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9.12.23

DA LEITURA DOS NOSSOS JOVENS À AGENDA CRISTÃ



O Estadão (O Estado de São Paulo) publicou hoje que o texto mais longo lido em 2023, pela maioria dos estudantes brasileiros de 15 e 16 anos, não passa de dez páginas. Apenas 9,5% dos brasileiros leram um texto com mais de cem páginas. 

Dirão alguns que isso é uma tendência, porque com as novas mídias, não é mais necessário ler. Essa análise, contudo, é equivocada. Nos países desenvolvidos, ao contrário do Brasil, são as seguintes as taxas de população de 15 e 16 anos que leem textos de mais de 100 páginas ao ano:

1. Finlândia - 72,88%

2. Canadá - 68,4 %

3. Chile - 64%

4. Média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) - 41,8%

5. Colômbia - 25,8% (nosso vizinho que enfrenta inúmeros problemas econômicos e sociais)

A leitura tem sido uma prática muito divulgada nos meios de estudo do movimento espírita, o que explica a obra de Chico Xavier ser um fenômeno de vendas no Brasil. Há espaços no centro espírita, todavia, em que a leitura não é muito incentivada. Penso que as reuniões públicas são um desses espaços, lugar em que muitos dos participantes vêm ouvir uma exposição ou palestra, fazer preces e tomar um passe. Já ouvi na evangelização infantil e nos grupos de mocidade, pais recomendando que não passemos nenhum tipo de tarefa, de leitura ou escrita, "porque seus filhos já estão muito ocupados com as atividades escolares". 

Assim, sem incentivo à leitura, o hábito se torna mais uma iniciativa individual, dependendo do perfil do participante. Isso tem mais implicações no meio espírita, porque os conhecimentos espíritas que não são lidos em suas respectivas fontes, acabam sendo aprendidos de "ouvir falar", e os expositores se tornam os principais formadores de opinião, sendo difícil para quem participa perguntar, questionar ou apresentar outras fontes. Esse é um dos motivos que transforma o centro espírita ou a reunião em "centro ou reunião do fulano", já que ele é visto como a autoridade no assunto, às vezes indiscutível.

Esse também é um dos riscos do ESDE (Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita). O ESDE foi concebido para que seu texto seja uma espécie de leitura introdutória ao espiritismo, e o próprio texto aponta livros que tratam do assunto que foi apresentado. Se o participante lê apenas um texto introdutório, tem uma bagagem mínima, parecida com as dez páginas dos nossos jovens brasileiros. Os facilitadores dessa metodologia são treinados a promover a leitura, pelo menos das fontes mais importantes. Se isso não acontece, novamente vai depender da motivação interna dos participantes.

Convido o leitor a pensar em estratégias para provocar seus colegas e participantes de reuniões e cursos a lerem os livros espíritas e abrirem seus horizontes em matéria de pensamento espírita. Convido também a compartilhar conosco, abaixo, nos comentários, ou no grupo do Espiritismo Comentado no Facebook.

Como contra-exemplo do que falei, eu era voluntário na biblioteca Aurélio Valente, da Associação Espírita Célia Xavier, há uns 45 anos. Resolvemos separar alguns livros para levar para as famílias de baixa renda, que participavam de um trabalho de assistência e promoção social. Montávamos uma pequena banca de livros, e escrevíamos em um caderno o nome e número do livro emprestado para as senhoras (muito poucos senhores) que nos procuravam. O perfil de livros que elas pegavam emprestado era o de mensagens curtas (e letras grandes de preferência) e os livros infantis, que levavam para os filhos e traziam novamente em um mês.

Recordo-me de uma senhora que se interessou pelo livro Agenda Cristã, de André Luiz, psicografado por Chico Xavier. Ela o emprestou em um mês e o estava renovando há meses. Jovem e inexperiente (para não dizer ignorante, mesmo, em matéria de vivência com as pessoas de realidades diferentes da minha...), perguntei se ela não queria levar outro livro. Tínhamos um número reduzido, mas títulos variados, e não seria difícil encontrar algo similar ao Agenda Cristã para ela ler. Ela recusou com respeito, e insisti, mostrando outros livros.

A senhora abriu uma sacola ecológica (na época não tinha esse nome) e tirou um caderno do tipo universitário, talvez doado por algum estudante de classe média que terminou o ano e deixou grande parte dele em branco. Ela o abriu e eu vi aquela letrinha cursiva feminina, com os parágrafos do livro do médium de Pedro Leopoldo.

Aquilo me emocionou. Ela precisava renovar porque estava copiando o livro, uma vez que era muito caro para seu orçamento, mas as palavras eram muito valiosas para ela simplesmente devolver o livro para a biblioteca, sem guardar junto de si aquelas pequenas luzes de conhecimento espírita.

Estivesse Jesus presente, acho que diria: "Em verdade vos digo que, em Israel, não achei ninguém que tivesse tal fé" (A Bíblia de Jerusalém, Mt. 8:10 - O episódio da cura do servo do Centurião de Cafarnaum).

4 comentários:

  1. Humberto cerqueira09 dezembro, 2023

    Jader, este é um grande desafio. Como ultrapassar os obstáculos para vencer essa resistência à leitura? É uma responsabilidade das escolas, dos pais, e como você escreveu, também do movimento espírita. Enfim, de toda sociedade.

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  2. O que já ouvi no Centro Espírita é que, nas palestras, não podiam indicar livros pois poderiam pensar que o Centro estaria fazendo propaganda da sua livraria.

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  3. Controlar o pensamento alheio, por mais esforços que venhamos a despender, é uma tarefa inglória. Há um psicólogo, cujo nome me escapa, que diz que o que fulano pensa de sicrano, diz mais de fulano que de sicrano. Fico imaginando como é que divulgaremos o espíritismo, que André Luiz afirma ser a maior caridade que podemos fazer pela doutrina, sem indicar literatura idônea aos interessados. A livraria da casa que frequenta sempre passa "apertos", porque falo de livros espíritas que muitas vezes não estão no estoque ou estão fora de catálogo. Na nossa casa, a renda da livraria costuma ser revertida em compras de novos títulos para recompor o estoque e, quando há algum lucro, ele ajuda o Centro Espírita a pagar suas despesas de água e luz, a assistência social, paga os funcionários e realiza diversas coisas úteis, uma vez que uma Sociedade Espírita é uma instituição sem fins lucrativos, e como, no nosso caso, tem utilidade pública federal e municipal, a direção não pode receber qualquer remuneração, nem auferir qualquer vantagem que advenha da organização. Precisamos falar dessas coisas com as pessoas, para que a maledicência não venha a comprometer o conhecimento da doutrina. Outro ponto: temos uma biblioteca em funcionamento, cujos empréstimos de livros são gratuitos.

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  4. Divulgo sempre com amor , os livros espiritas são luzes , educam , esclarecem as mentes ,propaga o Evangelho de Jesus na sua essência misericordiosa. A caridade essencial é primordial! Lembrando também que as Casas ou Centros oferecem sebos proporcionam as pessoas necessitadas tudo que podem dentro do direcionamento fraterno. Cito aqui que o Governo federal poderia incluir benefícios aos Centros Espiritas.

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