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7.12.16

SINAIS DO IMPÉRIO RUSSO NA PSICOGRAFIA DE DOLORES BACELAR



Há muitos anos fiquei conhecendo os livros psicografados por Dolores Bacelar, e me tocaram tanto, que adquiri todos os que pude. Já por algumas vezes tenho usado um conto atribuído ao Irmão Herculano, intitulado “Igor, o bolchevista”, em minhas palestras.

É uma história diferente que lembra as de Tolstói, psicografadas por Yvonne A. Pereira, por ambientar-se no Império Russo. Esta história gira ao redor de Igor, um proprietário de terras reduzido à miséria.

Chamaram-me a atenção, da última vez que preparei o texto para ser contado, os detalhes e regionalismos que o narrador espiritual insere no texto. Um deles é o sobrenome do personagem: Alexandrovich. Não encontrei nada grafado assim na pesquisa que fiz, mas o sobrenome Aleksandrovich (obviamente, uma forma ocidentalizada) é bem comum.

Igor está na aldeia de Grigorievo, que em princípio não encontrei na internet. Esta localidade não deve ser muito distante de Moscou, em função de uma viagem que o personagem faz até a grande cidade do Império Russo. Pedi ajuda ao Chrystian Lavarini, que localizou uma Grigoryevo no Google Maps. Depois, encontrei mais, e também uma Grigiškės, na Lituânia, que fazia parte do Império Russo na época do conto e que significa Grigoryevo. Encontrei Grigoryevos nos Oblasts de Vologda, Arkangelsk, Novgorod, Smolensky, Tver e Vladimir, em terras russas. Difícil identificar qual delas está no texto.

Na casa de Bóris Sergueievich, serve-se um kislischi[1], para Igor. Li em uma revista que na Ucrânia se faz um fermentado de malte ou painço, “melhor que a russa kvass[2]” que tem alguma semelhança com a bastante conhecida kislischi. Um personagem de um romance que encontrei é servido com kvass, kislischi e hidromel, e acha a bebida em questão muito parecida com a Mead[3] escandinava. No texto do irmão Herculano, explica-se que o kislischi é uma bebida feita de “pão fermentado, muito ácida”. Esta descrição parece-se mais com o kvass que com o kislichi que encontrei com muita dificuldade na internet e alguma ambiguidade.

A esposa de Igor fizera um kaftan (no texto está escrito caftã, encontrei também na internet a grafia caftan), que é uma espécie de sobretudo “mais usado por camponeses e mercadores”, mas que hoje é usado apenas por religiosos conservadores. Li também que havia um kaftan usado pelos nobres em casa, apenas, em função da ocidentalização de costumes imposta pelo imperador Pedro, O Grande, na primeira década do século XVIII.

Outras informações próprias da Rússia, mas mais conhecidas, encontram-se no texto, como a palavra “mamenka” (Маменька), que significa mamãe em russo; a palavra “pope” com o significado de padre, a referência ao “samovar”, que é uma peça para servir bebidas quentes como chás diversos.

Estas pequenas palavras não são uma prova definitiva de conhecimento da Rússia, mas, pela dificuldade em se encontrar, ou a médium conhecia bem a Rússia do tempo do império, ou sua faculdade permitiu a inclusão de conceitos desconhecidos pela imensa maioria de nós, brasileiros.





[1] Kislischi ou kislichi é Um tipo de cerveja (sourish) feita na Rússia, em alguns aspectos parecida com a cidra e espumante como o champagne. The Southland Times – 1st august 1883.

[2] O квас é uma bebida gaseificada de baixo teor alcoólico (cerca de 1,5%) preparada a partir da fermentação do pão de centeio, ou pão preto (чёрный хлеб) seco ou amanhecido, que leva também algumas ervas. Há algumas versões alternativas que contam ainda com frutas silvestres, outros grãos ou beterraba. Pode ser consumida também por crianças.

[3] Mead é uma bebida alcoólica criada a partir de mel fermentado com água, algumas vezes com várias frutas, especiarias, grãos ou lúpulo.

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