23.11.08

Projeto Evangelizar - Jogos


Em agosto de 1986 (há vinte e dois anos!!!) coordenei um projeto na evangelização infantil denominado "Projeto Evangelizar". Organizamos grupos de interesse que desenvolveram material para treinamento de evangelizadores em diversas áreas que praticamente não tinham material publicado.


Com a palestra de sexta-feira redescobri alguma coisa que fizemos no projeto e pretendo publicar aos poucos no EC para o público leitor que trabalha com crianças nas Sociedades Espíritas do Brasil e do exterior.


A Recreação dos Três aos Cinco Anos


"Transpor um obstáculo e com isso rejubilar-se é a principal característica da recreação entre quatro e cinco anos. É a idade das proezas. A criança inventa as próprias brincadeiras, e de objetos mais diversos imagina uma série de brinquedos: um pau de vassoura é um cavalo, um sabugo de milho é uma adorável bonequinha."


"01 - Adivinhe o que foi


Indicação: três a cinco anos

Objetivos: atenção, observação, acuidade auditiva, saber esperar sua vez.

Material: uma venda de pano.

Preparação: as crianças sentam-se em semicírculo, destacando-se uma para ter os olhos vendados

Desenvolvimento: A fim de iniciar a brincadeira, a professora escolhe uma criança, que deve produzir três ruídos diferentes. O companheiro vendado deve identificar os sons produzidos (batidas de pés, toque na porta, palma, barulho na mesa, estalar de dedos, barulho com a língua, etc.) O próximo a ser vendado fica a critério da professora."


Se você já usou esta brincadeira em sala de aula, comente...

22.11.08

Dicas para Ler Livros Espíritas

Figura 1: Pintura à Óleo de Alexander Rossi

O Grupo Scheilla fez um convite gentil para discutirmos como estudar o Espiritismo. Um dos tópicos de nossa reunião foram estratégias de leitura, das quais selecionei doze dicas para o Espiritismo Comentado:
1. Escolha livros que lhe darão prazer.
2. A leitura é uma habilidade, leia um pouquinho todos os dias e aos poucos sua capacidade de ler aumentará.
3. Experimente estilos diferentes (contos, poesias, romances, mensagens, estudos, livros históricos, livros temáticos, etc...).
4. Se você não tem hábito de leitura, comece com textos curtos.
5. Para ler um romance de 500 páginas, não páre antes das quarenta primeiras...
6. Não pare a cada palavra desconhecida para procurar no dicionário. (Se quiser aprender palavras novas, anote-as e consulte depois).
7. Divida textos menores em partes.
8. Certifique-se que ao final da leitura você entendeu quais são as principais idéias do autor.
9. Evite ficar riscando ou marcando os livros. Em vez de marcar no texto as idéias principais, anote ao lado do parágrafo uma frase pequena que resume o que é tratado.
10. Leia periódicos espíritas (jornais, revistas, boletins e blogs ou similares), eles tratam de assuntos que não são encontrados nos livros em geral (notícias, informações sobre a casa espírita, textos sobre atividades especializadas, eventos, reflexões de temas do momento, entre outros).
11. Leia Kardec; estude Kardec. Se possível, nesta ordem.
12. Combine com os amigos ler o mesmo livro, ou troque de livros com os amigos. Fica mais fácil de tirar dúvidas e ouvir opiniões.

5.11.08

Semana de Célia 2009 trata da Inclusão Social


Seminário na FEB - Rio de Janeiro


Saúde e Espiritualidade


Ainda não li o livro, mas não se espera pouco dele. Prof. Mauro Ivan pertence à Faculdade de Medicina da UFMG, Departamento de Cirurgia, e vem promovendo com a ajuda de acadêmicos um seminário semestral de saúde e espiritualidade.
Gilson Freire é médico homeopata e médium, atuante no movimento espírita há muitos anos.
Espero em breve poder compartilhar as impressões do livro.

Evangelização de Pacientes Psiquiátricos em BH


Espiritismo Científico

Figura 1: Capa do livro de Rivas
Luis Hu Rivas, espírita peruano, consultor da FEB e do CEI, publicou o livro "Doutrina Espírita para Principiantes". A concepção da obra é digna de elogios. Um livro escrito com uma linguagem acessível a todos, amplamente ilustrado, que aborda princípios e postulados espíritas, com o objetivo de dar uma visão geral da doutrina dos espíritos para quem quer que se interesse.

Alguns pontos, contudo, são polêmicos e há alguns equívocos que merecem ser comentados, não para diminuir o valor da obra, mas em respeito ao caráter filosófico do Espiritismo, que tem a crítica de idéias como instrumento valioso na construção do seu conhecimento.

Figura 2: Capa antiga de "No Invisível"

Na página 31 da edição brasileira, Rivas atribui a Léon Denis a frase: "O Espiritismo será científico ou não sobreviverá". De fato, Denis escreveu esta frase, possivelmente uma interpretação retórica das idéias de Flammarion, que nas comemorações da desencarnação de Kardec dizia: "O Espiritismo é uma ciência da qual só se conhece o ABC."
Denis, contudo, escreveu a frase para criticá-la. No mesmo capítulo ele publica:


"É com desgosto que observamos a tendência de certos adeptos no sentido de menosprezar a feição elevada do Espiritismo (...) para restringir ao campo da experimentação terra-a-terra, a investigação exclusiva do fenômeno físico". (página 10)


Os adeptos do Espiritismo francês discutiam se o trabalho de Kardec deveria ser abandonado ou posto em suspensão de juízo para que os fenônomenos fossem livremente estudados e as teorias construídas com base na observação de fatos, e não com o diálogo com os espíritos e o emprego do método da universalidade e concordância dos ensinos.


O discípulo de Kardec escreveu "No Invisível" para defender a prática da mediunidade como a conhecemos e o diálogo com os espíritos como método válido para a construção do conhecimento espírita. Ele se opunha ao renascimento dos que Kardec denominou "espíritas experimentadores", os que só se interessavam pelos fenômenos, sem considerarem a filosofia espírita e suas conseqüências morais e religiosas.


Lendo o trecho completo de Denis ver-se-á que ele quis criticar o experimentalismo e defender a prática mediúnica dialógica:

"De sobra se tem repetido: o Espiritismo será científico, ou não subsistirá. Ao que acrescentaremos: o Espiritismo deve, antes de tudo, ser honesto!” (Léon Denis, No Invisível, página 21)

Simão Pedro em BH


3.11.08

Ainda as Creches e o Poder Público

Foto 1: Maquete Eletrônica de Escola Infantil do ProInfância

Há alguns anos, participei da comissão de especialistas do estado que promoviam reformas na supostamente extinta Fundação Estadual do Bem Estar do Menor - FEBEM-MG.


Apesar dos inúmeros esforços da direção, encontrei uma instituição na qual crianças portadoras de necessidades especiais não tinham acompanhamento médico regular, as condições das instalações eram sofríveis, a formação do quadro técnico era mínima (ao contrário da realidade do estado, que normalmente tem servidores superqualificados no exercício de suas funções).


Uma das ações então propostas era a realização de parcerias com organizações sem fins lucrativos, para as quais o Estado passaria recursos pré-determinados. Elas se responsabilizariam pelos cuidados com as crianças, a reforma da infra-estrutura e o cumprimento de metas estabelecidas com o gestor público.


Procurei instituições espíritas idôneas para convidá-las a participarem dos processos de credenciamento, e um confrade experiente de uma das contactadas explicou-me que tinha receios de trabalhar com órgãos de governo, devido à prática política de descumprimento de acordos, que deixavam as organizações espíritas com passivos trabalhistas e despesas inesperadas.


Ele não se referia à costumeira prática de atraso no repasse de recursos, que exige que os órgãos provisionem fundos reguladores, ou seja, guardem uma quantia suficiente de recursos para evitar problemas nos períodos em que o repasse é atrasado em função de entraves burocráticos. Este tipo de problema é conhecido até mesmo nas terras do Tio Sam, de onde já li trabalhos que apontam esta dificuldade.


Recentemente fiquei sabendo de uma instituição de educação infantil filantrópica, cuja identidade não revelarei, que padece a falta crônica de repasse de recursos por uma certa prefeitura municial dirigida por uma administração que se diz comprometida com o social. Imaginem ficar mais de um semestre sem o repasse de recursos...


Um número alto de crianças se encontra sob seus cuidados, e como é comum nesta forma de convênio, os recursos são utilizados principalmente para pagamento de empregados. Como as relações de poder são desiguais, por um "dá cá aquela palha" burocrático, justifica-se a omissão do cumprimento do papel do órgão público. Paira sempre uma suspeita, de difícil comprovação, do uso indevido dos recursos, especialmente em uma época eleitoral (ou seria eleitoreira?)


Diante da fragilidade na relação, e do compromisso com as crianças, é muito comum as instituições espíritas se calarem ante a negligência das autoridades responsáveis. Elas temem retaliações, como a não renovação dos convênios, que tem por conseqüência o desmanche do trabalho de promoção social construído após anos e anos de esforços na construção de infra-estruturas, de equipes de voluntários, entre outros.


Aqui da minha ingenuidade fico "matutando" o que poderia ser feito contra este tipo de arbitrariedade, que venho comunicando desde a defesa da minha tese de doutorado.


Penso que uma via é a associativa. Uma coisa é a prefeitura negociar com uma instituição, outra é negociar com uma associação de creches espíritas, com grande número de adesões e um número vultoso de crianças atendidas.


Outra via é a busca de intervenção por parte do considerado quarto poder, o Ministério Público, solicitando que investigue o poder executivo.


Os órgãos públicos geralmente mantém corregedorias, a quem se pode solicitar atuação, mas como evitar as retaliações e a "resposta burocrática", a demora de ação da autoridade pública, enquanto o passivo vai crescendo e crescendo?


Vendo situações como esta (e tenho outras muito semelhantes para publicar), fico pensando se não estamos diante de uma discriminação das instituições espíritas por serem religiosas, o que desgosta a muitos atores políticos de mentalidade fanatizada, mas não lhes dá o direito de agir arbitrariamente.
Eu gostaria de ouvir a opinião de espíritas das Associações de Magistrados e de Advogados espíritas sobre este tipo de problemas, e que ações sensatas poder-se-ia implementar para evitar-se este estado de coisas.

Acho que no plano organizacional, a metáfora mais elucidativa deste tipo de coisa é a de maus tratos a que muitas mulheres na nossa sociedade são submetidas. Elas evitam ao máximo denunciar seus companheiros às autoridades policiais, porque pensam nos filhos e no papel provedor do pai. Vão adiando e adiando uma ação de pleito, até que um dia o dinheiro desaparece de casa e já não há mais como reverter os danos causados durante anos e anos de violência.




2.11.08

4o. ENLIHPE (continuação)


Foto 1: Jáder Sampaio
O primeiro trabalho do ENLIHPE foi intitulado "As Muitas Faces da Intolerância contra o Espiritismo". Sampaio iniciou seu trabalho com a história do Cemitério Espírita de Inhambupe, BA, que foi construído antes do centro espírita da localidade, porque o vigário proibía se enterrassem espíritas no cemitério municipal.

Ele relata as perseguições na França, detalhando o conhecido Processo dos Espíritas, que culminou na prisão de Leymarie, com base na confissão forçada de Buguet sobre fraudes nas fotografias espíritas.
O trabalho vai à Inglaterra e apresenta o processo contra Slade e a criação de um fundo dos espiritualistas ingleses para a defesa de médiuns.
Jáder apresenta os relatos de prisões, perseguições e confiscos nas ditaduras Salazarista e Franquista, em Portugal e Espanha, respectivamente.
O totalitarismo na Europa gerou perseguições a instituições espíritas e espiritualistas, e as teses são documentadas, suas razões especuladas.
No Brasil foram diversas as frentes contra o estabelecimento do Espiritismo. Ainda no Brasil império, Machado de Assis ataca as instituições espíritas através de sua pena. Legisladores tentam proibir o funcionamento dos centros espíritas, depois, no Brasil-República, tenta-se enquadrar os médiuns curadores na categoria de charlatães, proíbe-se o funcionamento de centros espíritas, ficham-se espíritas na ditadura vargas, proíbe-se a prática de receituário mediúnico.
O trabalho mostra a resistência que as federativas espíritas ofereceram ao estado, seja na imprensa, seja respondendo os ataques com livros, seja orientando os centros espíritas, seja cobrando uma posição legal das autoridades, seja no judiciário, fazendo a defesa de médiuns e perseguidos pelas autoridades policiais.
O trabalho aponta que a legitimação do Espiritismo no Brasil não foi pacífica, que a desconstrução do movimento espírita na Europa não foi um fenômeno meramente cultural, mas político, que os órgãos federativos tiveram uma posição fundamental para a sobrevivência do Espiritismo brasileiro e discute duas teses antropológicas: à luz da História, o Espiritismo não é uma doutrina itinerante (Aubrée e Laplantine) e Chico Xavier não teria catolicizado o Espiritismo (Lewgoy), mas o contrário, se considerarmos as fontes espíritas brasileiras anteriores ao médium de Pedro Leopoldo.

Foto 2: Profa. Miriam Hermeto de Sá Motta

No segundo trabalho a Profa. e Doutoranda Míriam Hermeto propõe como preservar a memória espírita através de fontes documentais.

Doutoranda em História pela UFMG, ela inicia seu trabalho distinguindo memória e História e definindo sua disciplina como o "estudo do homem no tempo", alinhada às idéias de Marc Bloch.

Ela discute o papel das fotos, dos documentos primários e de outras fontes que estão nos centros espíritas e não são identificadas como tal por seus membros.

Exemplificando, ela mostra uma foto da fundação do Cenáculo Espírita Thiago Maior, em Belo Horizonte. Ela mostra que a maioria dos fundadores eram homens e brancos (tipo europeu), havia apenas uma mulher e um pardo. Era, portanto, um movimento de elites mineiras, até mesmo pela localização e presença de autoridades no centro nascedouro.

Ela analisa o folheto do lançamento, para o qual foi trazido Chico Xavier. Na capa, encontra-se escrito "Comemoração do Dia dos Mortos" e dentro dele, uma mensagem de Emmanuel convidando os espíritas a evitar este tipo de comemoração, muito comum à época na capital mineira, em decorrência da coerência com os princípios espíritas.

Míriam convidou os membros dos centros espíritas a terem atenção com os documentos que descartam e propôs metodologias de catalogação e identificação de peças que auxiliarão na preservação da memória espírita.

Almoço Beneficente do Irmão Frederico


O Centro Espírita Irmão Frederico está promovendo no dia 23 de novembro um almoço beneficente.
Ele terá como cardápio básico frango xadrez, arroz chau chau, fritas e salada.
Atenção, o ingresso não cobre o consumo de bebidas e sobremesa. Não serão servidas bebidas alcoólicas.
É uma boa oportunidade de levar a família para confraternizar e almoçar no domingo.

Grupo da Fraternidade Irmã Ló



Foto 1: Ló

Cláudio Galvão narrou-nos alguns dados do Grupo de Fraternidade Irmã Ló, em Belo Horizonte. Fizemos-lhes uma visita e fotos da pequena casa espírita no bairro de Santa Tereza, com as peças resultantes de reuniões de materialização, monumentos singelos de um período mediúnico anterior. Espiritismo Comentado irá publicar esta história a partir de hoje.

"Não se pode contar a história do Grupo Ló sem falar, inicialmente, de Elvira Barros Soares, tratada, carinhosamente pelo apelido de Ló e de seu marido, Jair Soares.

Por volta de 1945, iniciaram em seu lar, à Rua Paraisópolis, 658, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, reuniões espíritas.

O natal de 1948 encontrou a família Soares triste e apreensiva, sem a alegria costumeira, pois a Ló, esposa de Jair, se achava gravemente enferma, portadora de câncer de pulmão, cujo prognóstico médico era de poucos meses de vida.

Na madrugada do dia 10 de fevereiro de 1949, chovia torrencialmente, quando Jair, atendendo o soar da campainha se defrontou com dois senhores e uma jovem que, procedentes do Rio de Janeiro, perderam o trem que os levaria ao encontro de Chico Xavier, em Pedro Leopoldo. Jair preparou-lhes a acomodação, pois a Ló já se recolhera.

Pela manhã, enquanto a Ló preparava o desjejum, Peixotinho a observava e, então vislumbrou o verdadeiro motivo de sua presença naquele lar. A tão almejada visita a Chico Xavier, em Pedro Leopoldo foi apenas um alvissareiro pretexto. Via a Irmã Scheilla com o rosto colado ao da Ló a dizer-lhe: “Esta é a minha irmã muito querida, precisando de urgente tratamento. Jesus vai permitir a sua cura. Peço-lhe não ir hoje a Pedro Leopoldo, pois há necessidade de se realizarem reuniões em benefício da enferma”.



Foto 2: Peixotinho

Além da reunião do dia 11-02-49, foram realizadas mais três, sendo que a do dia 12-02 aconteceu em Pedro Leopoldo, contando com a presença de Chico Xavier.

Pela primeira vez foram vistos Espíritos materializados e completamente iluminados. Scheilla envolta em tecidos de luz, resplandecia no silêncio e escuridão do ambiente e trazia nas mãos um aparelho de cor verde clara, emissor de radioatividade, instrumento desconhecido da Terra.

Foto 3: Receptáculo de chumbo feito pelos membros do grupo para receber o elemento radioativo


Ao término do tratamento, a Irmã Scheilla dirigiu a Jesus uma sentida prece de agradecimento pela graça alcançada e informou que a Ló não desencarnaria em conseqüência do câncer; fato que se comprovou vinte e dois anos depois, quando veio a falecer, vitimada por enfarte, em 18-01-71." (Texto de Cláudio Galvão)

Raul Teixeira Visita Minas Gerais


Foto 1: Raul Teixeira no Lar Espírita Esperança

Nas comemorações de seus 40 anos, com o apoio da Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte, a mocidade da Associação Espírita Célia Xavier promoveu palestra do expositor fluminense Raul Teixeira.

Encontro de Gerações

O evento possibilitou o reencontro e a confraternização de diversas gerações da mocidade. Desde fundadores a atuais membros dos quatro ciclos, alguns ainda na casa de Célia, outros na Sociedade Espírita Joanna de Ângelis e até mesmo “jovens” que se afastaram do movimento espírita estiveram presentes e “mataram a saudade”.

Apresentação de Luiz Fernando e Virgílio Almeida

Luiz Fernando recordou alguns dos pioneiros da casa de Célia Xavier ligados à criação da Mocidade: Virgílio Pedro de Almeida e “Seu” Aphrodísio. Em sua fala de abertura, outros espíritas já desencarnados da casa foram lembrados.

Virgílio Almeida do SEJA abriu o evento, recordando as experiências que compartilhou com os amigos na década de 80. Ele reafirmou as diretrizes da mocidade AECX que se baseiam no tripé amizade, estudo e trabalho.

Mais Recordações

Raul, emocionado, recordou-se de sua primeira palestra na Mocidade da AECX, a convite de Wanderley Coutinho, há 36 anos. Referiu-se a pessoas e acontecimentos que marcaram sua trajetória durante todo este tempo, como a visita à casa da “Vovó Adelaide”, a desencarnação de Evaristo e outras histórias, algumas hilárias, outras tocantes.

Um Personagem do Evangelho

Ele tornou contemporânea a história evangélica do “mancebo rico”, dando um novo sentido à distribuição das riquezas. “A capacidade de ler é uma riqueza ante a pessoa analfabeta. Ensiná-la a ler é distribuir riquezas”.

Religião e Religiosidade.

O conferencista reafirmou que a ação do homem no mundo pode ser uma forma de atender ao chamado do Cristo. Não se deveria cindir a vivência da mensagem cristã, enclausurando-a no Centro Espírita e nas práticas dos grupos espíritas. O expositor referiu-se ao trabalho e às conquistas que o homem realiza em outras instâncias sociais, mostrando verdadeiros testemunhos no trabalho cotidiano dos enfermeiros, dos médicos, dos professores, dos lixeiros e de todas as profissões que possibilitam um serviço à pessoa humana e uma vivência cotidiana dos preceitos cristãos.

As Trajetórias

Raul se referiu às muitas trajetórias dos jovens da mocidade que conheceu há muitos anos. Suas conquistas e dissabores, suas esperanças e frustrações, sua condição, enfim, de homens encarnados no mundo, às vezes equivocados, às vezes enfrentando as agruras próprias do homem no mundo, como as dores, as doenças, os conflitos.

Um comentário psicológico

O autor fluminense inseriu em sua fala um convite ao autoconhecimento, com um toque psicanalítico. Ele mostrou cenas do cotidiano espírita em que a exterioridade do compromisso com valores entendidos como cristãos e espíritas predispõem ao desenvolvimento de reações e comportamentos neuróticos. A pessoa que não trabalhou sua sexualidade pode passar a ver nos demais intenções sexuais em gestos de cordialidade, que não existem, exemplificou. Ele distinguiu este tipo de personalidade do que dirigiu sua carga erótica em função de um projeto humano e cultural.

A reafirmação de valores cristãos

Recordando “O Livro dos Espíritos”, Raul Teixeira conduziu o público a uma reflexão sobre o conhecimento que antecede a reforma moral. Ilustrou com inúmeras histórias de confrades que, conscientes das implicações de seus atos, passam a não adotar práticas sociais, consideradas lícitas no mundo, mas inconvenientes às pessoas, diante de uma visão ampliada da vida, das relações entre os homens e da conservação do corpo humano.

Pains

No dia 01 de novembro o expositor visitou Pains, levado pela família de Walter e Marlene Assis. O Centro Espírita Messe de Luz tornou-se pequeno e a palestra foi levada a um auditório ao lado da Prefeitura Municipal.

Foto 2: Público de Pains
Espíritas de toda a região prestigiaram o orador.

Ghandi, Lincoln, Luther King e Madre Teresa

Raul traçou a trajetória de quatro ícones da humanidade: Ghandi, Lincoln, Martin Luther King e Madre Teresa de Calcutá. Ghandi obteve a liberdade da Índia a partir da sua política de não violência e de ações coordenadas de boicote aos produtos ingleses.

A abordagem de Lincoln focalizou-se na participação da médium Nettie Colburn Maynard (Sessões Espíritas na Casa Branca - Editora O Clarim) e dos espíritos que apoiaram o presidente na luta pela abolição da escravatura e, depois, na guerra de secessão.

Ghandi e Lincoln foram assassinados por seus ideais, assim como Luther King, com sua famosa frase "I have a dream" (eu tenho um sonho) e sua luta pacífica pela igualdade de direitos entre negros e brancos nos Estados Unidos, que antecederam o "civil acts" (a lei de direitos civis).

Foto 3: Mesa formada em Pains - Da esquerda para a direita Marlene Assis, Raul Teixeira, Ângela e seu "braço direito"
Madre Teresa foi focalizada em seu desprendimento em favor dos menos favorecidos na Índia. Homens e mulheres colocados no lixo para morrerem, crianças nas ruas, sem acesso a educação, e a religiosa abandonou o conforto do ensino das classes superiores na Índia para atender as dores da periferia de Calcutá. Na falta de todos os recursos, ela alfabetizou crianças com gravetos e areia, tratou os indigentes em um galpão, conseguido com dificuldades.

Dois políticos e dois religiosos a serviço dos homens, três deles cristãos, um deles hindu.
SEJA
O professor ainda fará um seminário na Sociedade Espírita Joanna de Ângelis, em Belo Horizonte, hoje dia 02 de novembro.

26.10.08

Lideranças na Casa Espírita



Foto 1: Melody Lewwellen recebe o prêmio de voluntária do mês por cuidar de crianças enquanto as mães se qualificavam profissionalmente, nos Estados Unidos

Caiu em minhas mãos um artigo no qual Michael Brown tenta ensinar executivos a liderar com base na experiência do "setor voluntário". Ao contrário do que diz a literatura, em vez de copiar a experiência das empresas nas associações voluntárias (como um centro espírita), ele faz o contrário.

O texto é muito rico, mas queria focalizar apenas algumas sugestões que ele aprendeu com os coordenadores de atividades:

1. O coordenador melhora as habilidades dos voluntários que trabalham com ele.

2. Ele pensa nas forças e fraquezas dos companheiros.

3. Ele se interessa pelas pessoas que estão na sua equipe ou grupo (em nosso caso, os frequentadores de reuniões públicas)

4. Ele conversa pessoalmente com os possíveis voluntários, para conhecer qual é o seu interesse pessoal, o que o motiva, com o que se importa, de onde veio e quais são seus valores familiares.

5. O coordenador não manipula as pessoas, sua intenção é desenvolvê-las e facilitar sua integração com as equipes de trabalho.

6. Inicialmente ele convida a pessoa a fazer algo dentro de suas possibilidades, algo pontual.

7. As colaborações pensadas ajudam a pessoa a se inserir no grupo e a interagir com outras pessoas;

8. Depois o líder auxilia as pessoas a avaliarem seu desempenho, perguntando: como eles sentiram a situação, porque disseram o que disseram, foram surpreendidos pela reação, foram surpreendidos por sua própria reação, o que poderiam ter feito diferente ou melhor e o que aprenderam da experiência.

9. Com a avaliação as pessoas entendem como colaboraram, o que foi importante para elas e aos poucos podem se disponibilizar a assumir mais responsabilidades se se sentirem bem trabalhando em equipe.

Valorizando as pessoas e auxiliando-as a se autodesenvolverem as sociedades espíritas terão menos conflitos, menos frequentadores e mais trabalhadores, porque partilharão com os que a procuram seu mais precioso bem.

Liderar não é dar ordens, é envolver as pessoas em um projeto comum.

Notícias do 4o. ENLIHPE


Foto 1: Mesa de Abertura do 4o. ENLIHPE
Foi realizado nos dias 27 e 28 de setembro de 2008 o 4o. Encontro Nacional da Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas. O Espiritismo Comentado esteve lá e irá fazer uma série de matérias sobre o evento.

Eduardo Carvalho Monteiro foi o idealizador da LIHPE, que é uma rede de intercâmbio entre pesquisadores espíritas no Brasil. Funciona continuamente em um espaço virtual eventualmente promove encontros, concursos, publica livros, coletâneas, etc. Ele também foi o idealizador do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo, que funciona em São Paulo (veja uma publicação no EC que mostra uma visita no CCDPE).


O Centro se reformou para receber o ENLIHPE. Tendo à frente a advogada e trabalhadora incansável, Júlia Nezu (à mesa, à minha direita), que agregou uma equipe operosa, o CCDPE ofereceu condições mais que ideais para o evento.


O evento teve o apoio de duas federativas: a União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, que se fez presente na abertura com o Sr. Paulo Ribeiro (vice-presidente) e a União Espírita Mineira, que enviou a SAMPA o Prof. Marcelo Gardini, membro da diretoria e responsável pelo acervo histórico da federativa mineira. Marcelo apresentou um slide-show que emocionou os presentes, mostrando o passado e o presente da federativa, o que incluiu todos os seus presidentes e o recente Congresso Espírita Mineiro.

Nas extremidade dirreita da mesa de abertura temos o Oceano Vieira de Melo, amigo do Eduardo que fez um video documentário sobre a obra do trabalhador paulistano, de cerca de 20 minutos. O vídeo foi apresentado no evento e logo a seguir homenageou-se a família do empreendedor espírita (foto 2).

Representando a família na mesa de abertura está Leonardo Carvalho Monteiro, irmão do Eduardo.


Foto 2: Homenagem á família do Eduardo

Neyde Schneider, diretora de eventos do CCPDE e presidenta do Centro Espírita 12 de Outubro entrega flores à família do Eduardo na pessoa da Márcia (irmã e voluntária do CCDPE).

Nas próximas publicações apresentaremos uma síntese breve das exposições do ENLIHPE.

16.10.08

Alcoolismo e Drogas

Figura 1: Capa do Livro


A modernidade nas grandes cidades, com seu consumismo viciante, as valorização das pessoas a partir de seu poder de consumo, a competitividade excludente, a fragilização dos vínculos de família e a criação de um exército de sub-cidadãos na periferia das grandes cidades tem como nova "endemia social" o uso e a dependência de bebidas alcoólicas e de drogas.
Medo, depressão, frustração contínua, a construção de uma identidade marginal, rebeldia, estresse, ansiedade, desejo de aceitação social, oposição aos valores cristãos, suporte social precário, são alguns dos fatores psicossociais que acompanham a trajetória de pessoas em uma espiral descendente rumo a este tipo de vício.
Em março de 2008, aconteceu o 5º Seminário Beneficente Divaldo Pereira Franco, no Rio de Janeiro, tendo a drogadicção como tema. Ele foi montado em cima de comentários de Joanna de Ângelis - Espírito, na obra psicografada pelo médium baiano, a partir dos quais expositores espíritas e especialistas da área de saúde desenvolveram uma diversidade de abordagens sobre o tema. Encontram-se também depoimentos de drogaditos, que conferem um caráter vivencial ao livro.
A iniciativa se tornou livro, apoiada pelo MAP (Movimento de Amor ao Próximo), que o está relançando no dia 28 de outubro, no G. E. Joana D'Arc, situado à Av. Vicente Carvalho 203 em Vaz Lobo, Rio de Janeiro.
A renda do livro irá para o "Centro de Tratamento de Dependentes de Drogas", Projeto Cristo Consolador, que é uma parceria do MAP com o Centro Espírita Irmão Samaritano.
Ajude a divulgar, adquira o livro, informe-se, participe.

12.10.08

Espiritismo e Religião



Figura 1: Daniel Dunglas Home

Kardec publicou na Revista Espírita de março de 1858 a seguinte consideração, após analisar a mediunidade de Daniel Dunglas Home.

"A religião nos ensina a existência da alma e a sua imortalidade; o Espiritismo disso nos dá prova palpável e viva, não mais pelo raciocínio, mas pelos fatos. O materialismo é um dos vícios da sociedade atual, porque engendra o egoísmo. O que há, com efeito, fora do eu para quem tudo relaciona com a matéria e a vida presente? A Doutrina Espírita, intimamente ligada às idéias religiosas, esclarecendo-nos sobre a nossa natureza, nos mostra a felicidade na prática das virtudes evangélicas; lembra o homem quanto aos seus deveres para com Deus, a sociedade e a si mesmo; ajudar a sua propagação é dar um golpe mortal na praga do ceticismo, que nos invade como um mal contagioso; honra, pois, àqueles que empregam, nessa obra, os bens com que Deus os favoreceu na Terra!"

Observe o leitor, que mesmo no início dos trabalhos da codificação, quando Kardec pensava ser possível desenvolver uma metafísica baseada no ensino dos espíritos que servisse de fundamento às religiões em geral, porque demonstrava a existência da alma, ele não negava o papel do cristianismo e de sua ética, na proposta social espírita, assim como combatia as idéias céticas e materialistas às que reputava a ilusão de perceber a vida com base exclusiva na vida presente.

11.10.08

Comunicação sobre Obsessões Coletivas

Em fevereiro de 1865, Kardec publicou na Revista Espírita a comunicação de um espírito protetor através da conhecida mediunidade da Sra. Delanne. Ela trata das obsessões coletivas e explica um caso em Madagascar e o dos endemoniados de Morzine, que acabamos de comentar.


Figura 1: Capa atual da Revista Espírita, publicada pela FEB

"Esta noite eu vos ouvi ver os fatos de obsessão que se passaram em Madagascar; se o permitis, emitiria minha opinião sobre esse assunto.

Nota.- O Espírito não tinha sido evocado; estava, pois, lá, no meio da sociedade, escutando, sem ser visto, o que ali se dizia. É assim que, com o nosso desconhecimento, temos sem cessar, testemunhas invisíveis de nossas ações.

Essas alucinações, como as chama o correspondente do jornal, não são outra coisa senão obsessão, obsessão no entanto de um caráter diferente daquelas que conheceis. Aqui, é uma obsessão coletiva produzida por uma plêiade de Espíritos atrasados, que, tendo conservado suas antigas opiniões políticas, vêm por manifestações tentar perturbar seus compatriotas, a fim de que estes últimos, tomados de medo, não ousem apoiar as idéias de civilização que começam a se implantar nesse país onde o progresso começa a nascer.

Os Espíritos obsessores que impelem essas pobres pessoas a tantas manifestações ridículas, são os dos antigos Malgaches, que estão furiosos, e eu o repito, de ver os habitantes dessas regiões admitir as idéias de civilização que alguns Espíritos avançados, encarnados, têm a missão de implantar entre eles. Também os ouvis freqüentemente repetir: "Mais preces, abaixo os brancos, etc." É vos fazer compreender que são antipáticos a tudo o que pode vir dos Europeus, quer dizer, do centro intelectual.

Não é uma grande confirmação de vossos princípios, essas manifestações à vista de todo um povo? Elas são menos produzidas por essas populações semi-selvagens do que para a sanção de vossos trabalhos.

As possessões de Morzine têm um caráter mais particular, ou por melhor dizer, mais restrito. Podem estudar-se, sem sair do lugar, as fases de cada Espírito; observando os detalhes, cada individualidade oferece um estudo especial, ao passo que as manifestações de Madagascar têm a espontaneidade e o caráter nacional. É toda uma população de antigos Espíritos atrasados que vêem, com despeito, sua pátria sofrer o impulso do progresso. Não tendo progresso por si mesmos, procuram entravar a marcha da Providência.

Os Espíritos de Morzine são comparativamente mais avançados; embora brutos, julgam mais sadiamente do que os Malgaches; discernem o bem e o mal, uma vez que sabem reconhecer que a forma da prece nada é, mas que o pensamento é tudo; vereis, de resto, mais tarde, pelos estudos que fareis, que não são tão atrasados quanto o parecem à primeira vista. Aqui, é para mostrar que a ciência é impotente para curar esses casos por seus meios materiais; no fundo, é para atrair a atenção e confirmar o princípio."

Os Possessos de Morzine

Figura1: Morzine no mapa francês

Allan Kardec publicou um estudo sobre "possessos" na região de Morzine, Alta Savóia, pequena cidade com cerca de 2500 pessoas. O fenômeno iniciou-se com duas estudantes que alegavam ver Maria, mãe de Jesus, e que apresentavam convulsões. Elas foram exorcizadas pelo abade Pinguet em 1857 e pararam temporariamente de apresentar suas visões e convulsões.


A França anexou a Savóia em 1860 e as autoridades francesas proibiram a prática de exorcismo, tido como superstição (Harris, 1997). Outras pessoas começaram a apresentar não apenas as convulsões, mas diziam-se tomadas pelo demônio, o que levou o Dr. Artháud, de Lyon, a diagnosticar o acontecimento social de "histero-demonopatia". Cabe comentar que nesta época mal se distinguia a histeria da epilepsia, posto que pouco se sabia sobre os neurônios e seu funcionamento.



Figura2: Igreja de Morzine

As pessoas "endemoniadas" aumentaram e chegariam a quase duzentas até 1863. Morzine tornou-se um problema para a administração francesa, que, influenciada pelo espírito racionalista e materialista oriundo da revolução francesa, entendia tratar-se de ignorância, superstição ou algum quadro clínico de causas naturais.

O governo francês enviou o Dr. Adolphe Constant (ou Constans) para o local. Ele defendeu em seu relatório que a demonopatia era causada pelos seguintes fatores: insalubridade das habitações, má qualidade da alimentação e estado histérico dos doentes do sexo feminino (à época acreditava-se que a histeria era relacionada ao útero, sendo uma doença feminina). Não restringindo-se a diagnosticar, o alienista iniciou uma "cruzada" contra os doentes. Segregou-os do meio social, internando-os em hospitais de alienados e até em quartéis. Posteriormente ele viria a criar bibliotecas e cursos de dança (Harris, 1997), mas continuou suprimindo violentamente as manifestações. Algumas mulheres, em 1863 chegaram a fugir para a Suiça, com medo de serem extraditadas para as américas.

A suposta demonopatia continuou até cerca de 1873. Ruth Harris afirma que com os atos de repressão das autoridades francesas, muitos "endemoniados" passaram a dar vazão ao demônio em suas casas, sendo acobertados por seus familiares.

Vê-se que as ações propostas pelo médico não guardam muita relação com sua análise de causas. Esta última tornou-se uma espécie de "discurso científico" que justificaria os atos arbitrários que cometeu.



Figura 3: Vista atual de Morzine

A história chegou a Mirville (magnetizador) e a Kardec. Kardec trocou correspondências com médicos e espíritas locais e dá a entender que chegou a visitar a região e a ver alguns dos "possessos".

Ele publicou em dezembro de 1862 o seu primeiro artigo sobre o evento, e mais quatro outros em 1863. Constans leu alguns dos artigos e os dois entraram em debate franco sobre a questão.

Kardec desconstrói a análise de Constans. Segundo ele, não há como afirmar que a localidade fosse miserável e insalubre (outros lugares na França e na Suiça seriam mais e não apresentariam os mesmos fenômenos), não há outros sinais de má alimentação (ele encontrou poucas pessoas com raquitismo ou bócio), e a tese da histero-demonopatia, além de meramente descritiva pelo frágil avanço das ciências da época, não explicava alguns fenômenos que aconteceram no povoado.


O Dr. Alexander sintetizou os argumentos de Kardec no trabalho publicado recentemente na "Transcultural Psychiatry" da seguinte forma:

"(...) a expressão de habilidades não adquiridas (falar francês fluente e responder em linguagens diferentes, como o alemão e o latim), o conhecimento de eventos à distância (clarividência), a leitura do pensamento de outros (telepatia), transfiguração, referir-se a si mesmo na terceira pessoa ("ela", "a filha", etc.), a manifestação corrente de uma personalidade que se considera o demônio, o paciente afirmar que um poder externo o controla, o comportamento normal nos intervalos entre os episódios, pressão arterial normal apesar da intensa agitação, ódio intenso da religião e amnésia entre os episódios."

Kardec argumenta que se trata de uma obsessão coletiva, que abateu-se na localidade "uma nuvem de espíritos malfazejos", da mesma forma que já aconteceu em outros lugares. As vítimas têm sensibilidade mediúnica e "o eu do espírito estranho neutraliza momentaneamente o eu pessoal".


Figura 4: Mesmerismo
O codificador entende que "os espíritos curadores e consoladores, atraídos pelo fluidos simpáticos, substituirão a maliga e cruel influência que desola aquela população." Ele cita a correspondência do Sr. A..., de Moscou, que passou por problemas semelhante em suas terras e que tratou dos obsediados com "imposição de mãos" e "fervorosa prece".

Estes artigos de Kardec, ao lado dos que discutem a chamada "loucura espírita" são as bases de muitos dos trabalhos e terapêuticas que dispensamos hoje a médiuns, doentes mentais e pessoas em sofrimento psíquico que procuram os centros espíritas.

Um olhar espírita do século XXI, já distante no tempo, seguramente manteria a análise do codificador: há indícios de mediunidade e obsessão nestes fenômenos. Isto não significa que, em um fenômeno coletivo como este, também não pudesse haver epilépticos (que infelizmente foram asilados), histéricos ou simplesmente neuróticos impressionáveis e pessoas que viveram uma situação de estresse e de desenraizamento, devido à mudança de pátria e à intervenção repressora cultural das autoridades francesas. Junte-se tudo isto e temos uma explicação plausível para as proporções e temporalidade das pretensas possessões de Morzine.

5.10.08

Vinte e Cinco Mil


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