Robert Hare (1781-1858)
A introdução de "O Livro dos Espíritos" inicia-se com um parágrafo sobre a terminologia que Allan Kardec utilizaria para designar a obra que ele desenvolvera a partir do exame de comunicações de espíritos por médiuns diferentes, de grupos, cidades e, posteriormente, países diferentes.
Como se pode ler no livro de Alfred Russel Wallace, O Aspecto Científico do Sobrenatural, a expressão "modern spiritualism" (espiritualismo moderno) já era amplamente utilizada nos países de língua anglo-saxã. Ele cita Augustus de Morgan, Robert Hare e o Juiz Edmonds como homens de ciência que estudaram os fenômenos e produziram trabalhos a respeito da comunicação entre os Espíritos e os homens.
Buscando dar uma identidade nova, distinta do movimento já existente (apesar das similitudes em grande número de seus princípios e propostas), Allan Kardec propôs um método para a identificação dos espíritos e para a análise de suas comunicações dos espíritos. Da aplicação do método na análise dos diálogos com os Espíritos, ele publicou "O Livro dos Espíritos", com a seguinte explicação:
"Para coisas novas precisamos de palavras novas; assim o exige a clareza da linguagem, para evitarmos a confusão inerente ao sentido múltiplo dos mesmos termos. As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida; dar-lhes uma nova, pala aplicá-las à Doutrina dos Espíritos, seria multiplicar as causas já tão numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo (...) Em lugar das palavras espiritual, espiritualismo, empregaremos, para designar esta última crença, as palavras espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso, mesmo, têm a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, reservando ao vocábulo espiritualismo a sua acepção própria. Diremos, pois, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas."
Ótima lembrança.
ResponderExcluirA confusão ocorre entre os mais interessados. Nas salas de bate-papo, na internet, basta entrar em uma sala de espíritas que só encontramos espiritualistas de toda sorte, menos espíritas. Muitos da umbanda, candomblé, etc, se auto-intitulam erroneamente como espíritas, e o mesmo erro muitos de nós cometemos ao nos pronunciarmos como "kardecistas". O próprio IBGE, no último ano, no senso a respeito da religião, colocava como opção o "kardecismo", a FEB divulgou uma nota dizendo que não foi consultada a este respeito.
ResponderExcluirJáder: achei gozado você ter suprimido uma parte da definição de Kardec. Ora, a passagem descartada é essencial para o correto entendimento da definição! Quando Kardec fala em "para designar esta última crença", ele se referia justamente ao que se encontra no trecho suprimido, ou seja, à crença na existência de Espíritos e na possibilidade de comunicação destes com o mundo visível.
ResponderExcluirJanaina: *Tendo em vista a definição de Kardec acima*, não há erro algum em os umbandistas denominarem-se espíritas, uma vez que eles satisfazem as únicas condições impostas por Kardec ali para o uso desta denominação: crença em Espíritos e na possibilidade de comunicação destes com o mundo visível. Quanto à designação "kardecista", qual exatamente o problema dela?
José Edmar,
ResponderExcluirA parte que omiti, na tradução de Evandro Noleto Bezerra, é a seguinte: "... quem quer que acredite ter em si alguma coisa além da matéria é espiritualista: mas não se segue daí que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível."
Na minha leitura, Kardec diz que não vai utilizar o termo espiritualismo, (e com isso está criticando quem escolheu o termo espiritualismo moderno, nos países anglo-saxões), porque a palavra tem um sentido muito amplo e não necessariamente implica em ideias essenciais do espiritismo. Duas dessas ideias estão no final da frase (comunicabilidade dos espíritos, e, logicamente, sua existência), razão pela qual entendi que não era necessário transcrever o texto inteiro para comunicar o argumento.
Neste texto Kardec distingue espiritismo de espiritualismo, mas não faz uma definição rigorosa de espiritismo.
Quanto ao uso do termo Kardecista, somo minha voz à da Janaína, pode ser entendido como doutrina de Kardec, ideia a que ele próprio sempre se opôs.
Ele mesmo defende como doutrinários, pontos de vista diferentes dos seus próprios, como é o caso da geração espontânea, que apresentei no EC há muito tempo atrás.
Uma vez aceita a proposta de reduzir o espiritismo à obra de Kardec (que em minha opinião é relevante e central), fragiliza-se a noção da evolução do pensamento espírita. Ele estaria concluído na obra kardequiana, proposta inconsistente com o projeto de 1868.
Jáder,
ResponderExcluirEm minha opinião, fica bem claro a partir do texto o que Kardec quis que entendêssemos por Espiritismo: crença na existência de Espíritos e na possibilidade de comunicação deles conosco.
Quanto ao termo "kardecismo", é fato que alguns poderiam interpretar como doutrina de Kardec, mas também é forçoso reconhecer que há outras interpretações possíveis para a palavra. Sendo assim, não se deve considerar erro cabal sua utilização.
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