4.4.13

DA CURIOSIDADE À RENOVAÇÃO SOCIAL




Allan Kardec publicou em 1863 o trabalho intitulado "Período de Luta" no qual ele fez uma avaliação do progresso do movimento espírita, à época. Em outras publicações ele havia identificado períodos por que passava o movimento espírita, mas neste texto quase desconhecido pelo movimento espírita atual, ele tece considerações que merecem uma análise.

Kardec identifica o primeiro período do espiritismo como sendo o da curiosidade. Podemos identificar na biografia de Rivail, especialmente os relatos autobiográficos que compõem o livro "Obras Póstumas", um convite recebido por ele de Fortier para que conhecesse as mesas girantes. Recusado em princípio, mas intrigado com as características do fenômeno, o professor procura grupos familiares onde as experimentações eram feitas. Após observar, ele se convence que havia inteligências incorpóreas por detrás dos movimentos, e dispõe-se a dialogar com elas. É difícil traçar datas, mas esse período deve cobrir os anos de 1853 a 1855-56.


O segundo período é intitulado filosófico. Ele parece cobrir essencialmente as pesquisas e os diálogos que teve com os espíritos. Satisfeito com as demonstrações de sua existência, o pesquisador decidiu discutir grandes temas da filosofia com seus interlocutores desencarnados. A existência de Deus, a origem do homem, a criação do universo, o mito adâmico, o mundo dos espíritos, as condições dos espíritos, a felicidade, as ideias inatas, as leis do universo, o futuro, entre outros, foram seus objetos de questionamento. Um estudioso da filosofia identifica as raízes de muitas das questões que comporiam O Livro dos Espíritos em obras de autores que vão de Sócrates e Platão a Descartes, os empiristas ingleses, os racionalistas alemães, etc. Se fôssemos identificar este período na biografia de Rivail/Allan Kardec, ele envolveria a preparação de seu primeiro livro espírita (1856/1857), suas primeiras publicações até O Livro dos Médiuns (1861), a fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (1859) e da Revista Espírita (1858).

O terceiro período foi identificado por Allan Kardec como o período de luta. Nele identificamos incidentes como o que aconteceu em Barcelona, envolvendo a queima de livros encomendados por Maurice Lachâtre, por ordem de autoridade eclesiástica (1861). Daí para a frente, a igreja católica inseriu os livros de Kardec no Index Prohibitorum e abriu campanha contra o espiritismo. Nas páginas da Revista Espírita se pode acompanhar os debates com os opositores das ideias espíritas, que estão em diferentes lugares das sociedades europeias. Quando escreveu o texto que citamos Kardec afirma: "Estamos, pois, plenamente no período de lutas, mas ele não terminou." 

O quarto período previsto pelo druida reencarnado seria o período religioso. Não há nenhuma explicação no texto, mas nota-se que ele envolveu os anos subsequentes da obra de Kardec. "O evangelho Segundo o espiritismo" (1864) e "O céu e o inferno, ou a justiça divina segundo o espiritismo" (1865) são trabalhos que se voltam ao cristianismo. Se no evangelho, Kardec privilegia a questão moral, o mesmo não se dá em O céu e o inferno, no qual se discute racionalmente a teologia católica, em comparação às crenças clássicas (greco-romanas). Kardec tenta apontar a superioridade da concepção da justiça divina no pensamento espírita, e suas origens nas declarações dos espíritos, que ele transcreve na segunda parte, mostrando seres em diversas condições evolutivas e focalizando seus atos e consequências. Mesmo no corpo de "A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo" (1867), livro considerado científico pela articulação entre o debate proposto pelo codificador entre a gênese moisaica e as teorias de formação da terra, além das comunicações sobre o tema obtidas na Sociedade, ele se volta a questões evangélicas, como os milagres do Cristo e as predições, reinterpretados ante as descobertas e contribuições da ciência espírita. Note-se que são temas evitados por Kardec em "O evangelho segundo o espiritismo", e dissertados amplamente neste livro. Veja que apesar de refutar o caráter institucional da religião para o movimento espírita, que desejava fosse racional e democrático,  ele não nega um caráter religioso do espiritismo. 

O quinto período previsto por Kardec seria um período intermediário, sobre o qual ele não consegue fazer antecipações. É, possivelmente, o que vivemos agora. O movimento não continuou seu crescimento exponencial como desejava o prof. Rivail, as guerras mundiais e as instituições políticas tomaram a cena na Europa, o espírito cético e materialista fez diversas objeções ao progresso dos estudos espíritas nas universidades e centros de pesquisa, apesar de não tê-los conseguido interromper. O movimento espírita teve grande aceitação no Brasil, onde conta com milhões de adeptos, e agora volta-se a uma nova empreitada voltada à internacionalização. As ideias espíritas, como a imortalidade e a reencarnação, estão mais presentes nas sociedades ocidentais.

O sexto período igualmente antevisto e proposto no texto é o período da renovação social, que teria início no século XX, mas que ainda se acha em construção. Kardec escreve que a "geração que surge, imbuída das ideias novas, estará em toda a sua força e preparará o caminho da que deve inaugurar a vitória definitiva da união, da paz e da fraternidade entre os homens, confundidos numa mesma crença, pela prática da lei evangélica". Ainda não vivemos este momento histórico, mas muitos avanços se fizeram na questão dos direitos humanos, nas concepções de justiça e se não vivemos ainda o desejo de Rivail, estamos mais próximos dele que estávamos no século XIX.

O espiritismo concebido por Kardec não ficou circunscrito às ciências ou às filosofias, mas foi visto como uma força de mudança social a partir da transformação ética dos homens. Este é um ponto que gerou discussões no meio espírita de sua época e que deve ser recordado e pensado pelas casas espíritas.

27.3.13

DESAFIOS EM CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE




O Dr. Alexander Moreira-Almeida é psiquiatra e pesquisador da pós-graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora. Há anos dedica-se à realização de pesquisas com fenômenos espirituais e saúde, tendo contribuído para o avanço de temas como a questão cultural na psiquiatria. Ele articula métodos quantitativos e qualitativos e tem contribuições na área da epistemologia e da filosofia da ciência.

Muito claro em suas explicações, ele aponta para mitos e pressupostos filosóficos muito comuns no senso comum e na representação social da ciência, desconstruindo ideias divulgadas, mas equivocadas.

Em sua breve comunicação, conclui com recomendações para os interessados na área.

25.3.13

OS FANTASMAS DE UBIRATAN MACHADO




- "Um charuto!" - foi a primeira impressão que tive ao ver a capa do livro que chegou pelo correio, mercê do livro do mês da Lachâtre. Aos poucos os olhos foram se acomodando à imagem e vi que se tratava de uma lombada de um livro antigo, com o título da obra: Diálogo com o invisível.

Ubiratan Machado é um velho conhecido, que nunca vi pessoalmente, mas que aprendi a apreciar através de suas letras, especialmente as que discorrem sobre o espiritismo. Escreveu uma obra de peso sobre o espiritismo no pensamento de intelectuais brasileiros do século XIX, que se tornou uma leitura obrigatória a quem se interessa pela história do espiritismo no Brasil.

Estava cheio de obrigações, mas seu texto insidioso combinou-se com uma limitação que me impedia de digitar durante as sessões de hemodiálise, e o livro do charuto estava lá, como quem não quer nada, na cadeira. Eu abri o livro, senti o cheiro de folhas novas e falei comigo mesmo, só um...  Toda pessoa que faz dieta sabe muito bem o que isso significa. Veio o primeiro conto, mostrando assombrações na minha terra, bem no escritório de Pedro Nava, aquele escritor que tive que ler para o exame vestibular. Seguiu-se mais um, o desconhecido Eduardo Prado, igualmente assombrado, mas acompanhado do famosíssimo Eça de Queiroz. Depois vieram Humberto de Campos, Coelho Neto e, pasmem, Vinícius de Morais, todos atropelados pelo além!

Neste momento, vi que a dieta de leitura já tinha ido para o brejo e resolvi me esbaldar. Viriato Corrêa, Afonso Schmidt e o celebrado Murilo Mendes, este último acompanhado de Wolfgang Amadeus Mozart. Pensei comigo: ou os escritores são meio pancadas, do tipo psicótico, ou a experiência de escrever abre suas janelas interiores de alguma forma. Como é possível tanta gente famosa, passar pela mesma experiência dos médiuns que acostumei a observar nas tardes de sábado.

Mais alguns escritores e vem a segunda parte. Foi uma surpresa completa. Lembrei do velho e amarelado livro da biblioteca da minha tia, "A Montanha Mágica", que minha rinite não permitiu devassar até o final, e eis que encontro seu autor, o notável Thomas Mann, usando sua pena detalhista para descrever seu encontro com o Barão Von Schrenk-Notzing na intimidade de seu laboratório, preparado para vasculhar as faculdades de efeitos físicos de Willi Schneider. Willi, que era um verbete na minha cabeça, se tornou um personagem de filme hollywoodiano, contido pelas mãos do escritor, agitado como um epiléptico, em um parto difícil do qual nasceriam as artes do espírito Mina. Mann faz um texto no qual vemos ao mesmo tempo os eventos da sala e os pensamentos e sentimentos no íntimo do romancista alemão.

Outro texto extenso e sou apresentado ao informal Pitigrilli e às faculdades assombrosas de uma médium italiana. Apesar da extensão, fiquei com os olhos presos aos eventos que sucediam e dos quais não posso falar muito para não estragar a experiência primeira de quem agora me lê.

Finalmente, um autor do meu domínio. O Dr. Jung, sobre o qual já escrevi alguns trabalhos. Será que Ubiratan conhecia mesmo todos os encontros deste médium suíço com a mediunidade? Leitura fácil, narrativa simples e clara, quase morri de inveja ao ver como Machado ia contando, detalhadamente mas de forma a prender a atenção, cada detalhe com o além do psiquiatra suíço, desde a infância até o trabalho derradeiro, Memórias, Sonhos e Reflexões. Ubiratan faz mais, ele descreve com clareza as reuniões mediúnicas que Jung participou com a médium que Jung intitulou S.W. e que o autor do "livro do charuto" descobriu se chamar Helly. Ubiratan não cai na tolice do Dr. Sérgio de dizer que Jung estudou médiuns, como se ele acreditasse na mediunidade. Jung resistiu bravamente por toda a vida, usando suas teorias do anímico para explicar o que ia além do inconsciente. Atropelado por espíritos durante toda a sua vida, sempre hesitante, ao final ele aceita que suas teorias não são suficientes para explicar não apenas o que houvera visto, mas vivido. Afinal, como teria dito Freud, há horas que um charuto é apenas um charuto...

20.3.13

NOVA DIRETORIA E NOVO SITE DA UNIÃO ESPÍRITA MINEIRA



César Perri (de terno) e Marival Veloso (de camisa branca) na inauguração da Sede Federativa da UEM

A União Espírita Mineira acaba de publicar seu novo site, no qual se pode ter acesso aos últimos exemplares do jornal O Espírita Mineiro (http://www.uemmg.org.br). Nele se comunica também a nova diretoria que foi eleita para o triênio 2013-2015, que mescla membros da antiga diretoria com novos membros. O EC deseja muitas realizações para o novo grupo que assume as responsabilidades desta casa, e agradece os anos de serviço prestado por Marival Veloso de Matos, ex-presidente, que deixa um rastro de trabalho, luz e entendimento nos anos em que dirigiu a União, como nós, mineiros, a chamamos.


Kemper, novo presidente.


Abaixo, a nova composição da direção da UEM.

Diretoria da União Espírita Mineira

Presidente
Henrique  Kemper Borges Junior

1º Vice-Presidente
Mauro Soares Freitas

2º Vice-Presidente
Bady Raimundo Curi

1ª Secretária
Maria Luiza Leão Toledo (Dona Cotinha)

2º Secretário
Lenice Aparecida de Souza Alves

1ª Tesoureira

Carlos Evangelista Ferreira

2º Tesoureiro
Walkiria Teixeira Campos

Consultor Jurídico
Braz Moreira Henriques

Diretora de Patrimônio
Elizabeth de Abreu Bittar

Bibliotecário
Marcelo Gardini

CONSELHO FISCAL
Fausto Lins de Souza Castro
Antonio Roberto Fontana
Vinícius Almeida Medeiros

SUPLENTES DO CONSELHO FISCAL
Maria Regina Severino
Jairo Eustáquio Franco
Luiz Carlos Gomide

14.2.13

CAMPANHA DE NATAL 2012



Após um período de inatividade, voltamos a noticiar os resultados da campanha de natal. Foram arrecadados 8,3 toneladas de alimentos e recursos da ordem de R$16.776,87.

As doações recebidas possibilitaram as seguintes realizações:

1. Confecção de 473 cestas de natal (distribuídas nas unidades do Salgado Filho-BH, Citrolândia-Betim e Rosaneves-Ribeirão das Neves para famílias em situação de vulnerabilidade).
2. 153 cestas básicas que serão distribuídas em Ribeirão das Neves nos primeiros meses de 2013.

As cestas de natal foram compostas de: açúcar, arroz, farinha, feijão, fósforo, fubá, macarrão, óleo, sabão, sal, refrigerante, tempero, milho verde, chá, caldo de carne, sardinha, gelatina, extrato de tomate, salsicha, refresco artificial, biscoito, doce e brinquedo.




As empresas abaixo (e algumas outras que não desejaram divulgar sua logomarca) colaboraram com doações relacionadas à arrecadação da gelatina, que teve suas metas cumpridas. A foto acima mostra alguns pacotes que foram doados em gênero e os demais foram adquiridos com os recursos em espécie doados à AECX para este fim.


Agradecemos a generosidade de desejamos a todos os participantes e beneficiados um feliz 2013.









29.1.13

DÉJÀ VU: O INCÊNDIO EM SANTA MARIA-RS.



Foto de Santa Maria - RS

Uma casa de eventos cheia, na noite, com um espetáculo. A banda solta fogos no espaço fechado, para criar um visual inesquecível. Os fogos incendiaram o isolamento acústico e se espalharam rapidamente. Correria. Uma única saída. Os funcionários do estabelecimento não permitem a saída dos jovens, que se amontoavam, temendo a falta de pagamento. Fumaça, pânico, pessoas caídas e pisoteadas pela multidão. Sete mortos e trezentos feridos. Sete mortos?

Sim, não estou falando do incêndio na casa de shows em Santa Maria-RS, mas em um acidente semelhante acontecido em novembro de 2001, na capital mineira. O estabelecimento se chamava Canecão Mineiro, estava sem alvará de funcionamento, permitiu o uso de fogos inapropriados para o uso indoor, e passados onze anos, o STF estabeleceu responsabilidade da Prefeitura, há responsáveis pelo evento, mas o mais importante não aconteceu. Apesar da dor e do sofrimento dos envolvidos, o Estado não deu a devida atenção ao evento funesto, e ele se repetiu de forma quase igual, no sul do país.

Recordei-me imediatamente de uma matéria antiga que publicamos no EC, sobre o terremoto no Haiti, comparado ao do Chile. (http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2010/03/entre-o-chile-e-o-haiti.html Os espíritos, na metade do século XVIII, disseram:

"...Muitos flagelos resultam da imprevidência do homem. À medida que adquire conhecimentos e experiência, ele os pode afastar, isto é, preveni-los, se souber pesquisar suas causas" (questão 741)

Bem, então, mais importante que encontrar os culpados e puni-los, é aprender  com o ocorrido e tomar medidas concretas para que ele não aconteça mais.  As investigações não estão concluídas, mas parece evidente que nossas normas e ações ainda não foram suficientes para evitar um incêndio  tão funesto. Infelizmente, fomos todos incompetentes em nosso país para aprender com o Canecão Mineiro. Por isso paira na alma mineira essa trágica sensação de déjà-vu.

Obs: Déjà-vu, expressão francesa que pode ser traduzida como o "já visto". O Dicionário Houaiss o define como "forma de ilusão da memória que leva o indivíduo a crer já ter visto (e, por ext., já ter vivido) alguma coisa ou situação de fato desconhecida ou nova para si". 

25.1.13

POR QUE FAZEMOS UMA CAMPANHA DE NATAL NO CÉLIA XAVIER?



O ano de 2012 se foi, e com ele a campanha de natal da Associação Espírita Célia Xavier. A sociedade espírita que participo mantém uma carteira de ações de responsabilidade social, da qual esta campanha é uma pontinha.
 
Como ação social, ela não resolve o problema de segurança alimentar das populações envolvidas, mas sensibiliza todos os envolvidos. Penso que as ações mais resolutivas da AECX são a creche do Lar Espírita Esperança (em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte) e os cursos profissionalizantes de eletricista, mantidos na Casa de Etelvina, sem demérito aos demais trabalhos.
 
Diante de tanta propaganda do governo apontando para o aumento dos níveis de emprego e a ascensão de uma classe C, fica a impressão de que não há miséria no Brasil, que ainda é um país extremamente desigual. Após anos tropeçando na miséria pelas ruas e convivendo com pessoas honestas da comunidade que trabalham por uns trocados, penso que os brasileiros das classes mais favorecidas criamos defesas psíquicas para lidar com uma dor que não conseguimos resolver. Alguns preferem acreditar que se tratam de pessoas que não querem trabalhar, profissionais da mendicância (e talvez existam algumas assim), mas não se pode dizer que todos são assim.
 
Os fluxos migratórios trouxeram um grande número de pessoas trabalhadoras, mas com experiência voltada à realidade rural e geralmente subsistência, para as capitais e cidades de médio porte com oferta de emprego industrial. A incapacidade do poder público para receber, qualificar e tornar empregável este enorme contingente de pessoas, além de não apoiar o desenvolvimento sustentável das comunidades rurais, gerou este pesadelo do qual ainda sofremos os efeitos. A falta de soluções partilhadas com a sociedade ficou crônica.
 
A imprensa, no seu desejo de cobrar ações concretas do poder público, muitas vezes marginaliza estas pequenas ações, mostrando, por exemplo, pessoas que abusam da generosidade alheia. Contudo, quantas famílias e crianças não se beneficiam legitimamente deste tipo de iniciativa? As denúncias de desvios de recursos multiplicam-se, mas e as instituições sérias, como a nossa? Podem ser enquadradas em denúncias de casos isolados?
 

 
Penso que uma campanha como esta, longe de adormecer a consciência das pessoas, como acusam alguns, as sensibiliza. Os jovens saem do circuito casa-escola-consumo de lazer, e vão usar seu tempo em benefício de quem podem passar a conhecer.
 
Do ponto de vista cristão, pedir é sempre um exercício de humildade, especialmente quando pedimos para terceiros que necessitam. Nos retira do confortável cotidiano que aos poucos construímos. Não é apenas doar o tempo para se fazer uma cesta de alimentos, mas reconhecer que nossa sociedade, apesar dos avanços, ainda se constitui de forma injusta, que podemos fazer sempre alguma coisa e conhecer quem são as pessoas honestas que vivem sob o império da necessidade, apesar das políticas públicas.
 
Em uma próxima publicação, pretendo apresentar alguns resultados da campanha e agradecer às instituições que nos auxiliaram com a gelatina, que foi um dos gêneros que compuseram a simbólica cesta.
 

23.1.13

O QUE É PSICOMETRIA?


Estive ontem na União Espírita Mineira, discutindo os estudos sobre Psicometria com os participantes do ciclo de estudos sobre mediunidade, coordenados por Waldemar Duarte e Lourenço.

O conceito de psicometria é anterior a Kardec. Data de 1842, quando o norte-americano Joseph Rodes Buchanan propôs que as coisas têm uma emanação própria e que algumas pessoas (psicômetras) seriam capazes de percebê-las.
Ele se aproximou dos círculos espiritualistas em 1878, que se interessaram por sua proposta. Dizem os autores que a ascensão das ideias psicométricas acompanharam a ascensão do mesmerismo e do espiritualismo norte-americano, na década de 1840.


Após Buchanan, outro autor independente do movimento espírita e espiritualista foi o geólogo William Denton (1823-1883), inglês radicado nos Estados Unidos que descobriu que sua esposa e sua irmã tinham a faculdade psicométrica, quando deu a Elizabeth (esposa) um pedaço de fóssil, que ela identificou como pertencente a um paquiderme herbívoro, que vivia nos pântanos, semelhante a um elefante, antes que os especialistas tivessem feito sua classificação.

Hermínio C. Miranda interessou-se por um dos livros de Denton, intitulado A Alma das Coisas (veja a primeira imagem desta publicação), e fez um ensaio com base nos trabalhos deste autor intitulado Memória Cósmica.


No livro de Hermínio, há a transcrição de alguns casos como o de uma rocha de basalto negro semelhante à acima ilustrada. Elizabeth Denton identificou sua origem vulcânica, sua trajetória da região das geleiras, no norte, para o sul, descreveu a influência das correntes marítimas neste deslocamento (a rocha veio no fundo do mar, em contato com o solo, o que lhe gerou estrias), a presença de gelo e água acima, durante o deslocamento, até o seu depósito em uma bacia, em lugar amplo. Todas as informações eram corretas, segundo o geólogo, que não havia passado nenhum dado sobre a pedra a sua esposa.

Os casos são surpreendentes, como a descrição feita das sessões e do ambiente da câmara dos deputados americana, feitos a partir de um pequeno pedaço de damasco (um tipo de tecido) de um estandarte que havia sido tomado pelo exército britânico em 1814, levado para a Inglaterra e depois devolvido. Elizabeth mostra a falta de seriedade dos participantes das sessões, descreve o clima hipócrita e pomposo, e dá detalhes sobre o ambiente.

Os casos citados são tão extraordinários que geraram uma reação cética inicial, mesmo para um espírita que já viu tantos fenômenos incomuns. Minha reação inicial foi vencida com os relatos de outro livro: Os Enigmas da Psicometria, de Ernesto Bozzano.




Neste livro, mais de uma centena de casos é relatada, envolvendo objetos inanimados, plantas e animais. Outros psicômetras são estudados, como Edith Hawthorne, que publicou seus experimentos na revista Light, e, entre erros (poucos) e acertos (muitos) vai solidificando a existência deste tipo (anímico? mediúnico? misto?) de percepção extrassensorial. 

Como pesquisador, Bozzano não se satisfaz em transcrever, organizar e classificar os relatos, mas levanta as teorias capazes de explicá-los e as discute. A tese da emanação (alma das coisas) se torna uma entre uma dezena, e fica insuficiente para explicar as nuances e percepções variadas (e corretas) dos sensitivos. Bozzano afirma que não dá para prescindir da hipótese espírita na explicação de alguns dos fenômenos descritos.

Clarividência? Emanações fluídicas? Formas-pensamento? Memórias akásicas? Mediunidade? Subconsciente? Telepatia? Estas questões continuam presentes e desafiando os interessados em entender melhor este estranho fenômeno, que hoje é utilizado pela polícia norte-americana para a solução de crimes, ou apoia arqueólogos no achado e identificação de peças.

17.1.13

SINFONIA DO AMOR



Clique na imagem acima para assistir ao vídeo

Início de Janeiro, domingo pela manhã e estava na capital paranaense para descansar uns dias da rotina do ano que passou e deu-me uma vontade louca de conhecer a Federação Espírita do Paraná. Anos de correspondência eletrônica com Napoleão Araújo e apareci no domingo de manhã, horas antes de tomar o vôo de volta para BH.

Correndo o risco de nem ser recebido, cheguei à portaria com máquina fotográfica em mãos pedindo para conhecer a Federação. Qual não foi minha surpresa quando uma das voluntárias que auxiliava os interessados com uma livraria itinerante que é montada no hall do teatro se dispôs a me acompanhar e mostrar as instalações e trabalho da FEP. Conversa vai, conversa vem, encontramos amigos, muito queridos, comuns. O mundo é mesmo pequeno.

A visita é assunto para outras publicações, mas após cumprir meu trabalho de jornalista amador, fui ver o que encontrava na livraria, especialmente a produção regional.

Áurea me indicou um DVD, que desconhecia. Foi gravado em 2010, como evento de comemoração dos cem anos do nascimento de Chico Xavier. Chama-se Sinfonia do Amor. Comprei, curioso, e guardei para ouvir em particular na minha cidade montanhosa.

O trabalho de Plínio Oliveira é belíssimo. Emocionou e arrepiou de ouvir e ver. Gravado no Cine Alta, do Teatro Positivo em Curitiba-PR, tem o apoio da Orquestra da Paz, do Coro de Teatro da FEP e do Grupo Vocal Sou da Paz (que entra e sai de cena como se fosse mais um instrumento da orquestra).

É meio difícil dizer com palavras o que é a música, então consegui na internet a música final da Sinfonia, intitulada Um Cisco, para que o leitor do blog possa avaliar por si mesmo a suavidade e beleza da produção.

É possível adquirir o DVD completo na Federação. Na capa do DVD há um número de televendas: (41) 3225-2739. 

15.1.13

E A VIDA CONTINUA NO CINEMA E NAS LOCADORAS







A Agência Nacional de Cinema (ANCINE) publicou seu informe anual sobre filmes e bilheterias no Brasil. O filme "E a vida continua", com roteiro adaptado da obra de mesmo nome psicografada por Francisco Cândido Xavier, ficou em décimo lugar entre os filmes nacionais.

Ele foi exibido em 139 salas, tendo atraído um público de mais de trezentos e setenta mil pessoas. Agora já se encontra nas locadoras, em DVD e Blu-ray Disc. 

Não o encontrei ainda para venda nas livrarias e lojas do gênero, mas não deve demorar.

11.1.13

GRUPO SEGREDO NA CANTATA DE NATAL



Segue mais uma publicação da Cantata de Natal ocorrida em dezembro de 2012 na União Espírita Mineira. O Grupo Segredo faz músicas infantis, voltadas à evangelização da criança no meio espírita.

A música que eles escolheram, Remo da Esperança, é alegre e cativante. Vale a pena acompanhar a interpretação do grupo, que fez o público ir do bom humor ao riso. O grupo tem dois álbuns publicados: Segredo e Grupo Segredo: Pra Você.

9.1.13

SIMPÓSIO INTERNACIONAL ABRE INSCRIÇÕES PARA TRABALHOS SOBRE LITERATURA MEDIÚNICA



A Universidade Federal de Goiás comunica a organização e chamada de trabalhos para o III Simpósio Nacional de Letras e Linguística e para o II Simpósio Internacional de Letras e Linguística. Entre os diversos grupos de trabalho, chamou-me a atenção o grupo abaixo, que se volta ao estudo da Literatura Mediúnica. Confiram aqui.



GT 10
A CHAMADA LITERATURA MEDIÚNICA EM QUESTÃO

Coordenadores: Prof. Dr. Ozíris Borges Filho (UFTM)
Prof. Dr. Sidney Barbosa (UnB)

Por literatura mediúnica entendemos o texto escrito por um médium e atribuído a uma entidade denominada de espírito, alma, fantasma ou gênio. O processo de recebimento desse texto, que pode ser literário, se dá, mais comumente, por um processo que é chamado de psicografia. O pesquisador italiano Ernesto Bozzano (1998) chama a essa literatura de “literatura de além túmulo”. Nesse sentido, pode-se afirmar, com toda a certeza, que a literatura mediúnica é um fenômeno cultural principalmente brasileiro há mais de um século. Devido a intenso programa editorial levado a efeito pelos espíritas
kardecistas e a uma grande aceitação do público leitor, milhões de livros mediúnicos já foram vendidos no Brasil e traduzidos para vários outros idiomas. Trata-se, geralmente, de poemas, romances, contos, crônicas, ensaios, histórias infantis e mensagens de autoajuda. Há romances mediúnicos que já tiveram mais de oitocentos mil exemplares vendidos. Para os padrões editoriais brasileiros, isso constitui um verdadeiro sucesso de
público. Textos desse tipo vêm constando das famigeradas “listas dos mais vendidos” em órgãos da imprensa popular, tais como a Revista Veja, na categoria que chama de “autoajuda e esoterismo”. No entanto, apesar dessa penetração maciça na sociedade brasileira como um todo e apesar de ser um fenômeno editorial desde o início do século passado, a literatura mediúnica vem passando quase despercebida pela crítica literária e pela Universidade no Brasil. Dessa situação surge uma pergunta evidente: por que livros
que contam com sucessivas edições e dezenas, às vezes centenas, de milhares de exemplares não chegam a interessar os acadêmicos e jornalistas da “grande imprensa”? Apenas nos anos 40 do século XX, com o chamado “caso Humberto de Campos”, é que houve uma movimentação da crítica literária pelos grandes jornais de todo o país com participação, inclusive, de membros da Academia Brasileira de Letras. Fora esse momento histórico, a crítica silenciou-se a respeito dessa produção literária. É bem verdade que dissertações e teses vêm sendo feitas nas mais diversas universidades do
país, notadamente a partir dos anos 1980, mas, mesmo assim, a produção é pequena e pouco divulgada. Este GT propõe-se a iniciar um trabalho que pretende romper com esse silêncio da crítica literária brasileira. Independente da ligação desse tipo de literatura com as religiões, a pergunta central que nos fazemos é: Que objeto é esse? Nosso propósito é a investigação científica desse corpus tão extenso. Receberemos inscrições de comunicações dos mais diversos tipos de pesquisadores sem restrições quanto ao método crítico adotado na análise da obra literária mediúnica. Serão bem-vindos trabalhos de pesquisa que abordem os textos literários mediúnicos tanto do ponto de vista das teorias literárias quanto das teorias linguísticas, independente das correntes críticas a que estejam vinculados.

2.1.13

INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS PUBLICOU ENTREVISTAS SOBRE O ESPIRITISMO



O Dr. Alexandre Caroli Rocha avisou-nos da publicação realizada em 2010 pela Revista do Instituto Humanitas Unisinos sobre o espiritismo. Os links para as entrevistas se encontram em uma régua vertical, à esquerda, com os nomes dos respectivos entrevistados. Eles vêm da história, antropologia, teologia e outros campos do conhecimento.

Os temas são muito interessantes e polêmicos. O caráter cristão do espiritismo, as tendências minoritárias new age e capitalista (ética da prosperidade), os paralelos entre o espiritismo e os cultos afro, espiritismo e ecologia, reencarnação e ressurreição são brevemente tratados pelos autores, cada um em sua área de atuação e dentro de seu contexto de produção.

Obviamente, o rigor acadêmico dos autores não assegura verdade, nem um perfeito ajustamento com a nossa visão do espiritismo, mas o diálogo é bastante rico e merece um bom debate.

Feliz 2013 aos leitores do EC, com muitas questões para se pensar ao longo do ano.

PS: Após a primeira publicação desta matéria o Alexandre Caroli Rocha enviou mais uma matéria de Bernardo Lewgoy nesta revista e pediu que fosse reconhecida a fonte em que ele encontrou a referência, o site Espiritualidade e Sociedade, do nosso amigo comum, Maurício.

31.12.12

CANTATA DE NATAL NA UNIÃO ESPÍRITA MINEIRA




No último dia 22, diversos grupos musicais se reuniram na União Espírita Mineira da rua Guarani para fazer uma cantata de natal. Como o dia estava disputado, não pude estar presente, mas o Wadson, do Meu Cantar postou as apresentações.

Esta música está com um belo e novo arranjo que lembra muito os arranjos do Coral Pedro Helvécio, que o grupo já gravou em outras oportunidades. Tons dissonantes e vozes entrelaçadas dificultam muito a execução por parte dos artistas, mas o resultado final arrepia os cabelos de quem já ouviu o coral cantar.

Bela iniciativa dos grupos. Espero que ano que vem tenha mais...




29.12.12

CARTAS ANÔNIMAS E FAKES



Na internet tornou-se comum as pessoas esconderem-se atrás de pseudônimos ou nomes fictícios para ocultarem sua identidade, evitando sua exposição pública. Em um diálogo inconsequente, talvez se possa aceitar este tipo de conduta, mas o que dizer de uma conversa séria? O uso de fakes (falsos perfis) em uma discussão séria geralmente tem implicações.

Encontrei na Revista Espírita de novembro de 1867 uma situação similar ocorrida com Allan Kardec. Quem estudou sua biografia, sabe que ele recebia uma quantidade enorme de correspondências, sendo obrigado a selecionar o que lia e respondia. No exemplar citado, ele publicou na Revue uma admoestação pública a um suposto senhor B. de Marselha, que lhe enviava cartas sem endereço de resposta, pelo visto, enormes e logorréicas.

Kardec lhe dirige a seguinte explicação: "Não foram tomadas em consideração as cartas que não estão ostensivamente assinadas, ou que não trazem endereço certo, quando o nome é desconhecido. São postas na cesta."

Ele considerava este tipo de correspondência como "indigna de ocupar o tempo". Isto dá o que pensar nos dias de hoje.

28.12.12

QUAL É O PAPEL DAS LIVRARIAS ESPÍRITAS NA DIVULGAÇÃO DOS LIVROS DE MÁ QUALIDADE?





Em uma publicação anterior http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2012/12/correio-fraterno-discute-as-mudancas-do.html, apresentamos a publicação feita pelo jornal Correio Fraterno sobre o mercado editorial espírita. http://www.correiofraterno.com.br/nossas-secoes/68/1110-edicao-448

Raul Teixeira, sempre contundente, fala com clareza neste vídeo sobre a publicação em massa de obras que se apresentam como espíritas.