Jáder Sampaio
Um passeio por alguns textos do
famoso pesquisador, Ian Stevenson, que estudou casos de recordações de eventos
de outras encarnações em crianças, e recordei-me de uma frase do Sr. Virgílio
Almeida. “Se os espíritas negligenciarem a divulgação das ideias espíritas, a
ciência as redescobrirá”.
No livro “Where reincarnation and
biology intersect” (Onde a reencarnação e a biologia se cruzam), publicado em
1997, o autor discute como uma personalidade desencarnada poderia influenciar a
formação do próximo corpo físico. Ele havia encontrado em suas pesquisas,
marcas de nascença, como manchas, cicatrizes e más formações, com clara
associação a eventos recordados pelas crianças estudadas de uma vida passada.
Ele percebe que no intervalo entre encarnações, se a hipótese da reencarnação
estiver correta, as memórias precisam ser mantidas em algum lugar, e que este
lugar deveria influenciar de alguma forma, ou o processo de fertilização do
zigoto (p. 183), ou os embriões. Ele propõe diversas possibilidades para que as
duas coisas aconteçam:
1.
modificar as secreções vaginais da futura mãe
2.
Influenciar de alguma forma a mãe para induzir o
sexo do futuro bebê
3.
Influenciar o feto ou embrião diretamente,
gerando, por exemplo, marcas ou defeitos de nascença
Qualquer que seja o processo,
seria necessário um tipo de modelo que imprima os efeitos das memórias no
embrião ou feto, gerando as características físicas que ele encontrou nas
crianças que se recordam das vidas passadas. A partir deste raciocínio, ele
propôs um conceito:
“O modelo
precisa ter um veículo que carregue as memórias do corpo físico e também as
cognitivas e as comportamentais. Eu sugeri a palavra psicóforo, que significa
“veículo da mente”. (p. 183)
Creio que li em outro livro o
termo psicosfera, como tradução de “psychophore”, mas não me pareceu correto. O
pospositivo –sfera, quer dizer globo, esfera, bola. O Houaiss dicionarizou o
pospositivo –fora ou -foro, com o sentido de “levar, carregar”, como deseja
Stevenson. A melhor tradução para o português, portanto, é psicóforo.
O que originou este comentário é
a similitude com uma das propriedades da palavra “períspirito”, criada por
Allan Kardec e inicialmente empregada em “O livro dos espíritos”. Kardec não o
emprega como modelo da formação do corpo, mas como laço de união entre o corpo
e o espírito, contudo ele seria capaz de influenciar o corpo, como se lê em A
Gênese:
Pela identidade da sua natureza, esse fluido, condensado no perispírito,
pode fornecer princípios reparadores ao corpo; o Espírito, encarnado ou
desencarnado, é o agente propulsor que infiltra num corpo deteriorado uma parte
da substância do seu envoltório fluídico. (Kardec, A Gênese, cap XIV, páragrafo
31)
Depois, na literatura espírita
brasileira, encontramos Gabriel Delanne, no livro “A reencarnação”, após citar
um parágrafo sobre embriogênese, escrito por Claude Bernard:
“Uma vez que o
períspirito organiza a matéria, e como esta ressuscita das formas
desaparecidas, parece lógico concluir que ele conserva traços deste pretérito,
porque a hereditariedade, como veremos, é impotente para fazer-nos compreender
o que se passa.” (p. 64)
Não sei se Stevenson conhece a
fundo o pensamento espírita, mas parece que Seu Virgílio está com a razão. Para
os espíritas, ele redescobriu a roda ao criar esta nova palavra. De qualquer
forma, é importante que o estudioso do espiritismo acompanhe as pesquisas sobre
os assuntos que dizem respeito à doutrina, já que contribuem ao trazer novas
evidências e discussões para questões centenárias.
Referências
Delanne, Gabriel. A reencarnação. Rio de Janeiro, FEB, 1992. Traduzido por Carlos Imbassahy.
Kardec, Allan. A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. 16 ed. Rio de Janeiro, FEB, 1973. Tradução da 5 ed. francesa por Guillon Ribeiro.
Stevenson, Ian. Where reincarnation and biology
intersect. Westport-CT, Praeger, 1997. ISBN 0-275-95189-8
O termo "psicosfera" ou "psicoesfera" não apareceu em nenhuma versão oficial, e sim em uma versão digital não oficial distribuída na internet, ou em um capítulo do livro "Vida Antes da Vida" antes de ser oficialmente traduzido, ou em uma tradução de um capítulo escrito por Matlock em 1990 que fazia um resumo dos estudos de caso de Ian Stevenson. Creio que tais versões não oficiais já foram retiradas da internet, ou já consertadas quanto ao termo.
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