27.1.08

Um Romance com Personagens Bíblicos

Reler um livro vinte anos depois é como ler pela primeira vez. Tive em mãos a sétima edição de “O Alvorecer da Espiritualidade”, primeiro livro da série “Às Margens do Eufrates” e não resisti a fazer uma nova leitura.

O espírito que se identifica como Josepho seria o conhecido Flávio Josefo, escritor judeu-romano do século 1 DC? Independente da resposta à pergunta, o autor demonstra ter um grande conhecimento das tradições históricas e legendárias do antigo testamento.

A série é um relato de reencarnações de um mesmo espírito, o autor. Não sou capaz de dizer se se trata de uma estratégia literária ou se o autor pretende realmente fazer um relato memorialista das suas encarnações. A fragilidade documental da civilização hebraica, especialmente no período em que acontecem os eventos do primeiro livro da série, nos permitem dizer apenas que o autor parece conhecer os costumes hebraicos e a genealogia do livro do Gênesis.

Seu personagem central, Javan, mais que um representante de uma classe social ou homem de época, é um indivíduo diferenciado na tribo de Methusala (seria Matusalém, da Bíblia, como referencia Josepho?). Javan parece representar o espírita no mundo contemporâneo, de tendência espiritualista em meio a uma sociedade imediatista; romântico, em meio a pessoas sensualistas; com senso de dever e que toma decisões heróicas, pensando na comunidade e na vida após a morte antes dos interesses pessoais.

A cidade de Enoch, possivelmente a mesma que se diz no Gênesis Bíblico ter sido criada pelo filho de Caim, representa no contexto do livro a vida dirigida pelo poder, pela dominação e pelo sensualismo. Mesmo em Enoch, Javan encontra um patriarca que preza os valores e a tradição, Methusael, que convive com uma geração cainita dividida entre o poder dos guerreiros, simbolizados em Tidal e a teocracia dos sacerdotes de Baal.

Descendentes de Caim e de Seth se enfrentam no contexto do livro.

O autor espiritual e outros membros da equipe de Dolores Bacelar fazem inúmeras notas ao longo do texto e tecem explicações no contexto da ética espírita para muitos dos acontecimentos e decisões dos personagens.

A editora fez um excelente trabalho nas edições mais recentes. Ampliou os tipos, tornou a capa mais sugestiva, criou títulos para os capítulos, colocou as notas no rodapé das páginas, evitando que o leitor tenha que ir ao fim do livro para conhecer seu conteúdo, ampliou o tamanho das fontes facilitando a leitura e as limitações de leitores que, como eu, já passaram dos quarenta anos.

Apesar da profunda impressão que a leitura me causou, não me sinto informado o suficiente para a defesa do caráter histórico da narrativa, mas sem dúvida, seu caráter simbólico traz uma bela reflexão para a comunidade espírita, hoje.

No texto se encontram três ou quatro referências muito polêmicas: Capela, Lemúria, Atlântida e o dilúvio. O autor espiritual defende sua existência, embora relativize a questão do dilúvio, que aparenta ser regional. A referência aos avanços das sociedades atlantes e rutas (habitantes da Lemúria) são surpreendentes e causam estranheza, mas não chegam a comprometer o conjunto da obra.

Outra questão que apenas proponho, mas não tenho condições de desenvolver é se haveria uma influência do pensamento gnóstico no texto do autor espiritual.
Parece-me que conhecer e debater o conjunto da obra, que demonstra as muitas variações e possibilidades da faculdade mediúnica é uma tarefa importante para o movimento espírita, que ainda não lhe deu o devido valor.


4 comentários:

  1. De fato, a astronomia evidencia que nunca existiu um planeta na constelação de Capela. Tudo o que se fala sobre Capela no movimento espírita é pura fantasia.

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  2. Lair,

    Entendo pouco de astronomia. Você tem uma fonte recente que apoia sua afirmação?

    Att.

    Jáder Sampaio

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  3. Lair respondeu:

    Prezado Jader, procure os trabalhos do astrônomo brasileiro Albino Novaez. Ali você encontra bastante material que demonstra a inexistência de Capela

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  4. Anos atrás li a serie... preciso reler novamente mas lembro-me de ter gostado bastante dos livros.
    tenho a sexta edição
    Volume 1... O alvorecer da espiritualidade.
    volume 2...guardiões da verdade
    volume 3...veladores da luz
    volume 4... o vôo do passaro azul.
    Achando aqui seu comentário sobre a série vou reler novamente...
    Ahhhh ...a ciência humana da atualidade tem sempre a ilusão de ter alcançado Deus não é?
    Já acharam até a partícula de Deus!!!!.... mas.... vamos ver o que ainda vão achar depois.... talvez a partícula depois da partícula de Deus?
    Partícula de Deus 2?....rsrsrs
    A única certeza que a ciência restrita deste nosso mínusculo mundindo pode ter, é de querer ser Deus.
    Nada existe...até que num belo dia Alguém prove que existe!
    Paciência é sempre a melhor Demonstração de inteligência!
    Que bom que existem cientistas pacientes não é, afinal, nem nosso mundo conseguem explicar satisfatoriamente...o que dirá o Universo!!!!
    Felicidades Jader

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