O dia das mães é uma
data-calendário que foi usada por Antonina para falar da família. Após sua
exposição, ela perguntou a seus alunos:
- Qual seria a família ideal de
vocês?
Ela entregou papéis para que eles
pudessem escrever sobre esta família.
Talvez pela primeira vez para
muitos dos alunos, eles puderam falar e escrever sobre um tema que se tornou
tabu em suas casas.
Antonina surpreendeu-se com as
respostas:
- “Eu gostaria que meu pai
parasse de fumar, de beber e tivesse saúde. ”
- “Eu gostaria que minha família
ficasse rica e que minha mãe e meu pai não fossem separados. Gostaria de ter
conhecido meu avozinho. Gostaria de ser cantor sertanejo ou evangélico. Queria
mudar muitos pecados na minha vida. Desejo um feliz dia das mães”
- “Queria que minha família fosse
boazinha”
- “Eu queria ter conhecido meu
“vô” materno, por que nem minha mãe o conheceu. Também queria que minha família
fosse rica e o resto “queria que continuasse o resto”.
- “Quem devia estar na minha
casa? Meu pai. O que devia mudar na minha casa? Minha mãe voltar com meu pai e
minha mãe terminar com (o nome do companheiro, possivelmente). “
De repente, o dia das mães
transformou-se no dia da falta dos pais para a maioria das crianças presentes.
Famílias dissolvidas, talvez sem a devida preparação das crianças, sem a
conversa importante que diz que a dissolução do casamento não é o fim da
relação de paternidade e maternidade (ou será para alguns?). O pai, na mente
dos pequeninos, é o herói ausente ou doente.
Os avós foram lembrados, e sua
morte lamentada. O que significam estes avós que foram levados pela “grande
viagem”? Mais um suporte para as famílias, uma pessoa carinhosa, ou apenas
alguém cuja lembrança é evocada pela mãe com lágrimas?
O medo de perder o pai também
está no discurso de uma das crianças, talvez reproduzindo a reclamação da mãe,
que ressoa em vão: - Pare de fumar e de beber! Não apenas como uma implicância,
mas como um temor da saúde que se vai, um temor da morte.
Por fim, veio o desejo de riqueza,
que falta nas casas. E o anseio de ser cantor, de ser reconhecido, de ser
alguém importante em seu meio. Nem sei dizer se é um anseio de uma carreira bem
remunerada, apesar do mito do cantor pobre que sai na estrada até tornar-se
bem-sucedido e rico.
O mais curioso de tudo, é que na
tentativa de evitar uma abordagem que estereotipe a “família ideal”, eis que
ela surge no desejo das crianças, articulada às aspirações mais profundas, como
falta. Há muito ainda o que conversar com eles, para que não se sintam menores,
furtados em seus sonhos pelos acontecimentos da vida.
Muito bom o texto. Há mais de 30 anos comecei esta jornada de evangelização com famílias vulneráveis. É lamentável que pouca coisa tenha mudado.
ResponderExcluir