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26.8.07

O ESPIRITISMO NOS ESTADOS UNIDOS III

EC: Quais são as diferenças entre o movimento espírita brasileiro e o Norte Americano?

Antônio: Não vejo muita diferença entre o movimento espírita brasileiro e o Norte Americano, até mesmo porque o movimento espírita aqui é formado em sua vasta maioria por grupos que foram fundados e são dirigidos por brasileiros. Enfrentamos aqui os mesmos problemas que enfrentam os grupos espíritas no Brasil. Uma coisa que é um tanto quanto complicada aqui é a participação em caráter mais constante e permanente das pessoas que vão aos centros espíritas. Isto acontece em decorrência do rítimo de vida aqui ser muito agitado. As pessoas trabalham em horários não tão compatíveis com os horários em que funcionam os centros espíritas. Isto dificulta em muito a rotina de trabalho dos centros e o nível de frequência torna-se muito inconstante.

EC: Que problemas vocês têm enfrentado na cidade de Nova York para praticar o Espiritismo?
Antônio: Nova Iorque é uma cidade cosmopolita e para cá vem gente de todos os cantos do mundo. A questão de liberdade de crença aqui é uma coisa levada muito a sério pelo americano. Assim, isto contribui em muito para facilitar o exercício e a prática de qualquer filosfia, religião, seita ou culto, desde que se cumpra com as formalidades exigidas pelas leis locais. Neste particular não se enfrenta mesmo qualquer tipo de ingerência, imposição ou dificuldade. Eu diria que uma dificuldade significante que se encontra aqui é a da questão material, ou seja, tem-se um custo alto para se manter uma sede em funcionamento. Cito como referência o Spiritist Group of New York que já está em atividade desde 2001 e todas as suas atividades são realizadas em salas alugadas por hora. Isto limita e dificulta um pouco o trabalho do grupo, pois a rotatividade dessas salas é grande, em que um grupo se reúne após outro, e as salas tem que serem desocupadas imediatamente.

Figura 1: Centro Libertad del Espiritismo em NY, década de 30 (?).



EC: De uma forma geral, dê aos nossos leitores algumas informações sobre o movimento espírita nos Estados Unidos.
Antônio: De uma maneira geral, o espiritismo ainda é muito pouco conhecido pelo grande público americano. Alguns poucos grupos iniciaram um trabalho pioneiro de disseminação do Espiritismo aqui em Nova Iorque e em outras localidades, antes da aparição de centros espíritas fundados por brasileiros. Esses grupos, em sua maioria formados por espíritas de origem hispano-americana [portoriquenhos, cubanos, etc.] foram em realidade os grandes pioneiros nesta nobre tarefa. Faço referência aqui, mais uma vez, à Spiritist Society of Florida, dirigida pela amiga e confrade Yvonne Limoges. Em verdade, as origens desta casa espírita está ligada ao El Centro Libertad del Espiritismo o qual foi fundado em 1933, pelo casal Luis Perez e senhora Pilar Perez, imigrantes espíritas portoriquenhos que vieram para a cidade de Nova Iorque em 1930.

Foto 2: Membros da Sociedad Libertad del Espiritismo

Edgar Crespo, pai de Yvonne Limoges e que fundou com ela a SSF, participou das atividades daquela casa espírita desde a infância, vindo posteriormente a se transformar num dos médiuns atuantes do centro. Da mesma forma a Yvonne Limoges, nasceu e cresceu em ambiente espirita. Esta casa espírita que tinha por volta de 45 membros participantes ativos, era tão bem estruturada que chegou a adquirir uma sede, um prédio de três andares, e anualmente, durante o verão, promoviam um desfile no centro de Manhattan pela Avenida Madison [Fotos e relato histório em inglês através deste link - A Spiritist Center in New York City]. Alguns dos descendentes desses pioneiros desbravadores, participam hoje de centros espíritas dirigidos pelos irmãos hispano-americanos localizados em New Jersey, Florida e outras localidades. Assim se iniciou a disseminação do Espiritismo por essas plagas.
Foto 3: Desfile na Madison Avenue.




Posteriormente, começaram a aparecer os centros espíritas fundados por brasileiros, os quais hoje proliferam por quase todos os estados da federação americana. Conforme podemos verificar na interessantíssima biografia de Marcel Souto Maior - As Vidas de Chico Xavier, o início de tudo foi impulsionado pela visita que Chico Xavier fez aos Estados Unidos em 1965, oportunidade em que, entre outras coisas, foi feita a tradução da sua obra Ideal Espírita, cujo título em inglês ficou como The World of the Spirits, atualmente inteiramente disponível na página do SGNY. A iniciativa seguinte tomada pelo Chico Xavier e sua comitiva de acompanhantes, Waldo Vieira, Maria Aparecida Pimentel e Ireneu Alves, foi a fundação do Christian Spirit Center, cuja presidência ficou a cargo de Salim Salomão Haddad. Inicialmente a sede deste centro foi a residência do casal Salim Salomão Haddad e sua esposa, a senhora Phyllis, os anfitriões do Chico e comitiva na cidade de Washington. O casal tinha conhecido Chixo Xavier em Pedro Leopoldo, em 1956. É interessante notar que Sallim Salomão Haddad era poliglota e fez a tradução de algumas obras espíritas para o inglês. Dentre elas destacamos a mencionada acima, bem como a primeira tradução da primeira obra da série André Luiz - Nosso Lar [The Astral City], da qual existem hoje, se não me falha a memória, quatro traduções. Não tenho visto ultimamente este centro espírita nas listas existentes na internet, bem como não tenho conhecimento se ele ainda está em funcionamento e se a senhora Phyllis estaria ainda entre nós. Não tive o prazer de conhecê-la pessoalmente, mas guardo com carinho uma carta que ela me escreveu em 14 de março de 2000, carinhosamente dando-nos permissão para colocarmos a referida tradução acima na homepage do GEAE, que até hoje lá permanece. Nessa ocasião o Christian Spirit Center era sediado na cidade de Elon College, no Estado da Carolina do Norte. Segundo tenho ouvido em ocasiões diversas, não muito tempo após a visita inicial do Chico Xavier e comitiva, começaram as visitas desse que é mesmo o maior de todos os desbravadores espíritas - Divaldo Pereira Franco, que tem mantido ao longo dos anos um calendário incrível de viagens pelo mundo afora, disseminando a boa nova do espiritismo como o mais arrojado dos bandeirantes. Tenho também ouvido várias vezes que o confrade e professor John Zerio, um dos fundadores e diretor da AKES - Allan Kardec Educational Society, foi o suporte maior do Divaldo nessas suas visitas iniciais a várias localidades de diferentes estados aqui nos Estados Unidos, o que possibilitou a organização de vários grupos espíritas. A partir de então outros grupos espíritas fundados por brasileiros começaram a aparecer e novos grupos continuam a serem fundados. Com o crescimento do movimento espírita a nível internacional, sob a liderança do CEI - Conselho Espírita Internacional, criou-se também aqui nos Estados Unidos o USSC - United States Spiritist Council.


Foto 4: Membros da Spiritist Society of Florida


EC: O que aconteceu com os adeptos do "modern spiritualism"? Como é a convivência entre as sociedades espíritas, de base kardequiana e os espiritualistas?
Antônio: Não posso falar muito sobre o movimento organizado do Espiritualismo Moderno aqui, uma vez que não participando dele ativamente fica difícil entender a dinâmica do mesmo. O que posso dizer e conjecturar a respeito do assunto, tem mais uma visão sob o ponto de vista histórico que advém das leituras que habitualmente faço sobre o tema, o qual me fascina sobremaneira. A percepção que tenho é que a exagerada ênfase dada aos fenômenos físicos, especialmente a partir dos produzidos pelas irmãs Fox, em Hydesville, de uma certa forma, já de início transformou-se num obstáculo à convergência de esforços mais direcionados para a instituição de algo mais sólido que viesse efetivamente crescer harmoniosamente, fundado numa base capaz de resistir aos embates que viriam pela frente. Quando vejo a grandiosidade da literatura espiritualista, e aqui me refiro a obras de qualidade inquestionáveis, bem como o volumoso acervo de obras no campo da pesquisa psíquica, produzidas por cientistas de nomeada e pesquisadores das maiores universidades do mundo, não consigo entender como o movimento do Moderno Espiritualismo sequer foi capaz de construir uma doutrina de base sólida em torno desse interminável acúmulo de fenômenos oriundos da "invasão organizada" da espiritualidade, nas palavras mais sábias do grande escritor Arthur Conan Doyle. Ao contrário, estarrece-nos a constatação de que alguns de seus membros mais notáveis, gastaram parte substancial do seu precioso tempo, na tentativa de combater a doutrina nascente do Espiritismo, naquilo que ela tem de mais fundamental, ou seja, a reencarnação. Se o leitor se interessar por maiores informações neste particular, recomendo a leitura do Capítulo 16 [”Luzes e Sombras do Espiritualismo”] do excelente livro de Hermínio C. Miranda, cujo título é Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos. Cabe ainda ressaltar aqui, que até mesmo o maior e mais notável de todos os pioneiros dessa nova era, o profeta da Nova Revelação, Andrew Jackson Davis, que entre outras coisas previu o advento dos fenômenos que desencadeariam o surgimento do movimento do Moderno Espiritualismo, era nessa época visto com reservas pelos próprios espiritualistas, por causa das críticas que o nobre pioneiro fazia em relação a postura de excessiva ênfase e aferrado apego ao aspecto fenomênico das revelações, em prejuízo do lado filosófico e moral das mesmas. A única explicação que encontro no tocante a incapacidade por parte dos espiritualistas na construção de uma doutrina sólida a partir de toda aquela fenomenologia em curso, é que uma já estava sendo esboçada - a Doutrina Espírita, e a espiritualidade superior sabia e sabe que não precisamos de mais de uma. Em outras palavras, em time que está ganhando, não se mexe. Infelizmente, essa tendência de supervalorizar o fenômeno ainda reflete sobremaneira no meio do movimento do Espiritualismo Moderno por aqui, o que é fácil de se constatar pela forma com que a prática da mediunidade ainda é exercida. É uma profissão remunerada como qualquer outra. Não nos cabe aqui fazer julgamentos e muito menos descaracterizar os resultados benéficos que o exercício da mediunidade sadia pode trazer, mesmo nessas circunstâncias, mas convenhamos que a questão material é mesmo um entrave no exercício desta nobre faculdade que nos é dada gratuitamente e como tal deve ser devolvida aos nossos irmãos mais necessitados. Enfim, como diz o ditado popular, “o tempo é um grande remédio”. A reencarnação que não é invenção do espiritismo nem de religião alguma, muito ao contrário é uma lei natural como muitas outras, que alguns ainda resistem em aceitar a sua inexorabilidade, lenta e gradualmente cada vez mais conquista as mentes e os corações das pessoas pelo mundo afora, e o progresso espiritual que também é inexorável segue o seu curso. Assim, esperamos que os irmãos ligados ao movimento do Moderno Espiritualismo também percebam a necessidade de mudanças e se adequem a realidade dos tempos atuais corrigindo os equívocos perpetrados no caminho, para que o distanciamento entre o movimento e os que o mesmo pretende atingir, não se distancie cada vez mais. Em realidade, a convivência entre os movimentos espírita e espiritualista é quase inexistente, e eu entendo ser isto um fator de muita importância na grande convergência que todos esperamos acontença num futuro não tão distante, o que imaginamos ser este o grande desejo dos pioneiros de ambos os movimentos que nos assistem do plano espiritual, o que podemos perceber nas palavras proféticas do codificador, no fragmento da mensagem acima registrado. Foi com muita alegria e esperança que vimos a realização do evento ocorrido em julho de 2005 em Lily Dale, mencionado anteriormente, o qual reuniu pela primeira vez os dois movimentos. Aliás, foi para mim motivo de muita frustração não ter podido participar do mesmo, pelo fato de ter viajado para o Brasil um dia antes do acontecimento. Esperamos que muitos outros eventos aconteçam e o Espiritismo e o Moderno Espiritualismo venham mesmo se fundir nessa grande Filosofia natural que será adotada por todos nós num futuro não tão distante.
EC: Após o episódio das irmãs Fox, você é capaz de nos dar alguns dados históricos da trajetória do Espiritismo em Nova York?
Antônio: A não ser as igrejas espiritualistas das diferentes denominações que se vê por aí, pouco ou quase nada se ouve a respeito do movimento do Moderno Espiritualismo por aqui. Ao conversar com as pessoas em geral, nota-se que o movimento do Espiritualismo Moderno é muito pouco conhecido por aqui. Isto foi algo que nos surpreendeu. Afinal de contas, foi no Estado de Nova Iorque que surgiu a mola propulsora e o ponto de partida, através do episódio das Irmãs Fox, para a instituição e organização do movimento do Espiritualismo Moderno. Além disso e com maior justeza ainda, temos o fato de que há poucas milhas de Nova Iorque, mais precisamente na cidade de Poughkeepsie, viveu por muitos anos aquele que é considerado um verdadeiro apóstolo no âmbito dessa nova era de revelações espirituais em benefício do progresso da humanidade, tanto pelas obras que deixou como pelo exemplo de vida que foi. Isto sem falar obviamente dos grandes pioneiros que aqui viveram e deixaram trabalhos monumentais nesta seara, como é o caso do ilustre Juiz John W. Edmonds com sua famosa obra Spiritualism e o grande cientista Robert Hare com o seu Experimental Investigation of the Spirit Manifestations. Por essas e outras razões, é natural que a gente espere que o movimento fosse muito mais visível através de eventos maiores e da mídia em geral, como acontece com o Espiritismo no Brasil, o qual há poucas décadas atrás ainda era caso de polícia. Felizmente, temos a internet que propicia a todos nós uma gama enorme de material de estudo facilmente acessível nesta área. A grande maioria das obras que formam o acervo da literatura espiritualista clássica e de boa qualidade, está hoje disponível na internet. Obras novas e de boa qualidade também surgem de vez em quando, o que mantém acesa a chama do desejo do conhecimento por parte daqueles que se interessam pelo estudo dessas questões. No caso específico do episódio das irmãs Fox, mencionamos aqui uma obra bem recente de autoria de Barbara Weisberg, Talking to the Dead [Conversando com os Mortos]. Sob o ponto de vista histórico eu recomendo que o leitor interessado visite na internet as páginas de ambas as organizações que representam o Movimento do Moderno Espiritualismo, aqui nos Estados Unidos e no Reino Unido. Ai encontrarão todas as informações sobre este extraordinário movimento, desde o seu nascimento e posterior desenvolvimento, bem como relatos do sacrifício de muitos pioneiros que tanto nos legaram. São elas: National Spiritualist Association of Churches of the United States and The Spiritualists' National Union.

EC: Quantos centros espíritas você estima existirem na Big Apple?
Antônio: Bem, aqui na cidade de Nova Iorque (a Big Apple) especificamente temos apenas 3 centros espíritas no momento. São eles o Allan Kardec Doctrinal Society; o Allan Kardec Spiritist Center; e o Spiritist Group of New York. Havia um quarto, o Centro de Estudos Espíritas Boa Nova, o qual funcionou por muitos anos e com um trabalho maravilhoso, sob a liderança da Katy Meire, mas saindo um pouco para uma área de maior abrangência, conhecida aqui como tri-state region [que engloba partes dos estados de Nova Iorque, New Jersey e Connecticut], aí o número cresce para mais ou menos uns quinze. Não é um número tão pequeno, pois quando cheguei aqui, há treze anos atrás, havia mais ou menos uns cinco apenas.

EC: De que forma os espíritas brasileiros podem auxiliar os trabalhos dos espíritas novaiorquinos?
Antônio: Imagino que uma das formas seja através deste contato via internet, o que possibilita um permanente entrelaçamento e troca de informações. Eu costumo chamar o "milagre da internet", pois as possibilidades neste novo mundo globalizado são mesmo inesgotáveis. A propósito, saliente-se que graças a ela, a internet, o espiritismo está se propagando pelo mundo com muito mais rapidez do que podíamos ao menos imaginar há pouco tempo atrás. Os grupos espíritas espalhados pelo mundo afora devem mesmo utilizar esta ferramenta maravilhosa e, na medida do possível, procurar se comunicar e trocar informações e experiências com grupos de outras localiddes. Isto é muito salutar e ajuda muitíssimo o grupo em seu propósito de disseminar o espiritsmo em bases harmônicas e sólidas. E, como sabemos, os amigos no Brasil tem muito a nos dar, pois o movimento espírita aí se encontra muito mais bem estruturado e já com muito mais experiência adquirida.

11.8.07

O Véu e a República Francesa


A França votou uma lei que proíbe o uso de sinais religiosos ostensivos nas escolas e nos espaços públicos. O véu islâmico (na verdade, toda uma coleção de peças, que vão de um lenço claro à Burka, cobrindo os cabelos e às vezes o rosto) foi o principal afetado pela lei. No biênio que se seguiu à lei 44 jovens foram expulsas da escola por não aceitarem assistir às aulas sem véu.
(Foto 1: Véu islâmico colorido, preferência das afegãs. Fonte: Site da BBC Brasil)

A discussão do véu é imensa, muito maior que o pequeno espaço disponível neste blog. Alguns pontos parecem claros: uma coisa é a proibição de sinais religiosos em prédios públicos, outra coisa é a proibição das pessoas portarem ou exibirem em seus corpos sinais religiosos.

O princípio de laicidade do estado existe para que cidadãos, não importa a religião ou o credo político, possam ser tratados igualmente pelo estado, perante a lei. Quando se exige do cidadão que oculte suas convicções religiosas ou políticas, quando se entende que um véu, ou uma cruz, que sinalizariam aos demais sua identidade religiosa, não pode ser tolerado em um espaço público, é porque o Estado não conseguiu disseminar uma cultura ou mentalidade da tolerância e da diversidade. Qualquer sinal cheira a proselitismo aos olhos das autoridades...

(Foto 2: Foto do Filme Paris Je T'Aime, do site Cinco Dias)

No pouco que li, nas diferentes culturas islâmicas, os véus podem ter sentidos e significados muito diferentes, extremos até. Um véu pode ser um toque de sensualidade, pode significar proteção, pode ser um costume religioso familiar, pode ser inclusive opressão, se quem o utiliza é obrigado a fazê-lo. O Estado Francês se considera salvador das oprimidas e da laicidade, esquecendo-se das demais mulheres e jovens que usam o véu como opção religiosa, que não se sentem oprimidas pelo islamismo e sim pelo Estado Francês. Ao contrário do que se poderia esperar do Estado, ele não assegura a liberdade de crença e de expressão, mas uniformiza os indivíduos e tenta resolver diferenças políticas e sociais na esfera religiosa. Pior: o Estado estabelece qual é o significado real (perdoem-me a duplicidade de sentidos desta palavra) de um símbolo religioso, despindo-o da polissemia. Ele diz, através de lei, como deve ser interpretado um símbolo...

Pelo visto, o muçulmano tem que abrir mão dos costumes muçulmanos para ser cidadão francês, ainda que o direito lhe assegure a suposta cidadania. Pelo visto, o francês de primeira categoria usa boina ou não usa nada. Quem cobre a cabeça com outra coisa, se for francês, é de segunda ou terceira...

O que isto tem a ver com o Espiritismo? Se é verdade que uma lei contra sinais exteriores não nos atingiria, a intolerância religiosa fere a todos, especialmente se patrocinada pelo Estado. Este estado de espírito não é visível, como uma lei ou um véu, age de forma subterrânea e fere a cidadania pelas costas. Os espíritas europeus enfrentaram (e ainda hoje se enfrenta) muitas formas ocultas de desrespeito e até de perseguição.

Estamos no século XXI e ainda não está clara a diferença entre o público e o privado, o Estado e a Religião. Jerusalém continua sendo um espaço de conflito entre diferentes crenças, mais políticas que religiosas.

4.8.07

O Estado Deve Regular as Religiões?

O jornal Estado de Minas, o jornal O Globo, o Angola Press, o jornal O Povo, baseados na Agência Nova China (infelizmente não encontrei a nota no site brasileiro desta agência), noticiam que as reencarnações dos Budas Tibetanos, para serem válidas, devem ser aprovadas pelo "Gabinete de Assuntos Religiosos do Governo Chinês".

Eles noticiam também que o último lama identificado pelo Dalai Lama, em 1995, o Panchen Lama, foi recusado pelas autoridades de Pequim, retirado da sua casa por autoridades e nunca mais foi visto.



Foto 1: Tibetanos exilados em Nova Délhi fazem vigília pela libertação do Panchen Lama (Fonte: O Povo)


Como pode um estado que se considera materialista histórico criar uma agência e atribuir-lhe a capacidade de identificar reencarnações de Lamas já desencarnados? Não é preciso ser muito perspicaz para entender que se trata de um uso político da religião, e que a ação desta agência tem fins manipuladores. Seria uma criança identificada como um Lama Reencarnado uma ameaça à potência Chinesa? Seria o budismo tibetano um poder capaz de desestabilizar um governo que tem sob suas ordens um poderio bélico de primeira ordem?

A perseguição às religiões ainda não terminou no século XXI.

3.8.07

O Espiritismo nos Estados Unidos

EC: Vocês promovem eventos de divulgação do Espiritismo? Fale um pouco sobre eles.

Antônio: Os eventos maiores com o propósito de divulgar o espiritismo de forma mais ampla, para um maior número de pessoas, normalmente ocorrem com a união de esforços de mais de um grupo espírita. Muitas vezes, por ocasião da visita dos nossos mediums e palestrantes mais conhecidos, como por exemplo o Divaldo Pereira Franco, o Raul Teixeira e outros, os quais nos visitam anualmente, os grupos se unem em torno do evento e proporcionam meios para que as palestras sejam feitas com tradução simultânea para o inglês.

(Foto 1: Raul Teixeira em Baltimore. Da esquerda para a direita, Vanessa Anseloni, Elmo Deslandes, Raul, Alexandre Fonseca e Antônio Leite)



EC: Fale um pouco mais sobre a divulgação espírita nos Estados Unidos.

Antônio: Saindo um pouquinho da região da grande Nova Iorque, podemos mencionar também a Spiritist Society of Baltimore, que vem fazendo um trabalho extraordinário na disseminação do Espiritismo já há alguns anos. Este grupo cujas atividades são todas em inglês e voltadas para o público americano, pela estrutura que tem e graças ao dinamismo e a dedicação da Vanessa Anseloni e seu esposo Daniel, seus principais dirigentes, tem a participação de um público americano em maior percentual. Eles mantém um calendário permanente de eventos de divulgação do espiritismo aqui na América, o que pode ser checado no website do grupo. Em julho de 2005, este grupo espírita promoveu um encontro sobremaneira importante para a aproximação dos movimentos Espírita e do Moderno Espiritualismo aqui na América. O evento aconteceu em Lily Dale, sede do movimento do Moderno Espiritualismo aqui nos Estados Unidos, e contou com a presença de um grande público, em sua maioria de americanos. Podemos mencionar ainda a Spiritist Society of Florida, que sob a liderença da dedicada e dinâmica confrade Yvonne Limoges e o seu pai, Edgar Crespo, promovem o Espiritismo por aqui há meia década. Recentemente publicaram a tradução para o inglês da clássica obra de Amália Domingo Soler, - Memórias do Padre Germano (Memoirs of Father Germain), a qual se encontra à venda na internet. A tradução foi feita por Edgar Crespo e a revisão por Yvonne Limoges. Uma característica interessante nas atividades deste grupo espírita, é que a sua reunião mediúnica é aberta à participação pública. Em visita recente que fiz a este grupo, em companhia da minha esposa, pudemos testemunhar a seriedade e sentir o clima de vibraçoes harmoniosas que reinan no ambiente dessas reuniões, as quais propiciam uma grande oportunidade de aprendizado para os presentes, no que diz respeito especificamente à sagrada prática da mediunidade.


EC: Fale um pouco mais da tradução dos livros para a língua inglesa.
Antônio: Esta é uma tarefa de grande importância para que o Espiritismo venha se tornar mais conhecido num futuro próximo. E na atualidade, sem nenhuma sombra de dúvidas, o inglês é a língua de caráter universal capaz de fazer uma idéia ser disseminada mais rapidamente pelo mundo afora. Para enfatizar a importância dessa iniciativa, mencionamos aqui o parágrafo final da mensagem do próprio Kardec (espírito), intitulada O Espiritismo e o Espiritualismo, a qual foi psicografada em 14 de setembro de 1869, na casa da senhora Anna Blackwell, tradutora de algumas das obras básicas para o inglês, em presença do senhor Peebles, um dos pioneiros do movimento do Moderno Espiritualismo aqui nos Estados Unidos da América. Disse o codificador: "Traduzí as minhas obras! Só se conhecem na América os argumentos contra a reencaranção. Quando as demonstrações em favor dêsse princípio ali se tornarem populares, o Espiritismo e o Espiritualismo não tardarão a se confundir e se tornarão, por sua fusão, na Filosofia natural adotado por todos." *


(Foto 2: Janet Duncan, tradutora de "O Evangelho Segundo o Espiritismo em Miami, ano 2000, à direita de Antônio)

Pelas dificuldades que envolve a tarefa, até que não temos o direito de nos lamentar, pois muita coisa já aconteceu até aqui neste particular, e a tendência é o crescimento. No tocante as obras básicas, tivemos o trabalho pioneiro nas traduções de Anna Blackwell [O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e o Céu e o Inferno]; Emma A. Wood [O Livro dos Médiuns]; W. J. Colville [A Genese]; e Janet A. Duncan [O Evangelho Segundo o Espiritismo]. Assim, temos todas as obras básicas já traduzidas para o inglês e inteiramente disponíveis na internet. Além das obras básicas, temos também várias obras de autores espíritas clássicos que foram vertidas para o inglês e encontram-se inteiramente disponíveis na internet. A propósito, citaremos algumas aqui. De LÉON DENIS temos, Life and Destiny [O Problema do Ser do Destino e da Dor], traduzida pela famosa autora e poetisa espiritualista Ella Wheeler Wilcox; Here and Hereafter [Depois da Morte], tradução de George G. Fleurot; The Mystery of Joan of Arc [Joana D'Arc], traduzida pelo famosíssimo escritor Arthur Conan Doyle, que foi também um dos maiores propagadores do movimento do Moderno Espiritualismo e escrveu vários livros nesta área, e dentre eles citamos aqui a importante obra The History of Spiritualism, traduzida para o portugês por Júlio Abreu Filho, com prefácio de J. Herculano Pires, com o título de História do Espiritismo; Christianity and Spiritualism [Cristianismo e Espiritismo], tradução de Helen Draper Speakman. Muitas das obras de CAMILLE FLAMMARION, GABRIEL DELANNE e outros autores clássicos espíritas foram também traduzidas para o inglês, como é o caso da importante obra em três volumes, Death and Its Mysteries [A Morte e seus Mistérios] e Evidence for a Future Life [A Alma é Imortal], respectivamente, as quais encontram-se em edições novas e revisadas, inteiramente disponíveis no website do SGNY. As obras de Léon Denis acima mencionadas, também estão inteiramente disponíveis na página do SGNY bem como na do GEAE, além de muitas outras obras. Ao lado das obras clássicas de autores espíritas, como as mencionadas acima, temos também uma vasta literatura espiritualista e aquela mais voltada para o campo da Psychical Research [Pesquisa Psíquica], as quais foram originariamente, em sua grande maioria, publicadas no idioma inglês. O conteúdo dessas obras, em geral, está em perfeita sintonia com os ensinos espíritas, discrepando muito pouco ou quase nada com a essência dos princípios da codificação. A prova disto é que muitas delas foram traduzidas para o português e são tidas como obras genuinamente espíritas. Mencionaremos algumas a seguir. Researches in the Phenomena of Spiritualism [Fatos Espíritas] de autoria de Sir William Crookes, publicaão FEB, tradução de Oscar D'Argonnel; Spirit Teachings [Ensinos Espiritualistas] autoria de William Stainton Moses, publicação FEB, tradução de Oscar D'Argonnel; The Scientific Basis of Spiritualism [Bases Científicas do Espiritismo] autoria de Epes Sargent, publicação FEB, tradução de Francisco Raimundo Ewerton Quadros; The Debatable Land Between this World and the Next [Região em Litígio Entre este Mundo e o Outro] de autoria de Robert Dale Owen, publicação FEB, tradução de Francisco Raimundo Ewerton Quadros; The Life Beyond the Veil [A Vida Além do Véu] de autoria do Rev. G. Vale Owen, publicação FEB, tradução de Carlos Imbassahy; Raymond or Life and Death [Raymond, Uma Prova da Sobrevivência da Alma] de autoria do grande escritor, cientista e espiritualista britânico Sir Oliver Lodge, Edição Edigraf, tradução do imortal Monteiro Lobato; Why Do I Believe in Personal Immortality [Por Que Creio na Imortalidade da Alma] do mesmo autor acima, Sir Oliver Lodge, Edições FEESP, tradução de Francisco Klors Werneck.

A lista é grande e não quero abusar do precioso espaço gentilmente nos cedido, mas gostaria de finalizá-la, mencionando uma das obras espiritualistas mais iinteressantes que li ao longo dos anos. Trata-se do precioso opúsculo The Scientific Aspect of the Supernatural [O Aspecto Científico do Sobrenatural] de autoria do extraordinário Alfred Russel Wallace, célebre escritor espiritualista, um entre os grandes cientistas que habitaram este orbe e co-autor da Teoria da Evolução das Espécies, com Charles Darwin. A tradução para o português que está um primor, foi publicada recentemente pela Publicações Lachâtre. Outro aspecto também digno de nota nesta área de divulgação do Espiritismo para o público de língua inglesa, é que além das traduções de livros propriamente espíritas, há também outros originariamente escritos em inglês, por diversos autores, os quais de alguma forma introduzem o espiritismo para este público. Gostaria de mencionar alguns aqui como exemplificação do afirmado. The Indefinite Boundary e The Flying Cow - Research into Paranormal Phenomena in the World's most Psychic Country, ambos de autoria do escritor e jornalista Guy Lyon Playfair. Ambos os livros foram muito bem escritos e introduz o espiritismo de forma muito bem apropriada e séria. O segundo deles, em seu Capítulo 7 [The Little Red Fish], fala sobre Francisco Candido Xavier, discorrendo amplamente sobre a série de obras da coleção André Luiz e traz um apêndice sobre a Teoria Corpuscular do Espírito, de Hernani Guimarães Andrade; Spiritis and Scientists - Ideology, Spiritism and Brazilian Culture, resultado das pesquisas para a tese de doutorado do professor David J. Hess, junto ao Departamento de Antropologia da Cornell University, publicado em 1991.


Dando continuidade ao trabalho dos pioneiros tradutores, mais recentemente temos o excelente trabalho da Allan Kardec Educational Society com as traduções novas de duas das obras básicas [O Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo] e mais ainda as obras introdutórias de Kardec [O Espiritismo em sua Expressão mais Simples e O Que é o Espiritismo], ambas compiladas num único volume cujo título em inglês é Introduction to the Spiritist Philosophy. Além dessas obras, a AKES também já traduziu três das obras da coleção André Luiz [Nosso Lar; E a Vida Continua; e Os Mensageiros], e tem um projeto permanente de ação em que novas obras serão traduzidas. O Spiritist Group of New York, sob a coordenação de Jussara Korngold, também tem feito um trabalho profícuo nesta área de traduções de livros espíritas. Além das novas traduções de duas das obras básicas [A Gênese e O Céu e o Inferno], traduziu ainda obras espíritas importantes como Nos Domínios da Mediunidade [In the Domain of Mediumship], Desobsessão [Disobsession], Pão Nosso [Our Daily Bread], todas psicografadas por Francisco Cândido Xavier; Obsessão, O Passe, A Doutrinação [Obsession, Passes, Counseling] de autoria do saudoso J. Herculano Pires, entre outras. Ainda mais recentemente, ganhamos também um outro grande aliado nesta nobre tarefa de traduções de livros espíritas, a Federação Espírita Brasileira. As recentes traduções das duas obras básicas, O Livro dos Espíritos, e O Evangelho Segundo o Espiritismo, e ainda o primeiro livro da série da coleção André Luiz - Nosso Lar, nos deixa a certeza de que isto é apenas um começo, e que a FEB, com a sua experiência aliada a sua forte estrutura, será um componente importantíssimo nesta área, e o espiritismo irá gradativamente ganhando espaço nos corações e nas mentes das pessoas, em todos os quadrantes do nosso Planeta Terra. Assim, para resumir esta resposta, muito embora saibamos que ainda há muito para se fazer nesta área, eu diria que o que já foi feito até aqui está de bom tamanho. Sabemos que a marcha do espiritismo na conquista das mentes e dos corações do nossos irmãos que ainda não tiveram o privilégio de o conhecer, tem mesmo que ser lenta e gradual, pois ninguém está numa corrida a cata de prosélitos e o livre-arbítrio tem que ser respeitado.


EC: Vocês têm escrito livros espíritas em inglês? Que títulos foram lançados até o momento?
Antônio: Eu particularmente não me vejo em condições de escrever um livro espírita nem mesmo em português, muito menos em inglês. Não, isto não está nos meus planos para esta encarnação. Tenho escrito alguns pequenos artigos e textos que são veiculados em algumas páginas na internet, em especial no GEAE, os quais faço com a ajuda do meu filho que é fluente no idioma inglês. De que tenho notícias, a Jussara Korngold escreveu um, Practical Guide for Magnetic and Spiriutal Healing, o qual se acha disponível inteiramente no website do SGNY. Se não me falha a memória ela estaria escrevendo um segundo, do qual não tenho maiores informações. Está aí uma boa dica para mais uma entrevista, ela terá muito o que falar sobre suas experiências com a disseminação do espiritismo em língua inglesa, tanto aqui nos Estados Unidos, bem como na Inglaterra, onde também viveu por vários anos.