25.6.16

O QUE CARAMELOS TÊM A VER COM PAULO DE TARSO?



Saulo de Tarso

Jaques foi convidado a falar sobre a vida de Paulo de Tarso para crianças, quase jovens, de 11 e 12 anos de idade. Um dos evangelizadores, Levi, pediu a ele que observasse a letra da música Vaso Escolhido, escrita por Gladston e interpretada por Tim e Vanessa, para que os evangelizandos pudessem entender as frases que remetem à vida do doutor da lei. Encomenda difícil. Os jovens estudam em boas escolas da capital mineira, mas como despertar o interesse por um personagem que está cada dia mais distante do meio escolar e da experiência de quem cada dia menos tem contato com o cristianismo, na escola, na televisão e no círculo de amizades?

Ele pensou em uma apresentação de slides que fizera há alguns anos, para adultos. Teve o bom senso de consultar Levi que lhe respondeu, presto:
- O conteúdo está muito “master level”, né?

Estava. Jaques pesquisou a internet, para conhecer melhor a música do Gladston, e encontrou um material interessante. Um vídeo do “youtube” que tinha imagens recortadas de um desenho animado e como som, a música citada.

Nova consulta, e Levi respondeu:

- É legal para ilustrar, mas você devia usá-lo para introduzir, que é apenas uma animação, para eles não encararem o desenho como “infantil”. Nesta idade eles se queixam muito de não se usar técnicas que consideram infantis.

O que fazer então? E veio a luz.

Jaques separou algumas das principais passagens da vida de Saulo-Paulo, encontradas no livro dos Atos dos Apóstolos. Ainda assim era muita coisa. Selecionou todos os que se encontravam ilustrados no desenho animado. Selecionou também os que eram necessários para explicar a música que seria tocada, por exemplo, por que Paulo é chamado de vaso escolhido?

Na hora de sair para a aula com toda a parafernália, notebook, mapa das viagens de Paulo, etc., Jaques viu o pote cheio de caramelos e o esvaziou. Eles seriam úteis para esta idade.

Iniciada a aula e cantada a música, Jaques começou a aula perguntando aos alunos o que sabiam da vida de Paulo.

- Detesto ensinar “o padre nosso ao senhor vigário”, vocês sabem o que é isto?

- Não, Jaques, o que é? Responderam

- Ensinar coisas que as pessoas já conhecem.

Algumas  informações eles já conheciam. Paulo era apóstolo de Jesus, mudou de nome, estava em um cavalo quando viu uma luz... As respostas foram sendo anotadas no quadro e problematizadas:

- O que é apóstolo?

- Tem os apóstolos e os discípulos, Jaques!

- Mas Paulo não era um dos doze!

E o diálogo começou, cheio de questões sobre as informações que eles já dispunham. O interesse começou a despertar.

Jaques comunicou que iria contar a história de Paulo. Contudo, provocou os alunos a participar da seguinte forma:

- Vou contar a história de Saulo, mas vou parar de tempos em tempos para fazer perguntas. Quem acertar ganha um caramelo, ok? No final, vou passar um desenho animado sobre Paulo, sem as falas. Quem identificar o que está acontecendo, ganha um caramelo também! Não tenho para todos, então alguns ficarão sem. Tudo bem?

Feito o contrato psicológico, a história começou a ser contada, mas interrompida sempre pelos alunos, que tinham uma dúvida, algo a contribuir, um comentário, até mesmo brincadeiras meio fora de hora.

O desafio e a competição natural da idade eram mais motivadores que os doces, mas todos queriam ganhar. A história de Saulo despertou uma série de questões de história e geografia.

- Quem sabe para onde Saulo ia quando viu Jesus?

- Jerusalém! Disse um.

- Roma! Disse outra.

- Damasco! Lembrou uma aluna.

- Damasco é capital da Síria, não é professor?

- Como você sabe?

- Meu pai é professor de geografia!

Depois de algum tempo, os alunos estavam chamando Jaques de professor. E as mãos levantavam sempre, tentando resolver os problemas que eram colocados ou mesmo, apenas, participar. Quase todos gostaram desta forma meio aula, meio brincadeira de ensinar e aprender.

- Você é professor de história? Perguntou um deles.

Os caramelos começaram a ter outra utilidade. Quem ganhou um, não podia ganhar outro, para que eles atingissem o número maior de colegas. Então, na hora de responder, quem já havia respondido certo tinha que ceder a vez para quem ainda não havia ganhado. Jaques pensou que os que haviam ganhado podiam ficar desmotivados, mas isto não aconteceu. Eles continuavam levantando a mão e esperando a resposta dos colegas. Sabiam que se os colegas não respondessem certo, teriam sua vez, mesmo sem ganhar nenhum caramelo. Ninguém se importava.

Apenas três caramelos haviam sobrado para o vídeo, que foi usado como atividade de verificação da aprendizagem. Foi necessário improvisar, e escolher apenas as três cenas mais difíceis para distribuir as balas que sobraram.

Eles continuaram se interessando e participando, de forma disputada.

Estêvão foi facilmente identificado, Ananias também. A fuga de Damasco foi lembrada. E os alunos iam falando, até que sobrou apenas um caramelo.

- Que cena é esta? Perguntou Jaques. Quatro mãos levantaram-se.

- A fala de Estêvão?

- Não, esta cena aconteceu depois das viagens de Paulo.

- Foi quando Paulo estava ensinando e foi apedrejado e jogado no monturo?

- Não, foi depois deste evento. Disse Jaques.

Um dos mais falantes, mas que ainda não havia conseguido ganhar seu doce, pediu a vez.

- Foi quando Paulo foi julgado em Jerusalém e falou que era cidadão romano?

- Acertou! E uma bala voou até sua mão.

A avaliação foi um sucesso, e ninguém achou que se tratava de atividade de criancinha.

- Como Paulo morreu? Alguém perguntou.

Jaques não tinha certeza. Não havia o relato da morte de Paulo nos atos dos apóstolos.

- Como cidadão romano, não deve ter sido crucificado. Talvez executado com a espada. Mas eu não tenho certeza. Vou verificar e o Levi fala com vocês na semana que vem, ok?

Não houve problema. O respeito não diminui com a verdade.

Ao final da aula, um dos alunos falou com Jaques:

- Você volta para dar outra aula?

Não há elogio melhor para um professor que este.

Todos começaram a cantar, acompanhados pelo violão de Levi, que tocava muito bem, e os passistas entraram na sala para aplicar passes em quem desejasse.

A aula terminou, mas a conversa continuou após os passes, até que todos se fossem.


12.6.16

O QUE É PSICÓFORO?





Jáder Sampaio

Um passeio por alguns textos do famoso pesquisador, Ian Stevenson, que estudou casos de recordações de eventos de outras encarnações em crianças, e recordei-me de uma frase do Sr. Virgílio Almeida. “Se os espíritas negligenciarem a divulgação das ideias espíritas, a ciência as redescobrirá”.
No livro “Where reincarnation and biology intersect” (Onde a reencarnação e a biologia se cruzam), publicado em 1997, o autor discute como uma personalidade desencarnada poderia influenciar a formação do próximo corpo físico. Ele havia encontrado em suas pesquisas, marcas de nascença, como manchas, cicatrizes e más formações, com clara associação a eventos recordados pelas crianças estudadas de uma vida passada. Ele percebe que no intervalo entre encarnações, se a hipótese da reencarnação estiver correta, as memórias precisam ser mantidas em algum lugar, e que este lugar deveria influenciar de alguma forma, ou o processo de fertilização do zigoto (p. 183), ou os embriões. Ele propõe diversas possibilidades para que as duas coisas aconteçam:

1.       modificar as secreções vaginais da futura mãe
2.       Influenciar de alguma forma a mãe para induzir o sexo do futuro bebê
3.       Influenciar o feto ou embrião diretamente, gerando, por exemplo, marcas ou defeitos de nascença

Qualquer que seja o processo, seria necessário um tipo de modelo que imprima os efeitos das memórias no embrião ou feto, gerando as características físicas que ele encontrou nas crianças que se recordam das vidas passadas. A partir deste raciocínio, ele propôs um conceito:

“O modelo precisa ter um veículo que carregue as memórias do corpo físico e também as cognitivas e as comportamentais. Eu sugeri a palavra psicóforo, que significa “veículo da mente”. (p. 183)

Creio que li em outro livro o termo psicosfera, como tradução de “psychophore”, mas não me pareceu correto. O pospositivo –sfera, quer dizer globo, esfera, bola. O Houaiss dicionarizou o pospositivo –fora ou -foro, com o sentido de “levar, carregar”, como deseja Stevenson. A melhor tradução para o português, portanto, é psicóforo.
O que originou este comentário é a similitude com uma das propriedades da palavra “períspirito”, criada por Allan Kardec e inicialmente empregada em “O livro dos espíritos”. Kardec não o emprega como modelo da formação do corpo, mas como laço de união entre o corpo e o espírito, contudo ele seria capaz de influenciar o corpo, como se lê em A Gênese:

Pela identidade da sua natureza, esse fluido, condensado no perispírito, pode fornecer princípios reparadores ao corpo; o Espírito, encarnado ou desencarnado, é o agente propulsor que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância do seu envoltório fluídico. (Kardec, A Gênese, cap XIV, páragrafo 31)

Depois, na literatura espírita brasileira, encontramos Gabriel Delanne, no livro “A reencarnação”, após citar um parágrafo sobre embriogênese, escrito por Claude Bernard:

“Uma vez que o períspirito organiza a matéria, e como esta ressuscita das formas desaparecidas, parece lógico concluir que ele conserva traços deste pretérito, porque a hereditariedade, como veremos, é impotente para fazer-nos compreender o que se passa.” (p. 64)

Não sei se Stevenson conhece a fundo o pensamento espírita, mas parece que Seu Virgílio está com a razão. Para os espíritas, ele redescobriu a roda ao criar esta nova palavra. De qualquer forma, é importante que o estudioso do espiritismo acompanhe as pesquisas sobre os assuntos que dizem respeito à doutrina, já que contribuem ao trazer novas evidências e discussões para questões centenárias.

Referências

Delanne, Gabriel. A reencarnação. Rio de Janeiro, FEB, 1992. Traduzido por Carlos Imbassahy.
Kardec, Allan. A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. 16 ed. Rio de Janeiro, FEB, 1973. Tradução da 5 ed. francesa por Guillon Ribeiro.
Stevenson, Ian. Where reincarnation and biology intersect. Westport-CT, Praeger, 1997. ISBN 0-275-95189-8


7.6.16

OS ESPÍRITAS AMAZONENSES E SUAS HISTÓRIAS DE AMOR CRISTÃO.








Estava navegando pela internet e esbarrei sem querer em uma preciosidade: os anais do II Simpósio da Fundação Allan Kardec. Depois descobri que há anais de três simpósios, disponíveis na página da FEAK, que funciona no Amazonas.

Ainda não terminei de ler, confesso que li meia dúzia de relatos, mas não é preciso ler muito para saber que tem qualidade. 

Uma das contribuições que estes anais nos dão, são os relatos de casos. Sempre achei que a mania de escrever manuais para uniformizar tarefas, em um país tão continental quanto o nosso, tem diversos problemas. Penso ser mais útil que as sociedades espíritas mostrem o que fazem, como e porque construíram sua prática. Assim, há um real repasse de experiência entre diferentes sociedades espíritas.

Os relatos que encontrei são pessoais, mas refletem as lutas, as dificuldades e os resultados encontrados em diferentes frentes de trabalho. 

Senti-me dentro do Rio Negro, acompanhando a trabalhadora que acorda às quatro e trinta da manhã para tomar o barco, navegar por três horas, subir na carroceria de um caminhão com seus colegas de tarefa (adultos e crianças) e chegar em um sítio na estrada para fazer palestra, passe e diálogos.

Vi-me nas imediações do Palácio do Comércio, em busca das crianças que, dizem, "cheiram cola", e acompanhei a tarefa de encontrá-las, dar-lhes alimento, compartilhar do medo, travestido de hostilidade, com que a população e os comerciantes locais as tratam. 

Emocionei-me com o menino que contou ter esfaqueado o padrasto, que violentava sua irmã menor, e saiu correndo, fugido de casa, com o projeto de voltar para vingá-la quando tivesse dezoito anos.

Lembrei-me do Lar Espírita Esperança quando li que a população de rua era acolhida no centro para um café da manhã, com um kit de higiene pessoal, guardado cuidadosamente para cada pessoa.

Eu poderia ficar borboleteando história a história, mas o texto ficaria imenso, então vou deixar o link dos anais para quem se interessou e deseja ler: http://www.faknet.org.br/wp-content/uploads/2015/04/Anais-II-SImposio-FAK.pdf

Os outros dois anais estão no site http://www.faknet.org.br/, à direita.

Há uma coisa preciosa nestes relatos. Temos acesso à visão do trabalhador espírita, com suas realizações e frustrações, mas vemos também a visão dos excluídos com quem eles trabalham. É uma publicação que humaniza e emociona a quem lê. 

Lendo os relatos, identifiquei duas ou três mãos espirituais: Mário Barbosa e Raul Teixeira, cujas ideias e verbo parecem ter feito parte da construção das atividades na região (espero não estar equivocado). A terceira mão é de Leopoldo Machado, andando no lombo de burro, de jardineira, de avião, também, para levar o pacto áureo ao norte e ao nordeste, sempre preocupado com a infância.

4.6.16

FLAMMARION, O POETA REENCARNADO

Camille Flammarion e Dom Alonso de Ercilla y Zuñiga


Karl Muller reproduziu uma história intrigante. O astrônomo Camille Flammarion publicou na Revue Spirite, em janeiro de 1925 que havia conhecido um espírito que se comunicava através de um médium em transe no século XVI, quando ele houvera sido Dom Alonso de Ercilla y Zuniga (1533-1594).

Flammarion leu a biografia do poeta e viu que ele havia sido condenado por decapitação, quando estava no Chile, e que sua sentença havia sido revogada. Ele lembrou-se, depois disto, que tivera pesadelos nos quais desejavam decapitá-lo, e acordava perturbado, mas nunca sonhara que havia sido realmente decapitado.

Neste episódio não se pode falar em provas de reencarnação, mas muito provavelmente a revelação espiritual causou forte impressão em Camille, em função de seus sonhos. Embora alguns tipos de sonhos sejam comuns, como sonhar que se está voando, na literatura que estudei sobre este fenômeno psicológico, nunca vi relacionado como sendo comum um sonho de decapitação, ou o medo de ser decapitado. 

Zuñiga era poeta, chegando a ser destacado por Cervantes. Até onde sei, Flammarion não publicou poesias, mas era um cientista curioso, porque escrevia romances e narrativas, ao contrário de seus colegas, cuja grande maioria aprende a escrever segundo as regras das ciências, que exige objetividade e reprime a imaginação, obriga abandonar as figuras de linguagem pela comunicação direta e sem polissemia, além de condenar outros recursos usados pelos literatos.

Flammarion e Zuñiga lutaram em guerras. O espanhol viajou ao Peru e ao Chile, onde lutou por sua pátria contra os Mapuches, e Flammarion participou da Guerra Franco-Prussiana como capitão. Seu papel e de seus companheiros era observar com lunetas, do alto de um castelo, as posições dos alemães e sua artilharia, identificando posições do inimigo.

Conhecemos pouco de Dom Alonso para fazer qualquer comparação entre sua personalidade e a de Camille, que é mais conhecida em função de suas publicações autobiográficas.

Ainda não tive acesso à Revista Espírita citada, porque a Encyclopedie Spirite, que tem publicado em francês os números posteriores a Kardec, encontra-se ainda em dezembro de 1924, um mês antes do artigo de Flammarion citado por Karl Muller.

Fonte: Muller, Karl. A reencarnação baseada em fatos. 4 ed. São Paulo, Edicel, 1986.p. 242

1.6.16

ESPÍRITA FRANCESA CONTA HISTÓRIA DE REENCARNAÇÃO A ROCHAS


Foto de Rufina Neuggerath


O Coronel Albert de Rochas publicou um livro sobre recordações de outras vidas obtidas pelo magnetismo, chamado As Vidas Sucessivas. É um livro importante para o espiritismo, porque ele obtém através de meios empíricos, fenômenos que sugerem a existência da reencarnação, ainda que inconclusivos.

Em uma parte de seu livro encontramos uma carta escrita a ele por Rufina Neuggerath, conhecida como boa mãe dos espíritas, que mantinha um grupo mediúnico na segunda metade do século XIX, na França.

Rufina teve contato com os estudos de Rochas, e resolveu enviar um caso que ela teve contato para avaliação do estudioso, que o publicou.

O príncipe Wisznieuwski viajava com o príncipe Galitzin e encontrou uma moça em condição de mendicância, que lhes chamou a atenção. Eles resolveram adormecê-la (hipnotizá-la ou magnetizá-la) e o fizeram em um hotel, após pagar-lhe o jantar.

Em estado sonambúlico ela afirmou que havia morado na Itália, que era a Condessa de Y., morava em um castelo e era cruel. Ela empurrou o marido de um rochedo, o que foi visto pela cidade como um acidente, e permaneceu impune até a desencarnação.

Os nobres resolveram investigar o relato e foram ao local. A maioria das pessoas de lá não haviam ouvido falar no incidente, até que um camponês se recordou do evento, que havia ouvido falar quando era criança. Dispôs-se a mostrar o rochedo e afirmou que muita gente desconfiava da condessa, mas ela não foi condenada.

O caso chama a atenção, porque ainda no século XIX encontramos uma tentativa de verificação das informações de um sonâmbulo que alega recordar-se de vida passada. Se o relato do camponês for confiável, àquela época, há evidência que não se trata de fabulação ou ecmnésia, hipóteses psiquiátricas para as recordações alegadas de vidas passadas.

26.5.16

RELIGIÕES, TRADIÇÕES ESPIRITUAIS E NATUREZA



O Laboratório de Análise de Processos em Subjetividade, da Universidade Federal de Minas Gerais, organizou um evento intitulado "Um retorno às fontes: diálogo inter-religioso e ecologia", do qual fizemos parte, no início de maio.

A TV UFMG fez este breve e simpático recorte dos convidados, expoentes de diversas religiões e tradições espirituais, na tentativa de responder à seguinte pergunta: "Como crescer na consciência de pertença à natureza, segundo os valores de sua religião?" Veja que resultado interessante!

13.5.16

COMO SE DEU A APROXIMAÇÃO, NA FRANÇA, ENTRE ESPÍRITAS E TEOSOFISTAS?



Acabo de ler "de um só fôlego" o livro acima escrito por Adriano Calsone. Conheci o autor no último encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, quando ele foi convidado a lançar seu trabalho e apresentá-lo rapidamente para nós.

Adriano é formado em Comunicação Social, com pós graduação em mídias digitais, o que, de certa forma, explica o texto. É uma narrativa que flui aos nossos olhos, fácil de ler, com letras grandes, como convém às pessoas que como eu, já precisam do auxílio de óculos para ler. O projeto gráfico é agradável e criativo. As citações aparecem com letras diferenciadas, mas dão continuidade ao texto, fluem, em vez de apenas servirem como uma espécie de prova do que foi afirmado antes. Infelizmente, Calsone não faz as citações completas, para a tristeza dos estudiosos do espiritismo, que gostam de rever as fontes. Eles terão mais trabalho...

O livro assusta a um leitor espírita, conhecedor de Kardec, porque trata da Teosofia de Mme. Blavatsky, Coronel Olcott e Annie Besant, mas, curiosamente, como ela ganhou as colunas da Revue Spirite no século XIX, após a desencarnação de Allan Kardec. É, portanto, uma recuperação histórica, sob a ótica do autor do livro, de uma época do movimento espírita, pouco conhecida por nós, espíritas brasileiros, seja pela dificuldade de acesso à Revista Espírita em língua portuguesa após 1869 (ano em que desencarnou Kardec), seja pela escassez de trabalhos históricos desta época.

O texto faz uma retrospectiva da história controversa de Mme. Blavatsky, embora não mencione a pesquisa sobre sua mediunidade feita pelos estudiosos da American Society for Psychical Research, que tanta reação causaram aos adeptos da Teosofia.

O que se vê no livro foi uma aproximação de Pierre-Gaëtan Leymarie aos fundadores da doutrina teosófica à época em Blavatsky vivia na França. Ele parece tê-la percebido como médium e ter-se deixado levar pelas semelhanças de suas ideias com as propostas pela Doutrina Espírita, sem atentar muito para as diferenças. Talvez ele tenha se inspirado em uma prática de Kardec na Revue, que dá notícias de semelhanças e diferenças de outras formas de pensamento que fazem alguma fronteira com o espiritismo, como o fez com o druidismo, o islamismo e similares.

Calsone recuperou e deixou uma lista ao final do livro dos 50 artigos publicados pela Revista Espírita que tratam da Teosofia, seja de divulgação da mesma por seus profitentes, seja de crítica dos espíritas franceses que aos poucos vão se apercebendo das diferenças.

Blavatsky chega a tentar modificar a linha editoral da Revista, criticando que ela seja um veículo de discussão e informação do espiritismo, para tornar-se uma espécie de revista de variedades sobre doutrinas espiritualistas, ou seja, que permita ser usada para a divulgação da teosofia, vista por sua fundadora como um avanço do pensamento espírita. Os franceses, contudo, perceberam as diferenças metodológicas entre o trabalho originado na obra de Kardec para a construção do pensamento espírita e o da teosofia, que se fiava apenas na seriedade dos seus médiuns, na milenaridade do pensamento oriental e na autoridade de Helena como leitora, ou melhor, releitora e autora de uma nova contribuição ao espiritualismo.

Creio que Calsone tenta escrever um texto que prenda espíritas e teosofistas, e faz um esforço hercúleo para "afastar-se de seu objeto de estudo" e relatar os eventos como aconteceram, interferindo o mínimo possível com seu juízo de valor. Isso causou-me a impressão de que o texto flutua entre a teosofia e o espiritismo, sem deixar clara qual é a filiação do autor. Calsone é um egresso da teosofia que voltou-se ao movimento espírita ou um espírita que fez um esforço de apreensão da teosofia para relatar um pedaço da história do nosso movimento na Europa? Creio que este mistério só ele mesmo pode resolver.

Título: Em nome de Kardec
Autor: Adriano Calsone
Editora: Vivaluz Editora
282 páginas
2015 - 1a. edição

Post Scriptum

Tive a satisfação de receber o texto abaixo do autor do livro, que explicou a questão que levantei.

"Jáder, amigo. Agradeço a iniciativa da resenha literária, atitude importante à cultura espírita. Infelizmente, a crítica contemporânea como análise conscienciosa é ação cada vez menos praticada em nosso meio literário espírita. Obrigado!

Sobre a minha filiação, ao contrário da curiosa trajetória do professor Herculano Pires, que jovem passou pela Teosofia para depois tornar-se espiritista, conheci o Espiritismo na adolescência por meio dos cursos da Federação Espírita do Estado de São Paulo e, desde então, permaneço espírita sem mistério. Portanto, não sou egresso do Teosofismo. Na introdução de nosso livro, faço lembrar que “antes de começarmos a escrever esta obra, mal sabíamos o que era a Teosofia, embora ainda não saibamos exatamente o que ela possa significar, já que nos pareceu ser mesmo uma doutrina secreta – fechada e reservada a poucos”. O que me desagradou ao estudar esta doutrina secreta do século 19 foi, justamente, o seu caráter secreto por estatuto e o seu processo seletivo por aptidão mediúnica, condições que acenderam uma aura de doutrina seleta, reservada para poucos.

De fato, o nosso estudo “flutua entre a teosofia e o espiritismo”. Isso aconteceu naturalmente, em virtude do enorme interesse que temos pelo entendimento das relações interpessoais no pós-Kardec francês. E em nosso próximo trabalho, a biografia da Madame Kardec, não será diferente: também flutuaremos para as relações interpessoais... Por conta disso, descemos até o chão das “fábricas” (Teosofismo e Espiritismo) para conhecer a vida e os costumes de seus “funcionários”, o que pode justificar este afastamento do objeto de estudo, mas sem relação alguma com questões de filiação.

Nas edições da Revista Espírita observamos que Allan Kardec, como de hábito, estudou e publicou opiniões sobre as diversas crenças ou escolas espiritualistas de sua época. Na Revue de outubro de 1868, por exemplo, há um artigo elogioso sobre a “Doutrina de Lau-Tse”, em que o mestre fala nas últimas linhas do “traço de união para a aliança fraterna das crenças”, “resultado que o Espiritismo deve chegar”. Esse objetivo fraternal das crenças unidas, embora utópico, esteve para o mestre sempre pautado na necessidade do estudo e do respeito. Foi o que almejamos em nossas pesquisas publicadas no Em nome de Kardec: estudo e respeito à contribuição do próximo.

Pelo pouco que estudamos sobre a Teosofia no Espiritismo, tivemos a oportunidade de conhecer e estimar as iniciativas de seus fundadores (Blavatsky e Olcott) e de seus continuadores (Besant, Steiner e Leadbeater, dentre outros). No caso particular da teósofa Anne Besant, que dedicamos um capítulo no livro, é inegável a importância de seu legado espiritualista, especialmente o seu trabalho intelectual e humanitário em prol da sociedade indiana. Neste aspecto, flanamos para ressaltar a contribuição social da Teosofia (também como doutrina que negou o materialismo), que pode, obviamente, servir como exemplo salutar à nossa militância espírita." 

Adriano Calsone

29.4.16

VIRGÍLIO ALMEIDA NO AME MAIS



A Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte (AMEBH) publicou mais um número de seu jornal AME-MAIS. Neste exemplar tivemos a satisfação de ver publicada uma matéria sobre o Sr. Virgílio Pedro de Almeida, de nossa autoria. A memória deste homem deveria ser preservada e estudada pelo movimento espírita, dada a influência de suas ideias e ações.

Além deste trabalho foi republicado com pequenas modificações um artigo nosso sobre "O Livro dos Espíritos" que veio à luz há muitos anos na revista Reformador. 

O periódico fala da campanha permanente de incentivo à leitura, promovida pelo Departamento de Apoio à Juventude da regional nordeste, um relato de Priscila Trevisani sobre as ações de comemoração à data de nascimento de Chico Xavier na capital mineira.

Sobre a promoção social, há uma descrição do trabalho de  assistência espiritual em presídios feita por Heli Bruzadelli, uma descrição da visitação à penitenciária de mulheres feita por Rosely Issa.

A AME e o CEM noticiaram suas reuniões em duas matérias.

Há uma chamada para o Congresso Médico Espírita que será realizado no próximo mês de agosto (as vagas estão acabando...).

São diversas as notícias sobre arte espírita em BH e região. Uma reflexão sobre a dramaturgia espírita de Adriano Alves, uma chamada para o festival espírita 5 minutos, o lançamento do CD Modificação do Grupo Lírio Celeste, notícias sobre a campanha de popularização de arte espírita (Teatro da Maçonaria) e a participação de nossa região no II Encontro Nacional de Arte Espírita.

Prof. José Passini, de Juiz de Fora-MG, escreveu um artigo breve sobre a filosofia espírita no qual disserta sobre princípios do espiritismo.

Um artigo sem autoria indicada sobre pontos em destaque do livro "Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", uma mensagem de Bezerra de Menezes psicografada por Wagner Gomes da Paixão e um artigo de José Márcio de Almeida sobre a assertiva de Paulo na Carta aos Corínthios encerram esta parte de estudos da revista.

Cruzadinhas e uma tirinha fecham este número.

Interessaram-se por algum destes assuntos? Podem acessar diretamente no link abaixo.


https://drive.google.com/file/d/0By6-j12GeL-iYkU2azBvWUxGV3M/view?usp=drivesdk

28.4.16

MEDIUNIDADE: PESQUISA E HISTÓRIA É O TEMA DO 12o. ENCONTRO NACIONAL DA LIHPE




12º ENCONTRO NACIONAL DA LIGA DE PESQUISADORES DO ESPIRITISMO
Tema central: “Mediunidade: pesquisa e história”
27 e 28 de agosto de 2016
São Paulo – SP

CHAMADA DE TRABALHOS

Apresentação
Nos dias 27 e 28 de agosto de 2016, o Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo (ENLIHPE) estará na sua 12ª edição. Os ENLIHPEs se tornaram espaços, não somente de apresentação e discussão de trabalhos inéditos de pesquisa sobre a temática espírita, mas também de encontros entre pessoas afins ao propósito de desenvolvimento do aspecto progressista do Espiritismo. Neste ano, o tema central será a MEDIUNIDADE, com foco no que seja pesquisar a mediunidade, estudo de casos e aspectos históricos. Entretanto, esperamos contar também com bons trabalhos de pesquisa espírita de temática geral e desejamos que os participantes interajam entre si para formação de novas parcerias e grupos de pesquisa para o futuro.


Instruções aos autores

A data final para submissão de trabalhos é 31 de MAIO de 2016. A confirmação do recebimento e o parecer da Comissão Científica sobre o artigo serão enviados eletronicamente ao email do remetente. A avaliação será feita utilizando-se o sistema Double Blind Review, no qual o trabalho é avaliado anonimamente por 2 por membros da Comissão Científica do encontro.

Todos os trabalhos deverão ser submetidos, exclusivamente, por meio de endereço eletrônico.
Os trabalhos poderão ser submetidos em forma de artigo científico, conforme procedimentos definidos a seguir:

Artigo científico
•O artigo deverá ser gravado em 2 arquivos:
ARQUIVO 1 – contendo o nome, o título do trabalho e o resumo;
ARQUIVO 2 – contendo o título e o texto integral do artigo sem qualquer identificação de autoria. Ambos os arquivos deverão ser enviados anexados, simultaneamente, para: enlihpe12@gmail.com colocando no ASSUNTO “NOME DO AUTOR - submissão ao ENLIHPE 12”.

Formato do Trabalho:
Editor de textos: Word for Windows 6.0 ou Posterior
Número máximo de páginas: 15 (quinze)
Configuração das páginas
Margens: superior 3cm; inferior 2 cm; esquerda 3cm; direita 2 cm.
Tamanho do papel: A4 (largura 21 cm; altura 29,7 cm)
Fonte: Times New Roman, tamanho 12
Formato do parágrafo: Recuo especial: primeira linha 1,25 cm
Espaçamento: antes 0 pt; depois 6 pt; entre linhas: simples.
Figuras, tabelas e gráficos: Fonte Times New Roman, tamanho 8 a 12
Resumo: Mínimo de 1150 caracteres (aproximadamente 10 linhas), máximo de 1750 caracteres (aproximadamente 15 linhas)
Revisão ortográfica a cargo dos autores


Informações:
Sobre a apresentação dos trabalhos, acesse www.lihpe.net  ou www.enlihpe12.wordpress.com ou envie uma mensagem para enlihpe12@gmail.com

Local: USE (União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo), Rua Dr. Gabriel Piza, 433 – Santana – CEP: 02036-011 – São Paulo – SP – Tel: 11 2950 – 6554 - http://www.usesp.org.br

21.4.16

DOCUMENTÁRIO ESPÍRITA SOBRE JESUS NO CINEMA



Segunda-feira passada foi a oportunidade de assistir "Nos passos do mestre", um documentário com orientação espírita sobre a vida e os ensinamentos de Jesus. Regina já me havia avisado que ele é rico de imagens das terras onde Jesus e seus discípulos viveram, que hoje estão em Israel e na Turquia. Elas são belíssimas, ainda hoje. Não sei se nos acostumamos a pensar na terra de Jesus focalizados em desertos e cidades poeirentas, mercê, talvez, dos filmes de Hollywood. Vale a pena prestar bastante atenção nas imagens do lago de Genesaré e na rica vegetação da região, que fez com que o mestre falasse em semeadores, figueiras, trigo, joio e tantas outras analogias envolvendo plantio e colheita.

O filme se parece com os documentários da History Channel ou da Discovery Channel, com episódios representados, filmagens de locações atuais e entrevistas com dois estudiosos espíritas do cristianismo: Severino Celestino e Adão Nonato. As análises e comentários deles são muito interessantes e alguns deles novos, como a proposta de tradução do Pai Nosso explicada por Celestino.

Confesso que não entendi algumas partes, como a passagem de Jesus com Pedro, em Cafarnaum, após sua morte, na qual se narra: - Pedro, filho de Simão, tu me amas? Nas diversas traduções que tenho acesso se escreve: "- Simão, filho de Jonas (ou João), tu me amas?" Seria uma alternativa de tradução 

Um ponto que despertou meu interesse foram as interpretações originais de Celestino sobre a questão da reencarnação na Bíblia. Ele já havia tratado do tema no seu livro "Analisando as traduções bíblicas", que pretendo ler assim que puder.

Para os espíritas que se interessam pelos evangelhos, o documentário flui rapidamente e faz pensar. Foi uma tarde muito agradável. Pena que em Belo Horizonte o documentário esteja sendo exibido apenas em uma sala do BH Shopping, e hoje apenas no horário das 16:15 horas, dificultando o acesso do público. Se você se interessou, não deixe de conferir.

16.4.16

ARNALDO ROCHA APRESENTA SUAS MEMÓRIAS DA VIVÊNCIA COM CHICO XAVIER




Encontrei este vídeo que apresenta uma entrevista feita por Wagner Paixão e Haroldo Dutra com o conhecido espírita da capital mineira, Arnaldo Rocha. O entrevistado conversa de forma franca e pessoal, fala de suas impressões e baixa os olhos como quem recupera histórias do fundo da mente. Arnaldo às vezes ri, às vezes se emociona. Ele, em sua franqueza, é imensamente humano, não ocultando suas vergonhas, seus atos impulsivos, seus pequenos arrependimentos.

Além de Chico Xavier, que foi muito presente em sua vida, ele apresenta memórias das sessões com Yvonne Pereira,  as sessões de materialização que ele presenciou, Rubens Romanelli, Clóvis Tavares, Peixotinho, entre outros.

A simplicidade de Arnaldo não consegue ocultar seu conhecimento do espiritismo e da obra psicografada de Chico, que aparece nos comentários e nas explicações. Esta entrevista pública nos mostra a relevância da história oral, capaz de perceber dimensões que não se encontram nos documentos, ainda que evidencie a forma peculiar das pessoas recordarem e narrarem o que vivenciaram.

13.4.16

O ERRADO QUE DEU CERTO



Antonina tinha como desafio fazer uma aula sobre a páscoa, para seus quatro alunos. Como fazer uma aula dinâmica, respeitando as diversas designações cristãs, mas apresentando a visão espírita da páscoa?

Ela começou sua aula com um jogo de forca, com a palavra Páscoa. Quase que a turma teve seu bonequinho “enforcado”!

Depois focalizou nos eventos que aconteceram ao redor da crucificação e enterro de Jesus. Como abordar a questão que é interpretada como ressurreição por outras religiões?

Para que não fique apenas uma história contada, em uma sala onde a monotonia possibilita trocas de tapas, ela imprimiu os personagens em preto e branco, conseguiu palitos de picolé e de churrasco e levou um grande isopor, para a história ganhar vida.

Os alunos começaram a colorir os personagens. Como eram muitos, alguns alunos ficaram com preguiça e começaram a rabiscar.

- Tia, o fulano rabiscou Jesus! Que coisa feia!

O tempo foi sendo devorado. Não ia dar tempo de fazer todas as coisas, mas a turma estava assentada e começou a conversar sobre brigas. Antonina falou que eles não podiam brigar em sala de aula e que não era certo bater uns nos outros.

- Mas se você apanha, tem que bater! Redarguiu um deles.

Outro perguntou direto:

- Você nunca apanhou quando era jovem?

Realidade diferente, claro que não da forma que eles o faziam. Violência na escola, violência em casa, violência nas ruas.

- Sim, eu apanhei! Ela respondeu.

- E não bateu de volta?

- Não, eu não podia. Quem me batia era minha irmã menor.

- E você não batia nela?

- Não posso, ela é menor que eu! É covardia!

- Vixe! Disse um dos meninos, meio desolado. Então não vou poder bater em ninguém...

Chegou o passe e Antonina ainda não tinha montado a maquete. Um olhar compreensivo e os passistas ficaram de voltar um pouco depois.

Os personagens foram recortados e sendo fixados na cartolina, enquanto a história corria, rápida.

- Tia, vai ter ovo de páscoa? Perguntaram os meninos no final.

- Não. Nós não comemoramos a páscoa desta forma. Por isso fizemos esta aula! Disse Antonina.

As atividades foram dimensionadas errado, mas a aula deu certo. Foi possível conversar sobre a violência, de uma forma tão natural, que fez pensar.


Lembrei-me do Prof. Mário Barbosa, que advogava que trabalhássemos ao lado das pessoas em situação de vulnerabilidade social, para que a influência fosse pessoal e profunda. Ele sabia o que falava.

12.4.16

FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO PARANÁ DISPONIBILIZA GRATUITAMENTE OBRAS RARAS ESPÍRITAS



Um resultado inesperado, mas muito interessante, do debate que participamos na LIHPE (Liga de Pesquisadores do Espiritismo) foi conhecer a Biblioteca Espírita Virtual de Obras Raras. A Federação Espírita do Paraná está digitalizando obras raras e disponibilizando a quem interessar na internet.

O usuário pode baixar os livros sob a forma pdf, mas a Federação só publica virtualmente as imagens das páginas, para evitar os problemas de transformação em texto que os softwares costumam introduzir. 

Os livros publicados estão em domínio público e são raros. Seria difícil ter acesso a eles e consultá-los em papel, pelo risco de dano. Assim, a Federativa dá publicidade a informação que interessa aos que desejam conhecer o espiritismo e sua história a fundo.

Os interessados podem acessar o site em http://www.bibliotecaespirita.com.br/. Quem nunca acessou deve clicar em cadastro/login, na régua superior à imagem acima e inscrever-se gratuitamente.

Esperamos que no futuro a FEP faça como o IPEAK (Instituto de Pesquisas Espírita Allan Kardec), disponibilizando o livro sob a forma de imagem e em forma de texto, para que possamos utilizar os instrumentos de busca para pesquisa, com o texto original em forma de imagem para tirar qualquer dúvida.

Com esta iniciativa aumenta-se o acesso à memória do movimento espírita. A FEP solicita que donos de obras raras do final do século XIX e início do século XX disponibilizem os livros para serem digitalizados e incluídos no acervo. Já existem 49 autores listados na BVE, e a maioria dos livros está em língua francesa, mas há raridades interessantes, como o livro do famosíssimo psicólogo Alfred Binet (considerado o criador dos testes de inteligência, a pedido do ministro de educação da França) que trata de fenômenos espíritas.



5.4.16

UM POUCO MAIS SOBRE MEDIANIMIDADE



O Livro dos Médiuns - Edição francesa de 1950


Na última matéria fizemos uma série de considerações sobre a palavra medianimidade e medianímico, usadas por Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns". No texto fizemos algumas questões sobre a tradução para o português. 

Aproveitamos para tirar as dúvidas com Evandro Noleto Bezerra, que fez um conjunto de traduções das obras de Kardec, inserindo notas sobre as mudanças que os livros sofreram ao longo das edições. Um trabalho de fôlego, que precisava ser feito há muito tempo.

Ele acolheu o Espiritismo Comentado com muita gentileza e autorizou que divulgasse a resposta. 

EC: Vi que Kardec publicou em O Livro dos Médiuns o capítulo "Da medianimidade nos animais" a partir da segunda edição. Por que você preferiu manter o título traduzido por Guillon Ribeiro e outros, se Kardec em seu vocabulário afirma que as palavras não são exatamente sinônimas?

ENB: "É possível que tanto eu quanto o Guillon tenhamos escolhido o termo mediunidade para evitar o neologismo "medianimidade", até hoje sem sentido para nós. O que posso fazer, na próxima edição de minha tradução, é aditar uma nota de rodapé na página do Livro dos Médiuns que contém essa palavra, explicando a razão da nossa escolha ao traduzi-la por mediunidade, e não medianimidade. Aproveito para dizer-lhe que, decorridos mais de 150 anos, você não encontra tal verbete, nem nos dicionários de francês, nem nos de português."

O Espiritismo Comentado agradece ao Evandro a atenção.

2.4.16

O QUE É MEDIANÍMICO?




Estamos estudando o livro “O transe e mediunidade” de Lamartine Palhano Jr em um subgrupo da Liga de Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE.

Uma palavra que chamou a atenção desde a introdução é medianímico (adjetivo), cujo substantivo é medianimidade (tradução de Evandro Noleto Bezerra), empregado como quase sinônimo de mediunidade. Esta palavra se encontra no dicionário Laudelino Freire, definida da seguinte forma:

“Medianimidade. s.f. Lat medius + animus + dade. Estado ou propriedade de medianímico”

E por medianímico ele define da seguinte forma: adj. Medius + animus + ico. Espir. 1. Que tem a qualidade ou a faculdade de médium. 2. Relativo a médium."

Kardec define medianimidade como “faculdade dos médiuns. Sinônimo de mediunidade. Estas duas palavras são, com frequência, empregadas indiferentemente. Caso se queira fazer uma distinção, poder-se-á dizer que mediunidade tem um sentido mais geral e medianimidade um sentido mais restrito. Ele possui o dom da medianimidade. – A medianimidade mecânica” (transcrito de O Livro dos Médiuns, ebook,  tradução de Evandro Noleto Bezerra).

Pelo que se pode entender, já se usava no francês a palavra medianimidade, senão Kardec teria informado que ele havia criado a palavra, assim como o fez em outras situações. Nesta definição, ele parece querer usar com um sentido mais preciso, pouco distinto de mediunidade, mas este texto é muito resumido para se ter clareza sobre o sentido das duas palavras usado por Kardec.

Resolvi, então, pesquisar nos originais franceses onde Kardec usa “medianimidade”. Logo encontrei um problema, já conhecido pelo editor de Palhano.

Na primeira edição há um erro na palavra “medianimique” e ela sai como “mediaminique”, erro que Kardec corrigirá nas outras edições. (No site do IPEAK há a segunda, a sexta e a décima primeira no original francês).

Na segunda edição,  a palavra medianimidade aparece no capítulo XXII, “Da Medianimidade dos Animais” (por que Noleto não traduziu o título assim?) e fica apenas neste capítulo (curiosidade: Kardec não publicou este capítulo na primeira edição de O Livro dos Médiuns).

Procurei, então a palavra medianímico (fr. medianimique) que aparece na introdução e ao longo do livro (a faculdade medianímica), no capítulo II, IV (poder medianímico), no capítulo V (influência medianímica, aparelho eletromedianímico e fatos medianímicos, no capítulo XVIII (via medianímica),  no capítulo XX (aparelhos medianímicos) da segunda edição do original francês. Observei que Kardec não usa o adjetivo mediumnique, e observei que os tradutores da FEB (Guillon Ribeiro e Evandro Noleto) traduziram a palavra medianimique por mediúnico. Evandro Noleto, contudo manteve a palavra medianímico ao traduzir o vocabulário com o texto da primeira edição (e apenas aí, curioso, não?), mas ao longo do texto foi traduzindo por mediúnico toda palavra medianimique que encontrou.

A que conclusões cheguei até o  momento? Kardec empregou as duas palavras mediunidade (fr. médiumnité) e medianimidade (fr. médianimité) praticamente como sinônimas. Não consegui identificar a leve diferença de sentido que ele explicita no vocabulário, em seu texto. Outro ponto importante, que para as duas palavras ele usou na segunda edição do francês o adjetivo “medianimique”, que foi traduzido por mediúnico pelos tradutores da FEB, ou seja, não deveria haver em português a palavra medianímico, que foi empregada diversas vezes por André Luiz no livro Nos Domínios da Mediunidade, senão como sinônimo de mediúnico.

De volta ao Palhano, no capítulo III ele define a palavra medianímico da seguinte forma: “Do latim medius – i = medianeiro, intermediário; do francês âme = alma)” e reproduz a definição do vocabulário. Vê-se que ele discorda de Laudelino Freire, que entende que a palavra não é híbrida, mas totalmente originária do latim, contudo, isto é uma questão menor. A questão maior é o sentido que ele imputa a Kardec e que não dá para encontrar na obra dele. Em síntese, ele diz que Kardec agregou em uma mesma expressão “os fenômenos anímicos  associados aos mediúnicos”. A palavra animismo não foi empregada por Kardec como é utilizada hoje pelos espíritas brasileiros. Afirmar que ele já empregava que a influência do médium pode ser chamada de animismo, por adjetivar médianimité e médiumnité, com a palavra medianimique, é um equívoco, como tento mostrar acima, e como entende também Laudelino Freire em seu dicionário tão abrangente.


Não se deve contudo, levar a crítica além das palavras e seus sentidos. Sabemos que os fenômenos mediúnicos, mesmo os mecânicos, sempre têm uma dose de animismo (ou seja, de intervenção do próprio médium), que é a ideia principal que Palhano defende em seu capítulo III.