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28.1.14

UM GRUPO ESPÍRITA EM OURO PRETO NO FINAL DO SÉCULO XIX

Rua da Escadinha - Ouro Preto-MG. Ao fundo a Basílica do Pilar.

Recebi do Chrystiann Lavarini alguns números interessantes, acessáveis no site do Arquivo Público Mineiro, de um periódico espírita denominado A Caridade. Trata-se de um tabloide publicado pelo Grupo Spirita Antonio de Padua, que funcionava na casa quatro da rua da escadinha, em Ouro Preto-MG.

Os temas tratados são diversos, mas a questão da relação com a Igreja Católica, base da cultura dominante, é marcada. Os autores discorrem sobre a reencarnação, sobre o pensamento de Kardec, sobre mediunidade de curas e traduzem trechos da Revista Espírita (a francesa, publicada inicialmente por Kardec), entre outros assuntos, inclusive não ligados ao espiritismo. 

Chamou-me a atenção ser um periódico de 1898, período em que a capital do estado estava se mudando para Belo Horizonte, que foi oficialmente inaugurada em dezembro de 1897. Eu desconhecia grupos espíritas oficiais nesta época, na região da capital, embora no início da próxima década (1902), houvesse a fundação da União Espírita de Belo Horizonte, que se tornou Federação Espírita Mineira em 1908.

Apesar de histórico, o movimento espírita de Ouro Preto estagnar-se-ia e a nova capital mineira continuaria a ser terra fértil para a criação de novos grupos e sociedades espíritas. Ignoro números oficiais mas conheço pessoalmente apenas um grupo espírita na cidade, contra centenas em BH, passado pouco mais de um século.

Felipe Vieira Batista Silva escreveu para a ANPUH, um artigo analisando um dos quatro números disponíveis do jornal A Caridade. http://www.encontro2012.mg.anpuh.org/resources/anais/24/1340733225_ARQUIVO_AMPUH2012-Felipe.pdf 

Influenciado pelas ideias de Bourdieu, Felipe se detém na análise das relações de poder entre o espiritismo nascente e o catolicismo majoritário. Seus olhos se detém no texto que transcrevo abaixo, que percebe como um pedido real de intervenção do clero e da polícia a práticas supersticiosas toleradas pela igreja, mas vejo de forma diferente.

À época, com a publicação do novo código civil, "o espiritismo, a magia e seus sortilégios, o uso de talismãs e cartomancias...." foi criminalizado. O autor de "A Caridade", possivelmente se ressente de denúncias do clero, quando escreve:

"Entretanto os padres, que tanto mal dizem do Spiritismo, admittem e toleram semelhantes praticas abusivas, que são exercidas por mulheres, que vão todos os dias ao confissionario. E’ necessário, pois, que a sociedade se acautele e promova os meios afim de exterminar do seio mais esse cancro do fanatismo. Será melhor que os confessores pela influencia que exercem sobra as suas confessadas, as aconselhem, prohibindo mesmo a pratica desses responsos e sortilégios, tão condemnados pelo Divino Mestre. 

Tambem poderá vir em nosso auxilio a policia, syndicando desses factos que tantos males já tem causado a sociedade. 

Por nossa parte havemos de combater essas supertiçoes e sortilégios: e se não tiverem um paradeiro voltaremos mais circumnstanciadamente ao caso (A CARIDADE, 1898, n.  p.4). 

Felipe entende que é uma luta de poder entre religiões, uma tentando deslegitimar a outra, e não uma "discussão defensiva dos princípios que regem as práticas católicas e/ou espíritas". Não me parece que isto está acontecendo neste trecho, que apresenta uma ironia. O autor do artigo em A Caridade denuncia de forma sutil as incoerências e abusos do uso da lei do código civil, que deve ter sido utilizada pelas autoridades eclesiásticas, junto à polícia, para a repressão da prática espírita na época. Infelizmente, são necessárias novas fontes para o devido embasamento desta suposição, mas a recuperação do documento pelo Arquivo Público Mineiro e sua disponibilização em meio digital nos traz mais conhecimento da história do espiritismo nas Minas Gerais

Quem quiser ler A Caridade tem acesso direto pelos links abaixo:

http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/jornaisdocs/viewcat.php?cid=20722 
http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/jornaisdocs/viewcat.php?cid=20726  
http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/jornaisdocs/viewcat.php?cid=20720

25.1.14

SOFRIMENTO, MORTE, SOBREVIVÊNCIA E CORAGEM

Kübler-Ross e uma paciente


Acabo de ler, no meu Kindle, “A Roda da Vida”, de Elisabeth Kübler-Ross, uma autora suíça que ficou conhecida internacionalmente por seu livro “Sobre a morte e o morrer”. Fiquei profundamente tocado com a leitura.

O livro é uma autobiografia corajosa, na qual Elisabeth nos conta sua jornada em busca de si-mesma, do nascimento até o que poderia chamar decrepitude do corpo.  Considero a autora corajosa, porque ela não se preocupa muito com o que vão pensar dela. Ela relata suas vivências e experiências, suas escolhas, suas lutas, seus erros e equívocos e as crenças às quais se entrega, mesmo algumas que me soaram como ingênuas.

Esta franqueza clara de Elisabeth chocou o mundo em que viveu. Ela sempre viveu anos à frente de sua época, e apesar de sua péssima experiência com alguns cristãos, ela sempre viveu estritamente dentro da proposta do cristo.
Ela nos fala da frieza do coração dos homens, que ela enfrentou a vida toda, e começa com um pai controlador e rigorosíssimo, que ela aprendeu a compreender e amar, sem nunca deixar subjugar seus ideias superiores. Da Suíça, oásis de tranquilidade na Europa convulsionada pela segunda grande guerra, Elisabeth, ainda jovenzinha, vai se voluntariar para ajudar os poloneses e outros países destruídos pela insanidade dos governos europeus, sem ter nem um travesseiro onde recostar a cabeça.

Maydanek é um campo de extermínio, onde a Dra. Ross vai aprender sobre a sombra dos seres humanos com a judia Golda, que sobreviveu por um triz do holocausto. Golda ensina a ela que todos temos um lado negro, e que poderíamos estar no lugar dos que trabalharam sob ordens para a máquina da morte dos nazistas. A compreensão de Golda é uma grande lição para a humanidade, um foco de luz em um momento de profundas trevas.

Nas paredes das câmaras de gás, Elisabeth viu borboletas, imagem que  irá acompanhar o leitor ao longo de sua trajetória. Por que pessoas diante da morte resolvem desenhar borboletas nas paredes de seu local de execução?





Em alguns momentos, depois de enfrentar a intolerância de sua época, encontramos a Dra. Ross, que está à beira dos leitos dos moribundos, auxiliando-os a superar medos, ódios, problemas que os fazem sofrer. Dos leitos aos seminários, sempre mal vistos pelo tabu da morte, que apavora o imaginário dos médicos e hospitais, sempre preocupados em fazer viver o corpo, e muitas vezes negligentes com a alma-mente de seus pacientes, e com a deles própria.

Mais um pouco e vemos a Dra. Ross às voltas com pacientes que relatam experiências de quase morte, as que notabilizaram o Dr. Raymond Moody Jr. Mais um pouco e surgem as experiências mediúnicas e o projeto para lidar com a AIDS, no seu pior momento, em que ela foi percebida pelo povo americano como o “câncer gay”, e todos passaram a temer os aidéticos, da mesma forma que eram temidos os leprosos no tempo de Jesus (ou talvez pior).

O livro já está no mercado há muito tempo, e fiquei me perguntando por que ninguém fez uma resenha dele no Reformador, por exemplo. Pelo menos, não encontrei com os instrumentos de busca nada sobre a Dra. Ross.  Acho que os espíritas vão detestar (e com razão) a dependência dela com o cigarro, a mediunidade paga, as fraudes mediúnicas da qual é vítima, a crença em fadas, e muitas outras pequenas coisas que aparecem no livro. Contudo, acho que nenhum de nós deixará de admirar a posição dela contra a eutanásia, e a forma corajosa como ela ajuda as pessoas a entenderem o sofrimento como uma lição a ser aprendida, sua humildade, ao descobrir professores em todas as classes sociais, aprender com eles e ensinar suas lições, seu destemor ante o risco real da violência da Europa pós-guerra, das doenças e mesmo do sofrimento da morte. Admirei a forma com que ela lidou com a violência a que foi submetida sistematicamente, por pessoas que se auto-intitulavam cristãs, mas que se deixaram levar pelo medo e pelo preconceito. Ela é uma daquelas pessoas raras, que nos faz ter orgulho de sermos humanos. Adorei também a leitura que ela faz da supervalorização dada a conhecimentos científicos. Sem desmerecer a ciência (bem, sou ou fui cientista e gosto muito dela), ela nos mostra que há momentos em que as teorias e técnicas por si só não não têm respostas para os nossos problemas, como os cientistas podem ficar míopes, por apenas serem capazes de visualizar suas teorias e conhecimentos, frágeis ante novos desafios que surgem. Gostei também de sua indignação contra os burocratas, mesmo que seja exagerada em determinados momentos, o que é típico das pessoas obstinadas e cheias de energia como ela. Adorei também sua denúncia da cisão de comportamento de alguns religiosos, que, como dizia Jesus em seu tempo, dizem “Senhor, Senhor nas esquinas, mas devoram a casa das viúvas”.


Eu não quero contar mais sobre o enredo, porque ela escreveu um livro cheio de surpresas, similar a um romance de suspense, e quanto mais eu falar, mais atrapalho a experiência do leitor. Peço aos espíritas que se contenham para ler o livro, porque mesmo tendo coisas que vão de encontro aos nossos valores, e que não apoiamos, ele fala de uma grande e teimosa alma, digna da nossa admiração em um mundo contemporâneo cheio de relativismos vãos, consumismo e narcisismo.

22.1.14

JOVEM UNIVERSITÁRIO FALA DE UM LIVRO DE HERMÍNIO MIRANDA



Capa do livro com foto de George Washington Carver

Cada dia mais eu gosto do lado luminoso da internet. Hoje eu trouxe para vocês o Lucão, jovem universitário, sem qualquer ligação com o Espiritismo, mas também sem preconceitos contra os espíritas, que está comentando o livro "O Pequeno Laboratório de Deus", de Hermínio Miranda. 

Minha velha amiga, que já fez a grande viagem, Dona Ada Eda, adorava este personagem, cuja história leu antes de Hermínio publicar seus artigos e depois o livro.


21.1.14

PÚBLIO CORNÉLIO LÊNTULUS, VOCÊ EXISTIU?



"Roba de Timbério" - Frase do Dr. Axel Munthe, atribuída aos nativos, em O Livro de San Michele

Há alguns anos estávamos na plenária da LIHPE (Liga de Pesquisadores do Espiritismo) quando um dos participantes pediu informações sobre a existência de Públio Lêntulus, personagem de Emmanuel em "Há Dois Mil Anos", que teria sido sua encarnação à época de Jesus.

Baseado em uma série de arrazoados de um amador, estudioso da história romana, ele defendia a inexistência de Públio Lêntulus, com base na falta de registros. Dizia, se não me falha a memória (o historiador amador), que os nomes dos senadores romanos eram todos conhecidos e que o personagem não existia. A carta de Públio Lêntulus (a que descrevia Jesus), muito veiculada, parecia falsa, e ele explicava suas inconsistências.

Trabalhei muitos anos como pesquisador nas universidades, e sei que as áreas de conhecimento são muito complexas, ainda mais a história, que está sempre sendo objeto de descobertas e estudos. Contudo, eu não tinha formação para debater com os críticos, e não encontrei, nos estudos superficiais que fui capaz de fazer, informações que fizessem avançar o debate, então fiquei no meu canto, à espera de coisa melhor. A bem do espiritismo, aceitei que Emmanuel poderia ter criado um personagem, posto que se trata de um romance, já que as evidências à sua existência não pareciam favoráveis. Isso não diminuiria a contribuição e as inumeráveis evidências fornecidas através da mediunidade de Chico Xavier.

Por outro lado, já havia participado de outras discussões, onde o aparente não é como se mostra. História antiga é uma ciência que exige base, conhecimento de meios e fontes, muitas fontes. Os grandes autores da universidade que conheço aprendem bem rapidamente a evitar afirmações bombásticas, a dizerem-se donos da verdade ou a fazerem afirmações universais incondicionais, porque sabem que basta uma fonte, um dado, uma pequena pesquisa, para levar ao chão uma teoria que na verdade é um castelo de cartas. Por isso, os grandes pesquisadores procuram ser cuidadosos com seus temas e parcimoniosos (parcimônia é considerada uma virtude pelos pesquisadores, aqui em Minas se diz que "quem fala muito, dá bom dia a cavalo"). Eles afirmam suas conclusões com base nas informações que têm, e deixam à comunidade científica o trabalho de corroborar ou falsificar (no sentido de encontrar evidências contrárias) o que argumentam. Por sinal, desejam pares que se interessem por seus problemas, com quem possam dialogar, apesar dos orgulhos e vaidades do gênero humano. 

Finalmente, parece que um historiador simpatizante da possibilidade da veracidade da informação de Chico Xavier, empreendeu suas energias e tempo para buscar novos dados para esta questão. Encontrou novas fontes e informações para cotejarmos com a crítica já publicada. Pessoalmente, gostei do cuidado no relato dos caminhos que ele trilhou até chegar às conclusões lapidadas que fundamentam a tese da existência real de um Públio Cornélio Lêntulus, que poderia, sim, estar na Judeia, tratando de assuntos pessoais, com a autorização do imperador, e que por isso não seria autoridade superior a Pôncio Pilatos, entre outras informações importantes. 

Creio que ainda estamos no meio do caminho, e há muito o que se estudar, mas fico muito feliz em ver o tema avançar realmente com base em pesquisa cuidadosa, e não em arroubos ruidosos.

Remeto o leitor ao seguinte endereço eletrônico para degustar o belo trabalho de Carlos Henrique Nagipe Assunção, e agradeço ao Alexandre Caroli Rocha e ao Geraldinho Lemos a informação da publicação.

17.1.14

COMO FUNCIONA O CÉREBRO DE MÉDIUNS PSICÓGRAFOS? UMA PESQUISA COM NEUROIMAGEM.


Júlio Perez

Há alguns anos, quando discutíamos a pesquisa da mediunidade, provoquei os palestrantes a fazer estudos de associação entre o funcionamento cerebral e o fenômeno mediúnico, mas os participantes não viam nas técnicas disponíveis, como a eletroencefalografia, possibilidades de análise confiável e segura para a proposta. O que havia disponível eram estudos de caráter especulativo, como o livro de Jaime Cerviño, publicado pela FEB (Além do inconsciente), os ensaios de Jorge Andréa ou descrições feitas por espíritos, pela via mediúnica, como os trabalhos de André Luiz (Missionários da luz, Nos domínios da mediunidade). São contribuições importantes, mas que necessitariam ser postas em teste, para consolidação ou reconstrução do que se acha proposto.

Passados os anos o conhecimento do funcionamento do cérebro e o desenvolvimento de novas técnicas de neuroimagem possibilitaram o desenvolvimento da neurofisiologia. Com um conhecimento maior do funcionamento cerebral , o acesso a aparelhos de neuroimagem para pesquisa acadêmica e uma nova cultura de pesquisa no Brasil, a questão voltou à cena. O que acontece com o cérebro quando, por exemplo, um médium psicografa? O padrão neurofisiológico e as áreas cerebrais afetadas seriam as mesmas de uma pessoa que escreve?

Os doutores Júlio Peres e Andrew Newberg publicaram um artigo com alguns dos achados feitos em uma pesquisa de neuroimagem com dez médiuns: cinco considerados menos experientes e cinco considerados mais experientes, com a técnica SPECT, considerada mais adequada ao tipo de tarefas que foi exigido dos médiuns. Eles tiveram seus cérebros  estudados enquanto escreviam normalmente, e quando em transe, psicografando. O artigo mostra as diferenças de fluxo sanguíneo e outras descobertas encontradas, e discute as diversas explicações possíveis aos achados.

Quem se interessa pelo tema, não deve deixar de ler este trabalho, que saiu publicado agora em língua portuguesa, na Revista de Psiquiatria Clínica da USP.  O acesso via Scielo é o link: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832013000600004&lng=en&nrm=iso Ele também tem um link para baixar o artigo em formato pdf, mais confortável aos olhos do leitor.

15.1.14

REVISTA DE PSIQUIATRIA DA USP PUBLICA ARTIGO DE REVISÃO SOBRE MEDIUNIDADE

Leonore Piper


A Revista de Psiquiatria Clínica da Universidade de São Paulo publicou no seu volume 40 no. 6 um artigo intitulado "Pesquisa em mediunidade e relação mente-cérebro: revisão das evidências", escrito pelo Dr. Alexander Moreira-Almeida.

Calcado em 124 referências bibliográficas, o autor apresenta as linhas de pesquisa da mediunidade contemporâneas. Ele argumenta que a mediunidade é uma "experiência humana", com ampla tradição de pesquisa empírica desde o século XIX, que foi negligenciada, de forma geral. 

Moreira-Almeida discute os problemas e questões que se impõem a este tipo de pesquisa, mostrando alguma influência do pensamento popperiano no desenho dos projetos contemporâneos. Ao contrário de Rhine, e alinhado com a perspectiva contemporânea de Schwartz e Beischel, ele propõe que se estude pessoas com alegada capacidade mediúnica e resultados constatados, em vez de insistir nos delineamentos de Rhine, que propunha o estudo de grande número pessoas comuns em busca de traços de faculdades psíquicas.

Entre outras questões ele mostra a falácia de se procurar um "experimento crucial", o que não é utilizado em praticamente nenhuma ciência natural. O trabalho dos cientistas envolve a busca sistemática de evidências e contra-evidências que vão possibilitando o amadurecimento teórico, como advogava Kuhn, mas principalmente Imre Lakatos. Esta posição põe em questão um argumento muito usado por céticos, que advogam ser necessário primeiro provar a existência dos espíritos para depois pesquisar a mediunidade. 

Moreira-Almeida apresenta pacientemente os principais resultados de estudos feitos com dois médiuns destacados: Leonore Piper e Chico Xavier. Ao contrário das conclusões de um pesquisador brasileiro que a-priori defende que o trabalho de Chico é pasticho ou psicopatologia, ele apresenta com cuidado os resultados de tese e dissertação de Alexandre Caroli Rocha. Além disso ele relaciona trabalhos já conhecidos pelo movimento espírita, como o da grafoscopia de Perandréa e o de comparação de informações de Severino.

O trabalho é cuidadoso e amplo, recomendo sua leitura e discussão entre os interessados. Acessem no Scielo: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832013000600005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

Ao lado da página acessada, é possível baixar o arquivo do artigo em formato pdf.


13.1.14

GEIF PUBLICA GALERIA MULTIMÍDIA NA NET


Manoel Alves, um dos fundadores do GEIF

O Grupo Espírita Irmão Frederico teve uma iniciativa muito interessante. Publicou em seu site uma galeria multimídia, com vídeos diversos de Haroldo Dutra, Chico Xavier, Divaldo Franco, Honório Abreu, Raul Teixeira, Alberto Almeida, entre outros.

Qualquer internauta pode acessar e assistir aos vídeos que estão disponíveis em http://geif.com.br/galeria-multimidia/videos/

Confiram. 

10.1.14

SINCRETISMO E IDENTIDADE NO MOVIMENTO ESPÍRITA BRASILEIRO

Alexandre Fontes da Fonseca, editor do Jornal de Estudos Espíritas




O Jornal de Estudos Espíritas está entrando em seu segundo ano de funcionamento e tivemos a grata satisfação de ter aceito um trabalho nosso intitulado "Éthos, sincretismo e identidade do Espiritismo Brasileiro".  ( https://sites.google.com/site/jeespiritas/volumes/volume-2---2014 )

Ele tenta mostrar como o éthos do espiritismo é um forte elemento identitário do mesmo. Busca recuperar a trajetória do espiritismo no Brasil e as influências a que esteve exposto o movimento espírita, detendo-se nos cismas e grupos que saíram deste, constituindo movimentos espiritualistas à parte.

O artigo recupera um trabalho desenvolvido em nossa tese de doutoramento, na qual apresenta três elementos do éthos espírita obtidos na obra de Kardec: fundamentos, valores e imperativos.

Ao final se faz uma rápida reflexão sobre as tensões dos dias de hoje e suas perspectivas.

Se os leitores se interessarem pelo Jornal de Estudos Espíritas, que é gratuito e digital, e quiserem acompanhar suas publicações, basta enviar seu e-mail para o endereço: jestudosespiritas@gmail.com 

7.1.14

CANÇÃO DA MOCIDADE


Ontem de tarde recebi uma visita ilustre. Wadson fez a gentileza de me levar o DVD e o CD do mais novo projeto do Grupo Espírita Meu Cantar. Minha filha foi à porta conhecer o artista.

- Eles são conhecidos? Perguntou. 
- São sim, filha, do Norte ao Sul do Brasil. Eu encontrei CDs deles sendo tocados quase na fronteira com o Uruguai.
- Ah! Disse ela, mordida de curiosidade.

As Minas Gerais são muito conservadoras. Para ser grande aqui, mesmo já sendo enorme, é preciso ser grande fora das montanhas, pensei mais uma vez.

Abraços, autógrafos (Wadson quase ficou da cor da camisa desta capa quando pedi) e fui correndo ver o projeto. Senti-me meio parceiro, apesar de não ter feito muita coisa. É tão boa a sensação de ser parceiro de algo belo!

O DVD é simples mas muito rico. Camisas coloridas, arranjos deliciosos, um piano melodioso, acompanhando as vozes que se entrecruzam, destacando-se e ocultando-se, fazendo um todo harmônico e jovial. Momentos de espiritualidade entremeados por momentos de alegria. A música parece uma bola de praia, colorida, tocada de mão em mão.

Antevejo os jovens cantando as músicas de Willi de Barros após a influência salutar deste belo trabalho. A música que dá título ao projeto parece-se com um jingle, e nos faz recordar dos tempos de mocidade espírita, hoje chamada de juventude espírita em outras terras.

É difícil escolher música preferida, porque são canções muito variadas entre si, mas agrada-me muito a que se chama Estradas, pelo conjunto, os tons dissonantes, o arranjo vocal que exigiu muito do grupo e a bela letra, que diz muito da proposta cristã-espírita. Mas gosto também de Encontro, Quando penso em Jesus, Para sempre em meu coração (cuja letra faz lembrar a epístola aos Coríntios...)

CD e DVD já estão disponíveis na Associação Espírita Célia Xavier e em outras casas espíritas que apoiaram o projeto, mas pedidos podem ser feitos pelo site http://www.meucantar.com.br/

2.1.14

POLICARPO DE ESMIRNA, MÁRTIR CRISTÃO DO SÉCULO II




Meu primeiro contato com Policarpo de Esmirna foi através da carta que Inácio de Antioquia escreveu-lhe. Ao que tudo indica, Policarpo era um jovem bispo, quando Inácio estava rumo à execução, porque seria julgado e condenado em Roma como cristão. Inácio não temia a morte, e sentia-se honrado em desencarnar da mesma forma que Jesus e alguns de seus apóstolos.

Muitos anos mais tarde, Policarpo seguir-lhe-ia os passos. Os cristãos continuavam sendo minoria no império romano, e sua fé era vista como um desacato à autoridade dos imperadores. Curiosamente, eles eram vistos como ateus, por não aceitarem a divindade dos césares e o culto aos deuses romanos. O autor da história do seu martírio (Piônio de Esmirna? Márcion? Evaristo?) escreveu: “Felizes e generosos todos os mártires que surgem pela vontade de Deus.” (Martírio 2:1)

Este mesmo autor destaca que no meio cristão do segundo século, os cristãos não se entregavam às autoridades, mas uma vez presos e levados a sacrificar ao imperador e a negar sua crença, a grande maioria deles não titubeava. Os romanos os ameaçavam com torturas físicas, com as feras e com a fogueira. Tudo leva a crer que desejavam principalmente que os cristãos se submetessem publicamente a César, negando sua fé, para intimidar e humilhar os profitentes do cristianismo.

A perseguição de Policarpo é desencadeada pelo martírio do jovem Germânico, que foi levado às feras, e instigado pelo procônsul a abjurar, sob o argumento “que tivesse piedade de sua própria juventude” (Martírio 3:1) Germânico atiçou as feras para que se consumasse sua sentença e a multidão gritou: “Abaixo os ateus! Trazei Policarpo.” Diz a tradição que Policarpo seria o décimo segundo cristão a ser sacrificado em Esmirna).

Três dias antes de ser preso Policarpo sonhou com um travesseiro em chamas. Sua interpretação foi que seria queimado vivo. Ele foi levado a uma pequena propriedade, mas os romanos prenderam e torturaram “dois pequenos escravos”, que entregaram onde ele estava. Ele foi localizado pelo chefe de polícia (Herodes), desceu calmamente do piso superior da casa, conversou com seus perseguidores, que se espantaram com a idade avançada e a calma de Policarpo, e lhe permitiram orar durante duas horas. O esmirniota mandou servir-lhes o que comer e beber, enquanto fazia suas preces.

O procônsul, em julgamento público fez com que se anunciasse no estádio três vezes: “Policarpo se declarou cristão!” Romanos e judeus teriam dito: “Eis o mestre da Ásia, o pai dos cristãos, o destruidor de nossos deuses! É ele que ensina muita gente a não sacrificar e não adorar.” (Martírio 12:2) Eles pediram que fosse lançado um leão contra Policarpo, mas isso não foi considerado lícito, porque o combate com feras já havia terminado. Então, gritaram que fosse queimado vivo, confirmando aos olhos de Policarpo o significado de seu sonho.

Principalmente os judeus, segundo o narrador, recolheram lenha e feixes para a pira. Policarpo despiu-se e retirou os calçados. Seus executores desejavam pregá-lo, mas ele disse: “Deixai-me assim. Aquele que me concede força para suportar o fogo, dar-me-á força para permanecer imóvel na fogueira, também sem a proteção de vossos pregos” (Martírio 13:3) Então ele foi amarrado com as mãos atrás das costas, o que fez com que os conhecedores do judaísmo o vissem como o cordeiro do sacrifício. Policarpo fez uma prece a Jesus, da qual extraio algumas frases: “Eu te bendigo por teres me considerado digno deste dia e desta hora, de tomar parte entre os mártires, e do cálice de teu Cristo, para a ressurreição da vida eterna da alma e do corpo, na incorruptibilidadedo Espírito Santo.” (Martírio 14:2) Ele ainda louvou e bendisse a Deus.

Os executores tocaram fogo na pira, e o narrador diz que em vez de queimá-lo, as chamas envolveram o corpo, como uma “espécie de abóbada” e ele permaneceu no meio, como “pão que assa, como ouro ou prata brilhando na fornalha”. Sentiu-se um perfume de incenso. O povo, então, pediu que o carrasco o executasse com um golpe de adaga, uma vez que o fogo não o consumia, e, feito, o sangue jorrou e apagou o fogo. Os cristãos pediram-lhe o corpo, mas o magistrado negou, afirmando: “Não aconteça que eles, abandonando o crucificado, passem a cultuar esse aí.” (Martírio, 17:2) O centurião, então, fez queimar o corpo, e os cristãos recolheram depois os ossos, para colocá-los “em local conveniente” e celebrar o aniversário de sua morte.


Os relatos são atribuídos originalmente a Irineu, discípulo do bispo de Esmirna, mas são cópias de cópias. Independente do que é factual e do que é legendário, é indiscutível que a coragem destes cristãos primeiros nos legou o acesso aos ensinamentos de Jesus, passados mais de dois mil anos de seu nascimento.

Referência:

Martírio de São Policarpo, Bispo de Esmirna. in: Padres Apostólicos. São Paulo: Paulus, 1995.(Patrística)