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27.6.11

AUSCHWITZ, 60 ANOS DEPOIS


Figura 1: Espíritas acompanham Divaldo Franco à visita a Auschwitz. Na faixa de metal a frase sinistra de duplo sentido: o trabalho liberta.

O Nacional-Socialismo ascendeu na Alemanha patrocinado pelas cláusulas leoninas do Tratado de Versalhes, que impôs a pobreza e uma dívida de guerra muito superior à capacidade financeira dos aliados do império Austro-húngaro.

A sobrevivência tornou-se companheira da humilhação. Esta irmã do orgulho logo aceitou com facilidade as teses que culpabilizariam injustamente os descendentes do povo judeu radicado nas terras germânicas pelo armistício e pelo sofrimento imposto aos seus coirmãos.

O Dr. Carl Jung, anos depois da segunda guerra, receberia um prêmio por seu trabalho sobre o mito de Wotan, que versa sobre a psicologia do povo alemão após a derrota diplomática da primeira guerra.



Figura 2: As belas construções, não fossem as cercas, aparentariam belos casarões que acolheriam alguma indústria. Hoje foram transformados em museu.

Uma inflação jamais vista,  a perda do poder de compra do marco alemão e o empobrecimento das massas, trouxeram um ódio silencioso, a necessidade de culpabilização de um terceiro e um desejo de reparação, a esperança de um herói messiânico, que como Wotan acordaria de seu sono e congregaria forças ao redor de si para uma nova marcha vitoriosa sobre as forças opressoras.

O desenvolvimento tecnológico e o novo crescimento econômico trouxeram em seu bojo as promessas rancorosas do partido Nacional Socialista, que acusava, culpabilizava e prometia punição indistinta ao povo judeu, assim como uma perseguição contra as minorias que teriam enfraquecido as fortes raízes germânicas.



Figura 3: Divaldo diante dos fornos crematórios

O discurso emocional tomou conta do povo alemão que conduziu ao poder não apenas um homem, mas uma ideia totalizadora que trazia em seu bojo as tristes propostas da eugenia e o nefasto conluio genocida.

O genocídio é o assassinato frio e premeditado de um povo, uma comunidade, uma etnia. A acusação gratuita e infundada da conspiração para a derrota diplomática alemã tornou-se juiz e julgado, pena de morte para todo e qualquer descendente hebreu ao alcance das garras de aço ensanguentadas do poder eleito e centralizador.

Figura 4: Uma das tristes lembranças da ideologia genocida


A guerra fortaleceu ainda mais o poder central, e das mesas da burocracia alemã surgiram os papéis secretos que foram dando forma ao que se intitulou "solução final". Tamanho o opróbio da proposta, que nem mesmo o sofrido povo alemão a aceitaria se tivesse consciência plena dos projetos autorizados por seu Füher. Sob a lógica da exceção que o conflito armado institui, judeus, homossexuais, socialistas e outras minorias indesejáveis seriam segregadas e enviadas a guetos e campos de concentração, ou apenas simulacros destes.

Ações isoladas, mas engendradas, deram início ao objetivo vergonhoso: o extermínio. Pelotões de fuzilamento em florestas e  furgões com a caçamba lacrada onde se respirava o monóxido de carbono dos escapamentos foram alguns dos precursores da câmaras de gás e dos grupos de trabalho que expoliavam dos corpos a sua última diginidade humana, arrancando dentes de metal, despindo-os e usurpando da morte covarde o último direito, o da sepultura digna. Amontoados de corpos eram queimados ou acumulados em covas coletivas cujo destino final seria o manto de terra e o reflorestamento, que ocultaria para sempre da memória da humanidade os atos ali cometidos.

Figura 5: Palestra de Divaldo Franco no Centro de Cultura - Polônia

Quis Deus e a coragem dos homens que esta história não morresse com o sufocar da garganta das vítimas. Estima-se que seis milhões pereceram, mas os sobreviventes não se calaram. Ainda choram pelos seus mortos e contam ao mundo as histórias de horror que um dia saíram do mais negro imaginário humano para habitar na orgulhosa civilização européia.

As paredes do campo de extermínio de Auschwitz estão vivas. Elas ainda guardam a dor de pais que perderam seus filhos, maridos que viram, impotentes, suas esposas serem devoradas pelos anjos da morte, seus pais, alguns já anciâos, padecerem a vergonha da nudez e a dor da separação imposta pelo espírito da morte. Tudo muito limpo e organizado, como convém ao espírito germânico, enlouquecido pelo ódio ou silenciado pelo medo.


Figura 6: Divaldo autografando

Passadas quase seis décadas, ergamos nós, espíritas, uma prece pelos algozes e por aqueles que se endureceram após a morte no desejo igualmente louco de vingança, aqueles que se ataram aos perseguidores, na sanha insana de obter alívio repetindo os gestos e atos dos atormentados. Não permitamos que o mundo esqueça do que é capaz o homem e não esqueçamos nós o que trazemos no fundo de nossa alma, para que o passado não retorne ao presente e Wotan continue adormecido com seus guerreiros e seu fogo destruidor.

Figura 7: A Diretora do Centro de Cultura oferece flores a Divaldo Franco

Texto: Jáder Sampaio
Fonte: Délcio Carvalho
Fotografias: Autor Desconhecido
Agradecimentos: Ubirajara Costa

26.6.11

LIVRO TEMÁTICA ESPÍRITA FOI DIVULGADO EM MINAS GERAIS


A União Espírita Mineira abriu as portas da recém-inaugurada sede federativa para a divulgação do livro "A Temática Espírita na Pesquisa Contemporânea" no último 28 de maio. A iniciativa visava a apoiar a impressão do novo livro com os trabalhos do 6o. Encontro Nacional da Liga dos Pesquisadores do Espiritismo, pelo Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo.



Estiveram presentes pouco menos de 100 pessoas numa manhã ensolarada de sábado, dispostas a conhecer e perguntar


Apresentei o trabalho da LIHPE e do CCDPE, seus livros e publicações. A seguir, a Dra. Angélica apresentou sua trajetória acadêmica na área de História com temas ligados ao movimento espírita. O Espiritismo em Três Rios, o espiritismo visto pela psiquiatria como uma fábrica de loucos, no período da legitimação das duas práticas no Brasil e o trabalho de Dr. Inácio Ferreira foram alguns dos temas pesquisados em diversas fontes, com máscara e luvas, para voltarem à luz do conhecimento público.



Alexander Moreira-Almeida discutiu estratégias de pesquisa de temas espiritualistas na Universidade. Falou de seu trabalho experimental com médiuns de São Paulo, visando a identificar suas patologias. Mostrou números que mostram como o espiritismo tem sido estudado muito além de outros temas caros à cultura brasileira, como o movimento evangélico e as religiões afro-brasileiras. Compartilhou com os presentes justificativas científicas e sociais para se apresentarem em projetos de pesquisa a serem submetidos a agências de fomento.


Depois de uma hora de apresentações, vieram as perguntas e comentários do público, que dialogou com a mesa e propôs questões interessantes. Lamentavelmente o tempo foi ficando curto, e passou-se ao lanche e aos autógrafos.


O dia continuava claro e fez-se um clima de cordialidade e informalidade respeitosa entre todos. 


À mesa os autógrafos e a divulgação do MEDNESP pela Júlia, e ao fundo...



... um café acompanhado de biscoitos e quitutes bem mineiros.



As final as flores da decoração foram distribuídas entre a equipe e a União Espírita Mineira, que tão bem nos acolheu.


Uma foto final da equipe de trabalho e remanescentes, aqueles que gostam de aproveitar um dedo de prosa até o último minutim...

25.6.11

FEDERAÇÃO ESPÍRITA PORTUGUESA PUBLICA MAPA DE ATIVIDADES


Figura 1: Mapa de Atividades (clique para ampliar)

Durante a ditadura de Salazar o movimento espírita português foi fortemente reprimido e perseguido em Portugal. Ainda se arrasta na justiça (ao que sabemos) um processo tentando obter a propriedade e posse da sede da antiga Federação Espírita Portuguesa, desapropriada arbitrariamente pelo estado português.

Como na idade média, estado e religião deram-se as mãos e a paranóia ditatorial-militar proibia quaisquer reuniões, com medo de reações a um regime mantido pela força.

Durante muitos anos, o movimento português agiu na clandestinidade. Temos notícias de brasileiros corajosos, como Divaldo Franco, que mantiveram agregados e ativos os espíritas que resistiram à imposição ideológica do estado militar.

Hoje, passados os anos o movimento floresce mais uma vez, como uma árvore que perdeu todas as suas folhas para enfrentar o longo inverno da incompreensão, mas manteve firmes suas raízes sob o solo branco e a temperatura glacial.

Segue acima uma iniciativa interessante e agregadora. A Federação publicou um mapa de atividades, no qual se visualizam as iniciativas da FEP e de outras organizações portuguesas.

O Brasil tem um movimento mais institucionalizado que Portugal, em função da sua história. Assim, federativas e centros espíritas promovem eventos continuamente, muitas vezes sem que um consulte a disponibilidade dos outros, o que causa esvaziamento.

Um bom exercício federativo seria as sociedades espíritas trocarem seus calendários e acordarem entre si uma data ou duas por período (semestre ou ano) para participarem juntas de algum evento promovido pela Federativa, o que seria um sinal de prestígio e união, de esforços conjuntos das entidades participantes de um movimento maior que elas próprias.

A federativa, por sua vez, ficaria com o encargo de organizar e receber uma grande massa de espíritas, e promover um evento pontual mas atraente. Não apenas aprender ou discutir, mas confraternizar e conhecer uns aos outros seria um passo importante contra uma tendência de ação amorfa e inexpressiva da divulgação, como já antevira no final do século XIX o célebre Bezerra de Menezes.

Figura 2: Mapa de Atividades para o segundo semestre de 2011 (clique para ampliar)

6.6.11

OS TRABALHADORES DA VINHA


Judeus trabalhando na vinha

Jesus falava às massas e utilizava um recurso curioso para que seus ensinos e histórias permanecessem nas mentes dos que o assistiam. Ele escolhia narrativas de conclusão insólita, aparentemente injusta, o que faz com que todos se questionem: o que ele quer dizer com isso?

As parábolas instigantes sobreviveram ao tempo.

A parábola dos trabalhadores da vinha é conhecida no meio espírita como a parábola dos trabalhadores das diversas horas do dia. Kardec dedicou um capítulo inteiro ao seu comentário em "O Evangelho Segundo o Espiritismo".

Contexto

A história é contada apenas no capítulo 20 do evangelho de Mateus, o que não deixa muitas pistas sobre o contexto. No capítulo 19, Jesus parece estar instruindo seus discípulos e apóstolos. Ele fala dos eunucos pelo amor do reino de Deus e do perigo das riquezas (a história do moço rico).


As Relações de Trabalho

No Deuteronômio, um dos livros do pentateuco moisaico, encontram-se regras para a contratação de trabalho (24:14-15). Os pagamentos eram diários, e era proibida a exploração do trabalhador pobre. Iahweh afirma aos empregadores que não se esquecessem que a vida do trabalhador pobre e de sua família depende do pagamento da jornada de trabalho.

Um bom conselho para os dias de hoje, mas interessa-nos saber que era comum e usual a contratação de trabalhadores no período apontado por Jesus.


Denário Romano de Prata


No império romano à época, era usual o pagamento do dia de trabalho com o valor de um denário, que valia "dez asses" (daí a origem do nome), e segundo a wiki era suficiente para comprar 8 quilos de pão, ou seja, permitia com sobra a alimentação de uma família.

A história


Vinha


Como a maioria das parábolas, Jesus conta a história para referir-se ao Reino dos Céus. Um dono de vinha sai em busca de trabalhadores e os encontra no mercado no início do dia. Acerta com eles o pagamento de um denário e os envia para a vinha. Como o número de trabalhadores fosse insuficiente, o dono da vinha volta na terceira hora, na sexta, na nona e na undécima hora. Em todos os casos pergunta aos tabalhadores por que estavam na praça e todos alegam que não conseguiram trabalho. Ele oferece-lhes trabalho sem negociar valores. No momento do pagamento, ele dá um denário a todos, a começar dos trabalhadores da última hora, que trabalharam apenas uma hora ou menos, o que gera murmúrios e reclamações entre os que trabalharam doze horas. O dono da vinha (que também é pai de família) reafirma o cumprimento do acordo feito no início do dia e pergunta-lhes: "é mau o teu olho porque eu sou bom?"

Jesus conclui a história com a famosa frase: "os últimos serão primeiros e os primeiros serão últimos."

Interpretação

Em "O evangelho segundo o espiritismo", Kardec publica quatro comunicações de espíritos que se referem à parábola. Constantino (Bordeaux, 1863) interpreta os trabalhadores da última hora aos espíritas e recomenda que empreguem bem sua existência, que não é mais que "um instante fugidio na imensidade dos tempos".

Outra comunicação é de Henri Heine (Paris, 1863), que considera Moisés, os apóstolos cristãos, os mártires cristãos, os pais da igreja, sábios e filósofos como os trabalhadores das diversas horas do dia, e reafirma entender os espíritas como trabalhadores da última hora.



Heinrich Heine


Erasto (Paris, 1863) recomenda aos espíritas que divulguem a reencarnação e a elevação dos espíritos, e antecipa que os grandes desprezariam seu discurso, os sábios exigiriam provas e os humildes a aceitariam.

Por fim, o Espírito Verdade, considera ditosos os que trabalharem nos campos do Senhor (a Terra) sem interesses e motivados pela caridade.


Reflexões de Espíritas: Schutel e Vinícius 


Cairbar Schutel escreveu em seu "Parábolas e ensinos de Jesus" algumas páginas explicando a parábola e comentando-a. Ele encontra justiça na atitude do dono da vinha, argumentando ser possível que os trabalhadores da undécima hora tivessem se esforçado mais que os demais.


Cairbar Schutel


Schutel foi muito perseguido pela igreja  católica de sua época e parece fazer um desabafo em seu texto, criticando espíritas que não se afirmavam publicamente como tal, escolhendo o trabalho do atendimento aos espíritos, por exemplo. Entendo sua situação, mas não consigo ver a questão da mesma forma, passadas muitas décadas.

Vinícius dedicou dois capítulos de livros a comentar o tema.

Ele também traz o parábola para os dias de hoje, e compara o ato dos trabalhadores da undécima hora ao da viúva do gazofilácio, que Jesus destaca não pelo volume dos resultados, mas pelo sentido subjetivo do ato. Ao contrário da tradição beneditina e taylorista, Vinícius valoriza o trabalho em si, e não o tempo de trabalho.



Ele desenvolve seu pensamento de tal forma que parece estar escrevendo para os dias de hoje. Fala de pessoas que se "exaurem em uma labuta febril e penosa", querendo ser mais meritória aos olhos de Deus.

Pedro de Camargo fala de espíritas que negligenciam seus deveres familiares, profissionais e sociais em função de uma agenda cheia de compromissos espíritas visando, calculistas, serem mais merecedores aos olhos de Deus. Vinicius destaca outra frase do Cristo: "Misericórdia quero e não sacrifício"

1.6.11

TRATAMENTO DE SAÚDE E ESPIRITISMO

Na última sexta-feira o programa Brasil das Gerais, da TV Minas, os Drs. Alexander Moreira-Almeida, Angélica Silva e o Psiquiatra Roberto Lúcio discutiram com a simpática Roberta Zampetti a relação e fronteiras entre Psiquiatria e Espiritismo/Espiritualidade.

Vale a pena conferir.





Primeira Parte do Programa


Segunda Parte do Programa



Terceira Parte do Programa