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29.4.09

Dois Homens

Foto 1: Bíblia antiga encontrada em Chipre
Jáder Sampaio


Dois homens sedentos de felicidade tiveram em suas mãos um manuscrito, que continha diversas máximas e fatos, e possuía por propósito levar a boa notícia a quem quer que assimilasse o modo de vida.

O primeiro homem leu-o, febrilmente, as páginas em alguns dias e sentiu-se disposto a em empenhar-se no grande trabalho. Acumulou riquezas para que o “reino” que pretendia implantar tivesse estrutura inicial e adeptos, os quais granjeou com templos pomposos, medo e força.

Um dia acordou preocupado com a sua doutrina, criou uma classe de representantes de organização hierárquica, que pudessem, de braços dados com a política da época, exercer o seu mandato. Para a preservação desta estrutura, sacrificou todos aqueles que não comungavam com os seus ideais afirmando serem enviados do demônio. Não satisfeitos com tal, expandiu seus domínios, conquistando povos e manipulando exércitos sob a égide: “Não vim trazer a paz, mas a espada.” (Mt. 10:34)

Buscando levar os ensinos ao povo, representou-os por atos exteriores sem lhe explicar o sentido. Insatisfeito com os dizeres que lhe pareciam obscuros, modificou as cópias dos manuscritos e proibiu a livre leitura por parte dos neófitos. Senhor de um grande império, sentiu receios e procurou preservar a própria vida dos inimigos que criara com as armas dos subordinados. Usou da coroa do mundo, cravejada de ouro e brilhantes, para consagrar-se a si mesmo o maior dos representantes. Mancomunou-se com o mal e o vício para afirmar-se ainda mais.

Esqueceu-se da humildade e julgou-se maior que o “Criador da Vida” afirmando constantemente: “Sois deuses”. . . (João 10:34) Finalmente, ao sentir aproximarem-se as horas finais, perdoou os inimigos em voz alta, dizendo: Deus se encarregará deles.

Envolveu-se em sombras e nelas pereceu, infeliz e angustiado, em meio a lamentos e gritos de vingança que se corporificavam em sofrimento e dor. No ápice dos tormentos afirmou desesperado: Tudo o que li é mentira.

O segundo homem estudou com calma e ponderação, meditando e questionando para reter e compreender os ensinos. Identificou o mal que havia dentro de si e penetrou no firme propósito de modificar-se.

Dominou impiedosamente, seus defeitos e imperfeições, muitas vezes sob lágrimas atrozes, dizendo sempre: “Não vim trazer a paz, mas a espada”.

Sentiu a incompreensão e o desprezo dos pais e irmãos, e sem lhes atender as sugestões maliciosas, dedicou-se-lhes ainda mais, tendo em mente: “Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa ou seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras receberá o cêntuplo de tudo isso que terá por herança a vida eterna.” (Mt. 19:29)

Acumulou-se de virtudes, obedecendo ao dizer: “Não ajunteis tesouros na terra onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça, nem a ferrugem consomem e onde os ladrões não minam nem roubam”. (Mt. 6:19 e 20)

Dirigiu-se em direção ao povo e pregou, ele mesmo, as verdades que aprendera, disseminando amparo ao corpo e à alma. Não deu ouvidos aos que lhe caluniaram afirmando serem ainda crianças no entendimento; mas ainda assim amparava aos ingratos.

Ergueu um altar no coração para que pudessem adorar a Deus em Espírito e Verdade. Preocupando com os dizeres que não entendia, pediu inspiração aos anjos para que pudesse entendê-los, até que satisfez-se e tornou-se possuidor das palavras de vida eterna.

Não temeu jamais aos homens que apenas lhe podiam roubar o corpo.

Usou a coroa de espinhos, repleta do fel da ingratidão, abençoando e pedindo pelos que lhe caluniavam. Ante os convites inferiores, era severo e redarguia sempre: “Vai-te satanás, porque está escrito: Ao senhor teu Deus adorarás e só a ele servirás”. (Mt. 4:10) Se lhe bajulavam ou lisonjeavam-no respondia: “Por que me chamas bom? Não há bom senão um só que é Deus.” (Mt. 19:17)

Quando a “grande viagem” manifestou-se, ele procurou inimigos que pudesse perdoar e não os encontrou, por que não havia lugar para as inimizades um instante sequer em seu coração. Ao desencarnar, ouviu suave melodia, entoada em coro por milhões de vozes que lhe diziam: “Benfeitor desconhecido mas não esquecido; benvindo seja ao reino dos céus que levaste a terra enquanto jungido à carne”.


(Escrevi e publiquei este conto em 1984, no Eterna Mocidade... Este ano ele faz 25 anos!)

23.4.09

REENCARNAÇÃO?

Vídeo enviado por Maurício Brandão (Site Espirituadades e Sociedade) apresenta caso provável de reencarnação.


22.4.09

NOVIDADES NO ESPIRITISMO COMENTADO


O Espiritismo Comentado está com uma novidade. As divulgações de eventos espíritas será feita no blog "Eventos Espíritas" (http://eventoespirita.blogspot.com/)

O último evento divulgado neste blog aparecerá dinamicamente no EC, à direita dos textos. Basta clicar neles para acessar o blog-auxiliar do EC e ficar informado sobre os eventos programados para acontecer no Brasil ou no Exterior.

17.4.09

DOIS FRAGMENTOS

Figura 1: Criança Auxiliada por Programa de Crianças de Rua

O menino de rua entrou portaria adentro e deu de cara com uma funcionária da Universidade. Na minha cidade costuma-se chamar de Zé, a quem não tem nome, embora este menino tenha também sobrenomes: pivete, vagabundo, moleque, sem mãe... Mirradinho, embora eu não fosse capaz de dizer qual era a sua idade, moreno, olhos brilhantes, cabelos crespos, ele perguntou, direto:

- O que é isto aqui?

A funcionária, em um final de tarde, olhou para o menino e com um ar maternal respondeu:

- Uma faculdade!

Se ela tivesse conversado em grego, não seria muito diferente. O olhar do menino denunciava claramente que ele não havia entendido do que se tratava. Acostumado a ser tocado daqui e dali, como se fora um cãozinho, mas não foi mal recebido, o que lhe deu coragem para respirar fundo e insistir:

- Mas como é que a gente entra aqui?

Um diálogo de surdos! Falam a mesma língua, mas não se entendem. A funcionária respondeu, com um certo ceticismo e algum desalento na voz:

- Ihh, não é fácil. Primeiro você tem que estudar oito anos no ensino fundamental, depois mais três anos de ensino médio, aí você faz o vestibular, que é muito difícil, e, se passar, pode entrar.

Se ela tivesse falado em dialeto maia ou inca não seria mais entendida. O diálogo cessou por aí, com o menino olhando por cima do balcão de entrada, um olhar curioso, enigmático, com apenas uma certeza: não dá para entrar aí, mas, o que é isto aí mesmo?

* * * *


Norte de Minas Gerais. Um calor seco, insuportável ao meio dia. Uma pequena metrópole no meio do nada. No centro da cidade circulam a pé e de ônibus uma população cujo salário-referência é a metade de um salário mínimo. Terra de contrastes, na qual alguns quilômetros separam um haras de cavalos importados de um acampamento de tendas de lona, sem esgotamento, sem água encanada, sem luz elétrica, aberto pelos tratores da prefeitura para quem quisesse sair da vida campesina e construir casas... Crianças às dezenas levadas para as portas de um hospital público, repletas de doenças que não deveriam mais existir no final do século XX. Clima desértico, a temperatura cai muitos graus à noite, o que propicia pneumonia ao lado de desidratação, doenças de pele juntamente com parasitoses, todo o tipo de doenças que têm mosquitos como vetor, combatidas com o irritante inseticida, aspergido pelas ruas através de máquinas barulhentas, em uma tentativa inócua de combater os insetos que teimam em se multiplicar em toda parte.

As escolas públicas, quando não obedecem à arquitetura homogêneas das escolas estaduais, são pequenos cômodos, casebres, que acolhem com escassez de recursos as crianças, o futuro da região.

Em um dos bairros situado no limite da classe média e da periferia, um núcleo espírita. Pequeno, para os padrões da capital, mas muito procurado pela população de diferentes segmentos sociais. No período da tarde algumas de suas salas se transformam em salas de aula e recebem dezenas de crianças da região. O dirigente do centro espírita se reúne com a secretária de educação, que, na escassez de recursos lhe assegura lanches para as crianças que passarão as tardes com um grupo de jovens voluntários. Estudantes secundaristas uns, estudantes universitários outros, o trabalho cheira a improviso e boa vontade, mas é continuado.

Aos pais se transmite a educação como valor. Uma das mães, faxineira, bonachona, se deixou entusiasmar com aquela mensagem de desenvolvimento pessoal e conseguiu uma vaga à noite em escola pública de ensino secundário e técnico.

Final de ano e a prefeitura quer um relatório. Sumário. Resumidíssimo. Quantas crianças foram aprovadas na escola? Uma conversa rápida com a jovem coordenadora e uma resposta ingênua, como se a pergunta fosse tola ou banal.
Quantas? (Estranheza) Todas.

16.4.09

CÉLIA XAVIER LANÇA NOVO CICLO INTRODUTÓRIO DE ESTUDOS SOBRE O ESPIRITISMO


A Associação Espírita Célia Xavier, de Belo Horizonte-MG, está lançando um novo ciclo de estudos sobre o Espiritismo. O primeiro módulo, constituído de quatorze temas, permite ao participante ter uma visão geral da Doutrina e Movimento Espíritas.
Está em preparação uma sequência, também em forma de temas, que pretende trabalhar os conceitos desenvolvidos em "O Livro dos Espíritos" e outras obras de Allan Kardec, com o objetivo de aproximar o participante do pensamento do codificador, base da Doutrina Espírita.
Maiores informações podem ser feitas na secretaria da Associação - 031-3334-5787, com Altair, Rejane ou Cerise.

14.4.09

ESPÍRITAS DE JUIZ DE FORA PROMOVEM EVENTO

Foto 1: José Herculano Pires
Recebi o texto abaixo do Marcílio, de Juiz de Fora.

"A Casa do Caminho, de Juiz de Fora, está em contagem regressiva para a realização de um dos maiores eventos espíritas de Minas Gerais: a Semana de Kardec. Na sua vigésima segunda edição, o encontro tem o objetivo de divulgar o Espiritismo e promovendo um fórum de discussão e aprendizagem do conhecimento espírita. Idealizada e dirigida por Dona Isabel Salomão de Campos, a Semana de Kardec tem repercussão nacional e reúne importantes nomes do movimento espírita brasileiro.Este ano, entre os dias 20 e 26 de abril, um verdadeiro time de estudiosos estará aqui na cidade mineira de Juiz de Fora para participar do evento. São eles: César Reis, André Luiz Parente e Sérgio Aleixo, do Rio de Janeiro, Heloísa Pires, Astrid Sayeg e Nei Prieto Peres, de São Paulo, além Mirna Salomão, Iriê Salomão de Campos, José Passini, Ricardo Baesso e Alexander Moreira de Almeida. E, claro, Dona Isabel. Juntos, nós vamos nos aprofundar na vida e obra de José Herculano Pires. O maior filósofo espírita do Brasil, ele também foi considerado o maior divulgador do Espiritismo no país.Preparada com um ano de antecedência, a Semana de Kardec conta com uma equipe de 200 voluntários que atuam na organização e funcionamento do evento O evento conquistou seu espaço no cenário nacional e reúne em sete dias cerca de cindo mil pessoas. Utilizando diferentes mídias, com TV, rádio e Internet, a Semana de Kardec tem alcance não apenas no meio espírita, mas também atinge um público diferenciado e interessado em assuntos de caráter ético e espiritual.O evento é gratuito. As inscrições devem ser feitas pelo site www.acasadocaminho.org.br "

Comunidade Espírita A Casa do Caminho

Juiz de Fora - MG (32) 3226.2532



Programação:
20 de Abril Segunda - 20:00

Palestra de Mirna Granato Salomão Nagib JF

Tema: Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará.

Local: A Casa do Caminho


21 de Abril Terça - 20:00

Palestra de Ricardo Baesso JF

Tema: Quando tudo não é o bastante.

Local: A Casa do Caminho


22 de Abril Quarta - 20:00

Palestra de Prof. José Passini JF

Tema: O Consolador.

Local: A Casa do Caminho


23 de Abril Quinta - 20:00

Palestra de Alexander Moreira de Almeida JF

Tema: O método científico de Allan Kardec na elaboração do Espiritismo.

Em parceria com a Associação Espírita dos Profissionais da Área da Saúde da Zona da Mata Mineira

Local: Sociedade de Medicina e Cirurgia de JF - Rua Braz Bernardino, 59


24 de Abril Sexta - 20:00

SIMPÓSIO: Herculano Pires, o metro que melhor mediu Kardec.

20:00 - Abertura: Isabel Salomão de Campos

Momento de Arte

20:20 - Palestra de: Heloísa Pires SP

Tema: Herculano Pires, o homem no mundo.


25 de Abril Sábado - 08:30

08:30 - Credenciamento e entrega de material

09:00 - Momento de Arte

09:30 - Allan Kardec, o Codificador. César Reis RJ

10:20 - Curso Dinâmico de Espiritismo O Grande Desconhecido. Sérgio Aleixo RJ

11:10 - Coffee Break

11:30 - Introdução à Filosofia Espírita. Astrid Sayeg SP

12:20 - Perguntas e Respostas

14:30 - Educação para a Morte. André Luiz P. Parente RJ

15:20 - Agonia das Religiões. Iriê Salomão de Campos JF

16:10 - Coffee Break

16:30 - Ciência Espírita. Ney Prieto Peres SP

17:20 - Perguntas e Respostas


26 de Abril Domingo - 09:00

09:00 - Momento de Arte

09:20 - Atividade Prática - Distribuição de alimentos, medicamentos e vestuário a famílias necessitadas.

10:10 - Pedagogia Espírita. Heloísa Pires SP

11:00 - Perguntas e Respostas

11:20 - Intervalo

11:30 - Encerramento O Reino Isabel Salomão de Campos

5.4.09

CICLOS DE ESTUDO SOBRE MEDIUNIDADE

Foto 1: José Mário em 1965


Integrado à equipe de trabalhadores do então Grupo Emmanuel de Estudos Evangélicos, os trabalhos mediúnicos e os estudos evangélicos foram o grande espaço de experiências e aprendizagem de José Mário Sampaio.


O Grupo Emmanuel contava com trabalhadores dedicados, abertos ao estudo e à troca de idéias. Os três irmãos Abreu (Lúcio, Honório e Oswaldo), Manoel Alves, Damasceno Sobral, Leão, Tiana e muitos outros trabalhadores importantes do movimento espírita mineiro encontravam-se para os trabalhos costumeiros.


Casos intrincados envolvendo médiuns e problemas relacionados à mediunidade e à obsessão afluíam para o grupo.


- “No começo, levávamos a pessoa que apresentava problemas mediúnicos para a reunião mediúnica. Aos poucos, começamos a observar que ela se tornava um problema na reunião mediúnica.” Ele explicava aos participantes de sua reunião às segundas-feiras, na sala 24 da União Espírita Mineira.


Pessoas que desconheciam o Espiritismo e apresentavam problemas com a mediunidade, tornavam-se perturbadores potenciais nas reuniões. Sem qualquer conhecimento sobre suas faculdades, alguns médiuns, subjugados à influência obsessiva ou apenas incapazes de controlar a sua faculdade, continuavam sob a influência mediúnica dos espíritos muito tempo após o horário estipulado para a interrupção das atividades mediúnicas da reunião. Os dirigentes chegavam a encerrar a reunião e ter que fazer um atendimento particular, o que mobiliza também as personalidades em busca de atenção alheia. Geralmente estas pessoas se apresentavam ao grupo vendo, ouvindo, falando e, principalmente, reclamando alguma ação urgente, dado o desconforto que a mediunidade ostensiva pode causar à pessoa e sua família quando estas não têm qualquer conhecimento espírita.


Ao lado dos médiuns, apresentavam-se também os portadores de psicopatologias graves, desejosos de serem vistos como pessoas especiais, ou de serem aceitos por algum grupo social, dado o seu comportamento às vezes bizarro e constrangedor para a família, às vezes anti-social. Nem sempre uma entrevista rápida é suficiente para identificar estas pessoas, que se atraem pelas reuniões mediúnicas como abelhas ao mel.


Um terceiro grupo de pessoas que procuravam os trabalhos mediúnicos eram os curiosos. Em alguns lugares havia reuniões mediúnicas públicas, e algumas pessoas pululavam de grupo em grupo, interessadas em verem os médiuns em ação, da mesma forma que os aficionados em teatro ou cinema buscam seus atores favoritos ou o gênero de sua escolha. Eles se interessavam pelo espetáculo mediúnico, mas não estavam dispostos a submeterem-se à disciplina do trabalho. Uma vez na assistência, queriam apenas ver e comentar as reações de médiuns, doutrinadores e espíritos comunicantes.


Ao discutirem sobre estes problemas, os membros do Grupo Emmanuel foram experimentando, com o passar do tempo, ações diferenciadas para o trato com o neófito. Uma das ações, que acabou sendo adotada como política da União Espírita Mineira para com os seus freqüentadores foi a criação de ciclos de estudo para iniciantes, muito antes de se falar em Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita. Já existia em São Paulo os Cursos de Médiuns, mas José Mário e seus colegas de Grupo Emmanuel eram avessos ao termo. “A palavra curso induz as pessoas pensarem que se formarão e se diplomarão médiuns, o que não é verdadeiro”, diziam. “Empreguemos o termo “ciclo de estudos”, que comunica bem a temporalidade da ação e não passa às pessoas a idéia de que, após concluído, não é mais necessário estudar.”


E assim foi feito. Três “ciclos de estudo” que se iniciavam e se concluíam continuadamente. Um sobre Doutrina Espírita, outro sobre Evangelho e um terceiro sobre Mediunidade.


O de Doutrina, durante anos a fio foi da responsabilidade de Honório Abreu, hoje presidente da União Espírita Mineira. Calcado em quinze princípios básicos que a equipe do Grupo Emmanuel identificou, aproximadamente um por semana, ele se completava com cerca de três meses.


O ciclo de estudos sobre o Evangelho foi da responsabilidade de Manoel Alves por anos a fio. O Grupo Emmanuel dedicava-se a estudar o texto evangélico e bíblico versículo a versículo, influenciado pela mediunidade de Chico Xavier e por alguns dos trabalhos de Emmanuel. Era uma espécie de ruptura com uma prática de estudos evangélicos calcada apenas na leitura e comentário de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec. Por esta razão, em terras mineiras, este tipo de hermenêutica ficou conhecida, no meio espírita, pelo nome de “miudinho”.


O ciclo de estudos sobre mediunidade ficou, até a desencarnação, em 1988, sob a responsabilidade de José Mário e foi desenvolvido, pelo que sei, em parceria com Oswaldo Abreu. Durava cerca de oito meses, e era composto de palestras que tratavam de assuntos teóricos e práticos da mediunidade. Do conceito de mediunidade, aos diferentes tipos de médiuns, da sintonia aos mecanismos da mediunidade, da oração ao dia a dia das reuniões mediúnicas, diversos assuntos faziam parte desta preparação inicial dos médiuns.


Se alguém se apresentava com uma possível sensibilidade ou uma acentuada faculdade de perceber os espíritos, era orientado a passar por estes cursos antes de se integrar aos grupos de prática mediúnica. “Mais que aprender a dar comunicação, é importante que o médium aprenda a controlá-la”, dizia José Mário.


Mais de uma vez, após uma prece ou no meio de uma palestra, algum médium “incontinente” emendava uma comunicação no meio do público e a voz segura e firme de José Mário orientava: “Irmão, aqui não é a hora nem o lugar de dar comunicar-se.” Alguns assistentes, assustados, colocavam-se prestos para a aplicação de passes, o que ele não permitia naquele momento crítico. Geralmente, o médium, sem graça ou em estado de leve perturbação emocional interrompia seus impulsos e se controlava.


Quando iniciaram-se os ciclos, a freqüência era baixíssima, a ponto de desanimar. Damasceno Sobral, ao ouvir as lamúrias, dizia, profético, empregando aquele tom de voz de quem andou conversando com os espíritos mas não quer dizer: - “vai chegar o dia em que as salas não comportarão os interessados”. E aconteceu. A sala 24 da União Espírita Mineira cabia cerca de quarenta pessoas assentadas. Próximo da desencarnação, papai iniciava seus trabalhos às 19:30 horas. Às sete horas os mais motivados começavam a chegar, para disputar lugares nas cadeiras, depois para conseguir um lugar assentado. Impreterivelmente às 19:15 horas, Mário Sampaio já estava nas portas da União Espírita Mineira, e às 19:30 horas fazia-se a prece inicial dos trabalhos. Às 19:35 não era incomum amontoarem-se, de pé, as pessoas pelo corredor superior da União Espírita.


Muitas vezes a diretoria (e aqui cabe lembrar Martins Peralva) lhe ofereceu fazer os estudos no salão, que comportaria mais de cem pessoas. Ele recusava, com educação, preferindo a intimidade dialógica da sala pequena (era a maior das salas de estudo do antigo prédio da UEM).


Algumas pessoas assistiam ao ciclo diversas vezes. Quando eu lhes perguntava por que faziam isso, algumas diziam “ter a oportunidade de aprender mais”, outras não escondiam a admiração pela palavra clara e didática do expositor, outras tinham o interesse em levar a prática para seus centros espíritas de origem e queriam aprender bem, outras diziam que haviam perdido algum dos temas e não queriam ficar sem ver tudo.


Os esquemas de estudos foram anotados em cadernos, que depois viraram fichas e com a máquina de datilografar, pequenos bloquinhos com frases sintéticas.


Não demorou muito para que se fizessem apostilhas[1] sobre mediunidade, que eram uma espécie de “organizadores prévios” do tema, pequenos textos contendo informações sobre o tema, colhidas em diversas obras da literatura espírita, com grande influência do pensamento de Kardec e dos espíritos de Chico Xavier, mas com incursões pelos clássicos do Espiritismo, Bozzano e muitos outros autores. Os participantes faziam listas, tiravam cópias xerox (fotocópias, no princípio...) com seus próprios recursos e alguns as levavam e faziam anotações.


Da apostilha veio um livreto, em 1983, que ele organizou conjuntamente com Oswaldo Abreu, publicado anonimamente, sob União Espírita Mineira e intitulado “Mediunidade”, que é o sexto livro da coleção “Evangelho e Espiritismo” e que foi distribuído gratuitamente aos interessados durante anos a fio.


Alguns centros espíritas convidavam-no para levar o ciclo de estudos em suas casas, o de mediunidade ou o de passes (sobre o qual nada disse neste texto), e não foram poucas as casas onde ele esteve, o Grupo da Fraternidade Irmã Scheilla, o Glacus e muitos outros.


Passados quase 17 anos da sua desencarnação, não é incomum eu chegar pela primeira vez em algum centro espírita da capital ou do interior e algum dos dirigentes ou freqüentador me perguntar em particular: - Sampaio, você é parente de José Mário? E ante a minha resposta afirmativa ele responder. “Eu aprendi muito sobre mediunidade com ele na União Espírita Mineira, na sala 24”.


[1] Papai preferia este termo ao mais usual “apostila”.

4.4.09

US SPIRITIST SYMPOSIUM

O Boletim Informativo do Conselho Espírita Internacional está divulgando o 3o. Simpósio Espírita Norte-Americano com o tema "Reencarnação: Vida, Liberdade e a Busca da Felicidade". As inscrições são gratuitas. Para participar é necessária a inscrição no telefone acima.