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20.1.16

DESENCARNA ÊNIO WENDLING

Ênio Wendling


Recebi ontem a notícia da desencarnação de Ênio Wenling, médium e liderança muito expressiva do Grupo de Fraternidade Irmão Glacus, da capital mineira. Foi no dia 17 de janeiro do corrente.

Conheci o Ênio, ou melhor, o vi em atividade mediúnica pela primeira vez no Grupo de Fraternidade Irmã Scheilla, em Belo Horizonte, no início dos anos 80. Papai (José Mário Sampaio) havia sido convidado para fazer uma palestra em uma tarde de domingo e fui assistir. Era organizada pelo Grupo da Fraternidade Irmão Glacus, que ainda não tinha sua sede no bairro Padre Eustáquio. Era uma espécie de reunião de confraternização, e o Glacus tinha por prática separar um tempo para que médiuns de psicofonia e psicografia pudessem permitir a manifestação dos espíritos. Ênio foi o médium de José Grosso e Palminha. Um deles conversou em voz alta com meu pai.
A construção da sede do Glacus no Padre Eustáquio foi cheia de histórias. Houve a aquisição de um terreno na Nova Suíça, cuja construção foi interrompida com um grande incêndio. Vendido o terreno e adquirido outro, lembro-me dos automóveis que foram expostos na Praça Sete, coração de Belo Horizonte, para o esforço de venda de rifas autorizadas pelo governo federal, com a finalidade de arrecadação de recursos. O Glacus, hoje conta com a sede no Padre Eustáquio e outra, imensa, com creche, parque gráfico e outros espaços, na região do Ceasa.



Anos depois passei por uma situação interessante com o médium. Já construída a sede do “Glacus”, fui convidado a fazer uma palestra, durante a semana, à noite. Nunca havia feito qualquer exposição nesta casa, e não conhecia os organizadores da reunião, excetuando o Ênio, que lá estava, e que não conhecia pessoalmente. O salão da casa ficou enorme e estava cheio. Neste dia, atrasei-me e quando cheguei a reunião já havia iniciado. Resolvi não me identificar e assentei ao fundo, no cantinho, para assistir à reunião. Vieram as exposições e depois as comunicações, como de praxe. Não me recordo bem quando, mas iniciaram-se os passes. O Glacus seguia uma orientação, talvez iniciada no antigo Centro Oriente, que cada passista deveria aplicar apenas três passes. Eles não acatam a orientação do espírito André Luiz, no livro Conduta Espírita, de “jamais temer a exaustão das forças”. Daí a pouco fui procurado pelas pessoas deste serviço, que me pediram que aplicasse passes. Ante minha expressão de dúvida, disseram que foi orientação espiritual e que havia vindo da mesa de trabalhos. Jamais soube se alguém me identificou ou se foi pela via mediúnica que souberam que eu sabia e tinha condições de aplicar passes. Depois do terceiro, agradeceram minha contribuição.

Já publiquei no Espiritismo Comentado sobre o Grupo da Fraternidade Irmã Ló, onde Ênio trabalhou como médium, ainda no período em que se tratava apenas de uma residência onde se faziam reuniões de materialização, com a presença de outros médiuns que ganharam expressão no movimento espírita, como Peixotinho.  Estes trabalhos deram notoriedade a Jair Soares, que doaria no futuro a casa para a construção de um centro espírita.
http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2008/11/grupo-da-fraternidade-irm-l.html Fiquei devendo os artefatos materializados, que eles guardam até hoje em uma pequena cristaleira.

Ênio retornou à pátria espiritual, após uma longa existência dedicada à mediunidade e à caridade. O movimento espírita da capital mineira lhe deve o reconhecimento e uma multidão de pessoas o agradece por tudo o que conseguiu realizar.

Localizei uma biografia no site da FEIG e uma entrevista com ele, do jornal Evangelho e Ação, para o leitor que se interessar por sua biografia:




5.1.16

TERTULIANO E OS CRISTÃOS DO SEGUNDO SÉCULO



Tertuliano


Consegui na internet uma tradução para o português do livro Apologia (feita por José Fernandes Vidal e Luiz Fernando Karpss Pasquotto), escrito por Tertuliano no ano 197. O autor é citado por Léon Denis no seu Cristianismo e Espiritismo, pela proximidade de algumas ideias com o espiritismo. Ele foi mestre de Orígenes, que defendeu abertamente a preexistência das almas, como forma de explicar a justiça divina, entre outras posições que lhe valeram, no futuro, a acusação por heresia.

Tertuliano era de Cartago, no continente africano. "e exercia a profissão de advogado quando se converteu".

Nos primeiros capítulos de sua Apologia, Tertuliano faz uma peça de defesa contra o "crime de ser cristão", que é encantadora. Neste texto se vê o que já li em Amélia Rodrigues e outros autores espirituais, que bastava ao cristão negar ser cristão publicamente, e sacrificar aos deuses, para ser absolvido.

Tertuliano desenterrou um texto de Plínio, o moço, no qual ele questiona ao imperador Trajano por que perseguir os cristãos, que, em suma, nada de mal faziam ao império, a não ser não sacrificar aos deuses. Trajano afirma que não deveriam ser perseguidos, mas se fossem trazidos diante dele, deveriam ser punidos.

O advogado cartaginês vai apontar passo a passo todas estas contradições do discurso imperial, comparando o cristão ao criminoso comum. Ele mostra que o criminoso comum costumava ser torturado até admitir seu crime, enquanto o cristão, entregava-se imediatamente se questionado. - "Sou cristão". Ao contrário do criminoso, iniciava-se toda uma manobra para que ele mentisse em público e fosse inocentado.

Usando de ironia, ele escreve:

"Assim, o nome odiado é usado preferencialmente a uma reforma de caráter. Alguns até trocam seus confortos por este ódio, satisfazendo-se em cometer uma injúria para livrarem sua casa dessa sua mais odiosa inimizade. O marido, agora não mais ciumento, expulsa de sua casa a esposa, agora casta. O pai, que costumava ser tão paciente, deserda o filho, agora obediente. O patrão, outrora tão educado, manda embora o servo, agora fiel. Constitui grave ofensa alguém reformar sua vida por causa do nome detestado."

O texto, longe de ser monótono, é muito interessante. Ressalvada a intenção do autor, que é de defesa do cristianismo, um texto desta época é um documento importante para conhecermos melhor o que aconteceu com o cristianismo em sua trajetória. Com certeza, há uma diferença marcante entre os cristãos dos primeiros séculos descritos pelo cartaginês, e os clérigos renascentistas ironizados por Boccaccio em Decamerão.