Ante a sugestão do Marcelo Bernardo, tenho lido nas horas vagas os livros de Bart Ehrman, um historiador e teólogo norte-americano, agora agnóstico, especializado no Novo Testamento e no cristianismo primitivo.
Ehrman tem um livro sobre a existência de Jesus (o Jesus
humano e histórico). Há alguns autores defendendo a ideia de que Jesus seria um
mito, oriundo de outros mitos divinos, sobre o qual os cristãos contaram
histórias entre si e “inventaram” o cristianismo.
Um texto como costumo publicar no Espiritismo Comentado não
tem tamanho suficiente (e se tivesse, não teria leitores...) para apresentar
toda a discussão da questão, que envolve um grande número de argumentos, e,
portanto, um debate significativo.
Uma das evidências que Ehrman usa para defender a existência
de Jesus é a análise do texto evangelhos. Todos sabemos que os evangelhos foram
escritos em grego. Como os escritores eram “bons de escrita”, possivelmente
eruditos, os historiadores entendem que não devem ter sido os apóstolos, que
eram possivelmente iletrados e que falavam aramaico (exceto Paulo e Lucas, que não conviveram com Jesus). Eles teriam dificuldade
para aprender, falar e escrever corretamente o grego. Esse assunto também é
polêmico, mas para entender Ehrman, vamos prosseguir desse ponto.
Um dos argumentos dele é a existência de palavras em
aramaico no meio da narrativa grega. Dificilmente um escritor grego conheceria
qualquer coisa de aramaico. Os evangelhos trazem, no entanto, palavras como
rabi, talita cumi, messias, Cefas (o nome que Jesus deu a Pedro), entre outras.
Não bastasse a existência das palavras, muitas vezes os escritores dos
evangelhos a traduzem para o leitor, certos de que ele não entenderia seu
significado.
Esta é uma das dezenas de evidências que as narrativas em
torno de Jesus, surgiram na Palestina e eram faladas em aramaico, e que
posteriormente os autores dos evangelhos ouviram e recontaram em grego. Se
Jesus e os apóstolos fossem um mito, uma história baseada em histórias de
deuses, considerando a amplitude das comunidades cristãs no século I, cada uma
teria criado histórias próprias, sem um núcleo comum, totalmente diferentes
umas das outras, o que não acontece nem mesmo nos evangelhos considerados
apócrifos, que trazem em si muito dos textos dos outros evangelhos (como O
evangelho de Tomé).
As palavras em aramaico, e os textos comuns, levam
necessariamente o início do cristianismo para a região da Judeia, Galileia,
Samaria, em torno dos anos 30 (outro ponto a ser sustentado, com as cartas de
Paulo), por pessoas que originalmente falavam o aramaico e que depois se
espalharam por cidades ao redor do mediterrâneo e dos países vizinhos aos
antigos reinos de Israel e Judá.
Como disse acima, o livro é repleto de debates com os
miticistas (pessoas que defendem que Jesus era um mito) e tem argumentação bem
fundamentada. Quem se interessar pelo assunto leia:
Ehrman, Bart. Jesus existiu ou não? Rio de Janeiro: Agir,
2014. [Tradução da editora Nova Fronteira, feita por Anthony Cleaver]
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