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29.1.15

TIA BIDU



Tia Bidu, à direita, de verde, ao lado de Tancredo e uma amiga. Atrás, quatro sobrinhas.


Peço licença aos leitores do Espiritismo Comentado para fazer uma homenagem a uma tia querida da minha esposa, umbandista, que acaba de retornar ao mundo dos espíritos.

Quando a conheci, ainda namorando minha esposa, ela se apresentou da seguinte forma:

- Prazer! Meu nome é Nair Nunes Coelho, mas pode me chamar de Bidu.

E ela se transformou imediatamente na minha tia Bidu, cuja alegria e encanto nos permitiu ser aceito imediatamente na família.

_ “Quando eu era jovem, um circo passou por nossa cidade”. Ela contava.

- “Eu decidi, então, fugir com o circo. Procurei o encarregado e me ofereci para trabalhar com eles”. Ele me perguntou:

- “O que você sabe fazer?”

- “Eu canto, danço e sou melodramática!” E ria com a gargalhada mais gostosa do mundo, da ingenuidade da sua juventude.

Alma indomável, era irmã de uma católica superdevota, respeitada por todo o padroado de Valadares e caridosíssima. Bidu se tornou médium umbandista e dona de centro. Contudo, não abandonou a marca da família, e também era uma alma bondosa, querida por todos e capaz de ajudar a quem precisasse. Vez por outra o Juquinha, uma das entidades da umbanda, sabendo que eu não ia às reuniões, me mandava uma balinha, um bom conselho e uma palavra de incentivo. Ela sempre respeitou minhas convicções e nunca me cobrou nada, apenas acolheu e foi amiga.

Sempre me lembro da Bidu com as damas de Valadares. Um grupo de senhoras que parecia um colar de pérolas, dedicadas, empreendedoras, e a Bidu parecia um rubi no meio delas. As diferenças nunca impediram de trabalhar juntas pelo que consideravam bom e justo. E também se divertiam, viajavam juntas, Poços de Caldas, Caldas Novas...



Tia Bidu, cantando aos 81 anos, no aniversário da irmã.

Tia Bidu ficou toda entusiasmada quando recebi uma única mensagem de um espírito que se identificava como preto velho. Ele explicava por que assumiu esta imagem e qual era seu trabalho na umbanda. Pediu cópia e guardou o papel. Disse que queria mostrar para alguém. Nunca soube que fim levou esta mensagem.

Quando soube que eu andava psicografando, Bidu aproveitou uma conversa telefônica com meus sogros para dizer que queria comprar os livros. Eu mandei de presente o “Casos e descasos” e “O observador”. Criada da forma antiga, e sem acesso à internet, ela me telefonou de Valadares, o que era um ato e tanto, já que a situação financeira dela sempre foi regrada. Eu fiz a pergunta que todo médium ou autor deseja fazer ao seu leitor:

- E aí Bidu? Já deu tempo de ler algum deles? O que está achando?

Bem humorada, ela me respondeu:

- Jáder, seus livros são ideais para gente velha.

- Por que tia?

- Eles têm letras grandes e histórias pequenas! E ria gostosamente.

No ano que se passou, o seu companheiro de "cama, mesa e centro", o Tancredo, décadas de união estável, desencarnou. Alguns meses depois ela teve uma trombose mesentérica, que a levou de imediato à mesa de cirurgia e à UTI. Eu ainda acalentava o desejo de melhoras, já que ela estava animada para fazer uns consertos no seu apartamento na ilha e reconstruir sua vida, mas Deus lhe destinou um apartamento maior e a possibilidade de reencontrar com seu companheiro querido. Nós estamos em lágrimas, mas acho que ela irá gargalhar mais uma vez depois que se recuperar do lado de lá.

27.1.15

BOICOTE NA CASA ESPÍRITA


Seu centro espírita é um arquipélago?

Recentemente recebi uma consulta de um amigo de muitos anos, que atua em uma casa de Minas Gerais e tenta auxiliar a direção geral em seus propósitos. A atual diretoria, composta de pessoas com algum tempo de vida, na casa dos sessenta/setenta anos, tem superado as dificuldades pessoais, deixado o pijama no armário e tenta investir esforços para a realização de coisas necessárias para o centro como um todo.

Sempre que me entendi por gente no movimento espírita, talvez pela influência de autores como Chico Xavier (Emmanuel), Raul Teixeira, Divaldo Franco, Herculano Pires, Deolindo Amorim, Carlos Imbassahy e muitos outros cuja abordagem considero benéfica e relevante, entendo que o espiritismo tem um autor importante que desenvolveu a estrutura do pensamento espírita, que é Allan Kardec, e seu trabalho vem sendo desenvolvido ao longo dos tempos por diversos autores, encarnados e desencarnados, cuja obras convencionamos chamar de subsidiárias.

Esta forma de perceber o pensamento espírita parece-me muito semelhante à da filosofia, por exemplo, que demanda de todos aqueles que pretendem formar-se nesta área que dominem bem os gregos antigos, como Platão e Aristóteles. Não conheço físico que consiga estudar mecânica quântica, sem conhecer as leis de Newton. A psicanálise, nos dias de hoje, não prescinde da leitura de Freud cujas ideias podem até ser criticadas por autores contemporâneos, mas são a base de uma das escolas de pensamento psicológicas de hoje. Não tenho conhecimento enciclopédico, mas creio que poderia continuar falando de outras áreas do conhecimento. Seja estudando diretamente, seja indiretamente, todas têm seus clássicos, com ideias que funcionam como estruturas do pensamento, com o passar dos anos.

Herculano dizia que o espiritismo é “o grande desconhecido”, e vemos que a obra de Kardec, desenvolvida no contexto da Europa do século XIX, ainda é pouco estudada no movimento espírita. Acho que os espíritas do nosso tempo têm a ilusão, após um ou dois anos de centro espírita, que Kardec é fácil ou rápido de se aprender. Na verdade, o que penso que acontece é uma falta de programação de estudos das casas espíritas que faz com que os expositores falem sempre dos mesmos temas. Há muitos expositores, ainda, que estudam pouco, então se tornam repetitivos e aprendem apenas de oitiva, o que gera um círculo vicioso. Creio que “O evangelho segundo o espiritismo” e “O livro dos espíritos” são as obras mais lidas e comentadas em estudos de Kardec, mas os demais livros e a Revista Espírita, que contém o processo da construção teórica e prática do movimento espírita, ainda são conhecidos por poucos.

Perdoem se divaguei, voltemos à história do início da matéria. Sensíveis à necessidade de revitalizar em sua casa o conhecimento do pensamento de Allan Kardec, os dirigentes convocaram reuniões para sensibilizar os dirigentes para uma ação do centro como um todo, valorizando Kardec, e meu amigo surpreendeu-se com uma reação que ele não esperava na casa espírita: o boicote.

Na administração de casas espíritas, boicote seria um grupo, sob uma direção superior, se recusar a ter relações com os dirigentes que ele próprio escolheu, ou deixou escolherem. Geralmente é um boicote branco, ou seja, não se vai nem se faz representar nas reuniões convocadas, não se cumpre uma decisão coletiva, inviabilizando a gestão. Não é um conflito ou divergência, apenas indiferença. Nas casas maiores, formadas com muitos grupos, é cômodo ficar apenas no âmbito da sua reunião ou grupo de trabalho e fingir que os problemas da casa são dos outros, uma vez que quando uma casa cresce, seus problemas também crescem.

Ilhar-se dentro da casa espírita é uma forma de criar inúmeros grupos dentro de um centro, dificultando sua administração. Com o tempo, os grupos podem desenvolver idiossincrasias e podem ignorar as decisões tomadas pela comunidade, até mesmo as mais democráticas. Não há conflito nem discordância, mas aos poucos as pessoas começam a perceber, e as vezes comentar, as diferenças. Humberto de Campos falou deste problema em um conto intitulado “Bichinhos”.

O problema fica ainda maior quando uma casa com grande número de frequentadores se torna um “arquipélago”. A tentativa de empreender ações coordenadas e de obter apoio para realizações maiores é cheia de espinhos, fica difícil encontrar pessoas dispostas a ocupar cargos de direção, pelas seguidas frustrações impostas pelo “clima de boicote”.

Por esta razão, ouvi de um conhecido expositor espírita sobre a importância de se ter um espaço que congregue as lideranças da casa. Não é um espaço administrativo, apenas deliberativo ou informativo, mas uma reunião ou evento periódico, que possibilite que as lideranças se conheçam, se encontrem e estudem/trabalhem juntas, evitando a territorialização dos grupos espíritas. São necessários esforços para que haja uma convergência de atitudes e objetivos ou o centro se fragmenta.


Gostaria de deixar aos dirigentes de reuniões que leram heroicamente este artigo até o final algumas perguntas: Você tem apoiado a diretoria que elegeu? Sabe quais são os problemas da casa, que ela vem tentando solucionar? Você sabe quais são as tarefas da sua casa e incentiva seus colegas de reunião a auxiliar na sua realização? Ou será que você tem incentivado a todos a ficarem em uma ilha em um arquipélago que leva o nome de centro espírita?

8.1.15

OBRAS RARAS DA FEB



Mais uma vista da portaria de entrada da Federação Espírita Brasileira


Continuo exibindo as fotos da visita à Federação Espírita Brasileira em 2014. Este prédio redondo é o prédio Unificação, onde se encontram, entre outros espaços, a Biblioteca de Obras Raras e a sala de reuniões do Conselho Federativo Nacional.



Fui gentilmente recebido pela Cacá nas Obras Raras, que me apresentou pacientemente o acervo. 



As obras raras estão em uma sala redonda e climatizada. O ambiente é sóbrio, de bom gosto. 


As estantes semicirculares recheadas de livros e outras formas de publicação atraem a vista dos interessados no espiritismo.



Não dá para falar muito do acervo, então fotografei alguns livros. Abaixo se encontram obras de Camille Flammarion no original francês.



Aqui um livro autografado por Chico Xavier.


Na outra metade do semicírculo, encontramos uma exposição de imagens do fundador da revista Reformador e de todos os presidentes da Federação.




O que o leitor do Espiritismo Comentado acha de mais uma publicação mostrando as fotos da sala de reuniões do Conselho Federativo Nacional?