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23.7.22

O PROBLEMA DO VOLUNTARIADO NO MUNDO E NAS CASAS ESPÍRITAS

 


Capa do Relatório de Atividades de 2021 do IDIS - Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social

"Nenhuma violação do direito autoral pretendida."


Jáder Sampaio

 

Um convite para participar de uma entrevista em canal televisivo fez-me rever as estatísticas atuais do trabalho voluntário no mundo.


WORLD GIVING INDEX - WGI (ÍNDICE MUNDIAL DE DOAÇÃO)

Encontrei uma instituição internacional, de sede inglesa (e em outros cinco países, inclusive Brasil), que se dedica, entre outros trabalhos, à manutenção do WGI, Índice Mundial de Doações. Essa instituição chama-se Fundação de Ajuda a Organizações de Caridade (CAF, que é a sigla de Charities Aid Foundation). No Brasil seu escritório foi registrado como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) com o nome de IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social.

O WGI é construído com informações obtidas em 114 países (mais de 90% dos países do mundo, segundo o impresso da CAF) pelo Instituto Gallup. Ele mensura três indicadores que formam um índice geral, utilizado para colocar os países em ordem.

Eles perguntam aos participantes se:

    (1) Ajudou a um estranho ou alguém que você não conhece e que necessita de ajuda.

(2) Doou dinheiro a uma instituição de caridade

(3) Voluntariou seu tempo a uma instituição

A metodologia da pesquisa busca se orientar por uma amostra representativa, feita em áreas urbanas e rurais, público civil não institucionalizado com idade superior a 14 anos, amostras maiores em países mais populosos, mais de 121 mil pessoas entrevistadas em 2020, colhidos por telefone, com nível de confiança de 95% e arredondamento com o critério de número inteiro mais alto. Vamos considerar que os resultados são representativos e que as medidas obtidas se ajustam em uma distribuição normal, ou seja, podemos considerá-las iguais às medidas da população, com uma faixa de erro.

Os resultados do Brasil em 2020 o situou em 68º lugar dentre os 114 países, com cerca de 15% da população brasileira tendo voluntariado seu tempo a uma instituição no ano da pesquisa.


WGI X PESQUISA DE VOLUNTARIADO NA PNAD - IBGE

Causa estranheza a diferença de valores entre os resultados do IBGE, que tem uma série de indicadores de voluntariado construída a partir de dados do PNAD (Plano Nacional de Amostras por domicílio). Em 2019, na 5ª visita o indicador acusou apenas 6,6% de pessoas prestando serviços voluntários na população brasileira como um todo. Apesar de semelhante o conceito de voluntário nas duas instituições, como são feitos há muitos anos com séries relativamente congruentes, deve haver alguma diferença metodológica não identificada.

O primeiro lugar da pesquisa de voluntários da CAF foi a Indonésia, que computa 60% da população com mais de 14 anos de idade prestando serviços voluntários. A Indonésia ficou em primeiro lugar geral da pesquisa em 2020 e primeiro lugar nos indicadores de Doação de dinheiro a instituições e de serviços voluntários.

Curiosamente, em último lugar da pesquisa vem o Japão, que ofereceu apenas 12% de serviços voluntário, estando muito próximo ao percentual apresentado pelo Brasil, que se considerava um país comprometido com o voluntariado.


ANÁLISE DE PAULA FABIANI PARA O BRASIL

Analisando os dados, a CEO do IDIS, Paula Fabiani, destacou o impacto das políticas de lockdown, para o controle da COVID nos índices de voluntariado, com destaque para Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Irlanda e Países Baixos que tiveram uma queda significativa de sua posição e sempre figuravam entre os dez primeiros países no ranking.

O Brasil teve seu recorde em “ajuda a um estranho” (63%), possivelmente em função da pandemia, como afirma Fabiani, mas posso arriscar que eventos como queimadas, enchentes e outros podem ter também auxiliado no impacto desse número. A doação a instituições de caridade também cresceu mais que nos cinco anos anteriores à pesquisa (31%).

O indicador de trabalho voluntário ficou inalterado com relação às pesquisas anteriores.


VOLUNTARIADO NAS CASAS ESPÍRITAS

Com o lockdown, a maioria dos centros espíritas fechou, segundo as instruções para o enfrentamento da COVID dadas por órgãos sanitários de Estado ou de Município. É natural que os quadros de pessoal tenham diminuído ou interrompido suas atividades de assistência e promoção social e que os trabalhadores que faziam a divulgação doutrinária à distância agora retomem atividades presenciais ou híbridas, e, por isso, haja a criação de novas funções e tarefas a serem feitas por voluntários ou profissionais nessa área. 

Vemos diversas casas espíritas em busca da reorganização dos quadros de voluntários, e, se possível, aprimorando essa relação com os trabalhadores contratados para atividades que demandam maior continuidade.


FONTE BIBLIOGRÁFICA.

CAF World Giving Index: 2021. A Global Pandemic Special Report. June 2021. Charities Aid Foundation, 2021. Disponível em https://www.idis.org.br/publicacoesidis/ranking-global-solidariedade-10-anos/ Acesso em 24/07/2022. 22 p.

[Observação: preencher nome, e-mail e organização e clicar em dowload. Texto em língua inglesa e gratuito.]

4.8.10

QUAL É O SENSO DO CENSO?




1. Espiritismo, Espiritista e Espírita


Qual é a minha identidade religiosa? Bem, sou espírita, adepto do Espiritismo. Kardecista? Mesa Branca? De mesa? Linha branca? Não, nada disso. Qualquer espírita sabe que o termo Espiritismo foi criado por Kardec em 1857 para evitar confusão com o termo Espiritualista ou Espiritualista Moderno, que era vigente em sua época e defendia algumas ideias divergentes do sistema filosófico que ele acabava de publicar. "Para ideias novas, palavras novas" dizia Kardec.


2. E no Brasil?


No Brasil, o Espiritismo chegou no século XIX, e com ele, uma nova palavra da língua portuguesa. Como país oficialmente católico e potencialmente sincrético, não demorou a começar a confusão de identidade entre o Espiritismo, o Candomblé e a futura Umbanda (se a memória não me engana, ela foi constituída no século XX).


João do Rio ficou famoso por uma série de artigos que ele publicou sobre as religiões no Brasil, que devem ter influenciado a legislação republicana contra o Espiritismo (na verdade, não seria necessária esta lei, como muitas que andam por aí, o legislador queria coibir atos de extorsão, e acabou atingindo as religiões mediúnicas como um todo). A legislação republicana (também escrevendo de memória, mas quem quiser um livro excelente sobre o tema, há "O Cuidado dos Mortos", de Emerson Giumbelli) foi questionada e surgiu uma pérola: o legislador explicou que sua intenção era atingir o "baixo espiritismo" e não o "alto espiritismo", o que não foi muito ouvido pela polícia...


Minha suspeita é que esse erro, em conjunto com a disposição sincrética do brasileiro, fez com que os membros dos cultos originados na África se identificassem com o termo espírita, de onde teriam surgido as Tendas Espiritas, e os nomes de organizações com o adjetivo espírita. É muito curioso, porque Orixás não são espíritos, mas divindades, segundo o Candomblé. Sei que existe o culto de eguns (almas dos mortos), mas são bastante restritos, mas para fugir da perseguição policial...


Na tentativa de distinguir as práticas religiosas, começaram a surgir os termos "linha branca", "centro de mesa" e outras expressões próprias de uma sábia população que sabe haver uma grande diferença entre o Espiritismo, o Candomblé e a Umbanda, e que tenta resolver o problema criado pelo legislador mal informado.


3. O Século XX

Pior que uma confusão de um legislador foi a uma campanha nos meios católicos contra o Espiritismo e os cultos de origem africana (leiam meu trabalho sobre a intolerância contra o Espiritismo no livro "Pesquisas sobre o Espiritismo no Brasil"). É um período de confrontos e debates, do qual muitos nomes do catolicismo e do Espiritismo ficaram famosos.


Com a Umbanda, no século XX, o problema da identidade se cronificou. Muitos umbandistas, a despeito da clara e correta posição da Federação Umbandista, se declaram espíritas.


4. O Problema do IBGE


Imaginem a dificuldade de se recensear no Brasil. Se um recenseador pergunta, qual é a sua religião, e o cidadão responde Espírita ou Espiritismo, o que ele está querendo dizer? Ele é adepto do Espiritismo, é adepto do Candomblé ou Umbandista? Não dá para saber.


Uma das soluções encontradas pelo IBGE foi criar as categorias Espiritismo: ramo kardecista e Espiritismo: ramo umbandista (para o desgosto de muitos adeptos do Candomblé).


Mais recentemente, com a parceria feita com o ISER (Instituto Superior de Estudos sobre a Religião, penso), tentou-se qualificar melhor as respostas ao Censo, que são muito mais confusas que este nosso quadro de referências. Recebi do IBGE uma lista com 33 páginas de denominações que as pessoas respondem ao CENSO no Brasil. (São mais de dois mil nomes!)


A solução foi tentar agrupar os nomes indicados pelos respondentes em categorias, e ficamos com a de número 610.


5. O que os espíritas (nós...) respondem ao Censo?


Para que não pareça que nós também não incorremos no erro de nos identificar de formas diversas, veja alguns exemplos de respostas que encontrei na categoria 610:

- Allan Kardec

- Amor e Caridade

- Amor e Verdade

- André Luiz

- Cardecismo (com a incômoda letra C...)

- Centro de mesa

- Centro Espírita Beneficente

- Centro Espírita Bezerra de Menezes

- Centro Espírita Luz da Humanidade

- Centro Espírita Redentor (vou ficar na letra C, e já saltei muitos termos)


E muitos outros termos, alguns até próprios de divergências do movimento espírita e de grupos que não consideramos espíritas, pelas divergências com o pensamento kardequiano.


6. Por que Kardecistas?


A FEB, na pessoa de seu presidente, recomendou que respondêssemos ao Censo com o incômodo termo Kardecista ou Kardecismo. Quem estuda o Espiritismo concorda que é uma palavra muito infeliz, porque o Espiritismo não se reduz à importante contribuição de Allan Kardec, e ele é o principal advogado do termo Espírita e de seu papel como um primeiro pensador da Doutrina Espírita.


Eu até arrepio em me identificar como Kardecista, especialmente porque quem responder Espiritismo, se houver respeito a esta classificação, será classificado na categoria 610, que somos nós mesmos.

7. O Problema de Informação no Movimento Espírita

Foi amplamente divulgado nos meios espíritas, que quem não se identificar como Kardecista será classificado com "sem religião".

A informação não procede. Recebi da Ceila um recorte do Manual do Recenseador 2010, que tem uma classificação breve das religiões brasileiras (afinal, não dá para ficar repetindo para o respondente 2000 designações), e ficou da seguinte forma:




Opões para a sua resposta ao CENSO 2010 do IBGE
Qual é a sua religião ou culto?
· Católica Apostolica Romana
· Católica Apstólica Brasileira
· Luterana Pentecostal
· Batista
· Assembleia de Deus
· Universal do Reino de Deus
· Congregação Cristã no Brasil
· Adentista do Sétimo Dia
· Cardecista
· Xintoismo
· Testemunhas de Jeová
· Candomblé
· Umbanda
· Budismo
· Israelita
· Maometana ou Islamita
· Esotérica

Para a pessoa que não professa qualquer religião registre "Sem religião". (Os grifos são meus)


Não procede, portanto, a informação que quem disser que sua religião é o Espiritismo, será classificado como Sem Religião. Quem disser que sua religião é o Espiritismo, será classificado no código 610 (que somos nós mesmos)


O IBGE omitiu o termo espírita, para evitar a seguinte dúvida no Censo: quem responder Espiritismo é adepto do Espiritismo mesmo ou é um adepto do Candomblé ou da Umbanda, identificando-se incorretamente?


Eles têm razão! (Por causa da confusão de termos no Brasil, e porque querem avaliar com precisão os adeptos das religiões brasileiras).


8. O que devemos responder, então?


Podemos responder Espiritismo ou Kardecismo, tanto faz para a finalidade do Censo. Ficaremos na mesma categoria e seremos contados corretamente.


Mas se eu ficar no modelo completo, vou responder: Espiritismo!