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1.8.12

HISTÓRIA DO CRISTIANISMO


Terminei a leitura do livro "Uma breve história do cristianismo", de Geoffrey Blainey. De fato, ele produziu um texto como historiador, embora seja uma narrativa corrida e sem a indicação de fontes, o que gera alguns pontos polêmicos e outros próprios da leitura do autor. Apesar da busca do lugar terceiro, o autor não consegue deixar de expor-se e posicionar-se, o que é esperado.

O livro é uma deliciosa leitura introdutória para quem se interessa pelo tema. De Jesus a João Paulo II, o autor dedica uma ou duas páginas para um grande número de designações e grupos cristãos e anticristãos, mundo afora. Surpresa agradável foi encontrar uma descrição das ideias de Emmanuel Swedenborg (médium sueco) e de Edward Irving, considerados antecessores do espiritismo por Arthur Conan Doyle.

Allan Kardec, o Evangelho Segundo o Espiritismo e o movimento espírita são uma grande omissão do autor, que chegou a inserir tendências atéias e de articulação entre o marxismo e o cristianismo em seu trabalho. A Teologia da Libertação brasileira é recordada, e os três milhões de espíritas esquecidos. Etnocentrismo do primeiro mundo?

Uma trajetória curiosa do autor é traçar a linha tênue entre o cristianismo e a política. A desconstrução do catolicismo pela revolução francesa, sua expoliação pelos revolucionários e o desrespeito a instituições cristãs como um todo, sem capacidade de distinguir os aliados da nobreza dos servidores do povo como um todo, causam quase indignação.

O autor também tem uma leitura muito diferente da historiografia brasileira com relação aos jesuítas. Foram perseguidos por serem competentes ou por interferirem nos bastidores do poder temporal?

Uma leitura interessante é a recuperação de cada uma das tendências oriundas do movimento protestantes que estão presentes no nosso dia-a-dia. Os Santos dos Últimos dias, a Assembléia de Deus, os Metodistas, os Batistas, o Exército da Salvação, os luteranos, a Torre de Vigia, a Ciência Cristã, os Quakers, todos têm suas origens, principais ideias e percurso esboçados no texto e contextualizados.

O cristianismo é um opositor do capitalismo democrático? Do comunismo? Do fascismo? O tema, apesar de tratado de forma breve, faz parte da proposta da obra. Muitos ativistas políticos ateus de hoje tratam as diversas designações cristãs como adversárias ou inimigas, com intolerância incomum.

Blainey trata também de um assunto curiosíssimo. A crença de ateus e agnósticos no conhecimento considerado científico e tecnológico e sua cegueira quanto às questões do humano, nestas estreitras abordagens epistemológicas do conhecimento. Ele aponta uma certa ingenuidade de propostas como a de Dawkins e a de Hawking e um esquecimento dos episódios negros das guerras mundiais e seu racionalismo anti-humanista.

O livro, apesar de expressar a leitura do autor, lança luz e questões sobre as representações do cristianismo na sociedade, hoje, talvez surpreendendo muitos dos que se encontram identificados com o movimento cristão e ignorantes das ações e concepções de ateus e políticos materialistas. Recomendo a leitura crítica do mesmo.

7 comentários:

  1. Sou simpatizante do espiritismo e de outras doutrinas espiritualistas, só pra constar.

    Devido a uma indicação de um amigo ateu estou lendo o livro "deus não é grande" do jornalista Christopher Hitchens, que ataca o Cristianismo por este ter atrasado o avanço da ciência, por ter sido racista, totalitarista, além dos crimes da inquisição, entre outros.

    Recentemente assisti o filme Alexandria, que mostra quando o Cristianismo estava ascendendo sobre a cultura grega, com extrema violência, machismo e intolerância.

    Gostaria de saber se neste livro que você leu estes acontecimentos são citados.

    Faço esse comentário sem desmerecer o trabalho de milhares de cristãos que se esforçam por um mundo melhor.

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  2. Alessandro,

    O autor deste livro não foge às críticas do movimento cristão, mas mostra, por exemplo, o papel da mulher no cristianismo nascente e no futuro, criticando a Igreja Católica por não permitir a ordenação de mulheres até os dias de hoje, ao contrário de outras igrejas cristãs, mas mostrando mulheres notáveis no seio do movimento cristão, como Clara de Assis, Tereza de Ávila e as mulheres do cristianismo no primeiro século.

    Ele também desconstrói parcialmente a teoria do milênio de trevas (Idade Média), mostrando avanços de conhecimento e tecnológicos trazidos por monges à sociedade.

    A questão do pensamento grego é muito parcial, porque os doutores da igreja tinham muita simpatia por Aristóteles, por exemplo, outros eram neoplatônicos. Parece que a polarização entre o pensamento grego e o cristão estava no conflito entre um teocentrismo (mais judeu que cristão) e um antropocentrismo, que foi um dos pontos da renascença, além da crítica às contradições de comportamento do clero.

    Esta simplificação da história do cristianismo, hoje, a meu ver, é uma construção dos céticos e dos materialistas, que veem os cristãos como oponentes, daí a visão carregada de filmes.

    Acho que a inquisição não tem perdão, no sentido de ser o ápice da mistura entre política e religião, reduzindo esta segunda a uma ideologia útil ao poder. É difícil imaginar Jesus condenando alguém à morte ou à tortura por discordar de suas ideias. É verdade que a igreja afirma que a inquisição foi algo do poder temporal, mas infelizmente, com a bênção eclesiástica. O massacre dos albigentes e cátaros também é uma mancha negra da história da igreja, que o autor não minimiza em seu livro.

    Em suma, gostei deste olhar de historiador, mostrando diferentes visões e posições com relação ao cristianismo.

    Um abraço e obrigado pelo comentário.

    Jáder

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  3. Obrigado também, sua resposta foi bem esclarecedora. Abraço.

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  4. Como você mesmo disse, trata-se de uma leitura introdutória mesmo. Eu particularmente não apreciei muito o livro. Chamaria de um livro para o mercado (nada contra o mercado).

    Abraços,

    Gustavo

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  5. Gustavo,

    A falta de fontes claras deixa quem já esteve em uma Universidade muito desconfiado, mas considero importante que o cristianismo seja discutido por um número maior de leitores. Daí pode surgir um estudo mais profundo.

    Abraço.

    Jáder

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  6. Não vou dizer se o livro é ruim ou bom, só vou avisar que Geoffrey Blainey é um membro da extrema direita australiana, o qual defende que a colonização e extermínio britânicos em relação aos aborígenes australianos foi benéfica, pois teria "civilizado" os tais "selvagens". Também é bom recordar que ele ataca a imigração de asiáticos em direção à Austrália.

    Dito isso, tirem suas próprias conclusões sobre a obra.

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  7. Antipáticas estas posições, não é mesmo?

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