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5.3.11

LUZ E TREVAS


A luz foi empregada pelos iluministas como símbolo da razão, base de um conhecimento não dogmático. A Idade Média chegou a ser considerada a "idade das trevas", pelo predomínio da fé em detrimento da razão.

Sabemos da influência do pensamento iluminista e francês na formação de HLD Rivail, que transparece em seus textos.

Uma descoberta interessante que fizemos na leitura de "O Céu e o Inferno" foi o emprego do termo trevas e luz diferente do que temos feito no movimento espírita.

Observo o emprego de "espíritos das trevas" para espíritos inferiores em geral (escala espírita) e "espíritos de luz" para espíritos superiores. Há também o emprego de trevas como sinônimo de espíritos que se associam para praticar o mal e a partir da leitura de André Luiz (Nosso Lar, cap. 44), muitos leitores utilizam as trevas como uma espécie de lugar "geográfico" do plano espiritual onde se congregam espíritos em condição pior que os do Umbral (que seria um ambiente de sintonia de espíritos em estado de sofrimento). Penso que este último sentido é uma espécie de atavismo do pensamento católico, que aproxima a compreensão do mundo espiritual das velhas ideias de céu, purgatório e inferno, muito criticadas por Kardec no livro em questão.

Allan Kardec emprega em alguns momentos o termo luz como entendimento ou consciência do plano espiritual.

Na comunicação de Sanson (pág. 181) ele pergunta o que o espírito viu quando seus olhos se abriram à luz, e o espírita recém-desencarnado explica que passado o período de perturbação, recuperadas as faculdades, ele reconheceu seus amigos e espíritos protetores.

Samuel Filipe (pág. 193) tece consideração semelhante: "Pouco a pouco as minhas idéias adquiriram mais lucidez, a luz que entrevia, por denso nevoeiro, fez-se brilhante; e eu comecei a compreender-me, a reconhecer-me, compreendendo e reconhecendo que não mais pertencia a esse mundo."

O diálogo mais expressivo que demarca esta compreensão, envolve São Luís, e Allan Kardec, na análise do caso Claire, que é um Espírito sofredor. O diretor da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas pergunta a São Luís o que se devia entender por trevas; se seria o sentido bíblico.

O Espírito responde que se tratava de uma alegoria, que deve-se entender por trevas "uma verdadeira noite da alma, comparável à obscuridade intelectual do idiota" (p. 291), "uma inconsciência daquele e do que o rodeia, a qual se produz quer na presença, quer na ausência da luz material". Ele diz que é comum acontecer em meio aos que acreditavam no nada após a morte, e reafirma "coisa alguma percebe em torno - nem coisas, nem seres; somente trevas..."

O assunto não se encerra e Kardec adiciona novas explicações. Ele compara o Espírito a um fósforo, capaz de produzir sua própria luz, proporcionalmente à sua pureza. (p. 292) e teoriza sobre a irradiação de "fluidos luminosos pelos Espíritos superiores".

A afirmação mais importante vem a seguir: "primeiro, porque nem todos os Espíritos inferiores estão em trevas; segundo porque um mesmo Espírito pode achar-se alternadamente na luz e na obscuridade; e terceiro, finalmente, porque a luz também é castigo para os Espíritos muito imperfeitos." (pág. 293)

Ele argumenta: "Se a obscuridade em que jazem certos espíritos fosse inerente à sua personalidade, essa obscuridade seria permanente e geral para todos os maus Espíritos, o que aliás não acontece." (pág. 293)

"Às vezes os perversos mais requintados vêem perfeitamente, ao passo que outros, que assim não podem ser qualificados, jazem temporariamente, em trevas profundas." (pág. 293)

Parece que temos um novo sentido para espíritos iluminados e espíritos em trevas (e não das trevas), mas este é apenas um primeiro ensaio que precisa ser analisado com mais profundidade na obra de Allan Kardec.

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