com linguagem mais clara e cotidiana. Durante sua trajetória, foi criado um grupo no facebook com o mesmo nome, que tornou mais fáceis as participações e diálogos com os participantes. Ate o momento já foram 922 publicações, com uma média de 650 leituras por matéria (calculado por baixo)!

Quero agradecer aos 1700 leitores os que mantiveram acesa a luz da motivação para esta modesta realização. Se desejarem dar um presente ao projeto, convidem algum amigo espírita ou simpatizante para seguir o blog ou o grupo no facebook.

10.3.16

AMEBH PUBLICA AME MAIS





A Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte, órgão federativo que congrega as casas espíritas da capital mineira, publicou recentemente o Jornal Ame Mais, onde dá notícias de eventos da capital, divulga textos de escritores espíritas, trata da memória, publica textos psicografados e quadrinhos, com os personagens Leo e Amélia, criados por Adriano Alves.

O jornal pode ser gratuitamente acessado no endereço: https://drive.google.com/file/d/0By6-j12GeL-ib1h1UFhQNU5Rc1k/view?usp=sharing 

Ele é um dos primeiros frutos da nova direção da AMEBH, e dá mostras de disposição para diversas realizações. Recomendo a leitura da matéria sobre a nova diretoria. Entre outros objetivos, há a intenção de construir uma sede própria para a AMEBH.


5.3.16

APRESENTAÇÃO DE TRÊS TRABALHOS DO REFORMADOR



Leitores do Espiritismo Comentado,

Na revista Reformador de março de 2016 foram publicados três artigos de participantes da LIHPE (Liga de Pesquisadores do Espiritismo):
1. Atualidade do termo fluido ao espiritismo (Alexandre Fontes da Fonseca)
O termo fluido deveria ser substituído pelo termo campo, citado por André Luiz no livro Mecanismos da Mediunidade?
2. Antônio Schiliró (Júlia Nezu)
Desencarna aos 98 anos um dirigente espírita importante para o movimento espírita do estado de São Paulo
3. Uma história esquecida: Fernando de Lacerda, Camilo Castelo Branco e Silva Pinto. (Jáder Sampaio)
O espírito de um suicida português começa a enviar diversas mensagens a um amigo encarnado, tentando ser identificado e tentando defender a ideia de que o suicídio é um equívoco. Por que ele estaria insistindo tanto?
O Reformador pode ser lido impresso ou em formato digital. Informações:http://www.souleitorespirita.com.br/reformador/

29.2.16

LER OU NÃO LER OS EVANGELHOS?





A médium Yvonne A. Pereira escrevia na Revista Reformador com o pseudônimo de Frederico Francisco, nome que emprestou do grande compositor Chopin. Estamos lendo o livro À luz do consolador, publicado pela FEB, em nossa reunião mediúnica, que é uma coletânea desses artigos.

Fiquei encarregado de ler e comentar o texto intitulado “Panorama”, que originalmente foi publicado pelo Reformador em 1970. Para minha surpresa, é um dos “textos indignados” da médium.

Yvonne recebeu carta de um jovem que se mostrava confuso em função de uma palestra que assistira na sua casa espírita. Ele diz que o expositor defendia que não era necessário “o estudo completo dos Evangelhos, bastando que apenas conheçamos os pontos esclarecidos por Allan Kardec em “O evangelho segundo o espiritismo”. “ Disse ainda que o estudo dos evangelhos é perigoso e que o estudo das parábolas é inútil porque cada um as interpreta a seu bel-prazer. Concluindo, o jovem comunicou ter ouvido que o estudo das epístolas é inútil porque “nem mesmo se sabe se Pedro e Paulo existiram”.

Yvonne vai à carga, alegando que o projeto do expositor é destrutivo e que ele nada repõe no lugar dos Evangelhos que ataca. Questiona se poder-se-ia interpretar “A parábola do filho pródigo”, do “Bom samaritano” e da “casa sobre a rocha” sob diversas óticas, focalizando, assim, a mensagem central das mesmas.

Não vou me estender, deixando aos interessados o link para que ele possa ler o artigo completo:



Yvonne fecha o texto focalizando a importância dos evangelhos para os que sofrem, e recomenda a estes que busquem a companhia de Pedro e Paulo “a fim de se consolarem meditando no heroísmo deles a frente das penúrias suportadas, ao mesmo tempo que aproveitando dos ensinamentos por eles deixados há dois mil anos aos corações humildes e de boa-vontade.”

Quanto à existência ou não de Paulo e Pedro, a leitura que venho fazendo das cartas dos cristãos dos primeiros séculos é repleta de citações dos textos evangélicos. Vez por outra tenho comparado o texto dos documentos que leio com os da tradução da vulgata ou dos textos gregos contemporâneos, e são em sua grande maioria, iguais. Ou estaríamos diante de uma conspiração de ampla monta, na qual foram forjados os textos evangélicos em diferentes pontos do mundo, depois modificados em todos eles e apagados da história todos os documentos contrários, ou eles são o registro possível da experiência dos primeiros cristãos com Jesus.

25.2.16

O QUE PENSA O ESPIRITISMO DO TERRORISMO?




Tenho recebido e lido com satisfação os exemplares da Revue Spirite. A revista em francês é atualmente o “órgão oficial do Conselho Espírita Internacional” e apresenta uma boa variedade de assuntos, que compreendem os diversos aspectos do espiritismo.

A Revue tem influência do movimento espírita brasileiro, mas definitivamente não se reduz a ele, o que me parece fruto do amadurecimento das relações entre movimentos espíritas de diferentes países.

No último carnaval fui convidado a tratar de religião e sociedade no encontro do GELPE e pude me servir do excelente trabalho intitulado “Reflexões espíritas após os atos terroristas recentes”, assinada por Charles Kempf e pelo comitê de redação da revista.

O texto  inicia-se com o pensamento de Kardec, aos moldes dos atuais artigos de pesquisadores franceses, que se movem sobre um ou mais autores de referência para desenvolver depois seu pensamento. Kardec aparece como um filósofo, o espiritismo como filosofia, racionais, bem fundamentados e fundantes para as reflexões que serão desenvolvidas.

A análise parte de uma explicitação sobre violência, fé e fanatismo, liberdade e livre arbítrio, moral, educação e laicidade. Os eventos e posições atuais estão contextualizados e os autores efetivamente fazem uma análise espírita de um problema sério e contemporâneo que os tem afetado na Europa.

O texto surge do atentado contra o Charlie Hebdo, evita jargões e faz propostas para a sociedade francesa calcadas no pensamento espírita. Ele se posiciona com relação ao grave problema social.


Ver o pensamento espírita vivo, para mim, é uma satisfação imensa. Ver autores competentes em outros países, mais ainda. Pena que grande parte dos brasileiros hoje não conheça a língua francesa, para poder acompanhar os novos números da Revue. Se eu puder, continuo dando boas notícias oriundas desse belo órgão de divulgação espírita.


Jáder Sampaio

22.2.16

CANÇÃO DA ALEGRIA CRISTÃ

Cheguei quase no horário do início da reunião. Já havia estado naquela sala no mesmo dia, lendo as atas escritas pela mocidade da casa nos anos 70. Alguns dos personagens, cujos estudos estavam sintetizados brevemente, já estão no plano espiritual.

Passados os estudos, iniciou-se a parte da prática mediúnica. O silêncio imperava, alguns passes foram indicados pelo dirigente. Um espírito começou uma comunicação e no meio da fala pediu o médium que cantasse a música de Leopoldo Machado e Oli de Castro, Canção da Alegria Cristã. Inibindo a sugestão ele começou a recitar a letra, mas tropeçava nos versos. O espírito comunicante insistia que a música fosse cantada, mas o médium não tomava a inciativa. De repente, um dos membros, não se contendo, começou a cantar. Uma voz puxa a outra. Daí a pouco homens e mulheres presentes se alternavam fazendo uma bela “segunda voz” como nos tempos da mocidade.

De repente percebemos que era uma das músicas que cantávamos com o arranjo que surgiu, espontâneo, há trinta anos, nas reuniões de jovens da casa. A canção ergueu-se, bela, pela sala. Uma comunicação emocionada surgiu. O sentimento de profunda harmonia foi compartilhado por todos.


Os médiuns com alguma percepção haviam visto alguns dos personagens da leitura da manhã e alguns outros, ligados à casa e à mocidade, desde o início da reunião. Deixo então esta interpretação coletiva da canção da alegria cristã para sua apreciação. Aconteceu na comemoração dos 98 anos do nascimento de Leopoldo Machado, no Lar de Jesus, instituição fundada por um ele e por sua esposa na baixada fluminense, com a presença de trabalhadores notáveis da história do movimento espírita do estado do Rio de Janeiro.




17.2.16

FILME POLONÊS "BODY" CITA DIVALDO FRANCO

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A Rede Boa Nova está divulgando este filme polonês que trata de luto e mediunidade. Se você estiver em São Paulo, Rio de Janeiro ou Porto Alegre, está em cartaz. 

Agradeço a dica à Regina K. Duarte.

Filme polonês “Body” cita Divaldo Franco | Jornal Nova Era: Longa que retrata o espiritismo prossegue em cartaz em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

13.2.16

AME BRASIL SE POSICIONA COM RELAÇÃO AO ABORTO DE CRIANÇAS COM RISCO DE MICROCEFALIA POR VÍRUS ZIKA.






A Associação Médico-Espírita do Brasil produziu um texto coletivo e instigante sobre a questão do aborto a partir dos últimos eventos de microcefalia no Brasil e em outros países, associados ao vírus Zika.

Os argumentos oriundos principalmente do ensino dos espíritos, como a questão da reencarnação a partir da concepção, não foram empregados, como pude observar. O texto é bem informativo e apresenta em linguagem fácil as alternativas médicas de tratamento e as incertezas sobre o desenvolvimento de portadores de microcefalia.

Outra perspectiva, já conhecida, mas oportuna, são os estudos sobre depressão após o aborto, e sua não associação com as crenças religiosas das mulheres que se submeteram a este procedimento. É uma outra perspectiva da saúde da mulher que normalmente não é discutida pelos partidários da legalização do aborto.

Entendo que este texto pode ser objeto de uma boa discussão entre os interessados no tema.

Boa leitura.

Jáder Sampaio - pelo Espiritismo Comentado


Zika Vírus e o Aborto

Associação Médico-Espírita do Brasil

Os que defendem a legalização do aborto encontraram na associação do aumento da microcefalia com o surto de zika vírus uma oportunidade para retomar a discussão da liberação do aborto no Brasil.

Recentemente foi noticiado que grupo liderado pela Débora Diniz, do instituto de bioética Anis, prepara uma ação no STF para a liberação do aborto em casos de microcefalia. É o mesmo grupo que propôs a ação para interrupção da gravidez de anencéfalos, acatada pelo STF em 2012.

A bióloga e feminista Ilana Löwy, numa entrevista para a Revista ÉPOCA, vê no surto de zika vírus uma oportunidade para se debater o direito de decisão da mulher de ter ou não o bebê, como aconteceu com a epidemia de rubéola no Reino Unido. Interessante é que a Rubéola hoje em dia é uma doença totalmente controlável e passível de prevenção através da vacinação, deixando de ser um risco epidêmico, usado como justificativa para a liberação do aborto na Europa.

Os argumentos utilizados se baseiam na liberdade da mulher poder escolher o que é melhor para si, esquecendo que existe uma vida a qual se está negando o primeiro e mais fundamental dos direitos humanos, o direito à vida.

Cabe ressaltar que os fundamentos utilizados para liberar o aborto dos fetos anencéfalos não se aplicam nesses casos.

O diagnóstico da microcefalia é tardio, em torno da 28ª semana, diferentemente da anencefalia, que é feito a partir da 12ª semana de gestação.

As lesões da microcefalia geralmente aparecem na ultrassonografia depois da 24ª e não são incompatíveis com vida, como nos casos de anencefalia.

Além disso, o diagnóstico ecográfico de lesão neurológica não é 100% seguro, já que depende da análise de um profissional passível de equívocos. Existem inúmeros relatos de erros em fetos com diagnóstico de mal-formações neurológicas e que nasceram perfeitamente normais.

No entanto, os que argumentam em favor do aborto querem transformar o diagnóstico de microcefalia em atestado de morte para todas as crianças das mães que contraíram o zika vírus e que optarem pela interrupção da gravidez, mesmo com possibilidades de nascerem normais ou com poucas sequelas neurológicas.

Com o avanço da medicina fetal e da genética médica, hoje é possível a detecção, ainda no útero, de várias anomalias fetais. Diversas técnicas como ultrassom morfológico, ultrassom de terceira dimensão, a biópsia de vilos coriais, a amniocentese, a cordocentese, o desenvolvimento da técnica citogenética molecular permitem o diagnóstico intrauterino de várias doenças. O diagnóstico permite iniciar o tratamento antes do nascimento, como cirurgias intrauterinas para correções de más-formações, assim como a preparação psicológica dos pais para o enfrentamento das graves anomalias.

Querer selecionar apenas as crianças saudáveis com direito à vida é retomar a prática da eugenia feita na Grécia antiga e pelo nazismo, abrindo um precedente para a liberação do aborto em outros casos de microcefalia como as causadas por hipóxia neonatal, desnutrição grave na gestação, fenilcetonúria materna, rubéola congênita na gravidez, toxoplasmose congênita na gravidez, infecção congênita por citomegalovírus ou em doenças genéticas como Síndrome de Down, Síndrome de Cornelia de Lange, Síndrome Cri du Chat, Síndrome de Rubinstein – Taybi, Síndrome de Seckel, Síndrome de Smith-Lemli–Opitz e Síndrome de Edwards.

Nesses casos pessoas como Ana Carolina Dias Cáceres, moradora de Campo Grande (MS), hoje com 24 anos e formada em jornalismo, e tantas outras crianças em situações parecidas, não teriam direito à vida.

Ao saber da iniciativa de alguns em defender o aborto de fetos com microcefalia, Ana Cáceres veio a público dar seu depoimento a BBC do Brasil em defesa dos portadores de microcefalia.

Nos casos microcefalia não se pode falar na opção de abortamento, pois não se trata de patologia letal que inviabilize a vida extrauterina. Embora as limitações que possam surgir, a expectativa de vida das crianças com microcefalia não são diferentes das outras crianças, exigindo, no entanto, estimulação e cuidados especiais para melhorar a sua qualidade de vida.

A discussão do aborto em casos de microcefalia retrata bem o momento pós-moderno em que vivemos, o que Bauman, um dos maiores pensadores da atualidade, chama de modernidade líquida. Na modernidade líquida os indivíduos não possuem mais padrões de referência, nem códigos sociais e culturais que lhes possibilitem, ao mesmo tempo, construir sua vida e se inserir dentro das condições de classe e cidadão.

A modernidade líquida trouxe descentramento do homem, do sujeito, produzindo identidades híbridas, locais e globais, efêmeras sobre tudo. É a cultura do efêmero, da destruição criativa, “tudo que é sólido desmancha no ar” na imagem trazida por Bauman.

Para a maioria dos autores, a pós-modernidade é marcada como a época das incertezas, das fragmentações, do narcisismo, da troca de valores, do vazio, do niilismo, da deserção, do imediatismo, da efemeridade, do hedonismo, da substituição da ética pela estética, da apatia, do consumo de sensações e do fim dos grandes discursos.

A educação recebida dos pais e das escolas, os valores morais que orientam as boas relações sociais, o fortalecimento da família e a busca do bem comum está perdendo espaço para novas formas de comportamento regidas pelas leis do mercado, do consumo e do espetáculo.

Existe uma crise de valores com perda de referenciais importantes em detrimento de uma vida superficial e de um discurso liberal.

Na sociedade pós-moderna predomina o ter acima do ser, o prazer pelo prazer, o prazer acima de tudo, a permissividade que justifica que tudo é bom desde que me sinta bem, o relativismo no qual não há nada absoluto, nada totalmente bom ou mau e as verdades são oscilantes, o consumismo, se vive para consumir, e o niilismo caracterizado pela subjetividade, a paixão pelo nada, numa indiferença assustadora.

Renata Araújo descreve muito bem o sujeito pós-moderno:


“A pós-modernidade nos apresenta um sujeito imediatista, fragmentado, narcisista, desiludido, ansioso, hedonista, deprimido, embora também informatizado, buscando independência, autonomia e defesa de seus direitos. Mas, a supervalorização e autonomia geram um individualismo, um egocentrismo, uma ênfase na subjetividade, sendo o outro apenas para a consecução de seus objetivos pessoais.” (ARAÚJO, p. 1 e 2)

Vive-se numa época de grande competitividade e de pouca solidariedade. Em nome dessa nova ideologia, os indivíduos se permitem agir passando por cima de valores fundamentais.

A coisificação da vida e o predomínio dos interesses pessoais em detrimento do coletivo são bem característicos dessa fase em que vivemos.

Entretanto, aprendemos com a genética que a diversidade é a nossa maior riqueza coletiva. E o feto anômalo, mesmo o portador de grave deficiência, como é o caso da microcefalia, faz parte dessa diversidade. Deve ser, portanto, preservado e respeitado.

Necessário se faz proteger também a gestante, dando a ela apoio em sua gravidez e proporcionando tratamento ao seu futuro filho.

Reconhecemos que a mulher que gera um feto deficiente precisa de ajuda psicológica por longo tempo; constatamos, porém, que, na prática, esse direito não lhe é assegurado.

O aborto provocado é um procedimento traumático com repercussões gravíssimas para a saúde mental da mulher e que geralmente aparecem tardiamente.

O aborto produz um luto incluso devido à negação da ocorrência de uma morte real, mas esse aspecto é totalmente desconsiderado.

As mulheres sofrem uma perda e suas necessidades emocionais são relegadas ou escondidas. Elas não conseguem vivenciar o seu luto e lidar com a culpa. Esse processo vai gerar profundas marcas e favorecer o surgimento da Síndrome pós-aborto (PAS).

Psiquiatras e psicólogos especializados em atender mulheres que abortaram alertam para o aumento dos transtornos emocionais causados pelo aborto provocado. Eles afirmam que os efeitos psicológicos do aborto são extremamente variados e não são determinados pela educação recebida ou pelo credo religioso. Esclarecem que a reação psicológica ao aborto espontâneo e ao aborto involuntário é diferente, está relacionada com as características de cada um desses dois eventos. O aborto espontâneo é um evento imprevisto e involuntário, enquanto o aborto provocado interrompendo o desenvolvimento do embrião ou do feto e extraindo-o do útero materno contempla a responsabilidade consciente da mãe. As mulheres que se submeteram ao aborto afirmam que a culpa não é gerada de fora para dentro, infundida nelas por outras pessoas ou pela religião, ao contrário, ela surge e cresce em seu mundo íntimo a partir do ato abortivo.

Os problemas emocionais gerados pelo aborto são tão graves, que em muitos países onde ele é legalizado, foram criadas, pelas próprias mulheres vitimadas pelo aborto, associações como a Women Exploited by Abortion (Mulheres Exploradas pelo Aborto) nos EUA, e a Asociación de Víctimas del Aborto (Associação de Vítimas do Aborto) na Espanha, que orientam e alertam sobre as consequências prejudiciais do aborto.

O aborto não é definitivamente uma "solução fácil" como afirmam muitos, mas um grave problema, um ato agressivo que terá repercussões contínuas na vida da mulher.

As consequências danosas provocadas pelo aborto à saúde mental nos países onde ele foi legalizado é tão grave como a depressão profunda, que o Royal College of Psychiatrists (associação dos psiquiatras britânicos e irlandeses), alertaram que a mulher deve ser comunicada para os graves riscos emocionas que se submete caso opte pela interrupção da gravidez.

Portanto, aborto nunca será uma solução, sempre um lado ou ambos serão prejudicados. Não é dando a mulher autonomia para matar seu filho dentro de seu ventre que resolveremos os problemas sociais. Isto não passa de demagogia. É necessário investir na educação das massas para prevenção da gravidez indesejada, mas jamais matar uma criança inocente. Os fins não podem justificar os meios.

A sociedade que apela para o aborto declara-se falida em suas bases educacionais, porque dá guarida à violência no que ela tem de pior, que é a pena de morte para inocentes. Compromete, portanto, o seu projeto mais sagrado que é o da construção da paz.

A Associação Médico-Espírita do Brasil reitera seu posicionamento contra qualquer forma de violência a uma nova vida que não põe em risco a vida materna e que surge aguardando o auxílio de braços fortes e sensíveis que lhe ampare em sua fragilidade.

Concitamos a todos os colegas das AMEs para continuarmos firmes em defesa da vida e da paz.


AME-Brasil
REFERÊNCIAS
1) ARAÚJO, Renata Castro Branco. O Sofrimento Psíquico na Pós-Modernidade: Uma Discussão Acerca dos Sintomas Atuais na Clínica Psicológica. Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-Graduação em Psicologia Clínica. Disponível em:http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0311.pdf Acessado em 09/02/2016.
2) BAUMAN, Zygmunt. Ética Pós-moderna. São Paulo: Paulus Ed., 1997.
3) BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
4) BAUMAN, Zygmunt. Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
5) BAUMAN, Zygmunt. Cegueira Moral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2014
6) BERMAN, Marshall. Tudo que é Sólido Desmancha no Ar. São Paulo: Schwarce ed., 1986.
7) CÁCERES, Ana Carolina Dias 'Existo porque minha mãe não optou pelo aborto', diz jornalista com microcefalia. Disponível em:


8) LÖWI, Ilana. A rubéola levou à legalização do aborto no Reino Unido. O zika fará o mesmo no Brasil? Disponível em:http://epoca.globo.com/vida/noticia/2016/02/rubeola-levou-legalizacao-do... Acessado em 09/02/2016.
9) RAZZO, Francisco. Um novo nome para uma velha fantasia. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/um-novo-nome-para-uma-vel... Acessado em 09/02\/2016.

7.2.16

O FRATERNISTA PUBLICA "QUEM É O SAL DA TERRA ?"




O jornal O Fraternista, do Grupo da Fraternidade Irmã Scheilla, publicou no último número um texto nosso de reflexões sobre a instrução de Jesus aos discípulos no Sermão da Montanha, quando afirma que são o "sal da terra". 

O leitor do Espiritismo Comentado pode acessar diretamente do link: http://www.gruposcheilla.org.br/pages/acesso/acontece/ofraternista/fraternista70.pdf

Aguardo comentários e análises dos interessados.

5.2.16

PROPOSTA DE ENSINO INTER-RELIGIOSO DE DORA INCONTRI




Abrindo o carnaval, fui convidado a conversar sobre religião e ensino inter-religioso com os amigos do Grupo Espírita Luz e Paz. A autora talvez mais produtiva sobre este tema no movimento espírita é a professora Dora Incontri, que desenvolveu metodologia para adoção desta forma de educação religiosa nas escolas e universidades. Esta entrevista rápida, de apenas cinco minutos, mostra alguns de seus princípios de ação e faz uma bela defesa da religião e da religiosidade, com uma visão diferente das desconstruções iluminista. marxista e niilista, infelizmente muito presentes no meio universitário atual.

20.1.16

DESENCARNA ÊNIO WENDLING

Ênio Wendling


Recebi ontem a notícia da desencarnação de Ênio Wenling, médium e liderança muito expressiva do Grupo de Fraternidade Irmão Glacus, da capital mineira. Foi no dia 17 de janeiro do corrente.

Conheci o Ênio, ou melhor, o vi em atividade mediúnica pela primeira vez no Grupo de Fraternidade Irmã Scheilla, em Belo Horizonte, no início dos anos 80. Papai (José Mário Sampaio) havia sido convidado para fazer uma palestra em uma tarde de domingo e fui assistir. Era organizada pelo Grupo da Fraternidade Irmão Glacus, que ainda não tinha sua sede no bairro Padre Eustáquio. Era uma espécie de reunião de confraternização, e o Glacus tinha por prática separar um tempo para que médiuns de psicofonia e psicografia pudessem permitir a manifestação dos espíritos. Ênio foi o médium de José Grosso e Palminha. Um deles conversou em voz alta com meu pai.
A construção da sede do Glacus no Padre Eustáquio foi cheia de histórias. Houve a aquisição de um terreno na Nova Suíça, cuja construção foi interrompida com um grande incêndio. Vendido o terreno e adquirido outro, lembro-me dos automóveis que foram expostos na Praça Sete, coração de Belo Horizonte, para o esforço de venda de rifas autorizadas pelo governo federal, com a finalidade de arrecadação de recursos. O Glacus, hoje conta com a sede no Padre Eustáquio e outra, imensa, com creche, parque gráfico e outros espaços, na região do Ceasa.



Anos depois passei por uma situação interessante com o médium. Já construída a sede do “Glacus”, fui convidado a fazer uma palestra, durante a semana, à noite. Nunca havia feito qualquer exposição nesta casa, e não conhecia os organizadores da reunião, excetuando o Ênio, que lá estava, e que não conhecia pessoalmente. O salão da casa ficou enorme e estava cheio. Neste dia, atrasei-me e quando cheguei a reunião já havia iniciado. Resolvi não me identificar e assentei ao fundo, no cantinho, para assistir à reunião. Vieram as exposições e depois as comunicações, como de praxe. Não me recordo bem quando, mas iniciaram-se os passes. O Glacus seguia uma orientação, talvez iniciada no antigo Centro Oriente, que cada passista deveria aplicar apenas três passes. Eles não acatam a orientação do espírito André Luiz, no livro Conduta Espírita, de “jamais temer a exaustão das forças”. Daí a pouco fui procurado pelas pessoas deste serviço, que me pediram que aplicasse passes. Ante minha expressão de dúvida, disseram que foi orientação espiritual e que havia vindo da mesa de trabalhos. Jamais soube se alguém me identificou ou se foi pela via mediúnica que souberam que eu sabia e tinha condições de aplicar passes. Depois do terceiro, agradeceram minha contribuição.

Já publiquei no Espiritismo Comentado sobre o Grupo da Fraternidade Irmã Ló, onde Ênio trabalhou como médium, ainda no período em que se tratava apenas de uma residência onde se faziam reuniões de materialização, com a presença de outros médiuns que ganharam expressão no movimento espírita, como Peixotinho.  Estes trabalhos deram notoriedade a Jair Soares, que doaria no futuro a casa para a construção de um centro espírita.
http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2008/11/grupo-da-fraternidade-irm-l.html Fiquei devendo os artefatos materializados, que eles guardam até hoje em uma pequena cristaleira.

Ênio retornou à pátria espiritual, após uma longa existência dedicada à mediunidade e à caridade. O movimento espírita da capital mineira lhe deve o reconhecimento e uma multidão de pessoas o agradece por tudo o que conseguiu realizar.

Localizei uma biografia no site da FEIG e uma entrevista com ele, do jornal Evangelho e Ação, para o leitor que se interessar por sua biografia:




5.1.16

TERTULIANO E OS CRISTÃOS DO SEGUNDO SÉCULO



Tertuliano


Consegui na internet uma tradução para o português do livro Apologia (feita por José Fernandes Vidal e Luiz Fernando Karpss Pasquotto), escrito por Tertuliano no ano 197. O autor é citado por Léon Denis no seu Cristianismo e Espiritismo, pela proximidade de algumas ideias com o espiritismo. Ele foi mestre de Orígenes, que defendeu abertamente a preexistência das almas, como forma de explicar a justiça divina, entre outras posições que lhe valeram, no futuro, a acusação por heresia.

Tertuliano era de Cartago, no continente africano. "e exercia a profissão de advogado quando se converteu".

Nos primeiros capítulos de sua Apologia, Tertuliano faz uma peça de defesa contra o "crime de ser cristão", que é encantadora. Neste texto se vê o que já li em Amélia Rodrigues e outros autores espirituais, que bastava ao cristão negar ser cristão publicamente, e sacrificar aos deuses, para ser absolvido.

Tertuliano desenterrou um texto de Plínio, o moço, no qual ele questiona ao imperador Trajano por que perseguir os cristãos, que, em suma, nada de mal faziam ao império, a não ser não sacrificar aos deuses. Trajano afirma que não deveriam ser perseguidos, mas se fossem trazidos diante dele, deveriam ser punidos.

O advogado cartaginês vai apontar passo a passo todas estas contradições do discurso imperial, comparando o cristão ao criminoso comum. Ele mostra que o criminoso comum costumava ser torturado até admitir seu crime, enquanto o cristão, entregava-se imediatamente se questionado. - "Sou cristão". Ao contrário do criminoso, iniciava-se toda uma manobra para que ele mentisse em público e fosse inocentado.

Usando de ironia, ele escreve:

"Assim, o nome odiado é usado preferencialmente a uma reforma de caráter. Alguns até trocam seus confortos por este ódio, satisfazendo-se em cometer uma injúria para livrarem sua casa dessa sua mais odiosa inimizade. O marido, agora não mais ciumento, expulsa de sua casa a esposa, agora casta. O pai, que costumava ser tão paciente, deserda o filho, agora obediente. O patrão, outrora tão educado, manda embora o servo, agora fiel. Constitui grave ofensa alguém reformar sua vida por causa do nome detestado."

O texto, longe de ser monótono, é muito interessante. Ressalvada a intenção do autor, que é de defesa do cristianismo, um texto desta época é um documento importante para conhecermos melhor o que aconteceu com o cristianismo em sua trajetória. Com certeza, há uma diferença marcante entre os cristãos dos primeiros séculos descritos pelo cartaginês, e os clérigos renascentistas ironizados por Boccaccio em Decamerão.