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15.6.08

História do Espiritismo é Capa da Revista de História


A Revista de História da Biblioteca Nacional publicou dois excelentes artigos sobre a história do Espiritismo no Brasil.
O primeiro artigo é de um antropólogo namorador de história, já conhecido e reconhecido pelos seus estudos sobre o Espiritismo, Emerson Giumbelli. Ele ganhou em 97 o segundo lugar nacional do prêmio "Arquivo Nacional de Pesquisa" pelo seu trabalho "O Cuidado dos Mortos".
Giumbelli apresenta no seu artigo o surgimento do Espiritismo no Brasil e suas conexões com a mediunidade receitista. Ele valoriza o papel da assistência social através da mediunidade receitista no Brasil, que se tornou o primeiro grande elo entre os espíritas da elite e o povo (tese que desenvolve a partir do pensamento de Sylvia Damázio). Não sei se esta maxivalorização da mediunidade receitista reflete bem a época, se olharmos o movimento intramuros. Talvez tenha sido um dos eventos que maior visibilidade deu ao Espiritismo Brasileiro na imprensa leiga.
O autor apresenta um velho objeto de seus trabalhos, os episódios dos conflitos entre a sociedade brasileira e o movimento espírita devido ao código penal de 1890.
Depois trata de outros assuntos interessantes: O crescimento das adesões à FEB nas décadas de 20 a 40 e o papel de Chico Xavier na consolidação do Espiritismo no Brasil.
Ele propõe uma conexão temporal entre o lançamento do conhecido "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", a escolha de Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil, a inauguração da estátua do Cristo Redentor e a constituição da Umbanda como movimento e primeira religião genuinamente brasileira. Seriam o médium de Pedro Leopoldo e o autor espiritual influenciados por um espírito de época no qual se tentava não apenas na esfera religiosa, mas também na política e cultural, uma reconstrução da identidade nacional?
Outra contribuição original do autor é a passagem que ele faz da mediunidade receitista no movimento espírita pela desobsessão e tratamento através de passes. É uma questão instigante, mal desenvolvida, mas que me parece ter outros contornos, inclusive o próprio surgimento da Umbanda e os conflitos internos do movimento devido às influências orientalistas. Cabe lembrar que a desobsessão é prática desde os tempos de Kardec.
O segundo artigo é um retrato vivo da reação dos médicos da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro ao movimento espírita. O Espiritismo é tomado como uma questão de saúde pública (pasmem!) e uma das teses aprovadas defende que ele deve ser combatido da mesma forma que se fazia "à sífilis, ao alcoolismo, aos entorpecentes, à tuberculos, à lepra e às verminoses". A influência naturalista de Haeckel e dos Higienistas.
Juliano Moreira outro autor influente nesta escola, com formação alemã, propôs a criação de "semanas antiespíritas" que mobilizassem a sociedade contra o "mal".
Um resgate importante do segundo artigo de Arthur Isaia nesta revista é a tese (recusada) do desconhecido (por nós, espíritas) Brasílio Marcondes Machado. Considerada corajosa, ele se opôs ao pensamento do establisment da FMRJ, e defende posições espíritas com base no pensamento de Bezerra de Menezes, e voltando-se contra Franco da Rocha, que pensava poder conseguir explicar os fenômenos espíritas com a Psicanálise Freudiana, reduzindo-os ao inconsciente. Machado usa Flammarion para opor-se a Grasset, e acrescenta a noção de "superconsciente", que posteriormente será endossada por André Luiz em sua obra. Possivelmente Machado teria sido influenciado pela obra de Gustave Geley, que, anteriormente a ele, já defendia a existência de uma "subconsciência superior".
As matérias estão ilustradas com fotos muito significativas, são uma bela contribuição ao pensamento espírita e à sociedade brasileira.

11.3.08

QUAIS FORAM AS CONCLUSÕES DO CONGRESSO DE MOCIDADES ESPÍRITAS DE 1948?

Foto 1: Plenária do 1o. Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil realizado no Rio de Janeiro em 1948. Lins de Vasconcellos encontra-se de pé, ao microfone. Fonte: Anuário Histórico Espírita. Eduardo Carvalho Monteiro, Editora Madras/USE-SP, 2003. p. 25.


Muitos jovens no Brasil sabem que foi realizado o Congresso de Mocidades Espíritas em 1948, organizado por Leopoldo Machado. Sabe-se também que houve a participação de jovens de todo o Brasil. Clóvis Ramos estima que havia mais de 200 mocidades espíritas atuantes no Brasil àquela época. Hoje, a grande maioria dos Centros Espíritas se preocupa em manter um grupo de jovens.
Quais foram, contudo, as decisões desse congresso? Que ações ele desencadeou no movimento espírita brasileiro?

1. Criou um conselho consultivo para as mocidades no Brasil, composto de 15 membros entre jovens e adultos, que foram eleitos no congresso.
2. Adotou um programa padrão para as Mocidades, proposto por Leopoldo Machado, a ser adotado pelas Mocidades que não tinham programação de estudos.
3. Recomendou não utilizar o nome juventude, e sim, mocidade, para que não houvesse confusão com os movimentos político-partidários da época.
4. Incentivou os jovens a engajarem-se em campanha nos centros espíritas para que os espíritas encaminhassem seus filhos à evangelização infantil (então chamada de aulas de moral cristã na infância).
5. Recomendou o uso de uniformes ou distintivos a serem usados nas reuniões solenes e festivas.
6. Para que a mocidade pudesse realizar eventos e trazer expositores, além dos gastos usuais, recomendou a criação de um quadro de sócios e realização de festivais de arte espiritualista com venda de ingressos para a formação de uma espécie de fundo.
7. As mocidades deveriam apoiar o Esperanto, ministrando cursos em suas sedes para os interessados.
8. Recomendou a fundação de um Diário Informativo, com seções de cunho moral e propaganda do Espiritismo sob o seu tríplice aspecto. Este órgão seria de âmbito nacional.
9. Sugeriu-se a criação de colônias de férias, preferencialmente junto aos lugares de assistência social, para recreio dos confrades, com renda revertida para as atividades assistenciais.
10. Adotou a Canção da Alegria Cristã (Leopoldo Machado e Oli de Castro) como hino da mocidade espírita do Brasil.
11. Recomendou a realização de música, teatro, declamação e canto em reuniões e festas sociais (e não nas reuniões de estudo), sempre com finalidade educativo-doutrinárias.
12. Recomendou o tratamento menos cerimonioso e mais íntimo nas conferências e programas festivos em geral (o que na época era entendido como evitar Excelentíssimo Senhor, Vossa Excelência e Vossa Senhoria, por exemplo).

Clóvis Ramos explica que o conselho teve vida efêmera e com a Unificação (Pacto Áureo) adotou-se o termo Departamento das Juventudes da Federação Espírita...

1.3.08

Bezerra de Menezes escreve no Reformador em 1895


Canuto Abreu transcreveu e comentou o editorial do Reformador escrito por Bezerra em 1895, período em que os espíritas se dividiam por questões de interpretação do caráter do Espiritismo. O tema dá o que pensar nos dias de hoje, por esta razão, passo a transcrever o editorial do então Presidente da FEB.

"É para lastimar que, tendo-se difundido admiravelmente no Brasil as idéias espíritas de modo a não haver ninguém que não as aceite, seja a sua propaganda feita sem ordem nem sistema.

Nos Estados há grupos dispersos... Na Capital as associações estão desligadas... Empregam-se, nos Estados principalmente, métodos inconvenientes, tudo à falta de unidade de vistas... Cada grupo tem sua orientação...

Tudo progride e parece-nos que já é tempo de entrar o Espiritismo, entre nós, em nova fase analítica de que deverá subir à sintética, que unificará o Espiritismo no Brasil com o de todo o mundo.

Para passarmos do estado de confusão, em que nos achamos, ao de ordem bem regulada, para chegarmos ao de sistema que será o último trabalho humano, faz-se mister uma séria e bem compreendida organização.

Sem harmonia de ação, sem o concurso harmônico dos grupos entre si, o Espiritismo não fará mais progresso no Brasil, não passará de uma crença sem base, variante de indivíduo a indivíduo.

A união faz a força. Organização e organização, é a palavra que parte de todos os lábios, é a idéia que paira em todos os pensamentos, porque é chegada a hora de passarmos da fase sincrética à fase analítica, como acima indicamos.

Aceitamos, pois, de boa vontade, como nos cumpre, as inspirações que nos dão os prepostos do Senhor, incumbidos de desenvolver o Espiritismo no Brasil. Organizemos.

Para organizarmos é preciso, primo, ligar em uma grande falange os trabalhadores: segundo, regularizar metodicamente o seu trabalho. No próximo número daremos o plano de organização."

(Extraído do livro Bezerra de Menezes: Subsídios para a História do Espiritismo no Brasil até o ano de 1895. Escrito por Silvino Canuto Abreu. Edições FEESP)

23.2.08

Espiritismo e Parapsicologia


Publicamos no Anuário Histórico Espírita de 2003, organizado pelo Eduardo Carvalho Monteiro, o trabalho "Espiritismo e Parapsicologia: Fronteiras e Limites". O objetivo do trabalho é tentar mostrar as conexões entre estes movimentos de produção de conhecimento sobre o espírito e as faculdades humanas raras e pouco conhecidas pelas ciências naturais.
Houve diversos movimentos culturais anteriores, que influenciaram de uma forma ou outra a constituição, linguagem e metodologia de abordagem destes campos do conhecimento.
A figura no início desta publicação sintetiza o escopo do trabalho.
Para uma leitura mais detalhada, recomendo o Anuário que traz muitos artigos de qualidade e interesse à história do movimento espírita. http://www.candeia.com/produto.asp?section=1&id=8479



12.2.08

Curiosidades: O Precursor da União Espírita Mineira


Antes da Fundação da "Federação Espírita Mineira" em 1908, criou-se em 1o. de Outubro de 1902, a União Espírita de Belo Horizonte. Este órgão foi fruto da articulação dos seguintes espíritas de então:


- Dr. Teixeira de Magalhães

- Dr. Antônio Teixeira Duarte

- Modesto Lacerda

- Felicíssima Teixeira

- Manuel Felipe Santiago

- Joaquim Menezes

- Arthur Quites (1o. Presidente)

- Turiano Pereira (Vice-Presidente)

- Manuel Bento Alves (Secretário)

- Oscar Pereira (Tesoureiro)

- Antônio Gomes da Silva (Procurador)


Alguém tem alguma foto, notícia ou outra informação sobre os fundadores?


Fonte: História da União Espírita Mineira (mimeo)

Documento apresentado por Pedro Valente no Seminário "Histórico do Espiritismo: Europa, Brasil e Minas Gerais", no Lar Espírita Esperança em 10 de março de 1996. Organização: Associação Espírita Célia Xavier, Instituto de Cultura Espírita do Estado de Minas Gerais e União Espírita Mineira.

13.9.07

Como foi escrito O Livro dos Espíritos?


O Reformador deste mês publicou o artigo "Como foi escrito O Livro dos Espíritos", fruto do trabalho de pesquisa para as comemorações dos 150 anos da obra primeira de Kardec. O número traz uma entrevista sobre o Espiritismo em Sergipe, a reedição de um interessante artigo de Hermínio Miranda (que usava o pseudônimo de João Marcus) sobre poluição e muitos outros trabalhos que merecem ser lidos. Caso seja difícil ao leitor adquirir a revista, a FEB já disponibilizou o número eletrônico no endereço http://www.febnet.org.br/file/37/refset07.pdf

2.9.07

Assista o Trailer do Filme de Bezerra de Menezes


Glauber Filho dirigiu um longa metragem sobre Bezerra de Menezes. Clique no título ou no link http://br.youtube.com/watch?v=NIsmtkniZx4 e assista o trailer no YouTube.
Orientado por Luciano Klein Filho, o filme promete. Leia um pouco sobre o projeto e o elenco no link http://www.bezerrademenezesofilme.com.br/.

26.8.07

O ESPIRITISMO NOS ESTADOS UNIDOS III

EC: Quais são as diferenças entre o movimento espírita brasileiro e o Norte Americano?

Antônio: Não vejo muita diferença entre o movimento espírita brasileiro e o Norte Americano, até mesmo porque o movimento espírita aqui é formado em sua vasta maioria por grupos que foram fundados e são dirigidos por brasileiros. Enfrentamos aqui os mesmos problemas que enfrentam os grupos espíritas no Brasil. Uma coisa que é um tanto quanto complicada aqui é a participação em caráter mais constante e permanente das pessoas que vão aos centros espíritas. Isto acontece em decorrência do rítimo de vida aqui ser muito agitado. As pessoas trabalham em horários não tão compatíveis com os horários em que funcionam os centros espíritas. Isto dificulta em muito a rotina de trabalho dos centros e o nível de frequência torna-se muito inconstante.

EC: Que problemas vocês têm enfrentado na cidade de Nova York para praticar o Espiritismo?
Antônio: Nova Iorque é uma cidade cosmopolita e para cá vem gente de todos os cantos do mundo. A questão de liberdade de crença aqui é uma coisa levada muito a sério pelo americano. Assim, isto contribui em muito para facilitar o exercício e a prática de qualquer filosfia, religião, seita ou culto, desde que se cumpra com as formalidades exigidas pelas leis locais. Neste particular não se enfrenta mesmo qualquer tipo de ingerência, imposição ou dificuldade. Eu diria que uma dificuldade significante que se encontra aqui é a da questão material, ou seja, tem-se um custo alto para se manter uma sede em funcionamento. Cito como referência o Spiritist Group of New York que já está em atividade desde 2001 e todas as suas atividades são realizadas em salas alugadas por hora. Isto limita e dificulta um pouco o trabalho do grupo, pois a rotatividade dessas salas é grande, em que um grupo se reúne após outro, e as salas tem que serem desocupadas imediatamente.

Figura 1: Centro Libertad del Espiritismo em NY, década de 30 (?).



EC: De uma forma geral, dê aos nossos leitores algumas informações sobre o movimento espírita nos Estados Unidos.
Antônio: De uma maneira geral, o espiritismo ainda é muito pouco conhecido pelo grande público americano. Alguns poucos grupos iniciaram um trabalho pioneiro de disseminação do Espiritismo aqui em Nova Iorque e em outras localidades, antes da aparição de centros espíritas fundados por brasileiros. Esses grupos, em sua maioria formados por espíritas de origem hispano-americana [portoriquenhos, cubanos, etc.] foram em realidade os grandes pioneiros nesta nobre tarefa. Faço referência aqui, mais uma vez, à Spiritist Society of Florida, dirigida pela amiga e confrade Yvonne Limoges. Em verdade, as origens desta casa espírita está ligada ao El Centro Libertad del Espiritismo o qual foi fundado em 1933, pelo casal Luis Perez e senhora Pilar Perez, imigrantes espíritas portoriquenhos que vieram para a cidade de Nova Iorque em 1930.

Foto 2: Membros da Sociedad Libertad del Espiritismo

Edgar Crespo, pai de Yvonne Limoges e que fundou com ela a SSF, participou das atividades daquela casa espírita desde a infância, vindo posteriormente a se transformar num dos médiuns atuantes do centro. Da mesma forma a Yvonne Limoges, nasceu e cresceu em ambiente espirita. Esta casa espírita que tinha por volta de 45 membros participantes ativos, era tão bem estruturada que chegou a adquirir uma sede, um prédio de três andares, e anualmente, durante o verão, promoviam um desfile no centro de Manhattan pela Avenida Madison [Fotos e relato histório em inglês através deste link - A Spiritist Center in New York City]. Alguns dos descendentes desses pioneiros desbravadores, participam hoje de centros espíritas dirigidos pelos irmãos hispano-americanos localizados em New Jersey, Florida e outras localidades. Assim se iniciou a disseminação do Espiritismo por essas plagas.
Foto 3: Desfile na Madison Avenue.




Posteriormente, começaram a aparecer os centros espíritas fundados por brasileiros, os quais hoje proliferam por quase todos os estados da federação americana. Conforme podemos verificar na interessantíssima biografia de Marcel Souto Maior - As Vidas de Chico Xavier, o início de tudo foi impulsionado pela visita que Chico Xavier fez aos Estados Unidos em 1965, oportunidade em que, entre outras coisas, foi feita a tradução da sua obra Ideal Espírita, cujo título em inglês ficou como The World of the Spirits, atualmente inteiramente disponível na página do SGNY. A iniciativa seguinte tomada pelo Chico Xavier e sua comitiva de acompanhantes, Waldo Vieira, Maria Aparecida Pimentel e Ireneu Alves, foi a fundação do Christian Spirit Center, cuja presidência ficou a cargo de Salim Salomão Haddad. Inicialmente a sede deste centro foi a residência do casal Salim Salomão Haddad e sua esposa, a senhora Phyllis, os anfitriões do Chico e comitiva na cidade de Washington. O casal tinha conhecido Chixo Xavier em Pedro Leopoldo, em 1956. É interessante notar que Sallim Salomão Haddad era poliglota e fez a tradução de algumas obras espíritas para o inglês. Dentre elas destacamos a mencionada acima, bem como a primeira tradução da primeira obra da série André Luiz - Nosso Lar [The Astral City], da qual existem hoje, se não me falha a memória, quatro traduções. Não tenho visto ultimamente este centro espírita nas listas existentes na internet, bem como não tenho conhecimento se ele ainda está em funcionamento e se a senhora Phyllis estaria ainda entre nós. Não tive o prazer de conhecê-la pessoalmente, mas guardo com carinho uma carta que ela me escreveu em 14 de março de 2000, carinhosamente dando-nos permissão para colocarmos a referida tradução acima na homepage do GEAE, que até hoje lá permanece. Nessa ocasião o Christian Spirit Center era sediado na cidade de Elon College, no Estado da Carolina do Norte. Segundo tenho ouvido em ocasiões diversas, não muito tempo após a visita inicial do Chico Xavier e comitiva, começaram as visitas desse que é mesmo o maior de todos os desbravadores espíritas - Divaldo Pereira Franco, que tem mantido ao longo dos anos um calendário incrível de viagens pelo mundo afora, disseminando a boa nova do espiritismo como o mais arrojado dos bandeirantes. Tenho também ouvido várias vezes que o confrade e professor John Zerio, um dos fundadores e diretor da AKES - Allan Kardec Educational Society, foi o suporte maior do Divaldo nessas suas visitas iniciais a várias localidades de diferentes estados aqui nos Estados Unidos, o que possibilitou a organização de vários grupos espíritas. A partir de então outros grupos espíritas fundados por brasileiros começaram a aparecer e novos grupos continuam a serem fundados. Com o crescimento do movimento espírita a nível internacional, sob a liderança do CEI - Conselho Espírita Internacional, criou-se também aqui nos Estados Unidos o USSC - United States Spiritist Council.


Foto 4: Membros da Spiritist Society of Florida


EC: O que aconteceu com os adeptos do "modern spiritualism"? Como é a convivência entre as sociedades espíritas, de base kardequiana e os espiritualistas?
Antônio: Não posso falar muito sobre o movimento organizado do Espiritualismo Moderno aqui, uma vez que não participando dele ativamente fica difícil entender a dinâmica do mesmo. O que posso dizer e conjecturar a respeito do assunto, tem mais uma visão sob o ponto de vista histórico que advém das leituras que habitualmente faço sobre o tema, o qual me fascina sobremaneira. A percepção que tenho é que a exagerada ênfase dada aos fenômenos físicos, especialmente a partir dos produzidos pelas irmãs Fox, em Hydesville, de uma certa forma, já de início transformou-se num obstáculo à convergência de esforços mais direcionados para a instituição de algo mais sólido que viesse efetivamente crescer harmoniosamente, fundado numa base capaz de resistir aos embates que viriam pela frente. Quando vejo a grandiosidade da literatura espiritualista, e aqui me refiro a obras de qualidade inquestionáveis, bem como o volumoso acervo de obras no campo da pesquisa psíquica, produzidas por cientistas de nomeada e pesquisadores das maiores universidades do mundo, não consigo entender como o movimento do Moderno Espiritualismo sequer foi capaz de construir uma doutrina de base sólida em torno desse interminável acúmulo de fenômenos oriundos da "invasão organizada" da espiritualidade, nas palavras mais sábias do grande escritor Arthur Conan Doyle. Ao contrário, estarrece-nos a constatação de que alguns de seus membros mais notáveis, gastaram parte substancial do seu precioso tempo, na tentativa de combater a doutrina nascente do Espiritismo, naquilo que ela tem de mais fundamental, ou seja, a reencarnação. Se o leitor se interessar por maiores informações neste particular, recomendo a leitura do Capítulo 16 [”Luzes e Sombras do Espiritualismo”] do excelente livro de Hermínio C. Miranda, cujo título é Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos. Cabe ainda ressaltar aqui, que até mesmo o maior e mais notável de todos os pioneiros dessa nova era, o profeta da Nova Revelação, Andrew Jackson Davis, que entre outras coisas previu o advento dos fenômenos que desencadeariam o surgimento do movimento do Moderno Espiritualismo, era nessa época visto com reservas pelos próprios espiritualistas, por causa das críticas que o nobre pioneiro fazia em relação a postura de excessiva ênfase e aferrado apego ao aspecto fenomênico das revelações, em prejuízo do lado filosófico e moral das mesmas. A única explicação que encontro no tocante a incapacidade por parte dos espiritualistas na construção de uma doutrina sólida a partir de toda aquela fenomenologia em curso, é que uma já estava sendo esboçada - a Doutrina Espírita, e a espiritualidade superior sabia e sabe que não precisamos de mais de uma. Em outras palavras, em time que está ganhando, não se mexe. Infelizmente, essa tendência de supervalorizar o fenômeno ainda reflete sobremaneira no meio do movimento do Espiritualismo Moderno por aqui, o que é fácil de se constatar pela forma com que a prática da mediunidade ainda é exercida. É uma profissão remunerada como qualquer outra. Não nos cabe aqui fazer julgamentos e muito menos descaracterizar os resultados benéficos que o exercício da mediunidade sadia pode trazer, mesmo nessas circunstâncias, mas convenhamos que a questão material é mesmo um entrave no exercício desta nobre faculdade que nos é dada gratuitamente e como tal deve ser devolvida aos nossos irmãos mais necessitados. Enfim, como diz o ditado popular, “o tempo é um grande remédio”. A reencarnação que não é invenção do espiritismo nem de religião alguma, muito ao contrário é uma lei natural como muitas outras, que alguns ainda resistem em aceitar a sua inexorabilidade, lenta e gradualmente cada vez mais conquista as mentes e os corações das pessoas pelo mundo afora, e o progresso espiritual que também é inexorável segue o seu curso. Assim, esperamos que os irmãos ligados ao movimento do Moderno Espiritualismo também percebam a necessidade de mudanças e se adequem a realidade dos tempos atuais corrigindo os equívocos perpetrados no caminho, para que o distanciamento entre o movimento e os que o mesmo pretende atingir, não se distancie cada vez mais. Em realidade, a convivência entre os movimentos espírita e espiritualista é quase inexistente, e eu entendo ser isto um fator de muita importância na grande convergência que todos esperamos acontença num futuro não tão distante, o que imaginamos ser este o grande desejo dos pioneiros de ambos os movimentos que nos assistem do plano espiritual, o que podemos perceber nas palavras proféticas do codificador, no fragmento da mensagem acima registrado. Foi com muita alegria e esperança que vimos a realização do evento ocorrido em julho de 2005 em Lily Dale, mencionado anteriormente, o qual reuniu pela primeira vez os dois movimentos. Aliás, foi para mim motivo de muita frustração não ter podido participar do mesmo, pelo fato de ter viajado para o Brasil um dia antes do acontecimento. Esperamos que muitos outros eventos aconteçam e o Espiritismo e o Moderno Espiritualismo venham mesmo se fundir nessa grande Filosofia natural que será adotada por todos nós num futuro não tão distante.
EC: Após o episódio das irmãs Fox, você é capaz de nos dar alguns dados históricos da trajetória do Espiritismo em Nova York?
Antônio: A não ser as igrejas espiritualistas das diferentes denominações que se vê por aí, pouco ou quase nada se ouve a respeito do movimento do Moderno Espiritualismo por aqui. Ao conversar com as pessoas em geral, nota-se que o movimento do Espiritualismo Moderno é muito pouco conhecido por aqui. Isto foi algo que nos surpreendeu. Afinal de contas, foi no Estado de Nova Iorque que surgiu a mola propulsora e o ponto de partida, através do episódio das Irmãs Fox, para a instituição e organização do movimento do Espiritualismo Moderno. Além disso e com maior justeza ainda, temos o fato de que há poucas milhas de Nova Iorque, mais precisamente na cidade de Poughkeepsie, viveu por muitos anos aquele que é considerado um verdadeiro apóstolo no âmbito dessa nova era de revelações espirituais em benefício do progresso da humanidade, tanto pelas obras que deixou como pelo exemplo de vida que foi. Isto sem falar obviamente dos grandes pioneiros que aqui viveram e deixaram trabalhos monumentais nesta seara, como é o caso do ilustre Juiz John W. Edmonds com sua famosa obra Spiritualism e o grande cientista Robert Hare com o seu Experimental Investigation of the Spirit Manifestations. Por essas e outras razões, é natural que a gente espere que o movimento fosse muito mais visível através de eventos maiores e da mídia em geral, como acontece com o Espiritismo no Brasil, o qual há poucas décadas atrás ainda era caso de polícia. Felizmente, temos a internet que propicia a todos nós uma gama enorme de material de estudo facilmente acessível nesta área. A grande maioria das obras que formam o acervo da literatura espiritualista clássica e de boa qualidade, está hoje disponível na internet. Obras novas e de boa qualidade também surgem de vez em quando, o que mantém acesa a chama do desejo do conhecimento por parte daqueles que se interessam pelo estudo dessas questões. No caso específico do episódio das irmãs Fox, mencionamos aqui uma obra bem recente de autoria de Barbara Weisberg, Talking to the Dead [Conversando com os Mortos]. Sob o ponto de vista histórico eu recomendo que o leitor interessado visite na internet as páginas de ambas as organizações que representam o Movimento do Moderno Espiritualismo, aqui nos Estados Unidos e no Reino Unido. Ai encontrarão todas as informações sobre este extraordinário movimento, desde o seu nascimento e posterior desenvolvimento, bem como relatos do sacrifício de muitos pioneiros que tanto nos legaram. São elas: National Spiritualist Association of Churches of the United States and The Spiritualists' National Union.

EC: Quantos centros espíritas você estima existirem na Big Apple?
Antônio: Bem, aqui na cidade de Nova Iorque (a Big Apple) especificamente temos apenas 3 centros espíritas no momento. São eles o Allan Kardec Doctrinal Society; o Allan Kardec Spiritist Center; e o Spiritist Group of New York. Havia um quarto, o Centro de Estudos Espíritas Boa Nova, o qual funcionou por muitos anos e com um trabalho maravilhoso, sob a liderança da Katy Meire, mas saindo um pouco para uma área de maior abrangência, conhecida aqui como tri-state region [que engloba partes dos estados de Nova Iorque, New Jersey e Connecticut], aí o número cresce para mais ou menos uns quinze. Não é um número tão pequeno, pois quando cheguei aqui, há treze anos atrás, havia mais ou menos uns cinco apenas.

EC: De que forma os espíritas brasileiros podem auxiliar os trabalhos dos espíritas novaiorquinos?
Antônio: Imagino que uma das formas seja através deste contato via internet, o que possibilita um permanente entrelaçamento e troca de informações. Eu costumo chamar o "milagre da internet", pois as possibilidades neste novo mundo globalizado são mesmo inesgotáveis. A propósito, saliente-se que graças a ela, a internet, o espiritismo está se propagando pelo mundo com muito mais rapidez do que podíamos ao menos imaginar há pouco tempo atrás. Os grupos espíritas espalhados pelo mundo afora devem mesmo utilizar esta ferramenta maravilhosa e, na medida do possível, procurar se comunicar e trocar informações e experiências com grupos de outras localiddes. Isto é muito salutar e ajuda muitíssimo o grupo em seu propósito de disseminar o espiritsmo em bases harmônicas e sólidas. E, como sabemos, os amigos no Brasil tem muito a nos dar, pois o movimento espírita aí se encontra muito mais bem estruturado e já com muito mais experiência adquirida.