24.2.21

PANDEMIA E SUICÍDIO DE MULHERES NO JAPÃO


 

O jornal Estado de São Paulo publicou hoje uma matéria sobre o aumento de suicídios de mulheres no Japão, durante a pandemia. Foi uma alta de 15% em 2020, com relação ao ano anterior. https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,com-pandemia-suicidio-de-mulheres-aumenta-no-japao,70003625957

As relações de trabalho no Japão vêm mudando, mas ainda espelhariam a ideia de que o salário do marido sustenta a família e o salário da mulher é exclusivamente para ela. Como resultado, é usual que o vínculo do trabalho feminino seja mais precário (meio horário, por exemplo), a remuneração menor (nos anos 90, era legal pagar menos para uma mulher que para um homem que ocupasse o mesmo cargo) e as mulheres ocupam postos de trabalho mais precários que os homens. Em outras palavras, as relações de trabalho no Japão espelhavam uma sociedade na qual a mulher adulta era criada para o casamento.

Outra característica que estudamos na nossa dissertação de mestrado é o papel exacerbado da vergonha da cultura japonesa. Não corresponder às expectativas, pode gerar muito sofrimento no Japão. Vez por outra vemos notícias de autoridades japonesas descobertas praticando corrupção, seguido de autoextermínio. 

Mais uma característica do povo japonês destacado pelo autor da matéria é o estoicismo, ou seja, o enfrentamento das dificuldades com tentativa de imperturbabilidade e uma aceitação resignada do que é visto como destino. Como consequência, os quadros de transtorno mental, sem tratamento, se agravam.

Uma última característica cultural que complica ainda mais a situação: "infelizmente a tendência atual é culpar a vítima", afirma uma professora de ciência política, Michiko Ueda.

Some-se a essa cultura os problemas da pandemia. Com o isolamento social, muitos negócios demitiram ou fecharam, e as mulheres sofreram mais o desemprego, seja porque tinham vínculos mais frágeis de trabalho (trabalho temporário ou de meio horário), seja porque trabalhavam em segmentos da economia muito atingidos, "como restaurantes, bares e hotéis". 

Algumas mulheres ficaram, então, sozinhas em casa, como mostram no artigo. Solidão, culpa, desesperança juntos, além de uma concepção de suicídio como saída honrosa, estão todos associados ao aumento do suicídio feminino na pandemia.

Por que estou escrevendo sobre o suicídio feminino no Japão em um blog sobre espiritismo? Inicialmente porque podemos orar por elas. Aprendemos com Yvonne Pereira a importância da prece para o suicida. 

Outra razão, é refletirmos sobre as pessoas que estão sozinhas e especialmente muitos espíritas que adotam uma posição estóica e não aceitam ajuda psicológica e psiquiátrica, acreditando, ingenuamente, que bastam os recursos do centro espírita para lidar com o sofrimento psíquico. Os passes e as reuniões são realmente úteis, assim como a relação de proximidade que nós espíritas estabelecemos entre nós, mas, na pandemia, e os centros espíritas respeitando as políticas de isolamento social, muitos desses recursos não ficaram acessíveis, principalmente aos grupos de risco.

Precisamos, então, usar dos recursos à distância nas casas espíritas, como muitas têm feito, e incentivar as pessoas a buscaram auxílio psicológico ou psiquiátrico quando começam a apresentar a ideação suicida (imaginar como suicidarem-se) e queixarem de não "dar conta" do peso dos conflitos em casa ou da solidão. O acolhimento fraterno das casas espíritas pode ser realizado por telefone, por exemplo. A prece direcionada às pessoas em sofrimento também pode ser feita. As reuniões mediúnicas, como já o dissemos antes, mesmo que reduzidas a encontro, prece, estudo e irradiação, empregando aplicativos, podem ser mantidas. Palestras ao vivo ("lives") com participação dos que assistem, mesmo que apenas através dos "chats", são um recurso importante contra a rotina e a solidão.

Faço um apelo para que os espíritas japoneses pensem em alguma forma de auxiliar os que se encontram sozinhos, presos em casa, em seu país. Muito pouco pode fazer a diferença entre suicídio e sobrevivência.

Precisamos também aceitar que somos frágeis, não somos "completistas", nem superiores aos nossos irmãos que apresentam outras crenças, e que podemos necessitar de "ajuda psi" para lidar com situações que nos tiram de nossa "zona de conforto" 

Meditemos sobre o que está ao nosso alcance e o que podemos fazer, além de aceitar nossas fragilidades e jamais evitar buscar ajuda profissional ou não quando necessário.

15.2.21

MEDIUNIDADE E TIPOS PSICOLÓGICOS

 

Figura 1: Windbridge Research Center é o nome do grupo dirigido por Beischel que faz pesquisas profissionais sobre mediunidade.

Hoje uma amiga psicóloga me perguntou sobre a relação entre mediunidade e psicologia. Lembrei de imediato das pesquisas de Julie Beischel. No livro “Among Mediuns”, ela publicou resultados de pesquisas com médiuns norte-americanos. No capítulo 5 ela apresenta resultados de estudos sobre como se dá o fenômeno mediúnico. Como ela deseja fazer pesquisa empírica (e não empiricista, ou sem teoria) ela aplica testes psicológicos nos médiuns em estudo.

Um teste muito conhecido nos Estados Unidos é o Myer-Briggs Type Indicator. Ele tem por base a teoria junguiana de tipos psicológicos. Após a aplicação o sujeito estudado é analisado a partir de quatro dicotomias:

1. Extraversão/Introversão (E/I) (ou  ele é extrovertido ou introvertido)

2. Que usa principalmente os sentidos / Que usa principalmente a intuição (S/N)

3. Que principalmente pensa / que principalmente usa os sentimentos (T/F)

4. Que emite julgamentos / que percebe o outro (sem julgar) (J/P)

Depois disso, segundo Beischel, se classifica o sujeito em um de 16 tipos:

1. ESTJ (extravertido, que usa os sentidos, que pensa e julga)

2. INFP (introvertido, que usa a intuição, que sente e que percebe)

E segue-se alternando as dicotomias até formar as 16 possíveis. Cada sujeito teria quatro características preferenciais.

Resultados Encontrados

1. 83% dos médiuns estudados foram categorizados como intuitivos (N) e que usa sentimentos (F). (apenas 16% da população norte-americana tem esse perfil).

2. Ela apelidou os médiuns de NFs

3. Os grupos profissionais com grande incidência de NFs nos Estados Unidos são: clérigos (55%) e professores de arte, teatro e música (54%)

4. Os profissionais que apresentam menor número de NFs são: policiais e investigadores (4% de NFs)

5. Ela entende que talvez isso explique o mau relacionamento entre forças armadas e policiais com os médiuns. “Os dois grupos simplesmente interagem psicologicamente com o mundo externo de formas inteiramente diferentes”. (isso nos leva a crer que os militares e policiais são predominantemente STs ou seja usam os sentidos e pensam, principalmente).

Infelizmente, ela não apresenta mais informações no seu livro. 

Você é médium? Quais seriam suas classificações nas quatro dicotomias?


Beischel, Julie. Among Mediuns: a scientist's quest for answers. Tucson-AZ: The Windbridge Institute, 2013.  (Acessível via Kindle)

2.2.21

QUANDO ACONTECEU O PRIMEIRO ENCONTRO DA LIGA DE HISTORIADORES E PESQUISADORES ESPÍRITAS (ENLIHPE)?

 

Eduardo Carvalho Monteiro

Sempre me fazem a seguinte pergunta: Quando aconteceu o primeiro Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo?

O que foi considerado “1º Enlihpe”, na verdade foi uma mesa realizada no primeiro Congresso Espírita Brasileiro, realizado em Goiânia nos dias 1 a 3 de outubro de 1999.

A mesa se chamava “Pesquisas históricas no movimento espírita”, e foi coordenada por Eduardo Carvalho Monteiro.

Ela teve como expositores do tema “Metodologia para pesquisas históricas: organização e conservação de dados históricos nas instituições espíritas” Washington Luiz Nogueira Fernandes e Luciano Klein Filho. O tema Memória do movimento espírita e valorização de vultos espíritas” foi apresentado por Geraldo Campetti Sobrinho. Por fim, foi realizado um intercâmbio de experiências, discussões e pesquisas. (Fonte: Reformador, agosto 1999, p. 25)

Como se pode ver, a Liga de Pesquisadores do Espiritismo tem por origem a preservação da história e da memória, sob a direção consequente do Eduardo. Foi posteriormente que se abriu para outras áreas do conhecimento, deixando de ser Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas e se tornando Liga de Pesquisadores do Espiritismo, mas isso é história para outra publicação.