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31.12.19

REENCARNAÇÃO NA FRANÇA ANTES DE KARDEC

Lynn L. Sharp

Concluí a leitura de “Secular Spirituality: reincarnation and spiritism in nineteenth-century France” de Lynn L. Sharp há alguns meses. O livro foi publicado pela Lexington Books e trata da história do espiritismo na França no século 19. 

Pelo que encontrei na internet, a autora é professora associada do Whitman College, com formação em história nas universidades do Colorado e pós-graduação (mestrado e doutorado) na Universidade da Califórnia. Ela é laureada com o prêmio Robert Y. Fluno de ensino em ciências sociais. 



Ao contrário das outras histórias do espiritismo, Sharp começa com os reformadores sociais franceses. Alguns deles tinham uma ideia comum com o futuro espiritismo de Allan Kardec: a reencarnação. Alguns nomes pouco estudados no Brasil pelos espíritas surgem, como Jean Reynaud, o socialista Saint-Simon, o filósofo Pierre Leroux, Charles Fourier (que propunha a reencarnação interplanetária) e Pierre–Simon Ballanche. A autora explica a reencarnação em alguns dos socialistas utópicos como um caminho para “explicar a tensão entre indivíduo e sociedade”, e promover mudanças. 

Ainda com essa visão social da história das ideias espiritualistas na França, Lynn Sharp trata dos sonâmbulos mesmerizados e das ideias mediúnicas de Swedenborg como uma forma de reconciliação entre os interesses individuais e sociais.

Outra influência incomum em nossos autores de história é o que Sharp denomina como o “renascimento oriental” que aconteceu na Europa no final do século 18 e ao longo do século 19, e destaca a publicação do Bhagavad Gita e do Ramayana. A Índia e a Pérsia foram vistas por Leroux e Reynaud como fontes de verdades antigas, e o leste em geral como “fonte das ideias religiosas”.

Reynaud trata da crença na reencarnação entre os Druidas. Não sei se entendi direito, mas Sharp o critica por supervalorizar a cultura gaulesa. 

“... as verdades nucleares de suas idéias filosóficas, e de todas as religiões, podiam ser encontradas nos primeiros franceses, os gauleses, como expressão de sua intelligentsia, os druidas.”

Lynn Sharp segue mostrando que muitas pessoas foram influenciadas por Reynaud e passaram a incorporar seus dados sobre os celtas.

Ela considera que os espíritas incorporariam muito tarde, em torno da década de 1920, trabalhos promovendo a conexão entre “druidas e a metempsicose”. Deve estar referindo-se a dois livros importantes, “O gênio céltico e o mundo invisível” e “A reencarnação”. O primeiro de Denis e o segundo de Delanne. 

Estranha que ela não citasse Allan Kardec, que em abril de 1858 publicou um artigo sobre o espiritismo entre os druidas. Nele, o fundador do espiritismo já apontava a questão da reencarnação:

“Se, pois, nos reportarmos aos preceitos contidos no Livro dos Espíritos, onde encontraremos formulado todo o seu ensino, ficaremos admirados ante a identidade de alguns princípios fundamentais com os da doutrina druídica, dentre os quais um dos mais notáveis é, incontestavelmente, o da reencarnação.”

O livro “Terre et Ciel” de Reynaud, foi publicado em 1854, muito próximo de O Livro dos Espíritos (1857). Kardec publicou um artigo em sua homenagem na Revue Spirite, em agosto de 1863, considerando-o um precursor do espiritismo. Ele publicou uma comunicação de Santo Agostinho que entende que os livros de Reynaud possibilitariam aos seus leitores uma conexão entre as ideias do filósofo e o espiritismo.

A proposta de Sharp nesse primeiro capítulo de seu livro é mostrar que há uma “rede de linhas de pensamento que se entrelaçam” com relação à reencarnação na França do século 19. A autora a remonta aos socialistas românticos. Como historiadora, a autora faz uma história do espiritismo analítica, articulada à política e às questões de gênero. Ela leu muitos autores, inclusive periódicos espíritas de duração breve na França do século 19. Aos espíritas brasileiros contemporâneos que ela não parece conhecer bem, vale a pena estudar seu livro.


28.12.19

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Agradecemos a criação de Júlia Jacomini Sampaio para o projeto!

26.12.19

QUE TEMAS PODEM SER DESENVOLVIDOS PARA O 16º ENLIHPE?


Seguem abaixo algumas sugestões de assuntos gerais ligados ao tema central que poderiam ser desenvolvidos por interessados no 16º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo - ENLIHPE.

1. Estudos de caso: casos de transtornos mentais tratados em reuniões espíritas (diagnóstico detalhado, terapêutica médica e espiritual detalhada, avaliação de desfecho do caso, estudos de follow-up, conclusões consistentes com os dados obtidos).
2. Estudos históricos ou de análise sobre o livro "A loucura sob novo prisma", de Bezerra de Menezes.
3. Análises de conceitos psicopatológicos empregados em literatura espirita de origem mediúnica.
4. Estudos descritivos de tratamento espiritual em instituições espíritas de saúde, como hospitais espíritas.
5. Estudos de casos múltiplos (de design experimental ou observacional) de pacientes com determinados transtornos mentais submetidos a passe (diagnóstico detalhado, terapêutica médica e espiritual detalhada, avaliação de desfecho do caso, estudos de follow-up, conclusões consistentes com os dados obtidos)
6. Relatos de casos de emprego de informações mediúnicas no diagnóstico de pacientes portadores de psicopatologias
7. Psicopatologia e obsessão
8. Estudos históricos sobre o tratamento destinado a pacientes portadores de transtornos mentais por instituições espíritas
9. Análise de livros da literatura espírita que trazem relatos e informações sobre psicopatologia
10. Revisões de literatura de artigos técnicos que distinguem transtornos mentais de experiências espirituais.

Saiba mais sobre o formato dos trabalhos do 16º Enlihpe em http://www.lihpe.net/wp2/?page_id=329

12.12.19

O NATAL DE 2019



Vem chegando o Natal e a cidade muda seu ritmo. Trânsito ativo, vai e vem de pessoas e, na nossa cidade, dezembro traz consigo suas chuvas, que não  impedem ninguém de ir às ruas comprar coisas para a ceia e a troca de presentes.

Nossa casa espírita se prepara para celebrar o natal, à moda antiga. Preparamos cestas de alimentos para presentear pessoas pobres. É assistencialismo, mas é festa ao mesmo tempo. As muitas reuniões públicas, de estudo, mediúnicas, se cotizam para adquirir os gêneros que compõem a “cesta de natal”, também chamada, pelos que nos antecederam na tarefa, de farnel.

Nas muitas festas de confraternização, em que nos encontramos, a jovem lamentava:

- Esse ano vou ao Canadá. Pela primeira vez não poderei participar da confecção das cestas de natal! Ela sabia que perderia aqueles momentos de alacridade e companheirismo.

A quebra da rotina marca o nosso natal sem neve, mas com a presença dos símbolos da cultura europeia que nos alimentou. Por todos os lados se vê um Papai Noel, uma árvore de natal, os enfeites, uma rena voadora ou qualquer um dos simpáticos ícones que têm mais a ver com o antigo culto dos deuses que com a história de Jesus.

Na mediúnica de sábado, estamos estudando o livro “Memórias de um suicida”. A leitura é sempre interessante e a riqueza dos detalhes do texto produzido por Yvonne-Camilo provoca nossa curiosidade e nosso desejo de aprender mais.

Na parte mediúnica, silêncio. Muitos médiuns relatam ter ficado entre o estado de consciência e o de transe. Um espírito comunica-se por Jeziel. 

Ao mesmo tempo, a médium Ana começa a falar e Débora vai atender. É um daqueles raros momentos em que um espírito que já se comunicou há semanas por um médium, volta a falar por outro. 

A mulher vinha nos comunicar que iria reencarnar. Ela identifica sua história, que Ana não conhecia. Na “terceira parte”, Alex iria dizer que ela havia se comunicado há algumas semanas através dele.
Ela agradece. Agradece o carinho do grupo, o acolhimento, a dedicação. Ela nos diz que fala em nome de muitos espíritos que lá estavam presentes, que também foram beneficiados pelos nossos trabalhos. Ainda pela voz da mulher, antes identificada como prostituta, vem o recado de um de nossos dirigentes espirituais, ainda anônimo, mesmo após tantos anos de trabalho.

Acompanha uma sensação de estar fazendo a coisa certa, uma alegria com a gratidão! Quão poucos se dedicam a ajudar o próximo sem nunca receber um muito obrigado! Dos dez leprosos, ensina o Novo Testamento, apenas um voltou para agradecer.

Lembrei imediatamente do Natal. Não foi Jesus quem escolheu a "apóstola dos apóstolos", talvez injustamente considerada como prostituta por uma autoridade eclesiástica medieval, para dar a notícia aos apóstolos que ele continuava vivo após a morte do corpo? Não foi Maria, a de Magdala, a mulher corajosa cujas histórias foram contadas pelos evangelistas? Não foi ela a companheira da outra Maria, no sombrio momento do Gólgota, que enfrentou sem medo a soldadesca romana com sua presença claramente favorável ao Rabi Galileu?

E eis que do plano espiritual veio uma voz de mulher que nos agradeceu e comunicou que voltaria à vida, no mês em que lembramos que Jesus também reencarnou para nos instruir e ensinar o amor.

Feliz Natal a todos os que acompanham o Espiritismo Comentado! Possa a paz do aniversariante e a alegria dos pais invadir todas as casas nas celebrações da vida, da fé e da família.