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16.5.22

O MOVIMENTO ESPÍRITA PAULISTA

O Movimento Espírita Paulista - Coordenação: Marco Milani pela USE Campinas 


Quatro pessoas que já ocuparam a presidência da União das Sociedades Espíritas de São Paulo fazem uma roda de conversa em que tratam dos desafios que enfrentaram durante suas gestões, as contribuições, o contexto atual da sociedade e das casas espíritas e os novos projetos e questões a serem tratadas pelos órgãos federativos espíritas em nível estadual no Brasil.

Um debate rico, com interlocutores qualificados e propostas instigantes. Um tema que geralmente não se trata nas reuniões públicas das casas espíritas por dizer respeito à gestão das federativas, que geralmente tratam mais com os dirigentes que com as casas em si, fornecem espaços de formação em geral, entre outras questões.

Destaca-se na discussão uma interrogação sobre os espaços híbridos no movimento espíritas (no sentido da mescla entre atividades presenciais e à distância).

Quase duas horas de uma conversa que os dirigentes espíritas deveriam ouvir e refletir.

 

7.5.20

COMO PREPARAR UM EXPOSITOR PARA A CASA ESPÍRITA?


Palestra de Raul Teixeira em Austin - 2010

Uma questão em aberto nas casas espíritas é a formação das pessoas que trabalham voluntariamente como expositores espíritas em reuniões públicas. Há muitos centros espíritas que organizam uma agenda de estudos diária, ou de diversas vezes ao dia, propõem títulos ou assuntos sobre os quais se deve falar e não consideram se têm ou não expositores preparados para a realização da tarefa. Os dirigentes das reuniões têm as seguintes opções: fazer eles mesmos as palestras, buscar fora do centro espírita ou identificar no centro espírita pessoas que gostam e têm facilidade para falar, para fazer as conferências.

Nesse verdadeiro “ensaio e erro”, de se convidar pessoas desconhecidas para fazer estudos, começam a acontecer os “acidentes de percurso”. Alguns dirigentes ainda consultam amigos estudiosos da doutrina espírita em busca de referências sobre os possíveis expositores, o que não deixa de ser um avanço, mas ao mesmo tempo é um risco, porque vejo muitos estudiosos que não assistem palestras nas casas espíritas e, por isso, não conhecem os “novos valores”, ou fazem juízo apenas por uma palestra ou um estudo que viram. Essa espécie de “telefone sem fio” deveria ser apenas um ponto a mais para identificar expositores talentosos ou promissores, mas se corre o risco de, diante de um dia infeliz, que qualquer um de nós tem, um potencial palestrante ser injuriado pela rede subterrânea.

Algumas instituições de Belo Horizonte-MG fizeram listas de expositores, mas não sei como foram escolhidos e como são atualizadas. Há listas com alguma sofisticação, nas quais se identifica os dias disponíveis e os assuntos de domínio do expositor. Embora úteis, sempre fui crítico dos expositores itinerantes, aqueles que falam em todos os lugares mas não são de lugar nenhum, que não têm outros vínculos com os que o assistem e, muitas vezes, nem em quem o convida. Nada contra ter convidados, eles deveriam ser a exceção e não a regra, sob o risco extremo de termos uma casa espírita formada exclusivamente por frequentadores e "captadores" de expositores, ou seja, onde ninguém está habilitado a ensinar o espiritismo.

Em nossa casa, durante algum tempo, os expositores que iam a público foram avaliados de forma anônima e individual por algumas pessoas que assistiam à reunião, eram reconhecidas por sua sensatez e nenhum extremismo, e que preenchiam um “check list” rápido de itens, podendo fazer comentários igualmente rápidos. Eu sempre queria o resultado coletivo dessas avaliações, sem identificação dos expositores, que me dava alguma informação sobre o que melhorar nesta tarefa, mas também esse instrumento é limitado, uma vez que atender os critérios de itens como pontualidade, por exemplo, não assegura, por si, um trabalho bem feito. E o número de itens enumerados, não assegura uma avaliação completa, compreensiva, que teria uma natureza qualitativa.

Vi também muitos cursos de “expositores espíritas”, que tinham por núcleo o ensino de “técnicas de oratória”, o ensino de didática, ou de estratégias de ensino-aprendizagem. Eles têm sua utilidade, desde que não queiram “formatar um expositor”. Há muitas formas válidas e diferentes entre si de expor ou ensinar o espiritismo, e muitas personalidades diferentes. Algumas pessoas sabem contar histórias, outras falam prendendo a atenção, algumas explicam com clareza, outras usam com maestria os recursos áudio visuais, algumas usam bem o humor em sua fala, outras dialogam bem com o público e há quem consiga usar técnicas de grupo em públicos de até cem pessoas, sem prejudicar o tempo. Uma coisa é certa: todos nós temos limitações. A essência desses cursos, além de dar sugestões de aperfeiçoamento, deveria explorar a identificação e desenvolvimento de competências dos participantes, para que eles se conheçam e façam melhor o que têm potencial para fazer bem. O mero estudo da técnica oratória ou didática não assegura o conteúdo. Pode-se falar tolices muito bem, e deixar as pessoas com a sensação de que passaram um momento ótimo, sem perceberem que aprenderam coisas esdrúxulas.

Outra coisa que me auxiliou nesse percurso foi a crítica de pessoas que eu respeitava, como estudiosos da doutrina e expositores experientes. Eles tiveram a caridade de me procurar em particular e expor pontos que eu poderia modificar ou melhorar. Algumas críticas se baseavam em uma forma muito pessoal de ver o trabalho de exposição, mas outras eram muito perceptivas e bem fundamentadas. Há o que conseguimos melhorar e o que não conseguimos, paciência.

Em um seminário que fiz recentemente, uma das participantes percebeu que minha esposa desempenhava esse papel, às vezes fazia sinais quase imperceptíveis de sugestões para o que eu falava ou como eu falava. Ela me procurou no intervalo e me disse, de forma amigável e bem humorada: 

- Ela é a sua “Joanna de Ângelis”, não é? Só que encarnada...

Juselma Coelho

Nas reuniões de quintas-feiras, dirigidas por Juselma Coelho em nossa casa, vi uma prática formadora muito interessante. Havia pessoas que frequentavam há muito tempo a reunião e que foram se sentindo à vontade com o grupo, a casa e a doutrina. Ela pedia que as pessoas lessem em casa um texto pequeno e o expusessem por quinze minutos, no início da reunião. Assim, em um lugar secundário, a pessoa ia desenvolvendo suas competências de expositor, protegida dos erros e do lugar central do estudo da noite.

Penso que todo espírita deveria ter uma visão do espiritismo como um todo. Conhecer as teorias que formam o espiritismo, sua fundamentação, os autores principais e até mesmo as polêmicas, sem se esquecer da história do espiritismo. Não dá para pensar em um expositor que não tenha esse tipo de conhecimento como um pré-requisito para a plena realização de sua tarefa. Como alguém vai expor algo que desconhece? Uma forma que a Federação Espírita Brasileira tem incentivado nas casas espíritas é o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita – ESDE e sua sequência, o Estudo Avançado da Doutrina Espírita - EADE. Penso que esse é um espaço interessante para se desenvolver competências de expositor, uma vez que é um lugar menos formal, com a presença de responsáveis pelo estudo, em que as pessoas podem preparar algo e apresentar, em um ambiente participativo. Aí cada um vai percebendo se a exposição espírita é uma atividade que as desafia, agrada e que podem fazer bem.

Vendo como a formação dos expositores espíritas é informal, e muitas vezes inexistente, passo a pensar como seria o futuro. Surgiram algumas faculdades oferecendo cursos de teologia espírita, embora todos saibamos esses cursos não se destinam a formar profissionais para um mercado, já que toda modalidade de ensino ligada ao espiritismo tem sido voluntária, pelo menos nos centros espíritas. Espero que não haja profissionalização desses trabalhadores, como no movimento espiritualista moderno dos países de língua inglesa, em que pese algumas iniciativas de seminários pagos de professores que tratam de temática espírita.  

Além das experiências citadas continua havendo um desafio para as instituições espíritas, e até mesmo diante de uma tendência de mudanças que hora acontecem, como a educação à distância e as novas tecnologias. Elas, ao mesmo tempo em que são capazes de levar ao mundo o trabalho de um estudioso local, acabam colocando milhares ou milhões de publicações, tornando-as de difícil acesso. Considerando que se constrói uma relação de confiança com um expositor com o tempo, é muito possível que um trabalho de qualidade fique na rede sendo acessado apenas por amigos e colegas, assim como livros que autores desconhecidos publicam. Outro problema também é preparar os expositores para essa nova mídia. Uma boa exposição feita presencialmente, pode ser inadequada a esse novo formato, porque a relação do “navegador” com as mídias é diferente da do assistente na sala ou auditório presencial, a começar do vínculo emocional e do comportamento esperado quando se está no meio de outras pessoas.

Como preparar os expositores então? Como desenvolver suas competências? Quais são suas competências e para quais contextos? O que deve conhecer um expositor para fazer seu trabalho de forma bem fundamentada? Estas perguntas continuam em aberto, espero que o texto, grande para um blog, seja um incentivo para pensarmos de forma mais substancial sobre a questão. Fale um pouco de sua experiência e contribua com o debate.

1.11.16

VAMOS?



Uma expressão muito usada por aqui, nas terras mineiras, é o vamos, sempre seguido de interrogação. Na linguagem oral, se usa também o “vamo” e o “vão”. É uma expressão muito poderosa por aqui.

As casas espíritas anunciam suas tarefas em público, coletivamente, mas via de regra, a maioria das pessoas ouve como se fosse algo estranho a elas, ou algo chato, como a hora do intervalo comercial da televisão aberta. Talvez uma ou duas pessoas, em um grupão de cem, preste atenção no recado e pense, no recesso de sua alma: será que eu vou?

Lembro-me quando era muito jovem, lá pelos 13 anos, e assistia as reuniões de mocidade no Célia Xavier. Muitos de nossos colegas e eu chegamos ao Célia Xavier a partir de um convite de amigo ou familiar. Vamos? Disseram um dia.

Estava no meio do grupo, quando convidaram para o que se chamava de encontro fraterno. Por aqui, é uma leitura de texto espírita com comentários, seguida de um momento de descontração, com música, "comes e bebes", etc. Eu ouvi o recado como se não fosse direcionado a mim. Depois de terminada a reunião, a coordenadora (Thelma Rodrigues) veio conversar diretamente comigo, e me deu um “vamos”:

- "Quero vê-lo lá amanhã!" Só depois dele, eu me enchi de coragem para pedir ao meu pai para ir. Tempos curiosos estes...

Quando fazia o trabalho de tese, onde estudei os voluntários de uma das unidades de nossa casa espírita, uma das perguntas que direcionava parcialmente a entrevista era que contassem como se tornaram voluntários. Sete dos oito voluntários foram mobilizados pelo canto sonoro do “vamos”. Apenas um deles ouviu um recado dado a toda gente (e a ninguém em especial) e foi procurar alguém para oferecer-se.

Em visita à Mansão do Caminho, vi voluntários fazendo as tarefas mais diferentes possíveis, e alguns deles me explicaram que ouviram o “vamos” (não sei como é esta expressão na Bahia) diretamente de Divaldo Franco. Alguns estavam aposentados e mudaram de cidade e domicílio para atender ao convite.

Lembro-me de um episódio envolvendo Eduardo Carvalho Monteiro, que sabendo de uma pessoa que passou a frequentar o grupo, disse ao amigo. 

– Está na hora de lhe fazer um convite! Ou então: 

- Esta pessoa merece receber um convite para o trabalho.

Quando vejo dirigentes de reunião, que fazem bem o papel de “figurão[1]”, mas nunca usam a profunda força do “vamos”, penso que corremos o risco de igrejificar as casas espíritas, de ter multidões achando muito lindas as reuniões e muito tranquilizantes os passes, mas que lá estão presentes da mesma forma que estariam em um programa, um cinema, uma festividade ou uma obrigação social. Não pretendem se imiscuir, fazer parte, tornar-se membro, apenas estar presente e usufruir.

O “vamos” demanda de quem usa, a capacidade íntima de ouvir a negativa, o “não posso”, o “não agora”, o bem mineiro “de jeito nenhum”, e outras formas equivalentes. 

O “vamos”, se pensarmos bem, dividiu o calendário ocidental. Foi empregado por Jesus diversas vezes, como no momento após a pesca no Tiberíades, quando ele convidou Pedro a ser “pescador de homens”. Era um “vamos” radical, que exigiu uma mudança profunda, afetando a profissão, a família, o futuro... Ele também foi usado pelo Mestre com o “jovem rico”[2], que, infelizmente, tinha muitas propriedades...






[1] Figurão, é um termo empregado por teóricos do comportamento organizacional, que tem por sentido principal representar a organização. Um dirigente pode desempenhar bem esta função, vestindo-se adequadamente, falando bem, agindo segundo as normas de conduta do grupo, mas não se torna um líder apenas com o desempenho deste tipo de função.

[2] Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. (Mateus, 19:21)

8.10.16

PROPAGANDA POLÍTICA EM CENTRO ESPÍRITA?



Véspera de eleições municipais. Na saída da reunião matutina de sábado, quando se levam os filhos para a evangelização, uma situação constrangedora. Pessoas estranhas ao grupo estão distribuindo envelopes fechados na porta do centro espírita.

- Uma mensagem linda de Eurípedes Barsanulfo para você! Dizia a panfletista. Leia com atenção!

Não era apenas uma mensagem de Eurípedes, psicografada por Suely C. Schubert em 1983, mas também um “santinho” eleitoral e uma carta aos espíritas em geral, falando da “crise do campo político no Brasil”, e sugerindo que em vez de deixar um oportunista ou ladrão ocupar o cargo, que se votasse em um dirigente afastado de seu cargo em centro espírita, para fazer campanha eleitoral, por um partido minoritário.

A responsável pelos panfletos disse a uma frequentadora:

- Nós somos iguais, somos espíritas!

Não sou capaz de descrever com precisão o que aconteceu, mas um dos pais, após tentar inutilmente explicar a todos que aquele ato nada tinha a ver com nosso centro espírita, e ser recebido com ouvidos de mercador da parte dos panfletistas, alterou-se.

- Está obsediado, disse a senhora que distribuía os envelopes. Sou médium e percebo os espíritos próximos a ele. Deveria ser levado a uma reunião de desobsessão...

Uma das coordenadoras da reunião pediram que eles não ficassem na porta do centro, mas eles apenas se afastaram um pouco e continuaram panfletando.
O mais curioso foi o inusitado do acontecimento. Estou há décadas nesta casa espírita e não me recordo de um assédio desses em período eleitoral. Que pensar da situação?

A lei eleitoral proíbe a propaganda eleitoral em templos religiosos (Resolução nº 23.457, de 15 de dezembro de 2015) entendendo-os como bens de uso comum (Código Civil). Pelo que li nos jornais, os arredores de templos religiosos, como se configurou a propaganda, foram proibidos pelo Ministério Público de Minas Gerais até 05 de julho (http://coad.jusbrasil.com.br/noticias/2208071/igreja-evangelica-lei-proibe-propaganda-em-templos-religiosos) mas não encontrei proibição explícita após esta data e a lei é passível de interpretação.

Ficou claro que a distribuição visava às pessoas por serem espíritas, e que houve um mascaramento da propaganda política sob a forma de mensagem, ou seja, apresentava-se aos frequentadores da nossa casa a distribuição gratuita de um texto psicografado por médium e espírito respeitáveis, mas a intenção principal era apresentar um candidato a vereador e obter votos.

Na carta e no panfleto se vê que a plataforma do candidato a vereador apresenta apenas que ele é um espírita, boa pessoa, que pratica caridade. Qual é a proposta de trabalho dele? Como se posiciona ante os principais problemas e projetos em curso do legislativo municipal? Que exigências o partido faz de seus filiados e por que se filiou ao seu partido? Nem uma palavra.

A questão que mobiliza a candidatura é apenas que ele não se deixará corromper individualmente, o que parece importante, mas é muito pouco em matéria de política.


Penso que dizer-se espírita não qualifica um candidato, e ainda acho que trazer os problemas dos partidos políticos (o que não é o mesmo que problemas sociais) para a esfera dos centros espíritas, traz consigo o risco da manipulação, da divisão entre os membros a partir de ideias políticas, o conflito externo e apaixonado das legendas, o risco do assédio político na esfera individual das microrrelações nas sociedades espíritas e o jogo dos interesses que costumam atrair poderes econômicos e partidários, às vezes meramente instrumentais. 

19.6.15

DISCURSO VAZIO




Quando estudava em São Paulo, navegava muito pela internet à noite, após as aulas e o cansaço das leituras, e atraiam-me os grupos de discussão de temática espírita.

Recordo-me de um participante em especial que escrevia um fraseado todo emocional, repleto de apelos e metáforas, mas vazio de conhecimento. Parecia-me um arroubo sem significado, mas eu percebia que os membros do grupo se interessavam pelas postagens.

Uma amiga que fiquei conhecendo e que eventualmente encontrava no grupo, comentou-me.

- Você viu?
- Sim, por que?
- Nossa! É um espírito evoluído, não acha?

Não me lembro do que respondi, mas não achava. Anos de ambiente acadêmico treinaram-me em examinar frase a frase o sentido do que é dito em busca de inconsistências, imprecisões, entre outros problemas. Mais importante que pequenos pontos problemáticos sempre foi avaliar a contribuição dos trabalhos como um todo, sua consistência argumentativa e metodológica, se não se tratava apenas de um ajuntamento de citações sem sentido.

Um belo discurso sem conteúdo consistente assemelha-se a uma caixa de presente ricamente embrulhada, mas vazia. Causa uma grande impressão, seguida de uma decepção, quando aberta.

Talvez nossas reuniões públicas tenham criado este desvio. As pessoas assentam-se para ouvir uma preleção de uma hora, de forma passiva. O expositor, preocupado com o que vai falar neste tempo, prepara uma espécie de colcha de retalhos, entremeados em exortações com uma linguagem poética, mas, infelizmente, vazias de sentido, sem conexão com a realidade, com algumas histórias interessantes, que descansam a audiência do amontoado de frases. Um simulacro de erudição.

Quando se pergunta aos que assistiram a palestra qual foi o assunto e o que foi discutido, as pessoas respondem: - Não sei ao certo, mas foi tão bonito!

Recomendo a atenção de dirigentes, coordenadores e dos espíritas em geral, não para ficar obsessivamente à cata de pequenos erros nas exposições dos companheiros de doutrina, vigiando os gracejos, nem ficar vigiando o horário das reuniões com precisão de segundos e outras pequenezas. Estejamos prontos para um trabalho mais difícil, da análise da exposição como um todo, de seu papel e contribuição para o público, para que o discurso vazio não se torne a tônica do nosso trabalho.


26.3.15

RELAÇÃO ENTRE CENTROS ESPÍRITAS E ÓRGÃOS DO ESTADO




Desde Kardec, na sua "Constituição Transitória do Espiritismo" (1868), encontramos preocupações com a ação organizada dos espíritas na sociedade. O fundador francês pensava em uma comissão central que, entre muitas ações de ordem cultural (museu, biblioteca, etc.), também teria por objetivos a construção de um dispensário (semelhante aos nossos postos de saúde atuais), um asilo e  uma caixa de socorros e previdência. Eles seriam construídos a partir da doação de recursos, que criariam um fundo financeiro e o rendimento deste seria utilizado para a manutenção dos órgãos sociais. 

No Brasil a história do movimento espírita está muito marcada com a construção de instituições de saúde, assistência social, cuidado e educação. Geralmente são laicas e públicas e voltadas à população de baixa renda, ao contrário do que pensa o senso comum, que crê terem por objetivo a conversão das pessoas, talvez por associarem fantasiosamente nossas instituições com igrejas que têm por missão a conversão. 

Aos poucos o legislador no Brasil foi percebendo a necessidade de incentivar-se este tipo de iniciativas sociais, e de tomar cuidados para que não haja desvio de recursos por estas instituições. Os três poderes têm recursos e interesses na manutenção de instituições de ação social, porque é mais fácil e econômico apoiar o que já existe que construir infra-estrutura e aumentar os quadros de servidores públicos do Estado, hoje limitados pela lei de responsabilidade social dos gestores.

Há diversas formas de se conseguir apoio do Estado: o reconhecimento da utilidade pública (municipal, estadual e federal) assegura imunidade (a proibição do Estado cobrar impostos) e diversas isenções e reduções de taxas de serviços. Os três poderes podem dar recursos financeiros através de subvenções, convênios e, mais recentemente, termos de parceria (que são convênios simplificados, mas exigem que a organização se qualifique como organização da sociedade civil de interesse público - OSCIP).

Com a formalização destes instrumentos de gestão em nossa sociedade, houve pessoas desonestas que enxergaram nesta possibilidade um caminho de obtenção ilícita de recursos. Isso criou um grande alvoroço no legislativo, cuja fala informal e inconsequente de nossos representantes criou o termo "pilantropia", o que aumentou não apenas os cuidados do Estado com seu controle,  mas criou uma "aura" preconceituosa em torno das parcerias entre organizações do terceiro setor e os órgãos do estado.

No movimento espírita (pelo menos no mineiro) a relação com os órgãos do estado sempre foi vista com muita cautela, porque os dirigentes se preocupam em depender do estado e, de repente, ter o repasse de recursos atrasado ou circunstanciado, ou ainda ter que criar toda uma área-meio, burocrática, para atender as exigências dos órgãos parceiros. Houve sempre uma preocupação saudável em deixar as instituições espíritas à larga dos compromissos políticos partidários, ou pior, "devendo favores" a candidatos, que costumam "cobrar" em votos, no período eleitoral.

Cautelas à parte, penso que nas últimas décadas houve uma proximidade maior com o poder público, mesmo porque, o Estado Brasileiro foi assumindo responsabilidades sociais. No caso das creches, por exemplo, elas se tornaram uma atribuição das prefeituras, mas em uma cidade grande como Belo Horizonte, não há como construir uma rede de creches que atenda a centenas de milhares de crianças em idade pré-escolar em curto espaço de tempo. Da mesma forma, fica muito caro às sociedades espíritas a manutenção de educação infantil de qualidade, atendendo a todos os avanços de que foram sendo objeto. 

Precisamos conhecer mais e melhor estas iniciativas, para viabilizarmos honestamente um trabalho de promoção social que efetivamente dê resultados nas comunidades em que nos encontramos, até que o Estado Brasileiro seja capaz de cumprir seu papel sem necessitar da parceria com o terceiro setor, o que não parece ser algo viável nas próximas décadas.


15.2.14

ALLAN KARDEC E OS DIFERENTES ESPÍRITAS.


Diferentes tipos de grãos

Quando um autor desenvolve uma tipologia de grupos de pessoas, não há dúvidas que ele deseja destacar as diferenças entre elas. No caso do movimento espírita, uma das primeiras tipologias que lemos está no capítulo Do Método em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.

Proselitismo e incredulidade

Kardec começa o capítulo discutindo o proselitismo, que considera natural, e propõe que se faça pela instrução. Aqui ele desenvolve uma opinião muito interessante, da qual geralmente não damos muita atenção: ele considera que tentar convencer materialistas, pessoas que não acreditam na existência do espírito, via de regra, é perda de tempo.

Ele analisa os que chamou de “materialistas por sistema”, definindo-os como quem considera o homem como “simples máquina, que funciona enquanto está montada, que se desarranja e de que, após a morte, só resta a carcaça”. Se aceitarmos variações sobre este tema, temos nos dias de hoje os que se intitulam céticos, e se consideram adeptos das ciências, negando sistematicamente qualquer avanço que se faça na pesquisa do espírito.

“Com tal gente nada há o que fazer: ninguém mesmo deve se deixar iludir pelo falso tom de sinceridade dos que dizem: fazei que eu veja e acreditarei. Outros são mais francos e dizem sem rebuço: ainda que eu visse, não acreditaria.”

Kardec conhecia o lado humano dos supostos investigadores: “A maioria deles se obstina por orgulho na opinião que professa”.

Tipos de espíritas

Se passarmos as páginas vemos que ele se voltou ao movimento espírita de sua época. E analisando os que se interessavam pela proposta espírita, estabeleceu alguns tipos ou classes.

Ele começa pelos que, desconhecendo a proposta espírita, não a tendo estudado, se identificam com os grandes princípios da doutrina. Ele os chama de espíritas sem o saberem. Hoje há um grande número de pessoas que simpatizam-se com alguns princípios nucleares da proposta espírita, como a existência de Deus, a imortalidade da alma, a mediunidade, a reencarnação, a ética racional e humanista, cristã em seus princípios. Eles não se identificam como espíritas, mas se sentem confortáveis quando em contato com nossa literatura e, eventualmente, em nossas reuniões.

Entre os que estudaram, ele identificou os que ficam apenas na esfera das manifestações espirituais. Kardec os chamou de espíritas experimentadores. Ele tirou o termo experimentador de “experiência”, o conhecimento oriundo geralmente da observação, dos órgãos dos sentidos. Mais do que meros curiosos, que ainda vemos chegar nos centros espíritas, eles são pessoas que estudam e dedicam-se ao espiritismo como um conhecimento de fenômenos espirituais, e não como uma abordagem de conhecimento do ser humano. Kardec não condena o estudo dos fenômenos espirituais, quando cria este tipo-ideal, ele critica que os espíritas se mantenham exclusivamente nesta esfera de investigação ou estudo.

O próximo tipo que ele propôs são os espíritas imperfeitos. Estes estenderam seus estudos à esfera da filosofia espírita e da ética espírita. Eles sabem que os fenômenos são um dos pilares de uma nova visão de mundo, que tem uma proposta para os homens. Sabem que o estudo da vida após a morte não é mero diletantismo, mas desvela uma nova forma de ver as pessoas, seus relacionamentos, a forma de lidar com seus sentimentos, e entende a necessidade de se ter uma ação e uma vivência interior coerente com esta nova realidade. No entanto, deixam para lá. Vivem suas vidas como se nada disso fosse real. Em linguagem cristã, são homens e mulheres do mundo, dos valores encontrados e aceitos na trama social em que se encontram. Não se acham convencidos realmente da necessidade de transformarem-se.  Hoje em dia eles se contam aos milhões, em meio aos que se auto-intitulam espíritas ou apenas simpatizantes.

O terceiro tipo que ele propôs, é muito interessante, se analisado à luz da história do cristianismo. Além do estudo dos fenômenos e da filosofia e ética espíritas, eles se acham convencidos da importância de se ter uma ação diferente no mundo. Esta ação é ao mesmo tempo, social e psicológica. Valorizam a caridade (que em outros momentos de sua obra Kardec distingue do assistencialismo, e categoriza em material e moral). Eles encaram a existência terrena como “prova passageira”. 

Kardec os chama de “verdadeiros espíritas” ou “espíritas cristãos”. É curioso que Kardec não faz qualquer paralelo com os santos, do movimento cristão. Ele considera os espíritas cristãos como pessoas com suas lutas interiores e exteriores, não como um grupo de pessoas de vida exemplar, capazes de enfrentar o martírio, que apresentam virtudes heroicas e que são capazes de produzir milagres.  Uma leitura do capítulo “Sede Perfeitos”, em O Evangelho segundo o Espiritismo, é bem esclarecedor.

Por fim, Allan Kardec fala dos espíritas exaltados. Eles são uma mistura de ingenuidade e entusiasmo, uma forma de fanatismo. Eles acolhem de forma acrítica o que dizem os médiuns, e apesar da boa-fé, são ingênuos. Eles também povoam o movimento espírita e fazem muitos estragos quando se tornam divulgadores do espiritismo, de alguma forma, porque projetam para as pessoas uma imagem muito diferenciada da proposta racional espírita.


Outros autores fizeram tipologias de espíritas em outros momentos históricos, como é o caso de Leopoldo Machado. Espero poder retornar ao tema no futuro, porque o texto já está bem extenso.

20.7.12

BEZERRA DE MENEZES RECOMENDANDO COMPRA DE LIVROS?



Qual é o limite das responsabilidades entre encarnados e desencarnados? Os assuntos da administração do movimento espírita, de forma geral, são de responsabilidade dos espíritas. Responsabilidade significa escolha, decisão e arcar com os resultados das escolhas.

As orientações espirituais, via de regra, envolvem estímulo, reserva, reflexões morais, sempre respeitando as escolhas de pessoas e grupos. Espíritos que se tornam diretivos da vida de terceiros nos deixam preocupados sobre sua condição. Já vi alguma posição mais assertiva ante consulta e em particular (dentro de um grupo).

Recebi por estes dias uma notícia de uma confraternização na qual um médium dá uma comunicação, na qual Bezerra de Menezes sugere que se estude um livro do próprio médium como tema central do próximo evento, com a renda do livro voltada "à região e à divulgação do Espiritismo". Difícil crer que Bezerra de Menezes se prestasse à condição de garoto propaganda, especialmente se considerarmos a situação do evento, no qual as pessoas estão emocionadas e estabeleceu-se um vínculo de simpatia com os expositores.

Lembrei-me de uma situação muito singular narrada por Camille Flammarion, no livro "O Desconhecido e os problemas psíquicos", no capítulo intitulado "Os Crédulos". Ele conta a história de um senhor que busca uma médium em busca de notícias da esposa desencarnada. Tratava-se de alguém "bem apessoado" e com recursos financeiros, que talvez seria considerado um "bom partido" nos dias de hoje.

A médium disse ao consulente que a esposa estava bem, mas muito preocupada com ele, porque estava sozinho e que deveria procurar uma nova companheira, quem sabe a própria médium.....

30.6.12

O ESPIRITISMO EM BELO HORIZONTE: MOVIMENTO OU MOVIMENTAÇÃO?


Foto: Vista Aérea de Belo Horizonte - MG

Lendo sobre a história da FEB e o papel de Bezerra de Menezes no movimento espírita, que foi muito descaracterizada sob a imagem mítica do filantropo (que não tenho dúvida que ele foi) e do apaziguador, fiquei a meditar sobre um ponto sobre o qual ele fundou sua ação no movimento: a organização da divulgação do Espiritismo. Dispersas, as poucas sociedades formais disputavam entre si por pontos menores, entrando em conflito interno por assuntos até relevantes, mas deixando que as diferenças entre si transformassem em um obstáculo para uma tarefa claramente superior: levar à sociedade brasileira uma visão mais clara do espiritismo, que vinha sendo atacado por segmentos organizados, como os médicos, os católicos e algumas elites conservadoras, através de legislações e ações de governo. Os conflitos também impediam algo fundamental: a ação coordenada e conjunta das instituições espíritas.

Quando reflito sobre o movimento belorizontino de hoje, continuo surpreso com a conformação que ele tomou com o passar dos anos. A política geral dos órgãos federativos no Brasil sempre preservou a necessária autonomia das sociedades espíritas. Houve tempos de orientações mais diretivas, mas desconheço qualquer ação no sentido da fiscalização das atividades realizadas intramuros de cada casa, tão fantasiosamente temidas pelos desinformados. Apesar disso, são poucas as ações organizadas no sentido de aproximarem-se as associações, apesar da quantidade imensa de eventos, ações de captação de recursos para as obras, iniciativas ligadas à arte, palestras, seminários e outros.

Parece que as iniciativas dos grupos concorrem com as iniciativas do movimento espírita. Batem cabeça. Fazem mais do mesmo, sem qualquer diferença. E a falta de uma limitação clara do público-alvo, assim como de compromissos entre lideranças, concorre para esta transformação do movimento em movimentação. As iniciativas são, geralmente, individuais, projetos de pessoas e não projetos coletivos. Há sempre uma liderança com um sonho pessoal, e escasseiam lideranças e trabalhadores para iniciativas articuladas das casas espíritas, o verdadeiro papel dos órgãos federativos e das casas de grande porte.

Penso que a iniciativa mais próxima desta integração das casas, não através de códigos de funcionamento, mas através de atividades conjuntas organizadas, com objetivos traçados com base nas necessidades e interesses comuns, na capital mineira é a realização das Confraternizações de Mocidades Espíritas de Belo Horizonte - COMEBHs, cuja separação setorial comprometeu a capacidade de aproximar trabalhadores jovens, futuras lideranças de sociedades espíritas diferenciadas. Vejo também um esforço organizado no movimento de evangelização infantil, mas os eventos são mais de formação que de aperfeiçoamento e reflexão. Espero não estar sendo injusto com outras iniciativas.

Um sintoma da fragilidade federativa é a falta de órgãos de comunicações que atinjam ao movimento. Pergunte aos frequentadores, trabalhadores e dirigentes de sua casa: qual é a revista, ou mídia eletrônica voltada à divulgação do que acontece em BH que eles lêem? Mesmo os mais estudiosos parecem focalizar seus interesses em livros de conteúdo doutrinário (ou nem tanto), mas desconhecem as iniciativas coletivas (será que existem ou são apenas uma teimosia de pequenos grupos organizados nos órgãos que tentam atender e organizar as necessidades das associações como um todo?)

Esta multiplicidade de eventos abertos a todos, mas não voltados a ninguém, fez desaparecer pequenos gestos que encontramos ainda nos grupos do interior mineiro: o envio de representantes das casas espíritas em encontros de sociedades espíritas, a realização de atividades conjuntas para o fortalecimento das casas locais, o envio de correspondências formais das lideranças justificando ausências, ou seja, estas pequenas considerações e o diálogo que faz o todo ser mais que a justaposição das partes. Estas pequenas gentilezas, em meu tempo, eram uma espécie de obrigação, que parece ter ficado fora de moda com o tempo.

Outro fenômeno que incomoda muito é a banalização da figura do expositor. Talvez seja um efeito indesejado do planejamento tipo “rolo compressor” dos estudos nas associações. Perguntemos aos associados: quem gostaríamos de assistir nas casas espíritas, porque trarão contribuições originais, incentivarão as atividades, nos trarão conhecimentos úteis e relevantes? Quem nos faria sair da rotina semanal da reunião, passe, tarefa, que incentivaria o encontro dos trabalhadores de grupos diferentes, que nos faria sair motivados e reflexivos da casa espírita? Quem é um estudioso com domínio diferenciado de um determinado tema ou atividade? Isto parece estar desaparecendo. Lembro dos tempos de juventude, quando receber Divaldo Franco, Raul Teixeira, Honório Abreu, Jorge Andréa dos Santos, era um desejo e uma alegria. Lembro de ter viajado para o interior em busca dos estudos de Deolindo Amorim, que após muitos anos pôde vir a Minas Gerais. Recordo-me das propostas instigantes de revisão da assistência social apresentadas pelo Dr. Mário Barbosa. Eram nomes de primeira linha que não apenas ouvíamos, mas líamos com avidez e interesse.

Esta autonomia individualista e a falta de cuidado com os órgãos federativos e representativos do movimento geram eleições esvaziadas, grupos de trabalho sem respaldo, e, o pior, a falta de significado real do esforço de construção coletiva do espiritismo na mente dos frequentadores. Ouvi de uma liderança importante da casa que frequento que os órgãos federativos são “sopas de letrinhas”. E não posso ficar irritado com tamanha franqueza, tenho que refletir como foi que a casa que frequento e os órgãos que a representam deixaram de ser membros de um trabalho conjunto para se transformar no “lugar da missa”, um espaço geográfico que acostumamos a frequentar semanalmente, tomar o passe, ouvir uma palestra ou participar de uma reunião mediúnica, fazer uma tarefa assistencial e voltar para casa.

4.7.10

SOCIEDADE NOVA, IDEIAS NOVAS PARA O MOVIMENTO ESPÍRITA


Recebi a notícia acima do jornal Momento Espírita (Bauru - no. 7, 2010) , na coluna de Lina Giacheti.

Hoje temos nas cidades de médio e grande porte um grande número de automóveis, inclusive dos frequentadores de casas espíritas. Todos temos que lavá-los e muitos de nós pagamos por este serviço, que costuma consumir o nosso tempo.

Ao mesmo tempo, a integração do jovem no movimento espírita envolve o estudo, a integração na casa, mas também a convivência do jovem com o jovem.

Fiquei pensando sobre a viabilidade de se fazer uma tarefa para os jovens, com base na lavagem dos carros, no espaço das sociedades espíritas, enquanto os trabalhadores e frequentadores fazem suas tarefas e assistem às reuniões.

Se eu fosse dirigente, retiradas as despesas com os custos da tarefa (água, material de limpeza, etc.) direcionaria parte deste recursos para a promoção social e parte dele para a ações culturais (bibliotecas, promoção de eventos, custeio de expositores de outros lugares, etc.) e não o utilizaria para as despesas fixas da sociedade espírita.

Se eu fosse dirigente de grupos de mocidade, aproveitaria para realizar a integração dos jovens, apresentar os novatos, trabalhar com todos a convivência cristã e, cá entre nós, seria um trabalho bem divertido em conjunto. Os jovens precisariam ser treinados para realizar a atividade, para que a limpeza ficasse com boa qualidade. Assim como a campanha do quilo, é uma boa oportunidade para distribuir mensagens aos transeuntes e "clientes".

Não pensei ainda nas implicações legais, mas todos assinariam o termo de voluntariado, os pais dos menores (com 16 anos ou mais) também, e como não há distribuição de lucros, empregados nem patrões, seria uma atividade de arrecadação de fundos para sociedades sem fins lucrativos, de preferência com utilidade pública.

O maior problema é conseguir um espaço adequado à atividade junto às sociedades espíritas.

Gostaria de ouvir pessoas da área de advocacia, juízes e outros profissionais do direito sobre esta ideia, assim como servidores públicos ligados à receita e à fiscalização.

31.1.10

COMO SE FORMA UM ORADOR ESPÍRITA?

Figura 1: Professora ensinando
Jáder Sampaio


Pode-se instruir uma pessoa em técnicas de oratória, no uso de recursos audio-visuais, na preparação de discursos e palestras, através de cursos de curta e média duração. O domínio destes conhecimentos, entretanto, não forma um orador espírita.


Pode-se incentivar e motivar as pessoas à leitura de livros espíritas, o que amplia seus horizontes culturais, mas isto apenas não forma um orador espírita.


Pode-se sensibilizar o frequentador a participar de estudo sistematizado da doutrina espírita, de ciclos de estudo aprofundados, de eventos e encontros, mas a presença física em espaços de informação e diálogo isolados não forma um orador espírita.


Pode-se divulgar as bibliotecas e as livrarias espíritas, recomendar a participação em clubes do livro espírita, facilitar o acesso ao livro espírita, mas a mera posse e acesso aos livros não habilita ninguém à oratória espírita.


Pode-se destacar o valor de bons expositores. Mostrar os méritos de um trabalho bem feito, admirar a dedicação e o domínio do conteúdo doutrinário além da capacidade de dialogar e explicar de terceiros, mas a existência de exemplos não é suficiente para preparar um orador espírita.


Pode-se oportunizar o contato à exposição, abrir inicialmente quinze minutos para uma pequena fala nas reuniões, aproximar alguém com conhecimento e potencial, mas sem experiência, de expositores já amadurecidos para o intercâmbio formador, mas a oportunidade da fala e da troca de experiências, em si, não formam um orador espírita.


Pode-se criar espaços de crítica aos trabalhos realizados, fazer pesquisas rápidas junto aos assistentes das palestras, pedir que pessoas experientes assistam e comentem em particular os trabalhos realizados, encaminhar observações e sugestões para os oradores, mas a avaliação por si só não forma um orador.


Pode-se incentivar os oradores a engajarem-se em frentes de trabalho, a viver aquilo que dizem que os outros façam, a refletir sobre sua conduta e sobre sua vida, tendo por referência a proposta espírita, mas a auto-análise e o voluntariado apenas, não formam um orador espírita.


Pode-se sugerir que as pessoas não usem apenas seu cérebro ou seu coração na preparação de seus trabalhos, que articulem uma comunicação elaborada com as necessidades humanas, que se sensibilizem com os problemas e dificuldades da existência humana, mas a empatia apenas não forma um orador espírita.


Pode-se criar um espaço para a poesia, para a arte, para o belo e envolver a pessoa na estética, na sensibilidade artística, na capacidade de decodificar a mensagem da forma, mas isto apenas não forma um orador espírita.


Pode-se convidar o iniciante à dedicação, sensibilizá-lo à necessidade de preparação, de amadurecimento do que falará, pode-se despertá-lo para as consequencias daquilo que propõe ou diz, mas o empenho por si só não forma um orador.


Pode-se então fazer todas estas coisas e colocá-las à disposição dos interessados, e tudo isso junto, criará oportunidades de instrução, de auto-desenvolvimento, de aquisição de experiência, de vivência... Ainda assim, a formação do orador se dará na perseverança do interessado e no contínuo aprimoramento que ele empregue nesta nobre arte.

13.4.08

Um Conto para Você Refletir


O Martírio de Antônio


Jáder Sampaio

(Publicado originalmente no jornal "Correio Fraterno")

Antônio chegou jovem à casa espírita. Chegou e ficou. Na verdade, encantou-se.
Gostava dos outros jovens que o tratavam com respeito e alegria, gostava das discussões nas reuniões de estudo, gostava do clima de fraternidade que imperava entre os membros mais antigos e gostava das tarefas e ocupações que eram mantidos em sua sociedade espírita.
Em meio a tanto encantamento, não havia quem o retirasse do Centro Espírita. Participava das reuniões públicas, das atividades assistenciais, do passe, das campanhas, sempre com aquele jeito jovial e cativante, ao mesmo tempo responsável, que tanto cativava a todos os membros da comunidade.
Antônio ia aos eventos e encontros, lia os romances, estudava os livros e não demorou a ser convidado para fazer palestras, o que o deixava com um enorme contentamento interno, uma sensação de que estava crescendo e desenvolvendo-se na comunidade que escolheu.
Com o destaque e a simpatia, começaram a vir os convites. Convite para evangelizar as crianças, convite para coordenar a campanha do quilo, convite para dirigir uma reunião, convite para participar da diretoria como secretário, convite para fazer palestras em outras casas espíritas...
Ainda jovem, Antônio perdeu-se no encantamento de ser querido, de ser demandado e só respondia sim, sim, às pessoas a quem admirava e a quem temia desapontar.
Mais algum tempo e cursos, e Antônio estava em uma reunião mediúnica, verificando, quem sabe, se teria alguma sensibilidade mediúnica, aplicando passes nos médiuns, acompanhando ainda entusiasmado os diálogos intimistas e lúcidos que os membros mais experientes estabeleciam com os espíritos nas mais diversas condições.
Tão boa era a comunidade espírita que Antônio não percebeu que mais e mais se dedicava às tarefas espíritas e mais ainda ficava ausente de suas obrigações em outros lugares.
- Ficou fanático! Dizia desconsolada a mãe de Antônio que sentia a sua falta em casa e nos eventos familiares. - Sai às vezes cedo e só volta tarde da noite! Parece até um hóspede na sua própria casa.
- Ficou irresponsável! Trovejava o pai. Já não é mais aquele aluno exemplar que sempre foi na escola. O que será dele no futuro?
- Está em lua de mel com o Espiritismo, dizia uma tia experiente que freqüentava o grupo. Passada esta fase vai cair em si e equilibrar-se.
- Parece cansado, diziam os professores, que percebiam a queda de rendimento do aluno. Quem sabe não está exagerando com as baladas, comentavam maldosamente.
Ouvindo as queixas, Antônio era só dedicação. Tentava convencer a mãe que estava cumprindo com as suas responsabilidades, aumentou o tempo e o esforço com os estudos para que o pai e os professores não se desapontassem com ele e, a todo custo, queria mostrar para a tia que sua dedicação ao centro não era apenas “fogo de palha”.
Vieram as primeiras decepções, alguns comentários em boca pequena no Centro Espírita sobre a vaidade, algumas desaprovações sobre um ou outro conteúdo de suas palestras, a insatisfação de alguém diante de uma decisão que ele havia tomado com relação à reunião que dirigia, a mediunidade tão desejada que não se manifestava entre suas faculdades...
- É preciso perdoar, repetia o jovem para si mesmo, numa tentativa superior às suas forças para não cair em prantos. É preciso continuar trabalhando, não importam os revezes.
Estudioso, mas auto-suficiente, Antônio nunca procurava a opinião dos mais experientes, por julgar tratar-se de uma fraqueza. “Deus dá a prova conforme a capacidade do discípulo”, repetia continuadamente.
Com o passar do tempo, começou a mudar o humor e já não apresentava o mesmo brilho nos olhos. As palestras e leituras pareciam ser repetições eternas de algo que ele já sabia, as atividades o massacravam pela rotina, o que antes era plena satisfação, tornou-se uma obrigação cada dia mais pesada, não via muito gosto nas conversas e debates sobre temas polêmicos da Doutrina que antes o mobilizavam tanto. As comunicações dos espíritos em sua reunião não lhe diziam respeito, eram sempre vistas como dirigidas para os outros.
- Talvez, se Antônio tivesse uma namorada! Pensava a mãe, inquieta com o estado de alma do filho. Pensando bem, será que ele não... e balançava a cabeça, tentando evitar a conclusão do raciocínio.
As tarefas da escola pareciam insuportáveis, ou melhor, irrealizáveis. As tarefas do centro eram cumpridas em empreitadas rápidas, para não dizer que eram mal feitas. Não havia tempo para preparar, para avaliar nem gosto em realizar.
Com três anos de doutrina, Antônio parecia desencantado, cansado. Talvez não tivesse mesmo capacidade para a missão que lhe fora confiada, pensava. Sentia-se facilmente irritadiço e fracassado, como se estivesse dando “murro em ponta de faca”. Os passes que recebia lhe proporcionavam algum alívio momentâneo, mas mal saía do Centro Espírita, vinham-lhe à mente as obrigações assumidas, os deveres familiares, as tarefas escolares e ele via se esvaírem as forças.
Sempre sorridente no Centro, não deixava que percebessem seu estado de ânimo. Alguns de seus amigos começaram a pensar que talvez estivesse obsediado, mas apenas comentavam entre si. Explosivo em casa, afastava-se cada vez mais dos pais e parentes. Irritado, acreditava que eles não o compreendiam e que estavam “pegando muito no pé”.
Sua dedicação tão cara, parecia não render resultados.
Um dia, em uma reunião mediúnica, encheu-se de coragem e resolveu perguntar a um espírito-dirigente o que estava acontecendo com ele. Estaria obsediado? Por que se esforçava tanto e realizava tão pouco?
Caridoso, o mentor lhe dirigiu palavras de confiança, assegurou que não havia a interferência de desafetos desencarnados e sugeriu que procurasse um médico.
- Médico? Pensou ele? Mas não tenho nenhuma doença!
Pelo sim, pelo não, Antônio procurou um clínico geral. Deu “sorte” e consultou com um dos que não trabalham com uma fila interminável de pacientes. Feitos os exames de rotina, não encontrando doença nenhuma, o jovem clínico começou a investigar-lhe os hábitos e humores, coisa incomum para os dias de hoje. Aos poucos, o diagnóstico foi se formando, uma síndrome cada dia mais comum em nossos dias: “Burnout”
[1]
Antônio foi convidado a repensar sua vida, realizar atividade física, valorizar o lazer e a conversar sobre o seu presente e o seu futuro com a ajuda de um psicólogo ou psicoterapeuta, antes que alguma doença psicossomática viesse a manifestar-se, comprometendo-lhe a saúde física em adição à saúde mental.

[1] Síndrome de Burnout ou Síndrome de Esgotamento Profissional, é uma doença geralmente relacionada ao trabalho, associada ao estresse crônico relacionado a relações interpessoais intensas e a grandes expectativas do paciente com relação ao seu trabalho, expectativas estas que não se concretizam em função de obstáculos diversos. Esta classificação surgiu nos Estados Unidos no início da década de 70 e compreende também o trabalho voluntário, exigindo atenção preventiva por parte das instituições e dos trabalhadores. Ao contrário do estresse, o esgotamento profissional se agrava com as férias, porque não se trata apenas de cansaço físico, mas de uma preocupação persistente com a incapacidade de realização de atribuições.

12.4.08

Laboro lança nova peça no Congresso


A Companhia Espírita Laboro é uma das jóias da arte espírita em Minas Gerais. Ela inovou em termos de conceito, texto e qualidade, criando uma identidade própria, que lhe confere o brilho.



As peças que já tive a oportunidade de assistir deixam o público com gosto de quero mais. Elas associam um conteúdo doutrinário sólido, com a leveza da "arte clown", sem vulgarização. O figurino é colorido, sempre inusitado, belo. As peripécias descansam nossa alma, nos fazem ficar crianças novamente, sem esquecermos do adulto que pensa. É como se por um minuto vivenciássemos a experiência de ser um espírito com sua bagagem integral.



O terceiro elemento, também inspirado no movimento espírita jovem, é a música. Um violão e canto com vozes que brincam com a melodia, dividem-na, multiplicam-na, fazem-na triste e alegre, forte e suave, quase viva, como se um espírito se tornasse personagem e ator atuando em conjunto com a trouppe.



A Laboro não está presa aos palcos teatrais, apesar de suas criações ganharem mais cor, com os recursos da iluminação e a arquitetura própria à projeção da voz. Eles se criaram para serem ambulantes, poderem atuar nos tablados de oratória dos centros espíritas, aéreos, capazes de volitar de casa em casa, deixando seu perfume e sua cor. Assim como um espírito familiar, eles reacendem a alegria de viver, nos fazem esquecer as dores e sofrimento da vida, nos permitem ascender por um momento à alegria dos planos superiores.


A organização do quarto congresso foi não apenas feliz, mas justa. O Brasil espírita que visitou as Alterosas merecia conhecer o Laboro, viver momentos de paz e alegria após a longa jornada que fizeram para prestigiar o Espiritismo.


Encanta a sua identidade teatral, encanta a sua consciência artística, nos faz todos sentir uma ponta de orgulho por ter algo tão valioso fruto do trabalho espírita.



Conheça mais da companhia em http://arteespirita.com.br

8.4.08

Biblioteca Espírita Pública



Foto 1: Maria Cerise auxilia Lucilene Sá na procura de livros.


Durante anos a Biblioteca da Associação Espírita Célia Xavier ficou "hibernando". A estrutura antiga, que era constituída de dois armários com cerca de mil e quinhentos livros, em uma sala que servia de passagem para o acesso do interior da unidade, ficou sem condições operacionais após a doação do acervo pessoal de Aurélio Valente. Um segundo problema inviabilizava o funcionamento pleno da biblioteca: o voluntariado, cuja força de trabalho era incapaz de mantê-la aberta nos horários necessários.

Algumas ações simples modificaram este cenário: uma reforma na AECX que disponibilizou um espaço com dois cômodos, a contratação de pessoal para mantê-la aberta em um horário amplo, o desenvolvimento de um software para o controle do acervo, um mutirão para a organização dos livros e a triagem dos livros da biblioteca de Valente. O espaço destinado, mesmo usado com inteligência, já está pequeno para o acervo e a freqüência de usuários.



Foto 2: Placa da Biblioteca: Homenagem a Aurélio Valente

Hoje a biblioteca conta com quatro mil, setecentos e cinquenta e dois livros, sendo 2700 para empréstimo e os demais para a composição do acervo. Além dos livros há fitas VHS, DVDs, revistas e livros infantis e coleções de revistas espíritas encadernadas, como o Reformador, A Centelha e a Revista Internacional de Espiritismo, Enciclopédias, Dicionários e outras fontes de referência.

A biblioteca funciona como arquivo institucional, uma vez que tem sob sua guarda os registros em forma de filme dos principais eventos que promove: nos últimos anos a "Semana de Célia", a "Semana de Allan Kardec" e a "Semana da Família", além de palestras de pessoas importantes que passam pela casa.

O mais interessante do projeto: a biblioteca é pública, ela não é restrita aos frequentadores da casa. Qualquer cidadão de BH pode ter acesso aos produtos para empréstimo se trouxer identidade e comprovante de residência. No primeiro bimestre de 2008 já foram realizados quase 500 empréstimos. No ano de 2007 a procura chegou a cerca de 4000 livros. Os números falam por si. Espiritismo Comentado entrevistou Maria Cerise: aguarde!


29.3.08

Manoel Alves: Trajetória Espírita




Figura 1: Da esquerda para a direita: Álvaro de Castro, a esposa e Manoel Alves


Era noite e papai me levou à casa de Seu Manoel para conhecer o evangelho no lar que ele fazia. A casa era pequena, mas a meus olhos parecia enorme, decorada com gosto e simplicidade, com os toques de afeto das almas femininas que lá habitavam. Ficamos na sala, e após a prece, leitura e comentários, Seu Manoel me presenteou com uma caixa de frutas da época, em um gesto de polidez e fraternidade. Quando o visitamos ele era comerciante de frutas.

Esse "evangelho no lar" deve ter começado na residência de seu cunhado, Celso Belém Goulart, casado com Carmen, e teve início após o contato com o Chico. O grupo recém criado não ficou apenas nos estudos, mas trabalhou dedicadamente na assistência social, fazendo visitas aos hospitais de hansenianos, presídios, cheches, asilos e hospitais até 1968.

Em 1968, Seu Manoel participou de um curso de expositores promovido pela União Espírita Mineira, onde conheceu os participantes do Grupo Espírita Emmanuel. Ele tornou-se trabalhador da União Espírita, como expositor, especialmente do estudo do evangelho. Hoje Manoel Alves é conselheiro e continua expositor da União.


Foto 2: Manoel Alves faz exposição sobre Caridade no Auditório da União Espírita Mineira em 2007


A amizade que fez com José Damasceno Sobral, Honório Abreu e Oswaldo Abreu, vindo depois a conhecer meu pai, José Mário Sampaio, foi muito importante em sua formação espírita. Ele passou a frequentar o Grupo Emmanuel, na região do Padre Eustáquio, atividade que mantém até os dias de hoje.

Algumas vezes tive a alegria de acompanhar Manoel, Sobral, papai e Luizão (que foi apelidado pela sua estatura física) em viagens doutrinárias no interior de Minas Gerais. Os temas que eles desenvolviam era o passe, os princípios básicos do Espiritismo, o estudo do Evangelho e a mediunidade. Sobral, nas viagens de divulgação da doutrina era todo cuidados. Eles levavam cartazes (que costumavam chamar de gráficos) e faziam exposições didáticas, em linguagem simples mas sempre embasada. A obra de Chico Xavier era uma referência constante e autores como Emmanuel e André Luiz eram sempre utilizados, sem o abandono das bases kardequianas.

O bom humor, a linguagem simples e os casos são sua marca distintiva. Há quem o chame de "Manoel dos casos". Foi extensa a sua experiência com a mediunidade e o movimento espírita: ele sempre tem alguma vivência pessoal para ilustrar uma idéia ou princípio.

Manoel construiu um barracão nos fundos de sua residência, na Rua Cornélio Cerqueira, que passou a acolher os membros da reunião originalmente iniciada na casa do cunhado. Estavam dados os primeiros passos da criação do Grupo Espírita Irmão Frederico. Frederico era um dos espíritos considerado pertencente à equipe de Scheilla.

O grupo cresceu e formalizou-se. Ganhou sede própria e hoje funciona há mais de dez anos na Rua Redentor, 90. Bairro São José. Os filhos numerosos, em sua maioria tornaram-se espíritas atuantes no movimento, mas Seu Manoel, apesar da idade, não considera seu trabalho encerrado e continua dando sua contribuição ao Espiritismo Mineiro.

Amigo, desejo-lhe vida longa e virtuosa!

Agradecimentos: Ao Robson Alves, que entrevistou o pai e enviou as principais informações para esta matéria.

9.3.08

Quem é Espírita no Brasil? (Português - Inglês)


Foto 1: Um dos Prédios da Federação Espírita Brasileira em Brasília

Photo 1: One of Brazilian Spiritist Federation Buildings



Há cerca de dez mil centros espíritas no Brasil de acordo com a FEB (Federação Espírita Brasileira, uma ONG espírita). Pessoas que se consideram espíritas somam aproximadamente 1,3 % da população brasileira, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, um órgão de governo). Isto significa que cerca de 2,2 milhões de pessoas se declaram espíritas no Brasil. Os espíritas são, em média, os religiosos mais instruídos no Brasil, (9,6 anos de estudo), mais instruídos que os que declaram não ter religião (5,7anos de estudo). http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/20122002censo.shtm
As espíritas têm menos filhos no Brasil (2,54) , se comparadas às de outras religiões, especialmente as pentecostais (3,84).
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/26122003censofecundhtml.shtm
Outra informação importante sobre os espíritas: eles trabalham no movimento espírita de forma voluntária. A administração dos Centros Espíritas, de Reuniões e a prática em Reuniões Mediúnicas não envolve qualquer remuneração. Os espíritas se associam e pagam as despesas dos centros espíritas através de um sistema de mensalidades. Os associados contribuem com uma doação mensal , mas as pessoas não precisam se associar para participar das atividades de uma Sociedade Espírita. Três por cento das organizações registradas no Conselho Nacional de Assistência Social têm em sua razão social as palavras espírita ou kardecista. Giumbelli (1998) estudou 864 centros espíritas no Rio de Janeiro. 69% deles declarou ter objetivos assistenciais, mas 94% realizam de fato alguma atividade assistencial. Este estudo é parte de uma pesquisa organizada pela Johns Hopkins University - E.U.A. Além dos espíritos, os espíritas ajudam diferentes públicos, sem questionar qual é o seu credo religioso. Eles ajudam a crianças (84%), famílias (48%), idosos (37%), adolescentes (26%), gestantes (16%) e moradores de rua (13%) no Rio de Janeiro . Estes resultados são semelhantes aos de outros estados no Brasil, mas nós não temos estatísticas precisas que confirmem esta informação.

Extraído da tese de doutorado: "Voluntários: Um Estudo sobre a Motivação de Pessoas e a Cultura de uma Organização do Terceiro Setor", defendida na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, em 2004.
Dowload gratuito no endereço: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-24052007-160054/


There are about ten thousand spiritist centers in Brazil according to FEB (Brazilian Spiritist Federation, an Spiritist Non-Governamental Organization - NGO). People who consider themselves spiritists are about 1.3% of Brazilian population, according IBGE (Brazilian Institute of Geography Statistics, an official organ). It means about 2.2 million of people who declares to be spiritist in Brazil.The spiritists in Brazil are the most educated religious in media (9.6 years of study in media), more educated than Brazilians who declares not to have religion (5.7 years). http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/20122002censo.shtm Spiritist Women have less children in Brazil (2.54) if compared with women from another religions, especially Pentecostal ones (3.84). http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/26122003censofecundhtml.shtm Another important information about Brazilian Spiritists: they work at the Spiritist Movement voluntarily. Administration of the centers, reunions and practice of mediumship doesn’t demand any remuneration. Spiritists associate themselves and pay the expenses of a spiritist center in a contribution system. Associates contribute with a mensal donation, but people don’t need to associate in order to participate in the activities of a Spiritist Center in Brazil. 3% from Organizations registered at National Council of Social Assistance (Conselho Nacional de Assistência Social) have in their designations the word spiritist or kardecist. Giumbelli (1998) studied 864 spiritist centers in Rio de Janeiro. About 69% declare to have assistencial objectives, but 94% have effectively any kind of service. This study is part of a world research organized by Johns Hopkins University – USA.Beyond spirits, spiritists help different people, without asking their religious credo. They assist children (84%), families (48%), aged people (37%), teenagers (26%), pregnants (16%) and homeless (13%) in Rio de Janeiro. These results are similar to another states in Brazil, but we don’t have precise statistics to confirm this information.