Páginas

7.6.13

LIÇÕES DE SAPUCAIA DO SUL





O espiritismo é o grande reformador de almas. Tive certeza disso quando embarcava de volta da viagem que fiz às terras do sul do Brasil.

O sul é quase outro país. Fronteiriço com os países do prata, herdeiro das mais diferentes comunidades europeias, filho da farroupilha...

Sapucaia do Sul é uma criança, se pensarmos nos anos de tradição gaúcha.  Cidade ainda horizontal, repleta de gente boa, honesta e hospitaleira. Sei que se eu fosse escritor de jornais, não iria vender nada, porque o reconhecimento do bem não desperta a curiosidade.

Visitei dois grupos espíritas, sob os auspícios do Conselho Regional Espírita da segunda região. Fui quase carregado à rádio, para gravar programas de conteúdo espírita.

Primeira lição: a falta de recursos nada pode ante a colaboração e a união.
O CRE custeou as passagens aéreas e as pequenas despesas da estada. Como os membros das sociedades espíritas não ostentassem nenhuma riqueza, mas, ao contrário, aquela simplicidade operária e trabalhadora que a aprendi a admirar com os exemplos da minha avó, perguntei-me: como?

Na abertura das palestras, os organizadores comunicaram a todos que as despesas da iniciativa de trazer pessoas de fora para permutar sua experiência se davam com a venda de livros. Eles montaram uma banca com o “Casos e descasos” e com o “Diálogo com os céticos”. Quem levasse os dois, ganhava, de brinde, o delicioso “Dr. March entre dois mundos”. Não preciso dizer que fiquei com as mãos doendo, porque além de trazer os livros para autografar, as pessoas queriam dar um abraço, trocar uma palavra, fazer uma pergunta, aquelas coisas bem humanas, que me fizeram lembrar a fogueira que acendíamos na fazenda de papai ao cair da noite para contar casos.

Segunda lição: Pequenos grupos unidos são tão ou mais eficientes que os grandes grupos

Nas palestras, chegavam as pessoas de Esteio, de Canoas e de outras cidades circunvizinhas. Nada de grandes auditórios, bastavam os auditórios das sociedades espíritas, seus corredores e alguma sala com projetor de imagens e alto-falantes para acomodar toda esta gente. Lembrei da minha juventude, de uma viagem que fizemos na região da lagoa de Araruama, com o expositor fluminense Luiz Flávio, hoje desencarnado. Entramos em uma estradinha de terra e chegamos em uma fazenda. As pessoas chegavam aos poucos, em pequenos grupos, vindas dos pastos, das picadas e da estrada. Elas acomodavam-se na salinha da sede, separada para ser centro espírita rural...

Terceira lição: o entusiasmo operoso faz mais que as organizações complexas

Mariela, nossa anfitriã, nos levou a uma casinha no meio de uma região pacificada, se é que o termo é este. Casinha simples, com uma placa na porta escrita Centro Espírita, fomos recebidos pelo entusiasmado locutor, o Rubens. Não vou ficar escrevendo os sobrenomes de propósito, para que o leitor possa sentir a informalidade da acolhida. Brincadeiras espíritas, piadas leves, e brilho nos olhos na medida em que ia me mostrando a biblioteca, a livraria, a sala com gêneros doados, o pequeno auditório com data-show, o estúdio de rádio...  Um momento, estúdio de rádio? Isso mesmo, com mesa de edição, microfones, isolamento acústico, tudo simples, mas montado aos poucos, incansavelmente, até gerar programas que ganham o mundo através do encontro de mídias, a radiofônica e a internet. Mesa branca cheia de fios e copos de água para ficarmos uma hora proseando sobre os temas mais diversos, trocando experiências. Depois chegou o irmão-gêmeo do Rubens, aqueles que não são filhos da mesma mãe, mas se reencontram na idade adulta quando descobrem o significado da casa espírita que os acolhe.

Eu poderia falar das outras lições que recebi. Foram muitas e profundas. Voltei para Minas com minha mineirice incorrigível, mas me sentindo um pouco gaúcho, e me perdoem os colorados, mas com um par de camisas do time do Grêmio.

2 comentários:

  1. Essa viagem de divulgação doutrinária deve ter sido inspiradora, não?
    Felicidades!

    ResponderExcluir
  2. Foi muito boa! Conhecer pessoalmente a Mariela e o Leandro Borba depois de trabalhar com eles à distância durante anos, foi emocionante. Conhecer novos amigos, também. Quando conseguir um tempinho irei publicar mais experiências desta viagem. Um abraço, Ricardo.

    ResponderExcluir