Após a tragédia de Brumadinho, muitos espíritas têm se
preocupado em argumentar sobre a questão da justiça divina do sofrimento
coletivo. Há em Allan Kardec, contudo, outra questão importante que ele trata
na Lei de Destruição (O Livro dos Espíritos), quando pergunta aos Espíritos sobre
os flagelos (no sentido de catástrofe, dano coletivos): o progresso dos homens,
em especial o progresso da sociedade.
Por progresso, nesse caso, não entendemos um
crescimento a partir de um sofrimento depurador, mas uma mudança de
mentalidade, conhecimentos e ações coletivas para evitar no futuro novas
catástrofes.
Na questão 741, Allan Kardec pergunta se é possível ao homem afastar os flagelos e os Espíritos
respondem que muitos deles “resultam da imprevidência do homem”. É o que nos
parece ter acontecido nos casos de Mariana e Brumadinho-MG. Duas semanas após o
rompimento da barragem de rejeitos que gerou a desencarnação violenta de muitas
dezenas de pessoas na cidade próxima à capital mineira, os meios de comunicação
têm dado voz a especialistas que apontam formas alternativas de lidar com os
rejeitos, tecnologias de prevenção da ruptura das barragens, problemas da
legislação referente à fiscalização do estado das barragens de contenção, entre
outras questões.
A ruptura da barragem de Mariana foi uma catástrofe que, se
tivéssemos, como sociedade e órgãos de Estado, levado à sério, teria o papel de
promover avanços capazes de evitar ou minimizar em muito os danos da ruptura da
barragem 1, de Brumadinho. Uma questão que não sofreu avanços e tem sido questionada é o próprio sistema de fiscalização das barragens no qual o fiscal é ao mesmo tempo prestador de serviços diretamente contratado pela empresa mineradora, e que poderia ter sido solucionado com uma mera alteração legal.
Os Espíritos dizem a Kardec: “À medida em que adquire conhecimentos e experiência, ele
pode afastar, isto é prevenir, se souber pesquisar suas causas.”
Kardec ainda comenta: “... Entretanto, não tem o homem
encontrado na Ciência, nas obras de engenharia, no aperfeiçoamento da
agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições
higiênicas, meios de neutralizar, ou pelo menos de atenuar, tantos desastres?
Certas regiões, outrora assoladas por tantos flagelos, não estão hoje livres
deles?”
Esperamos que o segundo e mais grave episódio de ruptura de
barragens faça acordar a população brasileira, e, em especial, a nós espíritas,
para realizarmos o que é necessário: acompanhar as mudanças que evitarão ou
pelo menos atenuarão novos incidentes capazes de ceifar vidas, destruir
comunidades e deixar consequências no meio ambiente que talvez afetem a um
grande número de seres vivos por um grande período de tempo.
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