Manoel Philomeno de Miranda atraiu minha atenção para alguns
clássicos da psicologia e psicopatologia que não foram sequer citados no curso
de psicologia que fiz há cerca de trinta anos, apesar de sua influência no
pensamento psicológico e psicopatológico. Sua leitura mostra como era
importante a questão da mediunidade e dos fenômenos parapsicológicos naquela
época, haja vista que alguns dos autores que cheguei a estudar, principalmente
da França e da Inglaterra, se ocuparam com os fenômenos espirituais.
Um desses autores foi Pierre Janet (1859-1947), que estudou
medicina e filosofia e tornou-se professor de Filosofia na Universidade de
Harvre aos 22 anos, época em que teve contato com pacientes interessados em
fenômenos psicológicos. Interessado em estudar alucinações, foi apresentado
pelo Dr. Gilbert à Léonie, uma mulher que havia sido hipnotizada pelo Dr.
Perrier of Caen (discípulo do Barão Du Potet, magnetizador) e que produzia
fenômenos à época muito divulgados, mas pouco conhecidos pela psicologia
nascente, como a “clarividência, a sugestão mental e a hipnose à distância”.
Janet conseguiu produzir em Léonie, fenômenos de hipnose à
distância, o que gerou um artigo, comunicado em uma sociedade de psicólogos
parisiense. A partir daí ele conheceu Charcot, Charles Richet, Myers e
Sidgwick, e a Society for Psychical
Research, em Londres, que enviou ao Havre um de seus membros para “verificar”
o seu trabalho. Janet afirma em sua autobiografia que:
“Os experimentos que eu conduzi a
pedido dessa comissão e com as precauções exigidas forneceram resultados muito
interessantes: o sonambulismo coincidiu exatamente com a sugestão mental dada à
distância de um quilômetro, dezesseis vezes em vinte tentativas.”
Entre 1882 e 1889, Janet estudou com Charcot na Salpetriére
e escreveu uma tese sobre “O estado mental das histéricas” (1892), na qual associa
os eventos da neurose (histérica) com ideias fixas do sujeito e sua
predisposição à sugestão. Posteriormente ele admite que o fenômeno mais
importante é a sugestibilidade, e que nem sempre há ideias fíxas, como em um caso de hemiplegia histérica.
Como os doentes mentais ficam sugestionáveis? Janet não
aceita a ideia corrente de que o sujeito se auto-sugestiona e entende que as
funções psicológicas de resistência e síntese se enfraquecem. O enfraquecimento
pode dar-se por quatro motivos: o trauma emocional que afeta subconscientemente
o sujeito, a exaustão de todos os tipos, padecimentos orgânicos e predisposição
hereditária.
Outra contribuição de Janet à psicopatologia se deu na
continuidade de seus estudos com pacientes com o que hoje se chama de
depressão, e que ele descreveu com o nome de psicastenia, uma nova neurose
distinta da histeria e da epilepsia (que parece ter sido considerada uma forma
de neurose até ser associada às descargas elétricas no cérebro).
Cada vez mais os trabalhos de Janet foram direcionados pelo
desenvolvimento da psicologia e da psicopatologia, e deixando no passado a
questão dos estranhos fenômenos obtidos em situação de hipnose.
A influência do pensamento de Janet não se restringiu ao
meio acadêmico, sendo muito utilizado o conceito de ideias fixas nos livros
ditados por André Luiz a Chico Xavier, na explicação de fenômenos psicológicos
entre os Espíritos.
Um dos conceitos de Janet que serão usados por outros
autores na tentativa de explicar a mediunidade, os fenômenos dos sonâmbulos e a
sugestibilidade hipnótica é o conceito de desagregação, que trataremos em outra
matéria, ao falar de Joseph Grasset.
Oi Jader, bacana voce haver encontrado essa sacada em Janet. Ele estava a um passo de ter o insight da Emancipação da Alma, coisa vivida com excelencia por Edgar Cayce nos EUA e por Yvonne Pereira no Brasil. Waldo Vieira poderia ter se inserido nestes estudos da emancipação, mas preferiu o caminho solo que o desacreditou entre os espíritas e não espíritas.
ResponderExcluirMas realmente há um vínculo entre a epilepsia e a neurose, haja vista que os anticonvulsivantes são hoje a melhor medicação para os transtornos dissociativos e de humor, muitas vezes associados.
Obrigado pelo incentivo, Flávio. Há muito o que redescobrir na história esquecida dos estudos de fenômenos psíquicos por autores célebres do passado. Creio que era um tema comum na passagem entre século XIX e XX.
ResponderExcluirInteressante sua conexão entre neurose e epilepsia via anticonvulsivantes.
Um abraço saudoso.
Jáder