O movimento espírita de Juiz de Fora realizou neste último
sábado o 9º. Fórum Espírita. Seiscentas pessoas, aproximadamente, acomodaram-se
confortavelmente no salão do Clube Tupi, para debater com três conferencistas
sobre o tema morte.
A entrada, em uma grande antessala, onde também foram
servidos os coffee-breaks chamava a
atenção pelo clima de reencontro e alegria. Pessoas das mais diferentes casas
espíritas da cidade participaram da organização e muitas pessoas de fora,
beneficiaram-se do evento.
Uma exposição de fotos das casas espíritas da cidade compôs
um grande painel, onde alguns participantes paravam para identificar as sua ou
trocar lembranças com outros interessados.
Fui apresentado a uma simpática pesquisadora que chegou
recentemente da Alemanha, e que fez parte da equipe que investigou o
funcionamento cerebral de médiuns pintores, com neuroimagem. Vi a juventude e a
seriedade da colega, e recordei-me de quando era mais jovem, tentando provocar
os médicos espíritas da época a estudarem
com eletroencefalografia o transe mediúnico. À época eles julgavam a técnica
pouco produtiva, mas o avanço da tecnologia, aliado à coragem acadêmica, nos
presentearam com novos horizontes para a investigação da mediunidade e do
espírito.
A palestra da manhã, feita pelo Dr. Alexander
Moreira-Almeida, médico psiquiatra, apresentou o método de Kardec para a
pesquisa da vida após a morte e as pesquisas que se fazem em nosso tempo de
hoje. Rica em citações e referências, abriu um universo de leitura para quem
deseja informar-se mais das tentativas do homem retirar o véu que cobre o
segredo da grande viagem. As perguntas iniciaram-se ligadas ao tema, mas em
pouco tempo o público dirigiu questões para o psiquiatra, esquecendo-se do tema
central do fórum, mas procurando ouvir algo sobre suas dores e conflitos
íntimos.
À tarde, apresentamos um trabalho sobre o processo de morrer
e os relatos dos espíritos, colhidos pela mediunidade dos colaboradores de
Kardec, pelas pessoas que informaram Camille Flammarion e pelos espíritos que
continuam usando a psicografia hoje como canal de comunicação entre dois mundos.
Temas diversos, como as mortes violentas, e dentre elas o suicídio, foram
tratadas e tocaram as pessoas. O caso de Daniela ilustrou bem este tema nada
fácil. Lembrei-me dos estudos que papai fazia sobre o tema, décadas atrás e da
curiosa desencarnação de minha avó, que compartilhei com o público. Papai
estaria presente? Se estivesse sentiria um pouco de nostalgia dos tempos de
trabalho com o movimento espírita e lembrar-se-ia das muitas vezes que
estivemos juntos ao redor do tema da morte e do morrer.
As perguntas foram francas, diretas e algumas, apesar do nosso
apelo ao público, muito pessoais. Enquanto algumas perguntas vinham direto do
intelecto, outras vieram diretamente do coração dolorido pela perda ou pelo
sofrimento. Perceber o caráter consolador do espiritismo é tocante. Agradeço à
ajuda de dois mundos pela inspiração das respostas. Sozinho não conseguiria
perceber o significado profundo das perguntas que chegavam aos borbotões.
Após a palestra dirigimo-nos a uma mesinha simpática, para
autografar os nossos O observador e outras
histórias e Casos e descasos na casa espírita. Os interessados formaram uma
fila, sempre recebidos pela Julieta, nosso “anjo da guarda”, para autógrafos. Rapidamente,
nos abraçavam, contavam suas histórias, trocavam impressões. Víamos pessoas de
diversos lugares, presentes por diversos motivos, interessados em romper com o
tabu, e algumas delas em lidar com as dores, as perdas de seres muito queridos
que as anteciparam na grande viagem.
A fila continuava mesmo com o final do intervalo, o que não
nos possibilitou assistir ao trabalho de Angélica Maia, sobre “educação para a
morte”. Impossível deixar as pessoas que nos procuravam e que esperavam
pacientemente sua hora de colher o autógrafo e compartilhar alguma coisa.
Terminada a fila, outro compromisso. Uma entrevista para a tradicional revista “O
médium”, que tantas histórias e reflexões trouxe ao movimento espírita ao longo
de muitas décadas. Há um projeto de voltar a imprimi-la. Seguiu-se diálogo
rico, com um jornalista bem informado e perspicaz. A palestra da Angélica ficou
mesmo para uma próxima oportunidade.
As pessoas encomendaram os DVDs do evento e pude abraçar
ainda uma família querida meio belorizontina e meio juiz-forana, que
participava entusiasmada da organização do evento. O fórum será levado a outros, que não puderam estar presentes.
Perdoe o leitor por tantas observações pessoais, mas penso
que só assim poderia transmitir o sentido de um evento tão trabalhoso como este, que envolve tantos
trabalhadores voluntários e participantes. Meses de organização se justificam,
não apenas pelo conhecimento que se veicula, mas pelo encontro, esta coisa tão
fora de moda, tão ofendida pela comunicação rápida dos tablets e celulares.
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