18.8.17

UM ESTUDO BRASILEIRO DE PASSES EM CULTURA DE BACTÉRIAS




Após o estudo de Reiki (Rubik et al, 2006) que resenhei há pouco, Lucchetti e colaboradores (2013) fizeram um novo estudo com bactérias, com a participação de passistas da Federação Espírita do Estado de São Paulo.

O estudo foi feito no Laboratório de Ciências Médicas da Faculdade de Santa Casa de Misericórida de São Paulo, que é referência para análises microbiológicas.

Método

Foram formados três grupos, o de bactérias que seriam tratadas com passe espírita (voluntários da FEESP), o que seria “tratada” apenas com imposição de mãos (feita por voluntários que não são passistas) e o grupo controle de bactérias, sem imposição de mãos (LOH) nem passes. Neste último grupo as bactérias cresceriam em seu ritmo natural (NO LOH).

Foi feita aleatorização das culturas de bactérias com programa de computador. O primeiro tubo foi submetido a passe espírita, o segundo LOH e o terceiro foi o grupo controle (NO LOH).

Os passistas tinham cinco minutos para preparar o ambiente do passe (prece e relaxamento). O passe e a imposição de mãos foram feitos por dez minutos, a dez-quinze centímetros dos recipientes que continham as culturas de bactérias.

As sessões foram feitas em três dias consecutivos. Após a aplicação os participantes preenchiam escalas de bem-estar (de zero a dez), de forma semelhante ao estudo de Rubik. A aplicação de passes e de imposição de mãos foi feita com luzes apagadas, para facilitar a concentração.

Um cuidado novo neste estudo foi aplicar passes e imposição de mãos com duas finalidades: a de inibir o crescimento das bactérias e a de promover o crescimento delas.

1.       Sem intenção: os voluntários assistiam a um vídeo de produção industrial do etanol enquanto impunham suas mãos.

2.       Com intenção de inibir o crescimento bacteriano: os voluntários eram instruídos a “matar as bactérias, porque elas eram perigosas aos seres humanos]” e assistiam a um vídeo com cenas de natureza e música relaxante.

3.       Com intenção de promover o crescimento bacteriano: os voluntários eram instruídos a “promover o crescimento das células” e assistiam ao mesmo vídeo anterior.

4.       Com impacto negativo: Os participantes assistiam a dez minutos do filme “O resgate do soldado Ryan” com cenas de violência da segunda guerra mundial e eram instruídos a impor as mãos sobre a cultura enquanto assistiam.

Resultados

Como houve desistências durante o estudo, participaram onze passistas e dez voluntários para imposição de mãos.




Senti falta de uma tabela com os valores do gráfico 1, mas é visível que o crescimento grupo controle de colônias de bactérias teve resultados semelhantes nas diferentes comparações de experimentos sem intenção, aumento, decréscimo e negativo. Isso significa que há um ritmo com pouca variação do crescimento das bactérias nas condições controladas ambientais dessa pesquisa e que as variações podem ser explicadas pelos passes.

Ao contrário do trabalho de Rubik, o aumento do ritmo do crescimento da colônia de bactérias não se verificou. Os autores explicam que não conseguem ainda entender bem o resultado (p. 631), mas especulam que o procedimento de indução dos passistas a “matar as bactérias” que fazem mal aos organismos humanos, anterior ao incentivo para fazê-las crescer, pode ter influenciado os resultados.

Outro resultado a ser considerado, é que quando os passistas não tiveram intenção nenhuma, nem de fazer crescer, nem de “matar”, o ritmo do crescimento das colônias foi igual ao da imposição de mãos e ao do ritmo natural, sem tratamento. O leitor não acostumado a interpretar este tipo de gráfico deve prestar atenção aos intervalos de confiança, que são representados pelas linhas no extremo das colunas. Eles significam que os valores da população original (no caso, o crescimento das colônias deste tipo de bactérias em geral) têm 95% de probabilidade de estar entre os limites superior e inferior representados. Se o limite superior ou inferior do intervalo de confiança de uma coluna fica dentro da faixa de valores das colunas vizinhas, pode-se concluir que a diferença obtida não é suficiente para se dizer que é menor ou maior que a do seu vizinho. Quando as faixas de valores são totalmente diferentes, há diferenças significativas, com 95% de probabilidade de acerto, entre os parâmetros das populações (em outras palavras, há diferença entre os grupos).
Analisando os intervalos de confiança dos tratamentos para o decréscimo do crescimento das colônias de bactérias, dá para ver claramente que os passistas foram eficazes em inibir seu crescimento. O mesmo padrão não é encontrado nas demais intenções.

Comentários

Como não houve o “choque térmico” na colônia de bactérias feita por Rubik e colaboradores, este estudo não pode ser considerado uma réplica do anterior.

Este estudo reforça a necessidade dos passistas no meio espírita se prepararem mental e emocionalmente para seu trabalho. Ele reforça a ideia de que os passes não são mera imposição de mãos, se considerarmos os estudos anteriores semelhantes. 

Se a atitude mental do passista interfere no crescimento ou decréscimo das culturas, sugere-se novos estudos que avaliem também a atitude mental dos pacientes.


LUCCHETTI, G., OLIVEIRA, R. T., GONÇALVES, J. P. B., UEDA, S. M., MIMICA, L.M.J., LUCCHETTI, A. L. G. Effect of spiritist "passe" (spiritual healing) on growth of bacterial cultures, Complementary therapies in medicine, v. 21, p. 627-632, 2013.



"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto. Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/

16.8.17

TRATAMENTO DE BACTÉRIAS IN VITRO COM REIKI



Rubik, Brooks e Schwartz (2006) fizeram um estudo para identificar o efeito de Reiki sobre culturas de bactérias Escherichia coli.

O que é Biocampo e o que é Reiki?

Os autores incluem o Reiki dentro da categoria das chamadas Terapias de Biocampo, nas quais “manualmente e/ou via interação pela vontade (intent) com campos de energia do paciente” o tratamento é feito por praticantes treinados. Biocampo é uma hipótese, criada a partir de diversos efeitos estudados por estes praticantes em organismos e células, à distância. O conceito de campo foi criado na física com a finalidade de identificar áreas de influência de magnetos e outros tipos de força que se exercem à distância da fonte geradora, sem conexão.

Reiki é uma palavra japonesa que significa “energia universal da vida” e denomina a técnica criada por Mikao Usui no Japão. Segundo os autores, consiste de “uma sequência de doze posições de mãos colocadas no corpo ou a alguns centímetros dele”.

Os autores descrevem inúmeros ensaios clínicos e experimentos realizados antes deles, mostrando o efeito de técnicas de biocampo (imposição de mãos e oração por membros da igreja cristã ortodoxa, por exemplo). Efeitos como aumento de nível de hemoglobina, mudanças em meridianos de acupuntura, medidos através de teste eletrodérmico, redução dos mecanismos de estresse, proliferação de culturas de células do cérebro in vitro, assim como de fungos, células de mamíferos, fermento. Outro efeito foi a proteção das células vermelhas dos processos de hemólise (destruição).

Em estudos com efeitos biológicos, com design experimental, os níveis de hemoglobina e hematócritos de 48 sujeitos recebendo treinamento Reiki, comparado com grupo controle mostrou uma melhora significante.

Os autores fizeram este estudo para mostrar que a imposição de mãos pode fazer efeito, sem que isso possa ser explicado por efeito placebo, ou seja, fenômenos psicológicos. Rubik (uma autora) já havia feito um estudo com membros da Igreja Ortodoxa Cristã, combinando prece e imposição de mãos, que teve efeito positivo no crescimento de Salmonella typhimurium.

Neste estudo, se desenhou um ensaio biológico para avaliar se a imposição de mãos do Reiki pode estimular o crescimento de cultura de bactérias Escherichia coli in vitro em condições nas quais o crescimento é impedido. Esperava-se que o Reiki pudesse estimular este crescimento.

Eles levaram em consideração três pontos: o local, a relação praticante-paciente e a presença de um paciente com necessidade de cuidados médicos. Eles consideraram que a medicina alternativa e complementar é contextual e que o contexto pode afetar essas terapias.

Como a pesquisa foi realizada

Trata-se de estudo com cegamento dos experimentadores, atribuição aleatória das culturas de bactérias para os grupos experimental e de controle, controle das amostras de bactérias correspondentes às amostras de teste em pares (emparelhamento) e processamento dos pares de amostras em ordem aleatória.
Considerando a preocupação com o lugar, separou-se um consultório com três praticantes de Reiki. Eram salas carpetadas, iluminação leve incandescente, paredes com quadros pendurados, cadeiras confortáveis e uma mesa de massagem. Essas salas tiveram a poluição eletromagnética medida e foram consideradas de igual intensidade. Possivelmente isso foi feito considerando a possibilidade das bactérias serem afetadas por ondas eletromagnéticas.

A cultura de bactérias E. coli K12 foi preparada de forma triplicada para a criação dos grupos controle. As amostras foram aleatorizadas e manipuladas aos pares e colocadas em prateleiras plásticas em duas caixas de cartão idênticas seladas.

Os praticantes de Reiki colocavam suas mãos a 10 cm das culturas, durante 15 minutos. Ao final eles preenchiam um formulário sobre seu bem-estar e satisfação (Arizona Integrated Outcomes Scale – AIOS).

Resultados



Como se pode inferir da figura acima, houve diferença significativa entre a contagem de bactérias do emparelhamento entre a cultura de bactérias tratada ou não por Reiki, apenas no contexto de tratamento (sala preparada com paciente atendido antes das bactérias). A estatística F de comparação dos grupos foi de 3,865 e a p < 0,05.

Discussão

Os autores propõem três resultados em sua pesquisa:

1.       “Reiki tem um efeito de promoção do crescimento de culturas de bactérias in vitro, sob certas condições”

2.       “O contexto de tratamento mostrou um efeito de crescimento estatisticamente significativo em culturas de bactérias”

3.       “O bem-estar dos praticantes influenciou os efeitos do Reiki no crescimento de culturas de bactérias.”

Com estes resultados, os autores entendem que o contexto é importante para o Reiki e que os estudos que não o consideram, podem não estar medindo “efeitos terapêuticos otimizados naqueles organismos”. Eles entendem também que a falta de controle da variável contexto pode explicar alguns estudos que tiveram dificuldades em replicar os efeitos de tratamento espiritual (healing) em células.

Os autores sugerem que, se este estudo for replicável, ele pode se tornar um protocolo para a condução de pesquisa básica, e que novos estudos de organismos simples como a sua fisiologia, bioquímica e genética podem ser realizados.

Há também os resultados de bem-estar dos praticantes de Reiki, cujas tabelas não reproduzimos neste texto. “Se os escores de bem-estar do praticante eram inicialmente altos, então os efeitos do Reiki na cultura de bactérias foram mais pronunciados. Se eram inicialmente baixos, então efeitos menores e até negativos nas bactérias foram observados”. (p. 11)  Eles concluem, portanto, pela importância do bem-estar do praticante para a obtenção de efeitos positivos maiores.

O estudo mediu sessão a sessão os resultados no crescimento das bactérias, e os autores entendem que os efeitos negativos observados poderiam ser resultado de “emissões energéticas negativas que se opõem, em vez de estimular, o crescimento das bactérias, associado com o biocampo humano em certos estados psicofisiológicos.” (p. 11) Eles se baseiam em um estudo de Qigong, onde a doença do mestre desta arte anulou o efeito da suposta energia em leucócitos.

O estudo põe em questão a ideia difundida no meio dos praticantes de Reiki que as energias aplicadas são originárias da “fonte universal de energia”, não sendo afetadas por qualquer estado de consciência do praticante.

Comentários

O presente estudo está baseado em uma amostra muito pequena (n = 14) o que exige que se considerem os resultados obtidos com parcimônia, porque apesar dos testes não paramétricos realizados, um pequeno número de resultados negativos pode afetar o resultado final da amostra.

Outra questão importante, não discutida, é o significado dos números no eixo das ordenadas da figura 1. Embora haja uma diferença numérica considerada significativa, o que significa a variação encontrada nas contagens de colônias de E. coli? Há outros estudos com culturas realizadas da mesma forma, sem a intervenção de terapêuticas espirituais? Qual é o crescimento médio e a variação das colônias nesses estudos?

Uma vez replicadas e aceitas as conclusões deste estudo, a prática de passes nos centros espíritas deve considerar o estado de bem-estar do passista, evitando que pessoas doentes, ou com mal-estar (mental, emocional, espiritual ou social) em outras áreas não realizem passes enquanto estiverem assim. Sugere-se replicar este estudo com bactérias, usando passistas em vez de praticantes de Reiki.

Os resultados deste estudo também apontam para que os passistas se preparem antes da atividade dos passes, e sugerem que um ambiente (sala) destinada para este tipo de atividade pode influenciar na eficácia dos passes.


Rubik, B., Brooks, A., Schwartz, G. In vitro effect of Reiki treatment on bacterial cultures: role of experimental context and practioner well-being, The journal of alternative and complementary medicine, v. 12, n. 1, 2006, p. 7-11.


Agradecimentos

A Raphael Vivacqua Carneiro pela revisão desta resenha.



"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto. Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/

14.8.17

CIENTISTA NORTE-AMERICANA ESCREVE SOBRE PASSES E DESOBSESSÃO NO BRASIL


Capa de um dos livros publicados por Emma

Emma Bragdon, PhD, publicou um trabalho intitulado “Centros de Tratamento Espíritas no Brasil” no qual considera importante o modelo dos centros espíritas brasileiros para os Estados Unidos. Ela fez 13 viagens, entre 2001 e 2004, e foi a diversos lugares, incluindo a Federação Espírita do Estado de São Paulo - FEESP, a cidade de Palmelo e o Sanatório Eurípedes Barsanulfo.

A Dra. Emma reproduz os resultados apresentados por dirigentes espíritas, que não me parecem bem fundamentados, como o “auxílio de 90% de pessoas com depressão a voltar ao normal sem dependência de drogas”. A depressão é muito confundida com a tristeza, até mesmo no meio médico e psicológico e talvez tenha sido utilizada pelo dirigente de forma leiga, e não como transtorno de depressão maior - TDM, como a autora interpreta mais à frente no texto. Ela diz que 9,9 milhões de pessoas nos Estados Unidos sofrem de TDM, sendo tratados com remédios, que têm efeitos colaterais.

Em suas observações, ela narra um caso de paciente diagnosticado com esquizofrenia, que foi acolhido no Sanatório Eurípedes Barsanulfo, passou por sessões de desobsessão, e foi acompanhado pelo médium curador Bortolo Damo (http://vaniaarantesdamo.blogspot.com.br/2016/03/bortolo-damo-meu-esposo-e-companheiro.html). O paciente melhorou, os médicos reduziram seus medicamentos ao mínimo e ele passou a fazer parte do grupo de curadores  que atendem os outros pacientes no sanatório. 

Este tipo de caso me parece bem típico dos centros espíritas em geral. Há uma tolerância generalizada com os portadores de transtornos mentais e a aceitação deles em algumas atividades, o que pode auxiliar muito no seu tratamento.

Tocou-me muito um comentário da Dra. Emma. Um médium com renome nacional, por exemplo, baseando-se no espiritualismo norte-americano adotou indevidamente práticas de remuneração associadas à mediunidade.

Emma, contudo, escreve em seu trabalho sobre o voluntariado nos centros espírita brasileiros:

“... Nós somos uma cultura materialista. A maioria das pessoas nos Estados Unidos acha razoável e certo cobrar por qualquer serviço prestado. O conceito dos espírita brasileiros, “o que foi dado gratuitamente por Deus deve ser doado gratuitamente para as pessoas” não está firme na nossa cultura. Os curadores espirituais , os médiuns de cura  e os médiuns em geral normalmente cobram por seus serviços nos Estados Unidos. Logo, nosso materialismo obstrui nossa capacidade de incorporar este aspecto do espiritismo, apesar deste preceito desencorajar charlatães que têm ambições mercenárias.” (p. 71)

Esse é um estudo baseado em observação e entrevistas, diferente do que vimos publicando, mas traduz bem o interesse de uma cientista norte-americana sobre o que fazemos e traz um olhar diferente e valorizador de muitas das práticas de passes, estudos e assistência social realizadas atualmente nos centros espíritas brasileiros. 

Bragdon, Emma. Spiritist healing centers in Brazil, Seminars in integrative medicine, v. 3, 2005. P. 67-74.



"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto. Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/

11.8.17

REDE GLOBO FAZ MATÉRIA SOBRE USO DE PASSES EM HOSPITAL




A Dra. Élida Mara Carneiro vai apresentar suas pesquisas com passes no ambiente hospitalar no 13o. Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo - ENLIHPE. Ela é autora de artigo publicado em periódico técnico internacional sobre o assunto. 

CARNEIRO, Élida Mara, BARBOSA, Luana Pereira, MARSON, Jorge Marcelo, TERRA, Juverson Alves, MARTINS, Cláudio Jacinto Pereira, MODESTO, Danielle, RESENDE, Luis Antônio Pertili Rodrigues de, BORGES, Maria de Fátima. Effectiveness of spiritist "passe" (spiritual healing) for anxiety levels, depression, pain, muscle tension, well-being and physiological parameters in cardiovascular inpatients: a randomized controlled trial. Complementary therapies in medicine, v. 30, p. 73-78, 2017.


Veja abaixo a matéria sobre os passes:



Comentários

As opiniões pessoais dos entrevistados não refletem o que se conhece sobre passes, seja via pesquisas, seja via mediúnica. Desconheço, por exemplo, evidência de envolvimento de eletricidade no passe. O entrevistado parece confundir o magnetismo animal de Mesmer com as medidas de eletromagnetismo dos neurônios ou do funcionamento do coração. A ideia de purificação da outra entrevistada é uma ideia pessoal, que reflete seu sentimento ante os passes. 

A opinião da delegada do CRM mostra desconhecimento das pesquisas relacionadas ao tema (não com o termo "passe espírita", que existem, mas como healing, laying on of hands e outras técnicas de biocampo, como temos publicado), mas ao mesmo tempo ela sabe que os procedimentos de pesquisa (usados pela Dra. Élida?) foram respeitados, como a aprovação em Comissão de Ética de Pesquisa em Seres Humanos, busca de evidências, etc.

O repórter chama de "ritual" a preparação dos passistas, mas como vimos nas publicações que fizemos, há necessidade de preparação mental e emocional deles, uma vez que os passes não são uma mera imposição de mãos. A palavra ritual remete a cultos religiosos e à crenças com base na tradição, sem fundamentação em observação, experimentação e teorização.

Por fim, há uma questão imensamente polêmica que é a da relação entre religião e espiritualidade. Esta merece uma reflexão mais detida no futuro.

9.8.17

A POESIA TRANSCENDENTE DE PARNASO DE ALÉM TÚMULO



Texto exclusivo de Alexandre Caroli Rocha para o Espiritismo Comentado

Parnaso de além-túmulo, primeiro livro de Chico Xavier, é uma antologia poética psicografada que, em 1932, era composta por 60 poemas atribuídos a 14 autores. Ao longo de suas edições, o livro foi crescendo, até que, em 1955, estabilizou-se com 259 poemas atribuídos a 56 poetas brasileiros e portugueses.
Entre esses, encontram-se nomes consagrados, como Fagundes Varela, António Nobre, Júlio Diniz, Castro Alves, Olavo Bilac etc.; nomes pouco conhecidos, como Cornélio Bastos, Albérico Lobo, Lucindo Filho etc.; e mesmo poetas anônimos, como A. G., Alma Eros, Marta e Um desconhecido.

Em minha dissertação de mestrado (Letras, Unicamp, 2001), estudei mais detidamente os poemas atribuídos aos portugueses João de Deus, Antero de Quental e Guerra Junqueiro e aos brasileiros Cruz e Sousa e Augusto dos Anjos. Na pesquisa, utilizei importantes estudos a respeito desses poetas, a fim de verificar se particularidades descritas pelos críticos também fazem parte dos versos psicografados.

Notei que, em grande medida, características formais e temáticas dos autores estudados também estão presentes nos versos mediúnicos. A constatação nos permite inferir: quem concebeu os poemas, além de possuir diversas habilidades poéticas, conhecia muito bem singularidades sutis daqueles autores, as quais foram apreendidas e explicitadas nos estudos críticos em que me apoiei.

Durante os 23 anos que se passaram entre a primeira e a edição definitiva de Parnaso, a cada nova edição o volume ia crescendo; novos poemas e novos autores eram acrescentados, e alguns poemas foram suprimidos. Havia também revisões, igualmente atribuídas aos autores espirituais; era uma obra em construção.

Esse processo sugeria que alguém estava encaminhando a antologia para alguma direção, visto também que, no mesmo período, outros livros de poemas psicografados por Chico Xavier foram publicados. Haveria, assim, um planejamento particular ao Parnaso, que demorava tanto para chegar a sua forma definitiva? Ou se tratava de um acúmulo aleatório de poemas?

Ao analisar o histórico das edições, cheguei à conclusão de que sua versão final teve como propósito abranger, sob a forma poética, todos os principais temas de O livro dos espíritos, de Allan Kardec. Na dissertação, mostro o alinhamento temático que a antologia de Chico Xavier estabelece com o livro de Kardec.
A dissertação está disponível aqui:

http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/269864

7.8.17

TRATAMENTO "ESPIRITUAL" EM MULHERES COM ARTRITE REUMATOIDE NA DINAMARCA




Sete pesquisadores de instituições dinamarquesas realizaram um estudo com tratamento ou cura espiritual (spiritual healing[1]) para estudar os efeitos no tratamento de artrite reumatoide. Foram estudadas 85 mulheres divididas em três grupos: cura ativa (CA), falsa cura (FC) e nenhum tratamento (NT). Após o tratamento foram feitas consultas de acompanhamento (follow-up) com 82 das mulheres que participaram do estudo.

A seleção das pacientes foi aleatória (selecionados de 96 clientes que queriam ser tratadas), o tratamento foi com cegamento e controlado por falsos curadores. As pacientes eram vendadas e eram colocados protetores de ouvidos. Assim eram submetidas a 8 sessões em 21 semanas e depois mais 8 sessões de acompanhamento. O falso tratamento era feito apenas com base na presença de um estudante de medicina, sem experiência ou conhecimento de “cura espiritual”. O tratamento foi feito por um curador profissional de vinte anos de experiência, com uma técnica denominada “cura energética”, na qual não há qualquer toque no corpo do paciente. O tratamento convencional em curso foi mantido durante a terapia “energética”.

A remissão de sintomas da doença foi avaliada através de uma escala denominada DAS28-CRP, (Escala de atividade da doença) baseada na proteína C reativa e medidas com ultrassom Doppler colorido. O DAS mede a resposta do paciente ao tratamento em uma escala de 0 a 9,4.

Os resultados do DAS e do Doppler podem ser vistos na figura abaixo:


Como se pode ver, há resultados favoráveis aos pacientes que foram tratados pelo curador, mas a diferença só é significativa quando comparados os grupos de tratamento e de falso tratamento. (p = 0.047). Quando se compara os pacientes do grupo de tratamento com os que não receberam nenhum tratamento espiritual (NH), há uma diferença favorável ao tratamento, mas os valores não permitem generalização estatística (p = 0,14).

Apesar da diferença estatística do DAS e do Doppler, os pesquisadores estabeleceram um terceiro critério, que é o da diferença clínica, que foi arbitrada em uma melhora na saúde geral do paciente maior ou igual a 50%. Esta melhora foi pequena, tendo atingido apenas 6% dos pacientes dos grupos de tratamento espiritual e falso tratamento espiritual (na mesma proporção).
Os pesquisadores percebem que os resultados encontrados não podem ser explicados por placebos e admitem que os pacientes do grupo sem terapia espiritual “mostraram uma grande tendência a procurar terapia adicional, o que talvez explique a melhora inesperada do grupo”. (p. 7) Outra hipótese seria a esperança de melhora dos sujeitos do grupo sem tratamento, mesmo tendo parecido satisfeitos com sua terapia usual, o que foi verificado pelos pesquisadores.

As conclusões (ou "inconclusões") dos autores seguem duas possíveis interpretações:

  1. .      Conservadora: o estudo “tropeçou” em um grupo de pacientes recebendo tratamento espiritual, que, por acaso teve um decréscimo em sua artrite, se comparado com o grupo de falso tratamento.
  2.        O tratamento espiritual (“energy healing”) é de fato capaz de influenciar processos biológicos relevantes para a artrite reumatoide através de mecanismos ainda não compreendidos pela ciência convencional. (mas esta interpretação não explica a melhora do grupo sem tratamento).

Os autores admitem que eram céticos com relação à eficácia do tratamento espiritual e que os pacientes tinham “baixa expectativa”, mas sugerem que sejam feitos novos ensaios bem controlados para que se forneça evidência contra ou a favor do tratamento espiritual.


Bliddal, H., Christensen, R., Hejfaard, L., Bartels, E.M., Ellegaard, K., Zachariae, R., Danneskiold-Samsoe, B. Spiritual healing in the treatment of rheumatoid arthritis: an exploratory single centre, parallel-group, double-blind, three-arm, randomized, sham-controlled trial, Evidence-based complementary and alternative medicine, http://dx.org/10.1155/2014/269431

"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto.  Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/ 






[1] Mantive o termo tratamento espiritual no texto, em função do termo ter sido operacionalmente definido pelos autores, mas ele não está sendo empregado com o mesmo sentido que usamos no movimento espírita. Para Kardec, no capítulo XIV, parágrafo 33, de A Gênese, seria um tratamento a base do “fluido do magnetizador ou do magnetismo humano”. 

5.8.17

PROGRAMAÇÃO DO 13o. ENLIHPE: INSCRIÇÕES ABERTAS

13o. ENCONTRO NACIONAL DA LIGA DE PESQUISADORES DO ESPIRITISMO




13º ENLIHPE      

Tema central: Prece e Curas Espirituais

PROGRAMAÇÃO – 26/08/17

Sábado

8h30    Recepção, credenciamento e entrega de material

8h55    Prece de Abertura

9h00    Palavras iniciais: LIHPE / CCDPE-ECM / USE

9h10    Palestra 1 – Como trabalham os pesquisadores (Jáder Sampaio)

9h40    Perguntas e comentários

10h00  Intervalo

10h30  Trabalho 1: Terapia Fluídica: Apresentação de um Instrumento de Avaliação. (Raphael Vivacqua Carneiro e Clóvis Aurélio Vervloet)

11h00  Perguntas e comentários

11h20  Palestra 2 - Tema: Efeitos do passe espírita em pacientes internados em hospitais (Élida Mara Carneiro)

11h50  Perguntas e comentários

12h10  Orientações gerais e intervalo para o almoço

13h30  Atividade artística

14h00  Roda de Conversa – Tema: Teorias Científicas e Espiritismo (coordenação: Alexandre Fontes da Fonseca)

14h30  Perguntas e comentários

14h50  Trabalho 2– Tema: Uma exploração inicial em análise semântica latente de cartas psicografadas (Ademir Xavier Jr.)

15h20  Perguntas e comentários

15h50  Intervalo

16h00  Mesa Análise de pesquisas sobre trabalhos científicos relacionados a prece e curas espirituais (Jáder Sampaio e Gilmar Trivelato)

16h30  Perguntas e comentários

16h50  Encerramento das atividades do dia



Domingo


8h00    Assembleia da LIHPE

9h00    Prece de Abertura e comentários gerais

9h10    Atividade artística

9h30    Pesquisa em andamento – Tema: Pomadas, cirurgias e curas espirituais: práticas estranhas versus prática espírita. (Adolfo de Mendonça Jr.)

10h00  Perguntas e comentários

10h20 Intervalo

10h40 Trabalho 3 – Tema: Identificação de água fluidificada/energizada por médium vidente: Um experimento piloto. (Janaina Dantas e Sandro Fontana)

11h10 Perguntas e comentários

11h30 Trabalho 4 – Tema: Magnetismo ou Espiritismo? (Alexandre Fontes da Fonseca)

12h00 Perguntas e comentários

12h20 Homenagem a Lamartine Palhano Jr. (Raphael Vivacqua Carneiro)

12h30 Comentários finais e prece de encerramento




Apoio institucional


Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro

União das Sociedades Espíritas de São Paulo USE-SP



"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto.  Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/ 


4.8.17

PASSE PODE REDUZIR ANSIEDADE E DEPRESSÃO?




O tema do 13o. Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo – ENLIHPE é “Prece e Curas Espirituais”. Um dos objetivos desse evento é apresentar trabalhos científicos ou acadêmicos relacionados a temas espíritas, o que o distingue de eventos voltados a divulgar essencialmente o conteúdo de livros espíritas, e que já existem aos milhares em nosso país. Esses trabalhos não são necessariamente escritos por espíritas, por esse motivo, a LIHPE está aberta a quem se interesse pela temática espírita.

Com matérias como esta, pretendo, antes do evento, publicar alguns artigos de divulgação de pesquisas sobre o tema e facilitar seu acesso aos futuros participantes e interessados.

Uma das linhas de pesquisa que já tem alguma produção é a de “passes espíritas” e saúde mental, que tem sido estudada dentro da área de “Terapias Complementares”. O primeiro artigo que escolhi intitula-se “Effect of the Spiritist “passe” energy therapy in reducing anxiety in volunteers: a randomized controlled trial”. (Traduzindo, seria algo como, “Efeito da terapia energética do passe espírita na redução de ansiedade em voluntários: um ensaio controlado aleatório). Foi escrito por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista, UNESP, e pode ser acessado a partir do endereço do DOI http://dx.doi.org/10.1016/j.ctim.2016.05.002

Os autores são Ricardo S. Cavalcante, Vanessa B. Banin, Niura A.M.R. Paula, Solange R. Daher, Marta C. Habermman, Francisco Habermann, Ariane M. Bravin, Carlos E. C. Silva e Luiz Gustavo M. Andrade, todos de departamentos da Faculdade de Medicina da Unesp.

Trata-se de uma pesquisa, aprovada e registrada pelo comitê de ética da instituição, que estudou 60 voluntários, avaliados como apresentando ansiedade e/ou depressão acima da média brasileira. Eles foram agrupados em dois grupos, um que seria submetido ao passe (grupo experimental) e outro que participaria de sessão no mesmo local, mas com passistas que não se concentrariam na  melhora do paciente (irradiação), nem fariam oração (grupo controle).

Os passistas fazem parte de Centro Espírita afiliado à Federação Espírita do Estado de São Paulo – FEESP. A técnica de passe é simples, e basicamente consiste na imposição de mãos a 10-15 centímetros de distância do corpo, sem toques e a movimentação longitudinal das mãos, da cabeça às pernas, com um movimento semi-circular. Os passes duram cerca de 5  minutos, mas os participantes vêm de uma sessão de relaxamento de cerca de 30 minutos, com música clássica suave. Os passistas concentram seus pensamentos no tratamento do paciente, enquanto que os falsos passistas, do grupo de controle, não o fazem.

Pacientes do grupo experimental e do grupo-controle fizeram oito sessões em oito semanas. Após as sessões tiveram sua ansiedade, depressão reavaliados. Foi comparada a qualidade de vida dos participantes entre os grupos. A pesquisa foi realizada entre junho de 2014 e outubro de 2015.

Resultados

Os dois grupos são compostos de pessoas com idade média próxima (GE = 44 e GC = 47), predominantemente femininos (GE = 70% e GC = 83%) e de religião predominantemente católica (GE = 62% e GC = 61%) e em segundo lugar espírita (GE = 31% e GC = 30%).

Na comparação entre grupos, a ansiedade média foi avaliada como menor nos dois grupos, mas o grupo com passistas teve redução mais significativa. A probabilidade de erro da diferença obtida entre os grupos é menor que 1,7%, ou seja, mesmo com a amostra pequena, é relevante.  Em outras palavras a ansiedade reduziu nos dois grupos, mas reduziu mais no grupo dos passistas “verdadeiros”.

O decréscimo da depressão média aconteceu nos dois grupos (a probabilidade do erro da diferença é de 0,001%), e, apesar das médias do grupo tratado por  passistas ser menor que a do grupo tratado por  falsos passistas, não houve diferença significativa entre eles.

Não compreendi bem os resultados apresentados de qualidade de vida. Nos gráficos há melhoras nos quatro domínios estudados (físico, psicológico, social e ambiente), mas os intervalos de confiança se interpõem, o que normalmente significa que as melhoras não são diferentes entre os grupos. Concluindo, a qualidade de vida teria melhorado para os dois grupos (tratados com relaxamento e passe e tratados com relaxamento e falso passe). No texto, contudo, os autores afirmam existir diferenças em alguns domínios. Uma tabela com valores de probabilidade teria deixado mais claras estas afirmações.

Nas discussões de resultados os autores explicam que houve uma a melhora de ansiedade da ordem de 83%, e que os participantes não tomaram nenhum tipo de medicamento para este transtorno mental. Os sintomas de depressão também reduziram. A conclusão geral dos autores é que “os sintomas de ansiedade e depressão foram reduzidos e a qualidade de vida melhorou  no grupo experimental.”

Os autores entendem que uma das limitações do estudo é que exige passistas com treinamento especializado, e que os resultados obtidos foram com apenas dois passistas, com cinco anos de experiência e que outros resultados poderiam ter advindo se houvessem estudado passistas menos experientes. Eles reconhecem que o estudo foi feito com pequenas amostras e o consideram como um estudo piloto.


"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto.  Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/ 

2.8.17

TRATAMENTO ESPIRITUAL (HEALING) BENEFICIA PACIENTES COM SINTOMAS CRÔNICOS?




Um estudo que já pode ser considerado antigo, mas que tem resultados importantes foi publicado por Michael Dixon no Journal of the Royal Society of Medicine em 1988. O autor preocupou-se com o sentimento de desalento (hopelessness) que atinge pacientes com doenças crônicas, a partir dos quais havia relatos que ao passar por um curador espiritual (healer), o desalento havia diminuído. Contudo, ficava uma questão: as melhoras aconteceriam por causa do efeito placebo? As causas seriam puramente psicológicas?

Os efeitos já descritos por outros três trabalhos foram citados por Dixon e se resumem em:
  1. Peregrinos retornando de Lourdes relatavam redução de ansiedade e depressão por mais de dez meses.
  2. O estresse psicológico parece reduzir a cicatrização de feridas, e as intervenções religiosas que reduzem ansiedade e depressão diminuíam a mortalidade.

Outra questão que o interessava eram as células NK (natural killer), “célula linfoide com atividade contra vírus, bactéria e tumores primários e secundários” (p. 183). Havia um estudo da psiconeuroimunologia que apontava que as células NK podiam estar associadas à depressão e ao estresse.

Dixon pesquisou em um distrito rural da cidade de Devon, Inglaterra), 57 pacientes que tinham doenças há pelo menos seis meses e que não tivessem respondido a tratamentos prévios, convencionais ou não. Eles deviam ter mais de 18 anos e estar dispostos a procurar um curador (healer).

Os pacientes receberam a visita dos curadores por doze semanas (5 pacientes por vez) e escolheram-se pacientes sem tratamento, de perfil semelhante, para comparação. Eram sessões de 45 minutos, semanais. As doenças dos pacientes eram artrite, dores no pescoço/costas, depressão, psoríase, enxaqueca/dores de cabeça, dores nos membros, doença de Crohn/colite ulcerativa, eczema, estresse, dor abdominal, pacientes recuperando-se de acidente vascular cerebral e outros. Na divisão dos grupos experimental (tratado com curador) e controle (sem tratamento), foram distribuídos pacientes com doenças semelhantes de forma equivalente. Se no grupo experimental houvesse dois pacientes com enxaqueca, no outro também haveria. Em um segundo momento do estudo metade dos pacientes receberam visitas por mais doze semanas.

Foram feitas avaliações no início do estudo, após três meses e após seis meses (dos que participaram até este período). Os pacientes avaliaram seus sintomas em uma escala de zero (sem sintomas) a dez (sintomas insuportáveis). Ansiedade e depressão foram medidas pelos pacientes em uma escala chamada HAD (Hospital Ansiety and Depression). A capacidade de funcionamento geral foi avaliada pelo perfil de habilidade funcional de Nottingham. O percentual de células NK foi avaliada por exames laboratoriais, junto com a medida de células brancas e linfócitos.

Resultados

Depressão e ansiedade    
Nos três primeiros meses o grupo de pacientes em tratamento espiritual teve uma melhora significativa com relação ao grupo controle (sem tratamento) (ansiedade p < 0,01 e depressão p < 0,05))

Função geral

O grupo que sofreu tratamento teve uma melhora significativa com relação ao grupo controle (p < 0,01). Aos seis meses, o grupo que manteve o tratamento não teve diferença significativa com relação ao grupo controle.

Mudanças Imunológicas

O percentual de células NK (do tipo CD 56 e CD 16) não alterou significativamente em nenhum dos dois grupos

Consultas e medicação

Os pacientes do grupo experimental tiveram uma maior redução de medicamentos que os do grupo controle (p < 0,05), embora só tenha atingido 9 dos 27 pacientes, enquanto apenas 2 dos 24 pacientes do grupo sem tratamento também tenham tido redução de medicamentos.

Discussão

Os autores consideram sua pesquisa como sendo a primeira a estudar o efeito de um curador em um estudo controlado. “52% dos pacientes se sentiram substantivamente melhor após o tratamento espiritual, não tendo apresentado resposta a tratamentos prévios, além disso nenhum se sentiu pior.”

Não houve mudanças na resposta imunológica, e as primeiras impressões de que o tratamento espiritual reduziria a quantidade de consultas por ano não se confirmou. Dixon sugere que haja novos estudos sobre a redução da taxa de medicamentos.

Ele reconhece que como é um trabalho com um número pequeno de pessoas, o estudo é apenas exploratório (gerador de hipóteses) e não explicativo (de teste de hipóteses). Além disso, ele tem a limitação de não alocar os pacientes aleatoriamente (a amostra era heterogênea, então se usou um quase-pareamento de pacientes).

Ele recomenda que nos novos estudos se avalie a efetividade do custo do tratamento espiritual (incluindo custos da terapia, mudanças na medicação corrente, taxas de consulta e dias afastado do trabalho) como uma forma de verificar se vale a pena o Serviço Nacional de Saúde inglês custear o tratamento por healing.

As recomendações do autor foram parcialmente ouvidas, como se pode ler em outros estudos recentes, e ele foi citado por muitos autores posteriores. A questão das células NK também foi abordada futuramente.

E os passes espíritas?

Como nós, espíritas, fazemos aplicação gratuita de passes, as questões financeiras se reduzem ao deslocamento dos pacientes para os centros espíritas, ou das equipes de passistas para a residência dos pacientes crônicos, quando eles estiverem impossibilitados de fazê-lo.

Há uma diferença marcante do tempo das sessões estudadas para o tempo que geralmente é destinado aos passes nos centros espíritas (cerca de uma hora de participação em estudos e cinco minutos de aplicação de passes), mas esta questão foi tratada em um estudo mais recente no Brasil, que encontrou efetividade no tratamento em um grupo que fazia os pacientes passarem por trinta minutos de relaxamento com música seguido de passes de curto tempo de duração.

Dixon, Michael. Does “healing” benefit patients with chronic symptoms? A quasi-randomized trial in general practice, Journal of the royal society of medicine, v. 91, abr. 1998, pág. 183-188. Impact Factor - 2,185 (2016)

Acesso (aparentemente gratuito) através de:





"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto.  Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/