O primeiro homem leu-o, febrilmente, as páginas em alguns dias e sentiu-se disposto a em empenhar-se no grande trabalho. Acumulou riquezas para que o “reino” que pretendia implantar tivesse estrutura inicial e adeptos, os quais granjeou com templos pomposos, medo e força.
Um dia acordou preocupado com a sua doutrina, criou uma classe de representantes de organização hierárquica, que pudessem, de braços dados com a política da época, exercer o seu mandato. Para a preservação desta estrutura, sacrificou todos aqueles que não comungavam com os seus ideais afirmando serem enviados do demônio. Não satisfeitos com tal, expandiu seus domínios, conquistando povos e manipulando exércitos sob a égide: “Não vim trazer a paz, mas a espada.” (Mt. 10:34)
Buscando levar os ensinos ao povo, representou-os por atos exteriores sem lhe explicar o sentido. Insatisfeito com os dizeres que lhe pareciam obscuros, modificou as cópias dos manuscritos e proibiu a livre leitura por parte dos neófitos. Senhor de um grande império, sentiu receios e procurou preservar a própria vida dos inimigos que criara com as armas dos subordinados. Usou da coroa do mundo, cravejada de ouro e brilhantes, para consagrar-se a si mesmo o maior dos representantes. Mancomunou-se com o mal e o vício para afirmar-se ainda mais.
Esqueceu-se da humildade e julgou-se maior que o “Criador da Vida” afirmando constantemente: “Sois deuses”. . . (João 10:34) Finalmente, ao sentir aproximarem-se as horas finais, perdoou os inimigos em voz alta, dizendo: Deus se encarregará deles.
Envolveu-se em sombras e nelas pereceu, infeliz e angustiado, em meio a lamentos e gritos de vingança que se corporificavam em sofrimento e dor. No ápice dos tormentos afirmou desesperado: Tudo o que li é mentira.
O segundo homem estudou com calma e ponderação, meditando e questionando para reter e compreender os ensinos. Identificou o mal que havia dentro de si e penetrou no firme propósito de modificar-se.
Dominou impiedosamente, seus defeitos e imperfeições, muitas vezes sob lágrimas atrozes, dizendo sempre: “Não vim trazer a paz, mas a espada”.
Sentiu a incompreensão e o desprezo dos pais e irmãos, e sem lhes atender as sugestões maliciosas, dedicou-se-lhes ainda mais, tendo em mente: “Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa ou seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras receberá o cêntuplo de tudo isso que terá por herança a vida eterna.” (Mt. 19:29)
Acumulou-se de virtudes, obedecendo ao dizer: “Não ajunteis tesouros na terra onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça, nem a ferrugem consomem e onde os ladrões não minam nem roubam”. (Mt. 6:19 e 20)
Dirigiu-se em direção ao povo e pregou, ele mesmo, as verdades que aprendera, disseminando amparo ao corpo e à alma. Não deu ouvidos aos que lhe caluniaram afirmando serem ainda crianças no entendimento; mas ainda assim amparava aos ingratos.
Ergueu um altar no coração para que pudessem adorar a Deus em Espírito e Verdade. Preocupando com os dizeres que não entendia, pediu inspiração aos anjos para que pudesse entendê-los, até que satisfez-se e tornou-se possuidor das palavras de vida eterna.
Não temeu jamais aos homens que apenas lhe podiam roubar o corpo.
Usou a coroa de espinhos, repleta do fel da ingratidão, abençoando e pedindo pelos que lhe caluniavam. Ante os convites inferiores, era severo e redarguia sempre: “Vai-te satanás, porque está escrito: Ao senhor teu Deus adorarás e só a ele servirás”. (Mt. 4:10) Se lhe bajulavam ou lisonjeavam-no respondia: “Por que me chamas bom? Não há bom senão um só que é Deus.” (Mt. 19:17)
Quando a “grande viagem” manifestou-se, ele procurou inimigos que pudesse perdoar e não os encontrou, por que não havia lugar para as inimizades um instante sequer em seu coração. Ao desencarnar, ouviu suave melodia, entoada em coro por milhões de vozes que lhe diziam: “Benfeitor desconhecido mas não esquecido; benvindo seja ao reino dos céus que levaste a terra enquanto jungido à carne”.