Antonina tinha como desafio fazer
uma aula sobre a páscoa, para seus quatro alunos. Como fazer uma aula dinâmica,
respeitando as diversas designações cristãs, mas apresentando a visão espírita
da páscoa?
Ela começou sua aula com um jogo
de forca, com a palavra Páscoa. Quase que a turma teve seu bonequinho
“enforcado”!
Depois focalizou nos eventos que
aconteceram ao redor da crucificação e enterro de Jesus. Como abordar a questão
que é interpretada como ressurreição por outras religiões?
Para que não fique apenas uma
história contada, em uma sala onde a monotonia possibilita trocas de tapas, ela
imprimiu os personagens em preto e branco, conseguiu palitos de picolé e de
churrasco e levou um grande isopor, para a história ganhar vida.
Os alunos começaram a colorir os
personagens. Como eram muitos, alguns alunos ficaram com preguiça e começaram a
rabiscar.
- Tia, o fulano rabiscou Jesus!
Que coisa feia!
O tempo foi sendo devorado. Não
ia dar tempo de fazer todas as coisas, mas a turma estava assentada e começou a
conversar sobre brigas. Antonina falou que eles não podiam brigar em sala de
aula e que não era certo bater uns nos outros.
- Mas se você apanha, tem que
bater! Redarguiu um deles.
Outro perguntou direto:
- Você nunca apanhou quando era
jovem?
Realidade diferente, claro que
não da forma que eles o faziam. Violência na escola, violência em casa,
violência nas ruas.
- Sim, eu apanhei! Ela respondeu.
- E não bateu de volta?
- Não, eu não podia. Quem me
batia era minha irmã menor.
- E você não batia nela?
- Não posso, ela é menor que eu!
É covardia!
- Vixe! Disse um dos meninos,
meio desolado. Então não vou poder bater em ninguém...
Chegou o passe e Antonina ainda
não tinha montado a maquete. Um olhar compreensivo e os passistas ficaram de
voltar um pouco depois.
Os personagens foram recortados e
sendo fixados na cartolina, enquanto a história corria, rápida.
- Tia, vai ter ovo de páscoa?
Perguntaram os meninos no final.
- Não. Nós não comemoramos a
páscoa desta forma. Por isso fizemos esta aula! Disse Antonina.
As atividades foram dimensionadas
errado, mas a aula deu certo. Foi possível conversar sobre a violência, de uma
forma tão natural, que fez pensar.
Lembrei-me do Prof. Mário
Barbosa, que advogava que trabalhássemos ao lado das pessoas em situação de
vulnerabilidade social, para que a influência fosse pessoal e profunda. Ele
sabia o que falava.
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