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1.10.13

O PROBLEMA DA TERRITORIALIZAÇÃO DAS SOCIEDADES ESPÍRITAS





"Personalismo e espiritismo são dois polos que não se tocam.” Célia Xavier

Um dos fenômenos que tenho observado em instituições espíritas é a territorialização. Podemos definir a territorialização em uma organização como sua divisão em segmentos com regras próprias e núcleo de poder, em dissonância com os elementos identitários da organização como um todo.

A territorialização, no caso dos centros espíritas, pode acontecer em associações grandes ou pequenas, mas é mais comum nas grandes associações, geridas com estrutura, cargos e funções de gestão pensadas para organizações menos complexas e de menor porte.

Não se confunde territorialização com departamentalização das sociedades espíritas. Esta última prevê autonomia em determinados segmentos ou departamentos, mas mantém coesão em torno de diretrizes gerais e de decisões para a organização como um todo. A departamentalização reconhece que em determinados segmentos, pode haver necessidades e características próprias, por isso tem diretrizes gerais para o todo e permitem variações consistentes com estas características gerais em departamentos específicos.

Este fenômeno vem acompanhado do surgimento de lideranças “individualistas”, com aspirações, visão das tarefas e objetivos de seu(s) grupo(s) de trabalho desconectadas da visão, missão e objetivos da organização como um todo. As lideranças de territórios desenvolvem uma lógica de isolamento, evitar o diálogo com lideranças organizacionais e não participação dos fóruns institucionais. Para sustentarem-se, as lideranças são carismáticas, e atraem o respeito e a fidelidade das pessoas que trabalham com elas. Aos poucos conseguem que as pessoas percebam a direção institucional como uma espécie de “mal necessário”, que se deve respeitar e tratar bem, mas não necessariamente seguir as diretrizes que vêm dela, por mais democráticos e dialógicos que sejam os fóruns de decisão.

Quando participam de órgãos deliberativos, os líderes territoriais podem evitar o conflito verbal, mas boicotam as decisões coletivas com as quais não concordam, considerando-se acima delas.

Tendo se acostumado com esta forma de liderar e coordenar, se eleitas para cargos de nível organizacional, estas lideranças terão dificuldades em lidar com as diferenças, tendendo ao autoritarismo e promovendo conflitos nas relações. Em vez de promover o difícil e demorado caminho da busca possível de consenso com base no diálogo, pretenderão normatizar a partir de sua perspectiva individual. Transformam facilmente uma discussão de ideias em um conflito pessoal, às vezes impondo seus pontos de vista e desqualificando quem discorda deles.

Concebamos as sociedades espíritas territorializadas como uma construção com rachaduras. Se não houver uma intervenção e uma conscientização dos membros dos territórios que são também membros da sociedade como um todo, e que precisam apoiar dentro do possível os projetos coletivos, a construção de normas comuns, e os diretores, que tem o difícil papel de articular uma organização cheia de pontos de tensão, a tendência é a ruptura ou o isolamento, enfraquecendo a sociedade espírita como um todo.

Penso que todos nós temos uma tendência ou impulso ao personalismo. É, portanto, um trabalho de autodesenvolvimento evitar que ele se torne predominante na nossa vida de relação, aprendendo a ouvir e a respeitar fóruns instituídos.

Não é à toa que Allan Kardec valorizasse muito o entendimento e a colaboração entre os membros das sociedades espíritas.

4 comentários:

  1. O personalismo é um grande inimigo. Citando aquela frase em cartaz no Célia Xavier so personalismo...

    Luiz H

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  2. Tenho visto exemplos desse comportamento, infelizmente. Parece que algumas pessoas levam "vicios" de sua vida profissional para dentro de sua atividade em Centros Espiritas (me atrevo a dizer, para dentro de suas igrejas, seja ela qual for). Resolver isso faz parte de nossa evolução!

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  3. Luiz Henrique, citei errado. Obrigado pela lembrança!!! Um abraço.

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  4. Carmine,

    Assim fica difícil administrar uma casa espírita, não acha? Sem somatório de forças, sem colaboração, o trabalho estagna.

    Um abraço

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