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10.12.16

30 ANOS DE MEDIUNIDADE





Há trinta anos, José Roberto Maia Pimentel, João Campolina Ferreira e Antônio Carlos Cortez e Silva dirigiam a Associação Espírita Célia Xavier. A mocidade da casa precisava de mudanças, e José Roberto pediu a ajuda do ex-diretor, Ysnard Machado Ennes, para ajudar a repensar o grupo.

Ysnard entendeu que com o tempo a mocidade foi ficando com membros adultos que involuntariamente direcionavam o grupo para interesses válidos, mas cada vez mais distantes das necessidades dos jovens.

Então foram formados grupos mediúnicos a partir destes jovens com idades superiores a 20 e poucos anos. À época, a mocidade computava mais de duzentas pessoas em três ciclos, divididos por idades. O antigo diretor entendia que eles deviam partir para o trabalho. Pessoalmente, eu não defenderia uma intervenção como esta nos dias de hoje, embora seja um desafio para as casas espíritas integrar jovens egressos das mocidades espíritas, que vêm com bagagem de estudo sistemático e conhecimento doutrinário.

Foram diversos grupos, com coordenadores já experientes em reuniões mediúnicas. Eles ficaram algum tempo estudando mediunidade e funcionamento de reuniões mediúnicas antes de iniciarem as experimentações mediúnicas. Alguns grupos se modificaram com o tempo e um grupo surgiu posteriormente no horário do fim da tarde de sábado. A mudança foi implementada no segundo semestre de 1986.

Agora em dezembro reunimo-nos para comemorar os 30 anos de existência e de bom relacionamento entre os grupos. São três os remanescentes. Aproveitamos para lembrar dos que se foram antes de nós e recordar dos desencarnados que participavam da casa e hoje se comunicam conosco.

Acima está uma foto dos que hoje compõem os grupos, há filhos de fundadores, novos membros, mas, principalmente, muitas pessoas que estão juntas há trinta anos, na tarefa mediúnica. Repasso a todos a saudação dos espíritos ligados ao grupo, que desejam que o trabalho perdure por mais trinta anos...

9.12.16

REVISTA INTEGRAÇÃO EXPLICA COMO FOI O 12o. ENLIHPE





A maioria dos leitores do Espiritismo Comentado sabe que participo da LIHPE - Liga de Pesquisadores do Espiritismo, uma rede de estudiosos, ligados ou não à universidade, que, entre outras coisas, organiza um encontro anual (ENLIHPE) que já está em sua 12a. edição.

Por que promovemos este evento anual?

O movimento espírita já oferece muitos encontros, confraternizações, seminários e outros eventos públicos. Por que fazer mais um evento? Por diversas razões:

1. A LIHPE é uma rede virtual. Os participantes a acessam quando desejam comunicar algum trabalho que estão fazendo ou solicitar algum tipo de auxílio. Esta forma de comunicação é muito acessível, o que permite a participação de pessoas do mundo todo, contudo, não possibilita que estas pessoas estabeleçam um vínculo pessoal, se conheçam mais profundamente e tenham a oportunidade de interagir integralmente. O encontro é uma ação que contribui para que as pessoas possam se conhecer melhor, avaliar melhor os trabalhos umas das outras, interagir.

2. A maioria dos eventos do movimento são dirigidas a públicos amplos, de simpatizantes ou trabalhadores das casas espíritas. Por esta razão, no mais das vezes, os expositores conhecidos local ou nacionalmente são convidados. Pessoas com capacidade, mas sem notoriedade, geralmente são preteridas em muitos destes encontros. O ENLIHPE tem mostrado ser um espaço para identificação de novos talentos do movimento espírita.

3. Muitos trabalhos realizados nas universidades sobre o espiritismo e o movimento espírita ficam à larga dos jornais e dos espíritas em geral, por falta de comunicação. Há um número substantivo de pessoas, espíritas ou não em sua vida pessoal, que empreendem estudos sérios e importantes para o conhecimento espírita, mas que estão condenados a ser lidos apenas por um pequeno círculo de pessoas. O ENLIHPE se presta a dar visibilidade a este tipo de trabalhos, que normalmente não seriam conhecidos e a publicá-los sob uma forma mais acessível às pessoas, como capítulos de livro ou artigos. Isto já gerou mal entendidos da parte de pessoas do movimento que interpretaram erradamente que a LIHPE não valoriza autores espíritas consagrados. Não é verdade, tanto é que temos homenageado estes autores, ligados ao estudo filosófico ou científico do espiritismo, em todas as edições de nossos encontros. Contudo, fazemos eventos que trazem informações pouco veiculadas no movimento espírita para a cena, foi a nossa opção a fim de não fazer "mais do mesmo".

4. Nos último evento nós incentivamos os membros da LIHPE a estudar na literatura acadêmica os trabalhos produzidos sobre o tema Reencarnação. Para o 13o. ENLIHPE, estamos incentivando os membros da LIHPE e mesmo os interessados em geral a produzir trabalhos com base na produção acadêmica sobre o tema "Passe e curas espirituais", que ultimamente tem recebido muitas publicações da medicina, psicologia, história, filosofia e ciências biológicas, dentro e fora do Brasil.

Qualquer um pode apresentar trabalho?

Se abríssemos o espaço para qualquer pessoa, correríamos o risco de programar trabalhos de pessoas bem intencionadas, mas mal informadas, o que desmotiva e gera conflitos com os participantes, assim como de pessoas mal intencionadas.

O ENLIHPE, então, conta com um grupo de analistas, geralmente com formação acadêmica, além do conhecimento do espiritismo, que avaliam os trabalhos submetidos, recomendam ou não sua apresentação e fazem sugestões aos autores. Eles não conhecem o nome dos autores dos trabalhos que analisam, avaliam apenas seu conteúdo, da mesma forma que os autores também não ficam sabendo que pessoas analisaram seu trabalho, o que evita parcialidade e conflitos interpessoais desnecessários.

Respondendo à pergunta, qualquer um pode submeter um trabalho, mas só serão apresentados os trabalhos escolhidos pela comissão avaliadora.

A LIHPE é uma elite do movimento espírita?

Não, a LIHPE é uma rede voluntária de pessoas que desejam estudar e conhecer o espiritismo. Muitos de seus membros têm estudos acadêmicos avançados, o que possibilita uma contribuição mais efetiva na área de fronteira entre o pensamento espírita e as áreas de conhecimento acadêmicas. 

Da mesma forma que procuramos um cirurgião se temos dúvidas sobre realizar ou não uma cirurgia, porque sabemos que ele deve ter mais conhecimento e experiência com este procedimento, deveríamos ouvir espíritas que têm um conhecimento profundo em física, se nossos interesses se voltam a problemas na fronteira entre a física e o espiritismo. Um espírita com muito conhecimento doutrinário pode cometer erros elementares quando trata da física, se não a conhece. Da mesma forma, um físico sem conhecimento espírita, pode cometer erros elementares sobre o pensamento espírita quando analisa uma teoria espírita sobre um fenômeno de materialização. 

Com o avanço e gradual complexificação das áreas de conhecimento das ciências, determinadas questões que são postas ao pensamento espírita não podem ser bem equacionadas sem o conhecimento da área científica respectiva. Allan Kardec pensava assim. A LIHPE pretende apenas dar voz às pessoas que têm formação avançada em questões que lhes dizem respeito, sem a pretensão de verdade a priori. Cabe ao movimento espírita analisar estas contribuições e tirar suas próprias conclusões, fazer suas próprias escolhas.

É possível ler os trabalhos selecionados nos ENLIHPEs?


Os melhores trabalhos foram organizados em livros-coletâneas e publicados pela LIHPE, com o apoio financeiro e logístico do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo "Eduardo Carvalho Monteiro" - CCDPE-ECM. A coleção destes trabalhos se chama "Série Pesquisas Brasileiras sobre o Espiritismo" e já conta com sete volumes:

Pesquisas sobre o espiritismo no Brasil
A temática espírita na pesquisa contemporânea
O espiritismo visto pelas áreas de conhecimento atuais
O espiritismo na atualidade
O espiritismo nas ciências contemporâneas
O espiritismo, as ciências e a filosofia
Novos estudos sobre a reencarnação

Você pode adquirir os livros no site da Candeia:

http://www.candeia.com/J%C3%A1der%20dos%20Reis%20Sampaio

Ou diretamente na Livraria do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro.

http://www.ccdpe.org.br/livraria

Você também pode assistir as apresentações do ENLIHPE gratuitamente no site Espiritualidades e Sociedade:

http://www.espiritualidades.com.br/liga.htm






7.12.16

SINAIS DO IMPÉRIO RUSSO NA PSICOGRAFIA DE DOLORES BACELAR



Há muitos anos fiquei conhecendo os livros psicografados por Dolores Bacelar, e me tocaram tanto, que adquiri todos os que pude. Já por algumas vezes tenho usado um conto atribuído ao Irmão Herculano, intitulado “Igor, o bolchevista”, em minhas palestras.

É uma história diferente que lembra as de Tolstói, psicografadas por Yvonne A. Pereira, por ambientar-se no Império Russo. Esta história gira ao redor de Igor, um proprietário de terras reduzido à miséria.

Chamaram-me a atenção, da última vez que preparei o texto para ser contado, os detalhes e regionalismos que o narrador espiritual insere no texto. Um deles é o sobrenome do personagem: Alexandrovich. Não encontrei nada grafado assim na pesquisa que fiz, mas o sobrenome Aleksandrovich (obviamente, uma forma ocidentalizada) é bem comum.

Igor está na aldeia de Grigorievo, que em princípio não encontrei na internet. Esta localidade não deve ser muito distante de Moscou, em função de uma viagem que o personagem faz até a grande cidade do Império Russo. Pedi ajuda ao Chrystian Lavarini, que localizou uma Grigoryevo no Google Maps. Depois, encontrei mais, e também uma Grigiškės, na Lituânia, que fazia parte do Império Russo na época do conto e que significa Grigoryevo. Encontrei Grigoryevos nos Oblasts de Vologda, Arkangelsk, Novgorod, Smolensky, Tver e Vladimir, em terras russas. Difícil identificar qual delas está no texto.

Na casa de Bóris Sergueievich, serve-se um kislischi[1], para Igor. Li em uma revista que na Ucrânia se faz um fermentado de malte ou painço, “melhor que a russa kvass[2]” que tem alguma semelhança com a bastante conhecida kislischi. Um personagem de um romance que encontrei é servido com kvass, kislischi e hidromel, e acha a bebida em questão muito parecida com a Mead[3] escandinava. No texto do irmão Herculano, explica-se que o kislischi é uma bebida feita de “pão fermentado, muito ácida”. Esta descrição parece-se mais com o kvass que com o kislichi que encontrei com muita dificuldade na internet e alguma ambiguidade.

A esposa de Igor fizera um kaftan (no texto está escrito caftã, encontrei também na internet a grafia caftan), que é uma espécie de sobretudo “mais usado por camponeses e mercadores”, mas que hoje é usado apenas por religiosos conservadores. Li também que havia um kaftan usado pelos nobres em casa, apenas, em função da ocidentalização de costumes imposta pelo imperador Pedro, O Grande, na primeira década do século XVIII.

Outras informações próprias da Rússia, mas mais conhecidas, encontram-se no texto, como a palavra “mamenka” (Маменька), que significa mamãe em russo; a palavra “pope” com o significado de padre, a referência ao “samovar”, que é uma peça para servir bebidas quentes como chás diversos.

Estas pequenas palavras não são uma prova definitiva de conhecimento da Rússia, mas, pela dificuldade em se encontrar, ou a médium conhecia bem a Rússia do tempo do império, ou sua faculdade permitiu a inclusão de conceitos desconhecidos pela imensa maioria de nós, brasileiros.





[1] Kislischi ou kislichi é Um tipo de cerveja (sourish) feita na Rússia, em alguns aspectos parecida com a cidra e espumante como o champagne. The Southland Times – 1st august 1883.

[2] O квас é uma bebida gaseificada de baixo teor alcoólico (cerca de 1,5%) preparada a partir da fermentação do pão de centeio, ou pão preto (чёрный хлеб) seco ou amanhecido, que leva também algumas ervas. Há algumas versões alternativas que contam ainda com frutas silvestres, outros grãos ou beterraba. Pode ser consumida também por crianças.

[3] Mead é uma bebida alcoólica criada a partir de mel fermentado com água, algumas vezes com várias frutas, especiarias, grãos ou lúpulo.

5.12.16

MORTALIDADE MATERNA: ABORTO OU EDUCAÇÃO?




O Dr. Alexander Almeida-Moreira, professor do curso de medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, publicou há pouco no facebook, algumas informações para o debate acerca do aborto.

Um dos argumentos muito utilizados pelos ativistas pró-aborto, e que têm sido reproduzidos até mesmo por alguns jovens do movimento espírita, é que a aprovação da lei que regulamenta o aborto diminuiria a mortalidade materna das classes populares, porque estas mães não teriam acesso a cuidados médicos de qualidade para realizar abortos. Segundo as publicações abaixo, indicadas pelo Dr. Alexander:

"Clareando o debate sobre o aborto: o número de mulheres que morrem pelo aborto clandestino no Brasil é muito baixo e a liberação ou proibição do aborto não alteram a mortalidade materna. Abaixo, as pesquisas que demonstram isso:


Os experimentos naturais ocorridos no México (que liberou aborto em 2007) e no Chile (que proibiu aborto em 1989) indicam que a proibição ou a liberação do aborto não impactam as taxas de mortalidade materna. A queda da mortalidade materna se relaciona com as melhores das condições de saúde geral da população e, principalmente, com o melhor nível educacional das mães."


 Artigos:
http://journals.plos.org/plosone/article…

3.12.16

ISOLAMENTO DE GRUPOS NO CENTRO ESPÍRITA




Jáder Sampaio

O isolamento de grupos em um centro espírita de grande porte é um dos grandes desafios institucionais que precisa ser enfrentado, para que não haja ruptura do caráter associativo.

É mais fácil isolar-se em uma reunião (mediúnica, por exemplo) ou grupo, participar de atividades apenas com as pessoas deste grupo e contribuir com um valor da cota associativa, não se interessando pelas necessidades coletivas da associação, e apenas direcionando exigências para a diretoria, sob a justificativa de ser sócio regular e participar da organização há décadas.

Neste caso, sempre que as necessidades de muitos afetam a rotina dos trabalhos do grupo, este trata dos pedidos de mudança da direção como uma intervenção indevida.

Quando isto acontece, há uma inversão do pacto associativo. Os dirigentes são vistos mais como empregados ou prestadores de serviço da organização e não como lideranças, que abrem mão de seu tempo pessoal e familiar para contribuir com a associação a pedido e com voto de confiança de todos.

Neste cenário, é mais difícil mobilizar a contribuição dos associados para objetivos comuns, da associação como um todo, que demandam trabalho voluntário e envolvimento de todos. Os projetos externos a um grupo, como a construção de uma nova sede, a adoção de regimentos, o socorro a uma atividade considerada importante que está com falta de trabalhadores, a promoção de eventos para encontro dos membros da organização, sejam de caráter doutrinário ou administrativo e a participação de pessoas de diferentes grupos em atividades que não são vistas como “deles” por dirigentes e membros de grupos.

As escolhas de dirigentes e lideranças se tornam um trabalho muito difícil, porque, isolados, os valores de cada grupo não são conhecidos pela organização como um todo, faltando o vínculo da confiança e do respeito entre eles e o corpo dirigente. Os valores, quando identificados e convidados, necessitarão gastar mais energia e dedicação para superar as dificuldades criadas pelo isolamento e pelo desconhecimento das equipes novas com que trabalharão. Não raro, muitos se afastam precocemente, por motivos muitas vezes triviais, que não seriam causa deste tipo de atitude se já houvesse um relacionamento anterior.

Não há, portanto, uma relação orgânica entre o nível estratégico (a direção do centro), nível gerencial (a direção dos grupos) e trabalhadores (nível operacional). Começa a ocorrer uma estranha disputa de poder entre direção do centro e direção dos grupos, quando deveria haver um relacionamento de colaboração, principalmente porque os grupos e os associados em geral necessitam de um corpo diretor eficaz e são eles que o elegem e o conduzem a suas funções “nunca-remuneradas”.


Esta reflexão não exime os dirigentes dos centros espíritas de seus equívocos, do excesso de individualidade ou do cometimento de abusos em suas funções, mas este seria objeto de discussão de outro texto. O que observamos é a estranha inversão e competição, que possibilita o desenvolvimento de um clima organizacional na casa espírita muito bem descrito pelo espírito Irmão X, no livro Cartas e Crônicas, capítulo 29, intitulado “Bichinhos” ao qual remeto o leitor.