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26.1.21

REUNIÕES MEDIÚNICAS À DISTÂNCIA: PSICOGRAFAR OU NÃO?

 

Chico Xavier psicografava na casa de Rômulo Joviano, às quartas-feiras, nos anos 1930 e posteriores


Com a pandemia e as políticas de isolamento social vieram novos desafios para as sociedades espíritas. O desafio central é: como funcionar com os cuidados para que não haja contágio? Uma das formas de adaptação que mais se desenvolveu foram as reuniões através da internet, nas quais cada um se mantém em sua residência, mas consegue interagir com os demais.

Talvez o maior desafio tenha sido as reuniões mediúnicas. Há muitos anos, no Brasil, os grupos deixaram de ser familiares, criaram “centros espíritas” ou “sedes de sociedades espíritas” para seu funcionamento e vêm praticando a mediunidade de forma coletiva (em grupos) nos centros espíritas. Obviamente, isso não acontecia em épocas e em países onde não há uma rede de centros espíritas. 

Em “O Livro dos Médiuns”, no capítulo XVII da segunda parte (Da formação dos médiuns), Kardec sugere à pessoa que esteja desenvolvendo a psicografia, que o faça em solidão, silêncio e afastamento de tudo o que possa ser causa de distração. E sugere que renove “todos os dias” a tentativa, por dez minutos ou um quarto de hora, por meses. Em outras palavras, ele recomenda que os que desejam verificar se têm a capacidade da psicografia que façam esse exercício de forma particular, se necessário em casa. (segunda parte, capítulo XVII, §204)

Isso não significa que Kardec não observasse vantagens no trabalho mediúnico em grupo ou equipe. Ao falar da reunião de pessoas com o objetivo de desenvolver a mediunidade, ele argumenta que ao se reunir com um intento comum, os membros “formam um todo coletivo, cuja força e sensibilidade se encontram acrescidas por uma espécie de influência magnética, que auxilia o desenvolvimento da faculdade.” (segunda parte, capítulo XVII, §207)

Na história do espiritismo brasileiro, podemos registrar a existência de reuniões familiares nas quais um médium psicógrafo permitia a comunicação de um espírito familiar ou um espírito superior. Talvez, o maior registro impresso que tenhamos na atualidade, seja o livro “Sementeira de Luz”, todo psicografado por Chico Xavier nas reuniões de evangelho no lar da residência dos Joviano. Wanda Amorim Joviano guardou as mensagens que foram psicografadas na casa de seu pai desde os anos 1930, semanalmente, às quartas-feiras. Trata-se de um livro de 669 páginas, em sua grande maioria ditadas por Arthur Joviano, avô de Wanda, já desencarnado. 

Divaldo Franco, no livro “Diretrizes de Segurança” (questão 47), que foi fruto de um simpósio realizado em Belo Horizonte em conjunto com Raul Teixeira, desaconselha a prática mediúnica como hábito em reuniões domiciliares, mas “não impede que, excepcionalmente, ocorra o fenômeno com a anuência de um médium sob a inspiração dos bons espíritos”. Em outras palavras,  ele limita essa prática, mas não a proíbe. Na questão 48, ele recomenda de forma contundente que se realizem as reuniões mediúnicas nos centros espíritas, comparando-o a um centro cirúrgico e perguntando de forma retórica: “Já que temos o Centro, por que desrespeitá-lo, fazendo reuniões mediúnicas noutro lugar, se ele é o determinado para tal?”

Considerando todas essas informações, entendemos que no momento, e não sabemos até quando, a reunião mediúnica presencial nos centros espíritas se encontra interditada por razão de saúde pública, mas isso não significa que não possamos psicografar, durante as reuniões que se fazem através da internet, na qual se encontra reunido o grupo, comunicações de espíritos orientadores ou familiares. Em nossa experiência, a maioria dos médiuns psicógrafos dos centros que conhecemos é intuitivo, não havendo automatismos. Não vemos consequências mais graves para esse conjunto de fatores: médium intuitivo psicografando espíritos familiares ou superiores, em encontro à distância com os demais membros de reunião mediúnica. Neste caso, a interrupção pelo médium de uma comunicação importuna ou inadequada é fácil e voluntária não havendo outros inconvenientes.

Com esses cuidados, é aceitável que se mantenha a prática da psicografia de espíritos benfeitores ou familiares nas reuniões mediúnicas à distância, além das preces, dos estudos e das chamadas “irradiações”, que não são senão uma prece dirigida a um ou mais beneficiários. Temos obtido bons resultados em nosso grupo, sem incidentes dignos de registro até o momento.

3 comentários:

  1. Bem lúcido seus comentários, Jáder.
    Com os devidos cuidados e conhecimento adequado da doutrina, não há porque deixar de acontecer o contato com os irmãos "do lado de lá". Sem esses cuidados e preparo, nem na casa espírita haverá segurança.

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  2. Jáder. Isto me faz refletir que não será o caso de nos voltarmos para o Espiritismo lúcido em nossas residências, onde, como Kardec diz, seria desenvolvido um grande número de médiuns, num ambiente familiar equilibrado?
    E, sobre essas comunicações psicografadas vindas dos benfeitores espirituais nas reuniões virtuais, a experiência tem nos mostrado perfeitamente válidas. Muito bom seu artigo.

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  3. Oi Jáder, no Ccdpe-Ecm temos realizado reuniões mediúnicas híbridas (presenciais e online), na presencial respeitando as orientações das autoridades sanitárias, com comunicações e esclarecimentos aos irmãos necessitados e depois com comunicações de irmãos maiores, mas os médiuns online acompanham-nos apenas dando sustentação e na parte inicial de estudos da reunião, aí sim, os médiuns online contribuem com reflexões e comentários. Na parte final, após o passe (de imposição ministrado na cabeça porém por trás e com distanciamento) entre os médiuns (ainda não abrimos ao público), os médiuns presenciais e online (com duas câmeras e microfone multidirecional no meio da roda) fazem seus comentários e observações sobre o que viram, sentiram ou foram sensibilizados. Os médiuns online recebem passe tb do grupo.

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