Saulo de Tarso
Jaques foi convidado a falar
sobre a vida de Paulo de Tarso para crianças, quase jovens, de 11 e 12 anos de
idade. Um dos evangelizadores, Levi, pediu a ele que observasse a letra da
música Vaso Escolhido, escrita por Gladston e interpretada por Tim e Vanessa,
para que os evangelizandos pudessem entender as frases que remetem à vida do
doutor da lei. Encomenda difícil. Os jovens estudam em boas escolas da capital
mineira, mas como despertar o interesse por um personagem que está cada dia
mais distante do meio escolar e da experiência de quem cada dia menos tem
contato com o cristianismo, na escola, na televisão e no círculo de amizades?
Ele pensou em uma apresentação de
slides que fizera há alguns anos, para adultos. Teve o bom senso de consultar Levi
que lhe respondeu, presto:
- O conteúdo está muito “master level”, né?
Estava. Jaques pesquisou a
internet, para conhecer melhor a música do Gladston, e encontrou um material
interessante. Um vídeo do “youtube” que tinha imagens recortadas de um desenho
animado e como som, a música citada.
Nova consulta, e Levi respondeu:
- É legal para ilustrar, mas você
devia usá-lo para introduzir, que é apenas uma animação, para eles não
encararem o desenho como “infantil”. Nesta idade eles se queixam muito de não
se usar técnicas que consideram infantis.
O que fazer então? E veio a luz.
Jaques separou algumas das
principais passagens da vida de Saulo-Paulo, encontradas no livro dos Atos dos
Apóstolos. Ainda assim era muita coisa. Selecionou todos os que se encontravam
ilustrados no desenho animado. Selecionou também os que eram necessários para
explicar a música que seria tocada, por exemplo, por que Paulo é chamado de
vaso escolhido?
Na hora de sair para a aula com
toda a parafernália, notebook, mapa das viagens de Paulo, etc., Jaques viu o
pote cheio de caramelos e o esvaziou. Eles seriam úteis para esta idade.
Iniciada a aula e cantada a
música, Jaques começou a aula perguntando aos alunos o que sabiam da vida de
Paulo.
- Detesto ensinar “o padre nosso ao
senhor vigário”, vocês sabem o que é isto?
- Não, Jaques, o que é?
Responderam
- Ensinar coisas que as pessoas
já conhecem.
Algumas informações eles já conheciam. Paulo era
apóstolo de Jesus, mudou de nome, estava em um cavalo quando viu uma luz... As respostas
foram sendo anotadas no quadro e problematizadas:
- O que é apóstolo?
- Tem os apóstolos e os
discípulos, Jaques!
- Mas Paulo não era um dos doze!
E o diálogo começou, cheio de
questões sobre as informações que eles já dispunham. O interesse começou a
despertar.
Jaques comunicou que iria contar
a história de Paulo. Contudo, provocou os alunos a participar da seguinte
forma:
- Vou contar a história de Saulo,
mas vou parar de tempos em tempos para fazer perguntas. Quem acertar ganha um
caramelo, ok? No final, vou passar um desenho animado sobre Paulo, sem as
falas. Quem identificar o que está acontecendo, ganha um caramelo também! Não
tenho para todos, então alguns ficarão sem. Tudo bem?
Feito o contrato psicológico, a
história começou a ser contada, mas interrompida sempre pelos alunos, que
tinham uma dúvida, algo a contribuir, um comentário, até mesmo brincadeiras
meio fora de hora.
O desafio e a competição natural
da idade eram mais motivadores que os doces, mas todos queriam ganhar. A
história de Saulo despertou uma série de questões de história e geografia.
- Quem sabe para onde Saulo ia
quando viu Jesus?
- Jerusalém! Disse um.
- Roma! Disse outra.
- Damasco! Lembrou uma aluna.
- Damasco é capital da Síria, não
é professor?
- Como você sabe?
- Meu pai é professor de
geografia!
Depois de algum tempo, os alunos
estavam chamando Jaques de professor. E as mãos levantavam sempre, tentando
resolver os problemas que eram colocados ou mesmo, apenas, participar. Quase
todos gostaram desta forma meio aula, meio brincadeira de ensinar e aprender.
- Você é professor de história?
Perguntou um deles.
Os caramelos começaram a ter
outra utilidade. Quem ganhou um, não podia ganhar outro, para que eles
atingissem o número maior de colegas. Então, na hora de responder, quem já
havia respondido certo tinha que ceder a vez para quem ainda não havia ganhado.
Jaques pensou que os que haviam ganhado podiam ficar desmotivados, mas isto não
aconteceu. Eles continuavam levantando a mão e esperando a resposta dos
colegas. Sabiam que se os colegas não respondessem certo, teriam sua vez, mesmo
sem ganhar nenhum caramelo. Ninguém se importava.
Apenas três caramelos haviam
sobrado para o vídeo, que foi usado como atividade de verificação da
aprendizagem. Foi necessário improvisar, e escolher apenas as três cenas mais
difíceis para distribuir as balas que sobraram.
Eles continuaram se interessando
e participando, de forma disputada.
Estêvão foi facilmente
identificado, Ananias também. A fuga de Damasco foi lembrada. E os alunos iam
falando, até que sobrou apenas um caramelo.
- Que cena é esta? Perguntou
Jaques. Quatro mãos levantaram-se.
- A fala de Estêvão?
- Não, esta cena aconteceu depois
das viagens de Paulo.
- Foi quando Paulo estava
ensinando e foi apedrejado e jogado no monturo?
- Não, foi depois deste evento.
Disse Jaques.
Um dos mais falantes, mas que
ainda não havia conseguido ganhar seu doce, pediu a vez.
- Foi quando Paulo foi julgado em
Jerusalém e falou que era cidadão romano?
- Acertou! E uma bala voou até
sua mão.
A avaliação foi um sucesso, e
ninguém achou que se tratava de atividade de criancinha.
- Como Paulo morreu? Alguém
perguntou.
Jaques não tinha certeza. Não
havia o relato da morte de Paulo nos atos dos apóstolos.
- Como cidadão romano, não deve
ter sido crucificado. Talvez executado com a espada. Mas eu não tenho certeza.
Vou verificar e o Levi fala com vocês na semana que vem, ok?
Não houve problema. O respeito
não diminui com a verdade.
Ao final da aula, um dos alunos
falou com Jaques:
- Você volta para dar outra aula?
Não há elogio melhor para um
professor que este.
Todos começaram a cantar,
acompanhados pelo violão de Levi, que tocava muito bem, e os passistas entraram
na sala para aplicar passes em quem desejasse.
A aula terminou, mas a conversa
continuou após os passes, até que todos se fossem.