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25.10.11

AFINAL, O ESPIRITISMO É RELIGIÃO?

Temos um novo livro tratando do espiritismo no Brasil, publicado a partir de uma dissertação de mestrado em ciências sociais, escrito por Célia Arribas. Não o li ainda, mas achei muito curioso comparar uma entrevista da autora dada à TV Mundo Maior com a entrevista que foi para o Jô.
 
Qual é a sua opinão, leitor?




30.8.11

DEOLINDO AMORIM E A IDENTIDADE DO ESPIRITISMO


Deolindo Amorim

Dando continuidade aos artigos sobre a identidade do Espiritismo no Brasil




passo a escrever sobre a reação do movimento espírita ao sincretismo e à criminalização da mediunidade e seus desdobramentos.

Um autor um pouco esquecido nos dias de hoje é Deolindo Amorim, membro da Liga Espírita do Brasil e intelectual de destaque na imprensa brasileira, ele dedicou muitos de seus escritos à delimitação da identidade do Espiritismo.

Seu trabalho sobre este assunto de maior impacto parece ter sido "O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas" (1957), mas ele publicou "Africanismo e Espiritismo" (1947) e ""Ideias e reminiscências espíritas" (s.d.). Sua obra é extensa.

Imagino que ele, assim como os espíritas de sua época tenham ficado incomodados com a apropriação do termo espiritismo com o sentido de práticas mediúnicas em geral. Por que utilizar um neologismo com um sentido que  não lhe é próprio? Por que permitir que a população brasileira confunda o espiritismo com o africanismo, os orientalismos e quaisquer outras doutrinas e práticas relaionadas aos mortos? Começou, então, uma reação clara, dentro e fora do movimento espírita, de defesa do entendimento da palavra Espiritismo como sinônimo de Doutrina Espírita, codificada inicialmente por Allan Kardec e desenvolvida posteriormente por diversos autores e  médiuns.

"Se o Espiritismo é apenas sessão mediúnica ou a crença nos espíritos desencarnados, basta ser médium ou participar de sessões, seja quais forem, para que algúem seja espírita; se porém, Espiritismo é o corpo de doutrina codificado por Allan Kardec, com todas as suas consequências filosóficas e religiosas, com todas as suas implicações de ordem moral, é claro que não basta ser frequentador de sessões ou ter faculdades mediúnicas desenvolvidas para ser espírita, na exata acepção doutrinária." (pág. 99)

Ele trata da polêmica entre espiritualistas e espíritas, ainda citando Kardec:

"Alguns hermeneutas e polemistas, tão hábeis no modo de explorar o pensamento de Allan Kardec, extraindo frases e palavras isoladas, deveriam ler o que ele escreveu a respeito do vocábulo espírita: As palavras espiritualismo e espiritualista são inglesas, e têm sido empregadas nos Estados Unidos. No começo, apenas or algum tempo, dia ainda Kardec, também delas se serviram na França. Logo, porém, que apareceram os termos espírita e espiritismo - adianta Kardec - "compreendeu-se a sua utilidade, e foram imediatamente aceitos pelo público". Os termos espiritualismo e espiritualista aplicados "às manifestações dos espíritos, não são, hoje, mais empregados senão pelos adeptos da escola americana" (O que é o espiritismo, cap. I, segundo diálogo).

Quando Amorim trata da questão do africanismo, o faz de forma respeitosa, elegante, mas incisiva. Ele diz:

"Nosso objetivo ... é apenas fazer distinção entre Espiritismo e Africanismo, sem outro intuito que não o de esclarecer e separar, à luz dos próprios elementos de estudo, dois campos de pesquisa bem definidos. O Africanismo, com todas as suas seitas e cultos, deve ser estudado à parte, assim como o Espiritismo, porque não há entre um e outro afinidade de cultura nem relação histórica." (Africanismo e Espiritismo, pág. 35)

"As práticas de origem africana, largamente ramificadas, são espiritualistas, dignas de respeito como quaisquer outras práticas religiosas, mas não constituem variante das práticas do Espiriitsmo. Encerrando este trabalho, chego à conclusão de que Africanismo não é Espiritismo." (Africanismo e Espiritismo, pág. 59)




18.8.11

AURÉLIO VALENTE E A IDENTIDADE DO ESPIRITISMO


Aurélio A. Valente

O sincretismo é uma prática viva em meio ao povo brasileiro. A diversidade cultural em uma história de dominações e resistências e o uso da aculturação como estratégia de dominação são alguns dos fatores que predispõem à uma mentalidade de coexistência incoerente de tradições filosóficas, culturais e religiosas.

No início do século XX, Aurélio Valente, tendo obtido as primeiras letras espíritas no grupo dos "Filhos Pródigos" e no grupo "Paz e Harmonia", escreveu um livro sobre mediunidade, preocupado não apenas com a instrução em língua portuguesa, mas com os atavismos católicos que coexistiam em meio espírita à proposta de Allan Kardec. Em 1929, então presidente da União Espírita Paraense, ele proferiu uma conferência que serviu de base ao seu livro "Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo".

"... Casamentos, batizados e outros sacramentos da Igreja de Roma foram adaptados e adotados por alguns espíritas, incapazes de se desfazerem de pronto das tradições seculares."

"A Doutrina Espírita não ensina de forma alguma, nem admite, nem mesmo por tolerância, essas práticas que constituem verdadeira profanação da sua simplicidade característica."

Com estas palavras fortes Valente não apregoava a intolerância com o Catolicismo Romano, mas a resistência ao sincretismo do movimento espírita.
Na década de 1930, quando Aurélio Valente escreveu seu livro, ele comenta também as aproximações das sociedades espíritas aos cultos dos índios brasileiros e afrodescendentes.

"A maneira de praticar o Espiritismo vai, desde os grupos bem organizados e escrupulosos, aos desorientados e fanáticos. Chegou-se, até, a estabelecer distinção entre "sessões de mesa" e "sessões de linha". Estas, onde pontificam africanos e índios, de acordo com os propósitos bons ou maus, são chamadas "linha branca" ou "linha negra"." (1973, p. 193)

Ele descreve as práticas religiosas, que envolvem dança, roupas especiais, calças arregaçadas, etc., e afirma:

"A isso alguns dão o nome de Espiritismo, enquanto outros o denominam de afro-catolicismo. Uma coisa, porém, afirmamos: não é Doutrina Espírita. (1973, p. 194)

Não encontrei no texto de Aurélio Valente qualquer menção ao termo Kardecismo. Apesar de usar uma frase de efeito, ele emprega Espiritismo ao longo de seu livro, como sinônimo de Doutrina Espírita. Não encontrei também as expressões baixo e alto espiritismo, que Giumbelli atribuiu aos órgãos do estado brasileiro e à medicina de então.
 
Esta resistência ao sincretismo (assim como a confusão entre as propostas filosóficas e religiosas) é antiga e data da chegada das ideias espíritas ao Brasil, como se pode ler na correspondência entre Telles de Menezes e Desliens, mas isso é assunto para outra publicação.

17.8.11

KARDEC E O ESPIRITISMO


Robert Hare (1781-1858)


A introdução de "O Livro dos Espíritos" inicia-se com um parágrafo sobre a terminologia que Allan Kardec utilizaria para designar a obra que ele desenvolvera a partir do exame de comunicações de espíritos por médiuns diferentes, de grupos, cidades e, posteriormente, países diferentes.

Como se pode ler no livro de Alfred Russel Wallace, O Aspecto Científico do Sobrenatural, a expressão "modern spiritualism" (espiritualismo moderno) já era amplamente utilizada nos países de língua anglo-saxã. Ele cita Augustus de Morgan, Robert Hare e o Juiz Edmonds como homens de ciência que estudaram os fenômenos e produziram trabalhos a respeito da comunicação entre os Espíritos e os homens.

Buscando dar uma identidade nova, distinta do movimento já existente (apesar das similitudes em grande número de seus princípios e propostas), Allan Kardec propôs um método para a identificação dos espíritos e para a análise de suas comunicações dos espíritos. Da aplicação do método na análise dos diálogos com os Espíritos, ele publicou "O Livro dos Espíritos", com a seguinte explicação:

"Para coisas novas precisamos de palavras novas; assim o exige a clareza da linguagem, para evitarmos a confusão inerente ao sentido múltiplo dos mesmos termos. As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida; dar-lhes uma nova, pala aplicá-las à Doutrina dos Espíritos, seria multiplicar as causas já tão numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo (...) Em lugar das palavras espiritual, espiritualismo, empregaremos, para designar esta última crença, as palavras espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso, mesmo, têm a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, reservando ao vocábulo espiritualismo a sua acepção própria. Diremos, pois, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas."

12.9.10

ESPIRITISMO NO FANTÁSTICO E NA MÍDIA INTERNACIONAL

Clique na imagem para ampliar

Vivemos um período de exposição na mídia de fenômenos espirituais, mediunidade e do Espiritismo. Após alguns filmes de roteiro espiritualista produzidos pelas grandes produtoras cinematográficas norte-americanas (como Ghost, O Sexto Sentido e Os Outros) que se tornaram blockbusters, vieram os seriados da TV americana (Medium e Ghost Whisperer) e finalmente ganharam o Brasil.
A Globo, talvez influência de Augusto César Vanucci, sempre abriu janelas em sua programação para temas espíritas. Programas especiais sobre Chico Xavier, uma mini-série sobre o médium, Globo Repórter sobre mediunidade, uma refilmagem da novela A Viagem...
Agora estamos vivendo um período que teve suas porteiras abertas pelo documentário "Bezerra de Menezes". Aos moldes do jargão "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça", o filme de recursos escassos atraiu um público inesperado, malgradas as críticas que apontaram suas limitações (seja de críticos de cinema, seja do próprio movimento espírita). Seguiram "Chico Xavier" de Daniel Filho e "Nosso Lar" de Wagner de Assis, que hoje lideram a preferência dos internautas para representar o Brasil na festa do Oscar 2011 (www.cultura.gov.br/site/2010/09/08/enquete-oscar/ ).
Talvez seja um modismo, como apontam alguns comentaristas, mas a Globo entrou fundo posicionando uma novela e uma minissérie (A Cura) na mesma linha temática.
Os que gostamos de estudar a História, vimos o Espiritismo sair de "inimigo público número 1" da Faculdade de Medicina do início do século XX (leiam a tese de Angélica A. Silva de Almeida) e do legislativo brasileiro (leiam o excelente livro "O Cuidado dos Mortos" do prof. Emerson Giumbelli) para o queridinho dos meios de comunicação brasileiros.

4.9.10

UM ESTUDO DE FÔLEGO SOBRE A IDENTIDADE DO ESPIRITISMO

Figura 1: Logo do Blog Étude Spirite

Tive a grata surpresa de receber um simpático convite para ler um estudo extenso sobre a identidade do Espiritismo que se encontra no blog Étude Spirite (http://www.etudespirite.blogspot.com/).
Como acontece com os estudiosos que conhecem o limite da capacidade de pensar, foi um convite humilde e aberto ao diálogo, nada arrogante, o que por si só já atrai a simpatia do convidado.
O autor que se identifica apenas como William, mostra intimidade com o pensamento de Allan Kardec, argumentando e citando, buscando sempre justificar suas posições e fundamentar claramente, deixando em aberto ao leitor a releitura de seus fundamentos.
Outro ponto importante do trabalho de William, é o trânsito que ele mostra ter com a Filosofia e com a teoria do conhecimento. Autores importantes da história da Ciência são citados com propriedade e deixam claro ao leitor a diferença entre palavra e conceito. Trocando em miúdos, se a palavra Espiritismo é anterior a Kardec, o conceito foi cunhado por ele para expressar um corpo de doutrina com princípios delimitados e claros, e, diga-se de passagem, se ele fez a primeira articulação conceitual, não pretendia dar a última palavra, mas deixou em aberto para que a História e os futuros espíritas cumprissem seu papel.
Tudo isso é pacientemente exposto por William, que faz um trabalho interessante, porque não se limita a escolher uma ou outra frase de Kardec para sustentar seus argumentos, mas faz uma análise ao longo da obra do autor, mostrando as pequenas alterações e as contribuições que circunstanciam e esclarecem seu ponto de vista.
Digo isso para recomendar a todos os leitores do EC que analisem e contribuam com este importante trabalho. Ele merece ser lido e refletido.
(http://etudespirite.blogspot.com/2010/07/identidade-do-espiritismo-parte-1.html)

15.6.09

JUNG LEU ALLAN KARDEC?


Figura 1: Carl G. Jung

No livro "A Vida Simbólica", a Vozes publicou textos do volume I das obras completas, que intitulou "Sobre o Ocultismo".
Nele se encontram os seguintes textos:
- Sobre fenômenos espíritas (conferência feita na Basiléia em 1905)
Neste texto Jung faz uma breve história do Espiritismo, cita Swedenborg, as irmãs Fox, Aksakof, admira-se com Crookes, e cita O Livro dos Médiuns, que leu em alemão, mas considera as mensagens publicadas por Kardec triviais. Ele reduz os fenômenos espíritas à esfera do psicológico e critica vigorosamente os adeptos do Espiritismo. Destaco ainda a percepção de Jung do Espiritismo como religião e movimento religioso. Ele narra muito brevemente os estudos que fez com oito médiuns (um dos quais afirmava ser um "trapaceiro americano" e os demais pessoas de boa fé).
- Prefácio a "Fenômenos Ocultos" - 1939
O livro que Jung prefaciou publica três de seus trabalhos. Ele está menos virulento, mas ainda reticente quanto à questão da imortalidade da alma, que considera ser uma necessidade psicológica e afirma que o médico deve orientar o seu paciente a observar a presença ou ausência delas na consciência, da mesma forma que fala da necessidade do uso de sal na dieta.
- Psicologia e Espiritismo (Prefácio a um livro escrito por Stewart White - 1948)
Nesse livro o psiquiatra suíço cita Rhine (pesquisador da Parapsicologia) e discute de certa forma a posição do autor que defende a existência dos espíritos. Para Jung os espíritos são "fatores inconscientes personificados". Dos autores espíritas e estudiosos do Espiritismo, ele cita Zöllner, Richet, Flammarion, Schiaparelli, Oliver Lodge, e curiosamente Eugen Bleuler. Vê-se que o tema de alguma forma o fascina, porque mesmo sendo contrário ele continua a estudar os livros espíritas e a tentar explicar os fenômenos com sua teoria do inconsciente.
- Prefácio e Contribuição ao livro de Fanny Moser (1950)
Mais um prefácio a um livro de fenômenos espíritas. Jung recebe o convite com algum entusiasmo e faz menção aos trabalhos da "American Society for Psychical Research" e ao ceticismo da época discutido por Kant duzentos anos antes da publicação de seu texto. Embora ainda considere que os fenômenos não provam a imortalidade da alma, Jung aceita posições da Parapsicologia e deixa ao futuro o alargamento dos horizontes com relação ao estudo da Psique.
Em seguida ele narra um caso pessoal, em que ele esteve em Londres e descobriu para sua surpresa que havia se hospedado em um local assombrado. Ele relata fenômenos, como mau cheiro (que considera alucinatório!!!), barulho de pingos de água sem chuva ou torneira aberta, sussurros seguidos a um torpor, sons de batidas, um cão que andaria pelos cômodos, assustado, duas hóspedes que deixaram o local com medo das assombrações. No quinto dia ele viu o rosto de uma senhora sem a parte esquerda que o fixava com o único olho. Ao voltar, Jung desafiou o Dr. X a dormir uma noite no "quarto assombrado". Ele escreveu-lhe narrando ter ouvido passos à noite, ter fechado a porta com a ajuda de uma cadeira apoiada na fechadura, que se espatifou, sem qualquer ventania, o que o levou a dormir sobre um caramanchão... O dono da casa terminou demolindo-a e vendendo-a porque ninguém desejava hospedar-se lá, devido à fama de assombrada.
Suas explicações aos fenômenos continuam contando com o apoio da teoria do inconsciente, mas Jung já aceita que há fenômenos inexplicáveis desta forma e ainda cita um caso de um parente que viajou e sonhou com um assassinato de uma mulher no seu quarto de hotel, que realmente havia acontecido.
- Prefácio a um livro de Jaffé (1958)
É um texto rápido no qual o Psiquiatra Suíço destaca a análise psicológica dos temas próprios da fenomenologia espírita, mas deixa claramente que a autora evitou a questão da realidade dos fenômenos e da sobrevivência da alma, questão esta que parece incomodá-lo.
Quem tiver lido o livro "Memórias, Sonhos e Reflexões", escrito anos depois, sabe que Jung narrará, próximo da morte, fenômenos que aconteceram com ele e que ele admite não ser capaz de explicar com o apoio da teoria do inconsciente.
Este livro mostra bem a trajetória vivida pelo psiquiatra do ceticismo à dúvida.



26.3.09

EDIOURO CRIA NOVO SELO E LANÇA LIVRO DE DIVALDO



Figura 1: Iluminação Interior pela Prestígio

Recordo-me de uma palestra de Divaldo Franco na qual ele contou haver-se queixado com Joanna de Ângelis por sempre escrever mensagens para terceiros e nunca para ele. A mentora espiritual teria respondido: - "Divaldo, você está equivocado. Tudo o que escrevi é para você. Você publica porque quer."

Recebi o livro Iluminação Interior para análise. Ele vem com o selo da editora Prestígio. Pelo que pude imaginar, a Ediouro criou este selo novo, possivelmente para identificarmos um perfil de suas publicações (seria um selo para obras espíritas? Continuo sem respostas).

A qualidade da impressão, capa, papel, para uma brochura, atendem bem à nossa demanda de um livro para as nossas bibliotecas.

O conteúdo do livro são mensagens curtas, escritas em um português quase sem arcaísmos, que coloca frente a frente valores cristãos em um cenário contemporâneo.

Chamou-me a atenção o capítulo intitulado "Deveres Austeros" no qual vi com clareza um incentivo de Joanna para o médium baiano. Confiram.

O livro é uma boa fonte para o "Evangelho no Lar", se os participantes forem adultos.




20.12.08

4o. ENLIHPE: Entrevista com o autor do Espiritismo Comentado

As competentes Izabel Vitusso e Eliana Hadad "espremeram" o autor do Espiritismo Comentado logo após o ENLIHPE procurando entender como ele vê a relação entre o Espiritismo e a Universidade.



Apesar do avanço, muitos entraves acadêmicos




“A Universidade é conservadora, em matéria de conhecimento”(Jáder Sampaio)


Por Izabel Vitusso e Eliana Hadad



Foto 1: Jáder no 4o. ENLIHPE


Um dos assuntos amplamente abordados durante o IV Encontro da LIHPE – Liga dos Historiadores e Pesquisadores Espíritas, realizado em São Paulo, nos dias 27 e 28 passados, foi a produção acadêmica brasileira com temática espírita.


Pesquisadores e historiadores presentes no evento destacaram os desafios e dificuldades enfrentadas ainda pela resistência acadêmica, advinda na grande maioria das vezes do preconceito e do desconhecimento do que seja realmente o Espiritismo, doutrina científica e filosófica de conseqüências religiosas, codificada pelo francês Allan Kardec, que em 1857 lançou a sua obra básica, O Livro dos Espíritos, contendo perguntas e respostas sobre assuntos que envolvem diretamente a existência e o destino do homem, a criação e a imortalidade da alma – a vida do Espírito.


Ao final do evento, o psicólogo Jáder dos Reis Sampaio, um dos moderadores do grupo que se comunica pela internet há pelo menos seis anos, concedeu a entrevista abaixo, na qual abordou com clareza a dificuldade da produção acadêmica sobre temas ligados ao Espiritismo.


Premiado pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração – ENANPAD, Jáder Sampaio concluiu o doutorado em Administração pela Universidade de São Paulo em 2004. Atualmente é professor-adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais, tendo publicado 11 artigos em periódicos especializados e 19 trabalhos em anais de eventos, participando de 57 eventos no Brasil. Atua na área de Psicologia, com ênfase em psicologia do trabalho e organizacional Também é consultor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG, do Programa de Capacitação de Recursos Humanos – PCRH.


Entrevistadoras - Como você analisa a produção acadêmica com relação ao Espiritismo?


Jáder Sampaio - O assunto é mesmo complicado. Sobre a pesquisa na universidade, se você se declara espírita, ganha antipatia dos que se dizem marxistas, socialistas, ou seja de outras vertentes políticas e religiosas, o que costuma gerar também retaliações nos pedidos de pesquisa, ou na aceitação de nossos programas de pós-graduação.


Entrevistadoras - Você acredita que isso aconteça por puro preconceito?


Jáder Sampaio - Muitos acreditam que se tem escondido o propósito de fazer proselitismo sobre a Doutrina Espírita dentro da universidade.


Entrevistadoras - Mas o pesquisador não tem liberdade de pesquisar o que lhe seja de interesse de estudo?


Jáder Sampaio - Há um engano sobre isso. As pessoas ficam achando que o pesquisador tem liberdade, mas ele não tem tanto como imaginam. Não consegue recursos, tem dificuldade de desenvolver o projeto, de encontrar orientador que aceite seu projeto de pesquisa e acaba encontrando tantas outras dificuldades no dia a dia da universidade. Ele precisa ser muito corajoso e persistente para defender algumas teses.


Entrevistadoras - Há orientadores preparados para coordenar os trabalhos de defesa de tese sobre Espiritismo?


Jáder Sampaio - Há sim, nas mais diversas áreas, mas se você chegar com um tema, muitas vezes o orientador diz que não interessa orientar. Quando o tema do mestrando envolve o nome do orientador, ele fica cioso. Se ele aceita um tema relacionado ao Espiritismo e não faz uma crítica contundente, pode ficar mal visto pelos colegas e comunidade acadêmica. É mais seguro você escolher um tema já consagrado, aceito internacionalmente, e ficar produzindo o que já é aceito.


Entrevistadoras - Você acha que nas universidades, os acadêmicos ainda têm receio de defender temas como o Espiritismo?


Jáder Sampaio - Sim, e de temas novos de uma forma geral, especialmente os que possam ser considerados pseudociências ou ideologias. A Universidade é conservadora, em matéria de conhecimento e gregária em matéria de captação de recursos. De qualquer forma este receio é menor que no passado.


Entrevistadoras - O que você sugere para gerar o conhecimento espírita no mundo acadêmico?


Jáder Sampaio - Não sei se a melhor expressão é conhecimento espírita. Um dos papéis da universidade é gerar conhecimento. Os professores precisam ficar mais abertos para o estudo de temas que permitam discutir a existência do espírito, como o fizeram os intelectuais do século XIX. Na Inglaterra, por exemplo, a SPR oferece bolsas de estudos para jovens pesquisadores que desejam estudar temas ligados às ciências psíquicas. É necessário que os professores orientadores construam redes e promovam eventos com os resultados de seus trabalhos, aproximando colegas e comunidade. A imprensa espírita e em geral poderia ter uma atenção maior para cobrir os trabalhos concluídos, para que não se percam no esquecimento. Um segundo momento é construir redes internacionais e trazer pesquisadores do exterior que trabalham temas de interesse ao movimento espírita.


Entrevistadoras - Podemos vislumbrar mudanças com relação a essas posturas para um futuro próximo? Por quê?


Jáder Sampaio - Sim, porque em uma sociedade mais democrática, há mais possibilidade de voz para as minorias. Tenho acompanhado pela LIHPE e por outros canais de informação muitas iniciativas interessantes, como o estudo à base de exame de imagens que o Júlio Perez fez com médiuns nos Estados Unidos e o exemplar temático da revista de Psiquiatria da USP sobre espiritualidade, organizado pelo Dr. Alexander Moreira Almeida. No exterior existem revistas técnicas especializadas em parapsicologia e CAM - medicina alternativa e complementar, que têm apresentado resultados de trabalhos sobre passes e curas espirituais.


Entrevistadoras - Você, como acadêmico, percebe algum avanço para aceitação do Espiritismo, considerando-se seu tríplice aspecto – ciência, filosofia e religião?


Jader Sampaio - O Brasil tem deixado de ser uma sociedade exclusivamente católica para ser uma sociedade plural em matéria de religião. Não bastasse a diferença, o respeito entre os membros de religiões é maior. Uma vez aceito pela sociedade, esta passa a demandar uma visão do mundo acadêmico sobre o Espiritismo.


Entrevistadoras - Espiritismo não combina com o mundo acadêmico? Que ciência é essa?


Jáder Sampaio - É a ciência dos homens, que desejariam estar em um lugar terceiro, o lugar da verdade ou, pelo menos, do conhecimento rigoroso, mas que não conseguem superar seus medos e preconceitos na hora de fazer pesquisa.


São Paulo, 27/29 de setembro de 2008



Publicado originalmente em http://www.ccdpe.org.br/



2.11.08

4o. ENLIHPE (continuação)


Foto 1: Jáder Sampaio
O primeiro trabalho do ENLIHPE foi intitulado "As Muitas Faces da Intolerância contra o Espiritismo". Sampaio iniciou seu trabalho com a história do Cemitério Espírita de Inhambupe, BA, que foi construído antes do centro espírita da localidade, porque o vigário proibía se enterrassem espíritas no cemitério municipal.

Ele relata as perseguições na França, detalhando o conhecido Processo dos Espíritas, que culminou na prisão de Leymarie, com base na confissão forçada de Buguet sobre fraudes nas fotografias espíritas.
O trabalho vai à Inglaterra e apresenta o processo contra Slade e a criação de um fundo dos espiritualistas ingleses para a defesa de médiuns.
Jáder apresenta os relatos de prisões, perseguições e confiscos nas ditaduras Salazarista e Franquista, em Portugal e Espanha, respectivamente.
O totalitarismo na Europa gerou perseguições a instituições espíritas e espiritualistas, e as teses são documentadas, suas razões especuladas.
No Brasil foram diversas as frentes contra o estabelecimento do Espiritismo. Ainda no Brasil império, Machado de Assis ataca as instituições espíritas através de sua pena. Legisladores tentam proibir o funcionamento dos centros espíritas, depois, no Brasil-República, tenta-se enquadrar os médiuns curadores na categoria de charlatães, proíbe-se o funcionamento de centros espíritas, ficham-se espíritas na ditadura vargas, proíbe-se a prática de receituário mediúnico.
O trabalho mostra a resistência que as federativas espíritas ofereceram ao estado, seja na imprensa, seja respondendo os ataques com livros, seja orientando os centros espíritas, seja cobrando uma posição legal das autoridades, seja no judiciário, fazendo a defesa de médiuns e perseguidos pelas autoridades policiais.
O trabalho aponta que a legitimação do Espiritismo no Brasil não foi pacífica, que a desconstrução do movimento espírita na Europa não foi um fenômeno meramente cultural, mas político, que os órgãos federativos tiveram uma posição fundamental para a sobrevivência do Espiritismo brasileiro e discute duas teses antropológicas: à luz da História, o Espiritismo não é uma doutrina itinerante (Aubrée e Laplantine) e Chico Xavier não teria catolicizado o Espiritismo (Lewgoy), mas o contrário, se considerarmos as fontes espíritas brasileiras anteriores ao médium de Pedro Leopoldo.

Foto 2: Profa. Miriam Hermeto de Sá Motta

No segundo trabalho a Profa. e Doutoranda Míriam Hermeto propõe como preservar a memória espírita através de fontes documentais.

Doutoranda em História pela UFMG, ela inicia seu trabalho distinguindo memória e História e definindo sua disciplina como o "estudo do homem no tempo", alinhada às idéias de Marc Bloch.

Ela discute o papel das fotos, dos documentos primários e de outras fontes que estão nos centros espíritas e não são identificadas como tal por seus membros.

Exemplificando, ela mostra uma foto da fundação do Cenáculo Espírita Thiago Maior, em Belo Horizonte. Ela mostra que a maioria dos fundadores eram homens e brancos (tipo europeu), havia apenas uma mulher e um pardo. Era, portanto, um movimento de elites mineiras, até mesmo pela localização e presença de autoridades no centro nascedouro.

Ela analisa o folheto do lançamento, para o qual foi trazido Chico Xavier. Na capa, encontra-se escrito "Comemoração do Dia dos Mortos" e dentro dele, uma mensagem de Emmanuel convidando os espíritas a evitar este tipo de comemoração, muito comum à época na capital mineira, em decorrência da coerência com os princípios espíritas.

Míriam convidou os membros dos centros espíritas a terem atenção com os documentos que descartam e propôs metodologias de catalogação e identificação de peças que auxiliarão na preservação da memória espírita.

12.10.08

Espiritismo e Religião



Figura 1: Daniel Dunglas Home

Kardec publicou na Revista Espírita de março de 1858 a seguinte consideração, após analisar a mediunidade de Daniel Dunglas Home.

"A religião nos ensina a existência da alma e a sua imortalidade; o Espiritismo disso nos dá prova palpável e viva, não mais pelo raciocínio, mas pelos fatos. O materialismo é um dos vícios da sociedade atual, porque engendra o egoísmo. O que há, com efeito, fora do eu para quem tudo relaciona com a matéria e a vida presente? A Doutrina Espírita, intimamente ligada às idéias religiosas, esclarecendo-nos sobre a nossa natureza, nos mostra a felicidade na prática das virtudes evangélicas; lembra o homem quanto aos seus deveres para com Deus, a sociedade e a si mesmo; ajudar a sua propagação é dar um golpe mortal na praga do ceticismo, que nos invade como um mal contagioso; honra, pois, àqueles que empregam, nessa obra, os bens com que Deus os favoreceu na Terra!"

Observe o leitor, que mesmo no início dos trabalhos da codificação, quando Kardec pensava ser possível desenvolver uma metafísica baseada no ensino dos espíritos que servisse de fundamento às religiões em geral, porque demonstrava a existência da alma, ele não negava o papel do cristianismo e de sua ética, na proposta social espírita, assim como combatia as idéias céticas e materialistas às que reputava a ilusão de perceber a vida com base exclusiva na vida presente.

14.8.08

Memórias de uma Enfermeira dos Espíritos

Foto 1: Dona Odete
Jáder Sampaio
Extremo Sul da Bahia, década de 90. Convidado a fazer uma palestra em no Centro Espírita Semente de Luz, em Mucuri, fiquei conhecendo Dona Odete.

Ela havia sido fundadora desta sociedade espírita, mas tinha uma longa trajetória anterior na participação em sociedades espíritas. Sua experiência mais interessante foi com uma médium de efeitos físicos que durante anos trabalhou em reuniões de materialização e tratamento em Teófilo Otoni, Minas Gerais, chamada de Sinhá, segundo sua filha Vera.

Os doentes participavam da reunião. Dona Odete assumia a frente dos trabalhos como se fosse uma enfermeira. Organizava, preparava o material que seria utilizado, agendava os presentes, entre outros cuidados. Um de seus cuidados mais especiais era com os vidrinhos de vacina que esterilizava, rotulava, enchia com água e colocava à vista dos membros da reunião. Ao longo da sessão, sob a ação espiritual, a água dos vidrinhos mudava sua constituição: uma nova cor, um novo odor e um sabor diferente. Cada vidrinho, destinado ao tratamento de uma pessoa diferente, podia apresentar uma coloração diferente dos demais. Um detalhe: eles estavam fechados e lacrados.

Outra peculiaridade da reunião: os espíritos materializavam-se na penumbra e conversavam com os presentes. Dona Odete guardou consigo uma fita K7 na qual registrou de forma amadora as vozes dos seres que surgiam e se manifestavam. É, talvez, além da memória dos que participaram, o único registro que fizeram e que resistiu ao tempo.
Comentários, orientações, explicações, um humor leve, tudo isto se encontra nos muitos minutos de gravação. José Grosso e Palminha são alguns dos espíritos materializados que falaram ao público (e tiveram suas vozes registradas pelo gravador).

Ao terminarem-se as sessões, estavam escritas as prescrições e orientações de uso do conteúdo dos vidrinhos. Como não havia curiosidade científica, não tenho notícia de qualquer envio para análise das substâncias modificadas ao longo das sessões. Uma pena!

Odete informou-me que uma vez Chico Xavier foi assistir aos trabalhos. Ele advertiu aos organizadores que aquele tipo de mediunidade tornar-se-ia cada vez mais raro. De fato, hoje se contam nos dedos os grupos que trabalham com efeitos físicos, e são mais raros ainda aqueles que obtém fenômenos expressivos, com participação de ectoplasma tangível e visível. Será que na presente encarnação ainda assistirei um renascimento deste tipo de fenômeno para fins de estudos controlados? Espero que sim.

10.7.08

Transplante de Córneas


Jáder Sampaio


Um grande amigo, cuja ética me exige ocultar o nome, tinha uma pequena capacidade da visão solucionável por um transplante de córneas. Médico, tinha inúmeras limitações para o exercício de sua profissão, além das limitações para estudar, que enfrentava com dificuldades.

Um conhecido hospital de olhos de Minas Gerais conseguiu-lhe a primeira córnea. Faltava uma segunda córnea para a melhora que lhe daria maior autonomia.

O transplante de córnea tem uma peculiaridade aos demais transplantes de órgãos. Segundo a narrativa deste médico, o hospital já o fazia sem o uso de imunossupressores, ou seja, sem o uso de remédios que diminuem a capacidade imunológica do organismo, porque a literatura médica já mostrava a inutilidade deste procedimento.

As córneas, via de regra, podem ser doadas até seis horas após a morte.

Outro detalhe, a córnea é uma película que se encontra na parte mais externa do olho. Ao contrário do que imaginam as pessoas, ao retirá-la, o cirurgião não "vaza os olhos", ou seja, não atinge as camadas internas e o cristalino, mantendo intata a imagem do cadáver, para o adeus dos amigos e parentes.

Mais importante, não há dúvidas quanto à morte do paciente quando a extração das córneas é feita, ele não necessita estar com o coração funcionando.

Meu amigo, transitoriamente em Belo Horizonte, passou a pedir a córnea que faltava a famílias que haviam acabado de perder seus entes queridos. Uma delas sensibilizou-se com sua dor, e suplantando a própria dor da perda, lhe concedeu o presente. A equipe do hospital foi em busca do cadáver, analisou-lhe a integridade das córneas, extraiu-as rapida e discretamente e as levou para beneficiar, não a uma pessoa, mas a duas pessoas.

Dele, posso dizer que tem utilizado seus olhos para o benefício de muitíssimas pessoas. Seja como médico, seja como cientista, seja como orientador, já formou inúmeros profissionais que hoje atuam no Brasil e no exterior e desenvolveu muitas áreas de conhecimento associadas a doenças de difícil estudo. A comunidade mineira se beneficiou imensamente deste gesto de grandeza de uma família desconhecida.

São relativamente poucos os pacientes a espera de doação de córneas no Brasil. Com conscientização da população em geral, já poderíamos ter erradicado a fila de espera, da mesma forma que não há mais casos de pólio ou de varíola, há muitos anos.

Escrevo este caso para sensibilizar o movimento espírita, que tem assumido a frente de tantas causas em favor do homem, para que utilize sua imprensa e a influência na imprensa leiga em favor desta causa.

"Doação de córneas. Mais luz entre os homens."







6.7.08

O Espiritismo é uma Religião?



Figura 1: Imagem da capa antiga do livro Religião, de Carlos Imbassahy

Para o Lucas Sampaio, com respeito e fraternidade.


“O Espiritismo será para uns simples ciência,


para outros mera filosofia,


sem já falar naqueles para os quais


não será coisa alguma”. Carlos Imbassahy




O livro foi escrito por uma das penas espíritas brasileiras mais lúcidas do século XX, em resposta a um parecer do Dr. Almeida Júnior, que em 1938, em resposta a uma consulta de pais que lhe pediam o ensino religioso espírita a seus filhos.
Almeida Júnior, considerada a dificuldade de atendimento da petição e as implicações que ela geraria para a educação em São Paulo, se atendida, fez uma leitura de muitos autores espíritas e de cientistas que se debruçaram sobre a questão da religião e defendeu a idéia de que as religiões envolvem uma relação entre as pessoas e o sobrenatural, que elas são fruto de revelações, que são divulgadas pela persuasão e que são crenças, alicerçadas na fé. Ele cita trechos de Kardec, Flammarion, Denis e Melusson que defendem ser o Espiritismo uma nova ciência de observação, uma filosofia, um abandono da abordagem metafísica da alma que não é estudada como algo sobrenatural.
Sempre de forma respeitosa e impessoal, Imbassahy defende no livro a tese oposta, ciente que algumas das implicações do entendimento do Espiritismo como uma doutrina científica ou filosófica situariam o movimento espírita à larga dos direitos constituicionais reservados às religiões em sua época (liberdade de culto, de tribuna, de imprensa, a faculdade de ensino em escola, a independência, o direito à expansão e as imunidades). Logo, não é apenas um debate filosófico, mas um debate cercado de implicações legais e sociais, especialmente à época em que foi escrito, na qual ainda se discutia a lei que proibiu as práticas espíritas no nascimento da república.
Imbassahy, com calma e profundidade, aponta as fragilidades da tese de Almeida Júnior. No capítulo intitulado “Religiões Filosóficas”, ele analisa o Budismo e as doutrinas indianas, mostrando que são filosofias de caráter religioso. Destacando seu caráter moral, o autor baiano conclui que: “o mistério, o sobrenatural, o dogma não são característicos de uma religião, dela não fazem parte essencial, não entram no seu conceito: que há religiões, como tais consideradas, a que geralmente se dá o nome de filosóficas, tal como acontece com o Espiritismo (...) E se assim é, não sabemos porque negar ao Espiritismo, ou melhor, à sua parte teológica, o nome de religião, quando às demais doutrinas filosófico-morais não é ele negado, retidado ou vedado”.
No capítulo “O Cristianismo”, Imbassahy aponta a dupla origem do termo religião, relegere (tratar com cuidado), como utiliza Cícero e relicare, como empregam Lactâncio, S. Jerônimo e Santo Agostinho, com o sentido de religar, ligar, significando a relação do homem com Deus. O autor baiano desenvolve a tese de que o Espiritismo é uma religião cristã, porque admite os ensinos de Jesus, e os interpreta em coerência com a filosofia espírita. Carlos Imbassahy faz uma pesquisa detalhada na obra de Kardec mostrando a importância que o codificador destina ao desenvolvimento do “sentimento religioso”, aponta como seu verdadeiro caráter o amor entre os homens, propõe a união dos princípios fundamentais no “amor a Deus e na prática do bem”, e apresenta o conhecido trabalho de Kardec que qualifica o Espiritismo como sendo o Consolador prometido por Jesus, a continuação dos evangelhos.
“Pelas leis morais do Cristo, que segue; pela parte do Cristianismo, que representa; pela obrigação que se impôs de divulgar o Evangelho; pelo dever, que mantém de colocar as leis divinas acima de tudo, como a fonte do progresso humano, o Espiritismo reivindica a parte que lhe cabe no seio das religiões.” (páginas 96-97)
O próximo argumento discutido é a alegação de Almeida Júnior, que diversos espíritas consideram o Espiritismo uma ciência. O argumento de Imbassahy repousa no tríplice aspecto, ou seja, que o Espiritismo é composto de três partes, uma religiosa, uma filosófica e uma científica, concluindo ser natural “que seus adeptos o tratem por uma de suas partes”.
Ele mostra que Almeida Júnior selecionou as partes que interessavam à defesa de suas idéias e lançou fora as outras que se lhe opunham. Cita a profissão de fé espírita racional, publicada por Kardec em Obras Póstumas (páginas 100-101) e inúmeras passagens do livro “O Céu e o Inferno” nas quais Kardec destaca as conseqüências morais dos atos das pessoas na vida após a morte. Imbassahy argumenta que Kardec busca evitar o fanatismo ao destacar sua parte científica, mas que “não eliminou sua parte religiosa, a ela dedicou especial atenção e dela fez a cúpula para o seu majestoso edifício doutrinário.”
Outro argumento desenvolvido diz respeito à prece, que nunca teria sido considerada científica e que foi objeto de diversas publicações do codificador, incluso aí o capítulo extenso de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” dedicado a este tema.
Neste capítulo há uma dissertação de Imbassahy sobre o sentido do que Kardec denominava “conseqüências morais” da Doutrina Espírita, e com base no diálogo com o sacerdote de “O Que é o Espiritismo” ele mostra que o codificador entendia que essas conseqüências “são a conformação e a prova dos grandes princípios da religião”, ou seja, são consistentes com uma dimensão religiosa da doutrina espírita. Carlos Imbassahy discute também o fato de Kardec evitar o emprego do termo religião para designar o Espiritismo.
Retomando as afirmações de Almeida Júnior, sobre o entendimento dos discípulos de Kardec quanto ao caráter científico do Espiritismo, Imbassahy vasculha a obra de Leon Denis e apresenta diversas passagens nas quais a negação do caráter religioso seria contraditório com a sua argumentação.
Um capítulo é dedicado às origens do Espiritismo. Imbassahy desenvolve seu raciocínio em três pilares: o de que é falacioso afirmar que as religiões originaram-se de uma revelação, posto que a construção da revelação lhes é sempre posterior à vivência do fato religioso, o de que o Espiritismo é considerado a terceira revelação e, por fim, que não é verdade que as religiões sempre se opõem à filosofia e à racionalidade, subordinando o raciocínio à fé.
Após um capítulo breve sobre o conhecimento, o autor desenvolve a questão do mistério, do sobrenatural, do sacerdócio, do dogma, dos ritos, do culto e do templo na caracterização de uma religião. O argumento central é que não há uma regra comum e rígida capaz de enquadrar todas as religiões, que têm muitas diferenças entre si. Em linguagem moderna, este conceito externalista de religião não é, senão, etnocêntrico e positivista. O autor faz uma revisão de conceitos em diversos filósofos que tentam circunscrever a essência da religião a partir do sentimento religioso, com suas diversas variações. “... das definições propostas por autores vários, inda os menos liberais, que o Espiritismo se sente à vontade dentro delas. Outras há que lhe cabem inteiramente.” (página 141).
Um argumento corajoso do autor baiano, com relação ao ritos, é que não se pode dizer que o Espiritismo não os tem, mas que há sempre uma razão para as cerimônias e ritos simples do Espiritismo. Nas instituições científicas há igualmente o que os cientistas sociais denominam como rituais ou ritos, nem sempre racionais, muitas vezes legitimados apenas pela tradição, cuja racionalidade se perdeu nos tempos, podemos adicionar aos argumentos do “Bozzano Brasileiro”. Não lhe passou despercebido também o caráter dogmático da existência de Deus no Espiritismo.
Um capítulo demorado sobre a concepção espírita dos Evangelhos, em oposição ao conceito que os materialistas fazem deles é seguido de uma breve defesa do Espiritismo como uma interpretação do Cristianismo e um dos “galhos” da árvore das religiões. Este pequeno capítulo é objeto de rápidas considerações sobre divulgadores de grandes religiões no mundo: Moisés, Brama, Zoroastro, Jeremias, Buda, Lao-Tsé, Confúcio, Sócrates e o Cristo. Carlos Imbassahy mostra elementos comuns entre o Espiritismo e as doutrinas destes homens.
O autor termina o livro com um capítulo sobre a oração, narrando, inclusive, vivências pessoais.
Passado meio século os tempos são outros, os interesses que movem o debate sobre o caráter religioso do Espiritismo também são outros, mas o livro de Carlos Imbassahy, claro, respeitoso, lógico, continua sendo importante para os que desejam discutir a questão, sob o risco de abordarem questões já desenvolvidas com competência como se nunca tivessem sido tratadas antes.

Livro: Religião
Autor: Carlos Imbassahy
Editor: Federação Espírita Brasileira – FEB
218 páginas
12,5 X 18,5
2a. Edição
1951 (?)

Resenha de Jáder Sampaio

23.2.08

Espiritismo e Parapsicologia


Publicamos no Anuário Histórico Espírita de 2003, organizado pelo Eduardo Carvalho Monteiro, o trabalho "Espiritismo e Parapsicologia: Fronteiras e Limites". O objetivo do trabalho é tentar mostrar as conexões entre estes movimentos de produção de conhecimento sobre o espírito e as faculdades humanas raras e pouco conhecidas pelas ciências naturais.
Houve diversos movimentos culturais anteriores, que influenciaram de uma forma ou outra a constituição, linguagem e metodologia de abordagem destes campos do conhecimento.
A figura no início desta publicação sintetiza o escopo do trabalho.
Para uma leitura mais detalhada, recomendo o Anuário que traz muitos artigos de qualidade e interesse à história do movimento espírita. http://www.candeia.com/produto.asp?section=1&id=8479



16.2.08

Espiritismo e Universidade: Médicos, Médiuns e Mediações


Figura 1: Fotos do Instituto Bairral

Eveline Stella de Araújo defendeu dissertação de mestrado em 2007 intitulada "Médiuns, Médicos e Mediações". É um trabalho antropológico no qual ela emprega o método etnográfico para discutir a mediação entre o "código médico e o espírita" por profissional médico e espírita.


Eveline pesquisou hospitais, associações médico-espíritas, eventos médico-espíritas e descreve as práticas em um centro espírita.


A autora tenta durante o seu discurso "afastar-se" do movimento espírita, o qual parece conhecer de dentro de casa (um abraço ao Napoleão, nosso colega-pioneiro da LIHPE e à sua esposa Elci). Ela mosta domínio dos principais autores antropólogos e de ciências humanas e sociais que trabalharam com o Espiritismo no Brasil em sua revisão.


Temos pontos de divergência e convergência, que não apresentarei no momento, quem sabe em uma publicação futura.


O movimento espírita merece conhecer este trabalho. Basta clicar no título deste "post" e baixar gratuitamente a dissertação da Universidade Federal do Paraná em pdf.

14.2.08

Espiritismo e Universidade: A FEB sob a Análise Antropológica



As Universidades têm se interessado pelo Espiritismo em diversos aspectos. Uma das abordagens mais produtivas tem sido a antropológica. Contam-se às dezenas os livros e teses escritas sobre o movimento espírita no Brasil e na França.

Um dos trabalhos mais comentados, agraciado com o Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa de 1995 foi a tese, depois publicada como livro com o seguinte título: "O Cuidado dos Mortos: Uma História da Condenação e Legitimação do Espiritismo." Foi escrita pelo professor Emerson Giumbelli, hoje na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Fui presenteado pelo Milton Piedade, a quem agradeço de coração, e depois tive contato pessoal com o autor na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais.

O livro é muito rico para ser apresentado por uma publicação de "blog". Giumbelli fez um estudo histórico e etnográfico buscando compreender a delimitação de fronteiras e identidades entre o Espiritismo, tendo por objeto a Federação Espírita Brasileira, no período entre 1890 e 1950, no Rio de Janeiro, e o conflito com outras instituições, como a policial, a jurídica e a medicina.

Deixo o leitor com o parágrafo de justificativa do autor:

"A impressão a que se chega depois de uma incursão pela literatura antropológica, sociológica e historiográfica dedicada ao Espiritismo é a de sua insuficiência diante de sua importância cultural, social e histórica do assunto em questão. Estatísticas oficiais e outras estimativas apontam a existência de 2 a 4 milhões de adeptos espíritas no Brasil, reunidos em torno de milhares de centros de culto, sem contabilizar os outros milhões de pessoas que, mesmo não se identificando como tal, frequentam suas práticas. Sabe-se também do grande número de iniciativas e instituições filantrópicas organizadas e conduzidas por espíritas, cujos benefícios, ainda pouco avaliados, atingem um contingente significativo de pessoas. Conhece-se o extraordinário volume de publicações espíritas - desde periódicos até as mais diversas obras doutrinárias - que inundam mesmo as mais desconhecidas livrarias e o imenso prestígio e carisma que detém personagens como o "médium" mineiro Chico Xavier, cuja fama ultrapassa as fronteiras nacionais." (GIUMBELLI, Emerson. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1977. 326 p.)



3.8.07

O Espiritismo nos Estados Unidos

EC: Vocês promovem eventos de divulgação do Espiritismo? Fale um pouco sobre eles.

Antônio: Os eventos maiores com o propósito de divulgar o espiritismo de forma mais ampla, para um maior número de pessoas, normalmente ocorrem com a união de esforços de mais de um grupo espírita. Muitas vezes, por ocasião da visita dos nossos mediums e palestrantes mais conhecidos, como por exemplo o Divaldo Pereira Franco, o Raul Teixeira e outros, os quais nos visitam anualmente, os grupos se unem em torno do evento e proporcionam meios para que as palestras sejam feitas com tradução simultânea para o inglês.

(Foto 1: Raul Teixeira em Baltimore. Da esquerda para a direita, Vanessa Anseloni, Elmo Deslandes, Raul, Alexandre Fonseca e Antônio Leite)



EC: Fale um pouco mais sobre a divulgação espírita nos Estados Unidos.

Antônio: Saindo um pouquinho da região da grande Nova Iorque, podemos mencionar também a Spiritist Society of Baltimore, que vem fazendo um trabalho extraordinário na disseminação do Espiritismo já há alguns anos. Este grupo cujas atividades são todas em inglês e voltadas para o público americano, pela estrutura que tem e graças ao dinamismo e a dedicação da Vanessa Anseloni e seu esposo Daniel, seus principais dirigentes, tem a participação de um público americano em maior percentual. Eles mantém um calendário permanente de eventos de divulgação do espiritismo aqui na América, o que pode ser checado no website do grupo. Em julho de 2005, este grupo espírita promoveu um encontro sobremaneira importante para a aproximação dos movimentos Espírita e do Moderno Espiritualismo aqui na América. O evento aconteceu em Lily Dale, sede do movimento do Moderno Espiritualismo aqui nos Estados Unidos, e contou com a presença de um grande público, em sua maioria de americanos. Podemos mencionar ainda a Spiritist Society of Florida, que sob a liderença da dedicada e dinâmica confrade Yvonne Limoges e o seu pai, Edgar Crespo, promovem o Espiritismo por aqui há meia década. Recentemente publicaram a tradução para o inglês da clássica obra de Amália Domingo Soler, - Memórias do Padre Germano (Memoirs of Father Germain), a qual se encontra à venda na internet. A tradução foi feita por Edgar Crespo e a revisão por Yvonne Limoges. Uma característica interessante nas atividades deste grupo espírita, é que a sua reunião mediúnica é aberta à participação pública. Em visita recente que fiz a este grupo, em companhia da minha esposa, pudemos testemunhar a seriedade e sentir o clima de vibraçoes harmoniosas que reinan no ambiente dessas reuniões, as quais propiciam uma grande oportunidade de aprendizado para os presentes, no que diz respeito especificamente à sagrada prática da mediunidade.


EC: Fale um pouco mais da tradução dos livros para a língua inglesa.
Antônio: Esta é uma tarefa de grande importância para que o Espiritismo venha se tornar mais conhecido num futuro próximo. E na atualidade, sem nenhuma sombra de dúvidas, o inglês é a língua de caráter universal capaz de fazer uma idéia ser disseminada mais rapidamente pelo mundo afora. Para enfatizar a importância dessa iniciativa, mencionamos aqui o parágrafo final da mensagem do próprio Kardec (espírito), intitulada O Espiritismo e o Espiritualismo, a qual foi psicografada em 14 de setembro de 1869, na casa da senhora Anna Blackwell, tradutora de algumas das obras básicas para o inglês, em presença do senhor Peebles, um dos pioneiros do movimento do Moderno Espiritualismo aqui nos Estados Unidos da América. Disse o codificador: "Traduzí as minhas obras! Só se conhecem na América os argumentos contra a reencaranção. Quando as demonstrações em favor dêsse princípio ali se tornarem populares, o Espiritismo e o Espiritualismo não tardarão a se confundir e se tornarão, por sua fusão, na Filosofia natural adotado por todos." *


(Foto 2: Janet Duncan, tradutora de "O Evangelho Segundo o Espiritismo em Miami, ano 2000, à direita de Antônio)

Pelas dificuldades que envolve a tarefa, até que não temos o direito de nos lamentar, pois muita coisa já aconteceu até aqui neste particular, e a tendência é o crescimento. No tocante as obras básicas, tivemos o trabalho pioneiro nas traduções de Anna Blackwell [O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e o Céu e o Inferno]; Emma A. Wood [O Livro dos Médiuns]; W. J. Colville [A Genese]; e Janet A. Duncan [O Evangelho Segundo o Espiritismo]. Assim, temos todas as obras básicas já traduzidas para o inglês e inteiramente disponíveis na internet. Além das obras básicas, temos também várias obras de autores espíritas clássicos que foram vertidas para o inglês e encontram-se inteiramente disponíveis na internet. A propósito, citaremos algumas aqui. De LÉON DENIS temos, Life and Destiny [O Problema do Ser do Destino e da Dor], traduzida pela famosa autora e poetisa espiritualista Ella Wheeler Wilcox; Here and Hereafter [Depois da Morte], tradução de George G. Fleurot; The Mystery of Joan of Arc [Joana D'Arc], traduzida pelo famosíssimo escritor Arthur Conan Doyle, que foi também um dos maiores propagadores do movimento do Moderno Espiritualismo e escrveu vários livros nesta área, e dentre eles citamos aqui a importante obra The History of Spiritualism, traduzida para o portugês por Júlio Abreu Filho, com prefácio de J. Herculano Pires, com o título de História do Espiritismo; Christianity and Spiritualism [Cristianismo e Espiritismo], tradução de Helen Draper Speakman. Muitas das obras de CAMILLE FLAMMARION, GABRIEL DELANNE e outros autores clássicos espíritas foram também traduzidas para o inglês, como é o caso da importante obra em três volumes, Death and Its Mysteries [A Morte e seus Mistérios] e Evidence for a Future Life [A Alma é Imortal], respectivamente, as quais encontram-se em edições novas e revisadas, inteiramente disponíveis no website do SGNY. As obras de Léon Denis acima mencionadas, também estão inteiramente disponíveis na página do SGNY bem como na do GEAE, além de muitas outras obras. Ao lado das obras clássicas de autores espíritas, como as mencionadas acima, temos também uma vasta literatura espiritualista e aquela mais voltada para o campo da Psychical Research [Pesquisa Psíquica], as quais foram originariamente, em sua grande maioria, publicadas no idioma inglês. O conteúdo dessas obras, em geral, está em perfeita sintonia com os ensinos espíritas, discrepando muito pouco ou quase nada com a essência dos princípios da codificação. A prova disto é que muitas delas foram traduzidas para o português e são tidas como obras genuinamente espíritas. Mencionaremos algumas a seguir. Researches in the Phenomena of Spiritualism [Fatos Espíritas] de autoria de Sir William Crookes, publicaão FEB, tradução de Oscar D'Argonnel; Spirit Teachings [Ensinos Espiritualistas] autoria de William Stainton Moses, publicação FEB, tradução de Oscar D'Argonnel; The Scientific Basis of Spiritualism [Bases Científicas do Espiritismo] autoria de Epes Sargent, publicação FEB, tradução de Francisco Raimundo Ewerton Quadros; The Debatable Land Between this World and the Next [Região em Litígio Entre este Mundo e o Outro] de autoria de Robert Dale Owen, publicação FEB, tradução de Francisco Raimundo Ewerton Quadros; The Life Beyond the Veil [A Vida Além do Véu] de autoria do Rev. G. Vale Owen, publicação FEB, tradução de Carlos Imbassahy; Raymond or Life and Death [Raymond, Uma Prova da Sobrevivência da Alma] de autoria do grande escritor, cientista e espiritualista britânico Sir Oliver Lodge, Edição Edigraf, tradução do imortal Monteiro Lobato; Why Do I Believe in Personal Immortality [Por Que Creio na Imortalidade da Alma] do mesmo autor acima, Sir Oliver Lodge, Edições FEESP, tradução de Francisco Klors Werneck.

A lista é grande e não quero abusar do precioso espaço gentilmente nos cedido, mas gostaria de finalizá-la, mencionando uma das obras espiritualistas mais iinteressantes que li ao longo dos anos. Trata-se do precioso opúsculo The Scientific Aspect of the Supernatural [O Aspecto Científico do Sobrenatural] de autoria do extraordinário Alfred Russel Wallace, célebre escritor espiritualista, um entre os grandes cientistas que habitaram este orbe e co-autor da Teoria da Evolução das Espécies, com Charles Darwin. A tradução para o português que está um primor, foi publicada recentemente pela Publicações Lachâtre. Outro aspecto também digno de nota nesta área de divulgação do Espiritismo para o público de língua inglesa, é que além das traduções de livros propriamente espíritas, há também outros originariamente escritos em inglês, por diversos autores, os quais de alguma forma introduzem o espiritismo para este público. Gostaria de mencionar alguns aqui como exemplificação do afirmado. The Indefinite Boundary e The Flying Cow - Research into Paranormal Phenomena in the World's most Psychic Country, ambos de autoria do escritor e jornalista Guy Lyon Playfair. Ambos os livros foram muito bem escritos e introduz o espiritismo de forma muito bem apropriada e séria. O segundo deles, em seu Capítulo 7 [The Little Red Fish], fala sobre Francisco Candido Xavier, discorrendo amplamente sobre a série de obras da coleção André Luiz e traz um apêndice sobre a Teoria Corpuscular do Espírito, de Hernani Guimarães Andrade; Spiritis and Scientists - Ideology, Spiritism and Brazilian Culture, resultado das pesquisas para a tese de doutorado do professor David J. Hess, junto ao Departamento de Antropologia da Cornell University, publicado em 1991.


Dando continuidade ao trabalho dos pioneiros tradutores, mais recentemente temos o excelente trabalho da Allan Kardec Educational Society com as traduções novas de duas das obras básicas [O Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo] e mais ainda as obras introdutórias de Kardec [O Espiritismo em sua Expressão mais Simples e O Que é o Espiritismo], ambas compiladas num único volume cujo título em inglês é Introduction to the Spiritist Philosophy. Além dessas obras, a AKES também já traduziu três das obras da coleção André Luiz [Nosso Lar; E a Vida Continua; e Os Mensageiros], e tem um projeto permanente de ação em que novas obras serão traduzidas. O Spiritist Group of New York, sob a coordenação de Jussara Korngold, também tem feito um trabalho profícuo nesta área de traduções de livros espíritas. Além das novas traduções de duas das obras básicas [A Gênese e O Céu e o Inferno], traduziu ainda obras espíritas importantes como Nos Domínios da Mediunidade [In the Domain of Mediumship], Desobsessão [Disobsession], Pão Nosso [Our Daily Bread], todas psicografadas por Francisco Cândido Xavier; Obsessão, O Passe, A Doutrinação [Obsession, Passes, Counseling] de autoria do saudoso J. Herculano Pires, entre outras. Ainda mais recentemente, ganhamos também um outro grande aliado nesta nobre tarefa de traduções de livros espíritas, a Federação Espírita Brasileira. As recentes traduções das duas obras básicas, O Livro dos Espíritos, e O Evangelho Segundo o Espiritismo, e ainda o primeiro livro da série da coleção André Luiz - Nosso Lar, nos deixa a certeza de que isto é apenas um começo, e que a FEB, com a sua experiência aliada a sua forte estrutura, será um componente importantíssimo nesta área, e o espiritismo irá gradativamente ganhando espaço nos corações e nas mentes das pessoas, em todos os quadrantes do nosso Planeta Terra. Assim, para resumir esta resposta, muito embora saibamos que ainda há muito para se fazer nesta área, eu diria que o que já foi feito até aqui está de bom tamanho. Sabemos que a marcha do espiritismo na conquista das mentes e dos corações do nossos irmãos que ainda não tiveram o privilégio de o conhecer, tem mesmo que ser lenta e gradual, pois ninguém está numa corrida a cata de prosélitos e o livre-arbítrio tem que ser respeitado.


EC: Vocês têm escrito livros espíritas em inglês? Que títulos foram lançados até o momento?
Antônio: Eu particularmente não me vejo em condições de escrever um livro espírita nem mesmo em português, muito menos em inglês. Não, isto não está nos meus planos para esta encarnação. Tenho escrito alguns pequenos artigos e textos que são veiculados em algumas páginas na internet, em especial no GEAE, os quais faço com a ajuda do meu filho que é fluente no idioma inglês. De que tenho notícias, a Jussara Korngold escreveu um, Practical Guide for Magnetic and Spiriutal Healing, o qual se acha disponível inteiramente no website do SGNY. Se não me falha a memória ela estaria escrevendo um segundo, do qual não tenho maiores informações. Está aí uma boa dica para mais uma entrevista, ela terá muito o que falar sobre suas experiências com a disseminação do espiritismo em língua inglesa, tanto aqui nos Estados Unidos, bem como na Inglaterra, onde também viveu por vários anos.

21.6.07

Ciclo de Estudos Sobre Espiritismo


"Para combater um cálculo é necessário opor-se-lhe outro cálculo, o que exige saber calcular. O crítico não se deve limitar a dizer que tal coisa é boa ou má: é preciso que justifique a opinião por uma demonstração clara e categórica, baseada sobre os princípios da arte ou ciência a que pertence o objeto da crítica. Como poderá fazê-lo, quando não conhecer esses princípios?"
(Allan Kardec - O Que é o Espiritismo)


Kardec entendia que o Espiritismo foi construído a partir de métodos próprios das ciências e da Filosofia, o que exige dos que se interessam por ele um estudo cuidadoso de seus princípios e teses, antes de iniciar a experimentação. Muitas pessoas são atraídas, hoje, às casas espíritas, pela imensa publicidade que a mídia tem dispensado aos fenômenos e idéias espíritas.

As pessoas que chegam pela via das reuniões públicas correm o risco de freqüentar durante anos um Centro Espírita e sair dele sem conhecerem sequer os fundamentos doutrinários. Muitas sociedades espíritas optam por tratar de temas ligados à vida familiar, aos problemas contemporâneos e ao Evangelho, o que tem por efeito a criação de uma visão da Doutrina Espírita semelhante à de um quebra cabeças desmontado, com as peças espalhadas.

Buscando fornecer opções para os iniciantes e os interessados no estudo sistemático do Espiritismo, Fabrício e Larissa estão realizando às segundas-feiras, às 20:00 horas, na sede da Associação Espírita Célia Xavier, situada na Rua Coronel Pedro Jorge 314, Prado - Belo Horizonte-MG, um ciclo de estudos sobre Doutrina Espírita. O ciclo está sempre iniciando-se e reiniciando-se. Os interessados podem procurar os coordenadores nas segundas feiras e inteirarem-se de como participar.

Os temas do ciclo são:

Espiritismo, Materialismo e Deus
Jesus e a Segunda Revelação
Espírito e Perispírito
Livre Arbítrio, Lei de Causa e Efeito e Reencarnação
Plano Espiritual, Vida Futura e Pluralidade dos Mundos Habitados
A Prece
Pureza Doutrinária
Evolução
Fora da Caridade não há Salvação
Mediunidade
Influência dos Espíritos nas nossas Vidas
Cristão no Mundo

O ciclo dura cerca de três meses, é baseado em exposições dialogadas e tem funcionado com grupos pequenos, o que deixa os participantes mais à vontade para interagir.

Você se interessou? Não deixe para amanhã.