Há muitos anos fiquei conhecendo os livros psicografados por
Dolores Bacelar, e me tocaram tanto, que adquiri todos os que pude. Já por
algumas vezes tenho usado um conto atribuído ao Irmão Herculano, intitulado
“Igor, o bolchevista”, em minhas palestras.
É uma história diferente que lembra as de Tolstói, psicografadas
por Yvonne A. Pereira, por ambientar-se no Império Russo. Esta história gira ao
redor de Igor, um proprietário de terras reduzido à miséria.
Chamaram-me a atenção, da última vez que preparei o texto para ser
contado, os detalhes e regionalismos que o narrador espiritual insere no texto.
Um deles é o sobrenome do personagem: Alexandrovich. Não encontrei nada grafado
assim na pesquisa que fiz, mas o sobrenome Aleksandrovich (obviamente, uma
forma ocidentalizada) é bem comum.
Igor está na aldeia de Grigorievo, que em princípio não encontrei
na internet. Esta localidade não deve ser muito distante de Moscou, em função
de uma viagem que o personagem faz até a grande cidade do Império Russo. Pedi
ajuda ao Chrystian Lavarini, que localizou uma Grigoryevo no Google Maps.
Depois, encontrei mais, e também uma Grigiškės, na Lituânia, que fazia parte do Império Russo na época
do conto e que significa Grigoryevo. Encontrei Grigoryevos nos Oblasts de
Vologda, Arkangelsk, Novgorod, Smolensky, Tver e Vladimir, em terras russas.
Difícil identificar qual delas está no texto.
Na casa de Bóris
Sergueievich, serve-se um kislischi[1],
para Igor. Li em uma revista que na Ucrânia se faz um fermentado de malte ou
painço, “melhor que a russa kvass[2]”
que tem alguma semelhança com a bastante conhecida kislischi. Um personagem de um romance que encontrei é servido com kvass,
kislischi e hidromel, e acha a bebida em questão muito parecida com a Mead[3]
escandinava. No texto do irmão Herculano, explica-se que o kislischi é uma
bebida feita de “pão fermentado, muito ácida”. Esta descrição parece-se mais
com o kvass que com o kislichi que encontrei com muita dificuldade na internet
e alguma ambiguidade.
A esposa de Igor fizera
um kaftan (no texto está escrito caftã, encontrei também na internet a grafia
caftan), que é uma espécie de sobretudo “mais usado por camponeses e
mercadores”, mas que hoje é usado apenas por religiosos conservadores. Li
também que havia um kaftan usado pelos nobres em casa, apenas, em função da
ocidentalização de costumes imposta pelo imperador Pedro, O Grande, na primeira
década do século XVIII.
Outras informações
próprias da Rússia, mas mais conhecidas, encontram-se no texto, como a palavra
“mamenka” (Маменька), que significa mamãe em russo; a palavra “pope” com o
significado de padre, a referência ao “samovar”, que é uma peça para servir
bebidas quentes como chás diversos.
Estas pequenas palavras
não são uma prova definitiva de conhecimento da Rússia, mas, pela dificuldade
em se encontrar, ou a médium conhecia bem a Rússia do tempo do império, ou sua
faculdade permitiu a inclusão de conceitos desconhecidos pela imensa maioria de
nós, brasileiros.
[1]
Kislischi ou kislichi é Um tipo de cerveja (sourish) feita na Rússia, em alguns
aspectos parecida com a cidra e espumante como o champagne. The Southland Times
– 1st august 1883.
[2] O квас é uma bebida gaseificada de baixo
teor alcoólico (cerca de 1,5%) preparada a partir da fermentação do pão de
centeio, ou pão preto (чёрный хлеб) seco ou amanhecido, que leva também
algumas ervas. Há algumas versões alternativas que contam ainda com frutas
silvestres, outros grãos ou beterraba. Pode ser consumida também por crianças.
[3]
Mead é uma bebida alcoólica criada a partir de mel fermentado com água, algumas
vezes com várias frutas, especiarias, grãos ou lúpulo.
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