Deolindo Amorim
Dando continuidade aos artigos sobre a identidade do Espiritismo no Brasil
passo a escrever sobre a reação do movimento espírita ao sincretismo e à criminalização da mediunidade e seus desdobramentos.
Um autor um pouco esquecido nos dias de hoje é Deolindo Amorim, membro da Liga Espírita do Brasil e intelectual de destaque na imprensa brasileira, ele dedicou muitos de seus escritos à delimitação da identidade do Espiritismo.
Seu trabalho sobre este assunto de maior impacto parece ter sido "O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas" (1957), mas ele publicou "Africanismo e Espiritismo" (1947) e ""Ideias e reminiscências espíritas" (s.d.). Sua obra é extensa.
Imagino que ele, assim como os espíritas de sua época tenham ficado incomodados com a apropriação do termo espiritismo com o sentido de práticas mediúnicas em geral. Por que utilizar um neologismo com um sentido que não lhe é próprio? Por que permitir que a população brasileira confunda o espiritismo com o africanismo, os orientalismos e quaisquer outras doutrinas e práticas relaionadas aos mortos? Começou, então, uma reação clara, dentro e fora do movimento espírita, de defesa do entendimento da palavra Espiritismo como sinônimo de Doutrina Espírita, codificada inicialmente por Allan Kardec e desenvolvida posteriormente por diversos autores e médiuns.
"Se o Espiritismo é apenas sessão mediúnica ou a crença nos espíritos desencarnados, basta ser médium ou participar de sessões, seja quais forem, para que algúem seja espírita; se porém, Espiritismo é o corpo de doutrina codificado por Allan Kardec, com todas as suas consequências filosóficas e religiosas, com todas as suas implicações de ordem moral, é claro que não basta ser frequentador de sessões ou ter faculdades mediúnicas desenvolvidas para ser espírita, na exata acepção doutrinária." (pág. 99)
Ele trata da polêmica entre espiritualistas e espíritas, ainda citando Kardec:
"Alguns hermeneutas e polemistas, tão hábeis no modo de explorar o pensamento de Allan Kardec, extraindo frases e palavras isoladas, deveriam ler o que ele escreveu a respeito do vocábulo espírita: As palavras espiritualismo e espiritualista são inglesas, e têm sido empregadas nos Estados Unidos. No começo, apenas or algum tempo, dia ainda Kardec, também delas se serviram na França. Logo, porém, que apareceram os termos espírita e espiritismo - adianta Kardec - "compreendeu-se a sua utilidade, e foram imediatamente aceitos pelo público". Os termos espiritualismo e espiritualista aplicados "às manifestações dos espíritos, não são, hoje, mais empregados senão pelos adeptos da escola americana" (O que é o espiritismo, cap. I, segundo diálogo).
Quando Amorim trata da questão do africanismo, o faz de forma respeitosa, elegante, mas incisiva. Ele diz:
"Nosso objetivo ... é apenas fazer distinção entre Espiritismo e Africanismo, sem outro intuito que não o de esclarecer e separar, à luz dos próprios elementos de estudo, dois campos de pesquisa bem definidos. O Africanismo, com todas as suas seitas e cultos, deve ser estudado à parte, assim como o Espiritismo, porque não há entre um e outro afinidade de cultura nem relação histórica." (Africanismo e Espiritismo, pág. 35)
"As práticas de origem africana, largamente ramificadas, são espiritualistas, dignas de respeito como quaisquer outras práticas religiosas, mas não constituem variante das práticas do Espiriitsmo. Encerrando este trabalho, chego à conclusão de que Africanismo não é Espiritismo." (Africanismo e Espiritismo, pág. 59)
É Jader!Como fazem falta na atualidade pessoas como Deolindo Amorim,Herculano Pires e Viana de Carvalho,que com discurso e atitudes coerentes defenderam explicaram o que é Espiritismo e o defenderam em todas as oportuniaddes possíveis.
ResponderExcluirJáder, não cai bem falar em "sentido próprio" de Espiritismo. Nem Kardec conseguiu ser coerente neste ponto!... Quanto à "defesa" do entendimento da palavra Espiritismo como sinônimo de Doutrina Espírita, essa é uma "militância" bastante às avessas. Diríamos ridícula, até. É claro que é importante em determinado trabalho a respeito o autor delimitar o que deseja que seja entendido por Espiritismo, mas daí a dizer que quem utiliza acepções outras para a palavra está errado é mostrar-se desconhecedor de noções básicas de Linguística... Considero o "Africanismo e Espiritismo" do Deolindo Amorim um grande fiasco. Ensejo dissecar esta obra futuramente. Um abraço.
ResponderExcluirJosé Edmar,
ResponderExcluirDiscordar faz parte do cotidiano acadêmico. Agredir, não. Ridicularizar menos ainda.
Jáder Sampaio
É hilário ler comentários que dizem que Kardec foi incoerente em alguns pontos da Doutrina. Na revista espírita de 1868 (p. 514) ele nos alerta que:”conseguintemente, seitas poderão formar-se ao lado da doutrina, seitas que não adotem os princípios ou todos os princípios, porém não dentro da doutrina, por efeito de interpretação dos textos, como tantas se formaram sobre o sentido das próprias palavras do evangelho. É este o primeiro ponto de capital importância.”
ResponderExcluirAí eu pergunto: onde estão os espíritas eminentes que não mostram os erros que estão em todas as Casas Espíritas, que não seguem os livros fundamentais da doutrina escrita por Kardec?!
Chega de reiki, cromoterapia, cantorias sem sentido, leituras de livros com espíritos trabalhando em fábricas de tecidos e tomando sucos, espíritos casando e até comprando casa no além...
O que mais tem são palestrantes que destacam o seu “curso superior”, mas que nunca leram (nem digo estudaram) os livros de Kardec e comentam de forma equivocada os ensinamentos dos espíritos, para uma platéia que não reclama de nada.
Meu temor é o fim do espiritismo.
Espíritas, vamos nos preocupar com o rumo do movimento espírita de todo o Brasil!
Oswaldino (dino-fs@hotmail.com)
Caríssimos!
ResponderExcluirLevou muito tempo para eu entender que o espiritismo ou doutrina espírita se distinguia de qualquer outra prática religiosa em que se acredita na existência dos espíritos. Hoje eu penso de que a fé que move cada ser humano é válida e que, o que menos importa é a nomenclatura. Penso também que o que importa é que as crenças, sejam elas religiosas, filosóficas, científicas levem o Homem a refletir na construção da sua reforma íntima, através do autoconhecimento, da autoconsciência, e assim, evoluir no sentido de contribuir para o crescimento de todo o Planeta. É disso que o mundo precisa: Pessoas unidas construindo um mundo melhor através da evolução ética e moral. Pensemos individualmente agindo coletivamente.