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25.6.16

O QUE CARAMELOS TÊM A VER COM PAULO DE TARSO?



Saulo de Tarso

Jaques foi convidado a falar sobre a vida de Paulo de Tarso para crianças, quase jovens, de 11 e 12 anos de idade. Um dos evangelizadores, Levi, pediu a ele que observasse a letra da música Vaso Escolhido, escrita por Gladston e interpretada por Tim e Vanessa, para que os evangelizandos pudessem entender as frases que remetem à vida do doutor da lei. Encomenda difícil. Os jovens estudam em boas escolas da capital mineira, mas como despertar o interesse por um personagem que está cada dia mais distante do meio escolar e da experiência de quem cada dia menos tem contato com o cristianismo, na escola, na televisão e no círculo de amizades?

Ele pensou em uma apresentação de slides que fizera há alguns anos, para adultos. Teve o bom senso de consultar Levi que lhe respondeu, presto:
- O conteúdo está muito “master level”, né?

Estava. Jaques pesquisou a internet, para conhecer melhor a música do Gladston, e encontrou um material interessante. Um vídeo do “youtube” que tinha imagens recortadas de um desenho animado e como som, a música citada.

Nova consulta, e Levi respondeu:

- É legal para ilustrar, mas você devia usá-lo para introduzir, que é apenas uma animação, para eles não encararem o desenho como “infantil”. Nesta idade eles se queixam muito de não se usar técnicas que consideram infantis.

O que fazer então? E veio a luz.

Jaques separou algumas das principais passagens da vida de Saulo-Paulo, encontradas no livro dos Atos dos Apóstolos. Ainda assim era muita coisa. Selecionou todos os que se encontravam ilustrados no desenho animado. Selecionou também os que eram necessários para explicar a música que seria tocada, por exemplo, por que Paulo é chamado de vaso escolhido?

Na hora de sair para a aula com toda a parafernália, notebook, mapa das viagens de Paulo, etc., Jaques viu o pote cheio de caramelos e o esvaziou. Eles seriam úteis para esta idade.

Iniciada a aula e cantada a música, Jaques começou a aula perguntando aos alunos o que sabiam da vida de Paulo.

- Detesto ensinar “o padre nosso ao senhor vigário”, vocês sabem o que é isto?

- Não, Jaques, o que é? Responderam

- Ensinar coisas que as pessoas já conhecem.

Algumas  informações eles já conheciam. Paulo era apóstolo de Jesus, mudou de nome, estava em um cavalo quando viu uma luz... As respostas foram sendo anotadas no quadro e problematizadas:

- O que é apóstolo?

- Tem os apóstolos e os discípulos, Jaques!

- Mas Paulo não era um dos doze!

E o diálogo começou, cheio de questões sobre as informações que eles já dispunham. O interesse começou a despertar.

Jaques comunicou que iria contar a história de Paulo. Contudo, provocou os alunos a participar da seguinte forma:

- Vou contar a história de Saulo, mas vou parar de tempos em tempos para fazer perguntas. Quem acertar ganha um caramelo, ok? No final, vou passar um desenho animado sobre Paulo, sem as falas. Quem identificar o que está acontecendo, ganha um caramelo também! Não tenho para todos, então alguns ficarão sem. Tudo bem?

Feito o contrato psicológico, a história começou a ser contada, mas interrompida sempre pelos alunos, que tinham uma dúvida, algo a contribuir, um comentário, até mesmo brincadeiras meio fora de hora.

O desafio e a competição natural da idade eram mais motivadores que os doces, mas todos queriam ganhar. A história de Saulo despertou uma série de questões de história e geografia.

- Quem sabe para onde Saulo ia quando viu Jesus?

- Jerusalém! Disse um.

- Roma! Disse outra.

- Damasco! Lembrou uma aluna.

- Damasco é capital da Síria, não é professor?

- Como você sabe?

- Meu pai é professor de geografia!

Depois de algum tempo, os alunos estavam chamando Jaques de professor. E as mãos levantavam sempre, tentando resolver os problemas que eram colocados ou mesmo, apenas, participar. Quase todos gostaram desta forma meio aula, meio brincadeira de ensinar e aprender.

- Você é professor de história? Perguntou um deles.

Os caramelos começaram a ter outra utilidade. Quem ganhou um, não podia ganhar outro, para que eles atingissem o número maior de colegas. Então, na hora de responder, quem já havia respondido certo tinha que ceder a vez para quem ainda não havia ganhado. Jaques pensou que os que haviam ganhado podiam ficar desmotivados, mas isto não aconteceu. Eles continuavam levantando a mão e esperando a resposta dos colegas. Sabiam que se os colegas não respondessem certo, teriam sua vez, mesmo sem ganhar nenhum caramelo. Ninguém se importava.

Apenas três caramelos haviam sobrado para o vídeo, que foi usado como atividade de verificação da aprendizagem. Foi necessário improvisar, e escolher apenas as três cenas mais difíceis para distribuir as balas que sobraram.

Eles continuaram se interessando e participando, de forma disputada.

Estêvão foi facilmente identificado, Ananias também. A fuga de Damasco foi lembrada. E os alunos iam falando, até que sobrou apenas um caramelo.

- Que cena é esta? Perguntou Jaques. Quatro mãos levantaram-se.

- A fala de Estêvão?

- Não, esta cena aconteceu depois das viagens de Paulo.

- Foi quando Paulo estava ensinando e foi apedrejado e jogado no monturo?

- Não, foi depois deste evento. Disse Jaques.

Um dos mais falantes, mas que ainda não havia conseguido ganhar seu doce, pediu a vez.

- Foi quando Paulo foi julgado em Jerusalém e falou que era cidadão romano?

- Acertou! E uma bala voou até sua mão.

A avaliação foi um sucesso, e ninguém achou que se tratava de atividade de criancinha.

- Como Paulo morreu? Alguém perguntou.

Jaques não tinha certeza. Não havia o relato da morte de Paulo nos atos dos apóstolos.

- Como cidadão romano, não deve ter sido crucificado. Talvez executado com a espada. Mas eu não tenho certeza. Vou verificar e o Levi fala com vocês na semana que vem, ok?

Não houve problema. O respeito não diminui com a verdade.

Ao final da aula, um dos alunos falou com Jaques:

- Você volta para dar outra aula?

Não há elogio melhor para um professor que este.

Todos começaram a cantar, acompanhados pelo violão de Levi, que tocava muito bem, e os passistas entraram na sala para aplicar passes em quem desejasse.

A aula terminou, mas a conversa continuou após os passes, até que todos se fossem.


12.6.16

O QUE É PSICÓFORO?





Jáder Sampaio

Um passeio por alguns textos do famoso pesquisador, Ian Stevenson, que estudou casos de recordações de eventos de outras encarnações em crianças, e recordei-me de uma frase do Sr. Virgílio Almeida. “Se os espíritas negligenciarem a divulgação das ideias espíritas, a ciência as redescobrirá”.
No livro “Where reincarnation and biology intersect” (Onde a reencarnação e a biologia se cruzam), publicado em 1997, o autor discute como uma personalidade desencarnada poderia influenciar a formação do próximo corpo físico. Ele havia encontrado em suas pesquisas, marcas de nascença, como manchas, cicatrizes e más formações, com clara associação a eventos recordados pelas crianças estudadas de uma vida passada. Ele percebe que no intervalo entre encarnações, se a hipótese da reencarnação estiver correta, as memórias precisam ser mantidas em algum lugar, e que este lugar deveria influenciar de alguma forma, ou o processo de fertilização do zigoto (p. 183), ou os embriões. Ele propõe diversas possibilidades para que as duas coisas aconteçam:

1.       modificar as secreções vaginais da futura mãe
2.       Influenciar de alguma forma a mãe para induzir o sexo do futuro bebê
3.       Influenciar o feto ou embrião diretamente, gerando, por exemplo, marcas ou defeitos de nascença

Qualquer que seja o processo, seria necessário um tipo de modelo que imprima os efeitos das memórias no embrião ou feto, gerando as características físicas que ele encontrou nas crianças que se recordam das vidas passadas. A partir deste raciocínio, ele propôs um conceito:

“O modelo precisa ter um veículo que carregue as memórias do corpo físico e também as cognitivas e as comportamentais. Eu sugeri a palavra psicóforo, que significa “veículo da mente”. (p. 183)

Creio que li em outro livro o termo psicosfera, como tradução de “psychophore”, mas não me pareceu correto. O pospositivo –sfera, quer dizer globo, esfera, bola. O Houaiss dicionarizou o pospositivo –fora ou -foro, com o sentido de “levar, carregar”, como deseja Stevenson. A melhor tradução para o português, portanto, é psicóforo.
O que originou este comentário é a similitude com uma das propriedades da palavra “períspirito”, criada por Allan Kardec e inicialmente empregada em “O livro dos espíritos”. Kardec não o emprega como modelo da formação do corpo, mas como laço de união entre o corpo e o espírito, contudo ele seria capaz de influenciar o corpo, como se lê em A Gênese:

Pela identidade da sua natureza, esse fluido, condensado no perispírito, pode fornecer princípios reparadores ao corpo; o Espírito, encarnado ou desencarnado, é o agente propulsor que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância do seu envoltório fluídico. (Kardec, A Gênese, cap XIV, páragrafo 31)

Depois, na literatura espírita brasileira, encontramos Gabriel Delanne, no livro “A reencarnação”, após citar um parágrafo sobre embriogênese, escrito por Claude Bernard:

“Uma vez que o períspirito organiza a matéria, e como esta ressuscita das formas desaparecidas, parece lógico concluir que ele conserva traços deste pretérito, porque a hereditariedade, como veremos, é impotente para fazer-nos compreender o que se passa.” (p. 64)

Não sei se Stevenson conhece a fundo o pensamento espírita, mas parece que Seu Virgílio está com a razão. Para os espíritas, ele redescobriu a roda ao criar esta nova palavra. De qualquer forma, é importante que o estudioso do espiritismo acompanhe as pesquisas sobre os assuntos que dizem respeito à doutrina, já que contribuem ao trazer novas evidências e discussões para questões centenárias.

Referências

Delanne, Gabriel. A reencarnação. Rio de Janeiro, FEB, 1992. Traduzido por Carlos Imbassahy.
Kardec, Allan. A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. 16 ed. Rio de Janeiro, FEB, 1973. Tradução da 5 ed. francesa por Guillon Ribeiro.
Stevenson, Ian. Where reincarnation and biology intersect. Westport-CT, Praeger, 1997. ISBN 0-275-95189-8


7.6.16

OS ESPÍRITAS AMAZONENSES E SUAS HISTÓRIAS DE AMOR CRISTÃO.








Estava navegando pela internet e esbarrei sem querer em uma preciosidade: os anais do II Simpósio da Fundação Allan Kardec. Depois descobri que há anais de três simpósios, disponíveis na página da FEAK, que funciona no Amazonas.

Ainda não terminei de ler, confesso que li meia dúzia de relatos, mas não é preciso ler muito para saber que tem qualidade. 

Uma das contribuições que estes anais nos dão, são os relatos de casos. Sempre achei que a mania de escrever manuais para uniformizar tarefas, em um país tão continental quanto o nosso, tem diversos problemas. Penso ser mais útil que as sociedades espíritas mostrem o que fazem, como e porque construíram sua prática. Assim, há um real repasse de experiência entre diferentes sociedades espíritas.

Os relatos que encontrei são pessoais, mas refletem as lutas, as dificuldades e os resultados encontrados em diferentes frentes de trabalho. 

Senti-me dentro do Rio Negro, acompanhando a trabalhadora que acorda às quatro e trinta da manhã para tomar o barco, navegar por três horas, subir na carroceria de um caminhão com seus colegas de tarefa (adultos e crianças) e chegar em um sítio na estrada para fazer palestra, passe e diálogos.

Vi-me nas imediações do Palácio do Comércio, em busca das crianças que, dizem, "cheiram cola", e acompanhei a tarefa de encontrá-las, dar-lhes alimento, compartilhar do medo, travestido de hostilidade, com que a população e os comerciantes locais as tratam. 

Emocionei-me com o menino que contou ter esfaqueado o padrasto, que violentava sua irmã menor, e saiu correndo, fugido de casa, com o projeto de voltar para vingá-la quando tivesse dezoito anos.

Lembrei-me do Lar Espírita Esperança quando li que a população de rua era acolhida no centro para um café da manhã, com um kit de higiene pessoal, guardado cuidadosamente para cada pessoa.

Eu poderia ficar borboleteando história a história, mas o texto ficaria imenso, então vou deixar o link dos anais para quem se interessou e deseja ler: http://www.faknet.org.br/wp-content/uploads/2015/04/Anais-II-SImposio-FAK.pdf

Os outros dois anais estão no site http://www.faknet.org.br/, à direita.

Há uma coisa preciosa nestes relatos. Temos acesso à visão do trabalhador espírita, com suas realizações e frustrações, mas vemos também a visão dos excluídos com quem eles trabalham. É uma publicação que humaniza e emociona a quem lê. 

Lendo os relatos, identifiquei duas ou três mãos espirituais: Mário Barbosa e Raul Teixeira, cujas ideias e verbo parecem ter feito parte da construção das atividades na região (espero não estar equivocado). A terceira mão é de Leopoldo Machado, andando no lombo de burro, de jardineira, de avião, também, para levar o pacto áureo ao norte e ao nordeste, sempre preocupado com a infância.

4.6.16

FLAMMARION, O POETA REENCARNADO

Camille Flammarion e Dom Alonso de Ercilla y Zuñiga


Karl Muller reproduziu uma história intrigante. O astrônomo Camille Flammarion publicou na Revue Spirite, em janeiro de 1925 que havia conhecido um espírito que se comunicava através de um médium em transe no século XVI, quando ele houvera sido Dom Alonso de Ercilla y Zuniga (1533-1594).

Flammarion leu a biografia do poeta e viu que ele havia sido condenado por decapitação, quando estava no Chile, e que sua sentença havia sido revogada. Ele lembrou-se, depois disto, que tivera pesadelos nos quais desejavam decapitá-lo, e acordava perturbado, mas nunca sonhara que havia sido realmente decapitado.

Neste episódio não se pode falar em provas de reencarnação, mas muito provavelmente a revelação espiritual causou forte impressão em Camille, em função de seus sonhos. Embora alguns tipos de sonhos sejam comuns, como sonhar que se está voando, na literatura que estudei sobre este fenômeno psicológico, nunca vi relacionado como sendo comum um sonho de decapitação, ou o medo de ser decapitado. 

Zuñiga era poeta, chegando a ser destacado por Cervantes. Até onde sei, Flammarion não publicou poesias, mas era um cientista curioso, porque escrevia romances e narrativas, ao contrário de seus colegas, cuja grande maioria aprende a escrever segundo as regras das ciências, que exige objetividade e reprime a imaginação, obriga abandonar as figuras de linguagem pela comunicação direta e sem polissemia, além de condenar outros recursos usados pelos literatos.

Flammarion e Zuñiga lutaram em guerras. O espanhol viajou ao Peru e ao Chile, onde lutou por sua pátria contra os Mapuches, e Flammarion participou da Guerra Franco-Prussiana como capitão. Seu papel e de seus companheiros era observar com lunetas, do alto de um castelo, as posições dos alemães e sua artilharia, identificando posições do inimigo.

Conhecemos pouco de Dom Alonso para fazer qualquer comparação entre sua personalidade e a de Camille, que é mais conhecida em função de suas publicações autobiográficas.

Ainda não tive acesso à Revista Espírita citada, porque a Encyclopedie Spirite, que tem publicado em francês os números posteriores a Kardec, encontra-se ainda em dezembro de 1924, um mês antes do artigo de Flammarion citado por Karl Muller.

Fonte: Muller, Karl. A reencarnação baseada em fatos. 4 ed. São Paulo, Edicel, 1986.p. 242

1.6.16

ESPÍRITA FRANCESA CONTA HISTÓRIA DE REENCARNAÇÃO A ROCHAS


Foto de Rufina Neuggerath


O Coronel Albert de Rochas publicou um livro sobre recordações de outras vidas obtidas pelo magnetismo, chamado As Vidas Sucessivas. É um livro importante para o espiritismo, porque ele obtém através de meios empíricos, fenômenos que sugerem a existência da reencarnação, ainda que inconclusivos.

Em uma parte de seu livro encontramos uma carta escrita a ele por Rufina Neuggerath, conhecida como boa mãe dos espíritas, que mantinha um grupo mediúnico na segunda metade do século XIX, na França.

Rufina teve contato com os estudos de Rochas, e resolveu enviar um caso que ela teve contato para avaliação do estudioso, que o publicou.

O príncipe Wisznieuwski viajava com o príncipe Galitzin e encontrou uma moça em condição de mendicância, que lhes chamou a atenção. Eles resolveram adormecê-la (hipnotizá-la ou magnetizá-la) e o fizeram em um hotel, após pagar-lhe o jantar.

Em estado sonambúlico ela afirmou que havia morado na Itália, que era a Condessa de Y., morava em um castelo e era cruel. Ela empurrou o marido de um rochedo, o que foi visto pela cidade como um acidente, e permaneceu impune até a desencarnação.

Os nobres resolveram investigar o relato e foram ao local. A maioria das pessoas de lá não haviam ouvido falar no incidente, até que um camponês se recordou do evento, que havia ouvido falar quando era criança. Dispôs-se a mostrar o rochedo e afirmou que muita gente desconfiava da condessa, mas ela não foi condenada.

O caso chama a atenção, porque ainda no século XIX encontramos uma tentativa de verificação das informações de um sonâmbulo que alega recordar-se de vida passada. Se o relato do camponês for confiável, àquela época, há evidência que não se trata de fabulação ou ecmnésia, hipóteses psiquiátricas para as recordações alegadas de vidas passadas.