Ponte dos Jesuítas, na Fazenda Imperial Santa Cruz
Continuamos a leitura do livro A tragédia de Santa Maria em nossa reunião mediúnica, e mais uma surpresa nos aguardava. Minha esposa preparou o capítulo 5 da segunda parte, que trata da volta de Esmeralda ao Brasil, e das festividades preparadas para recebê-la. Não acontece muita coisa no enredo literário, mas, mais uma vez, Bezerra de Menezes se aproveita da narrativa para tratar de uma questão que lhe foi muito cara em vida: a abolição da escravatura.
A primeira surpresa do capítulo é a preparação de uma orquestra de escravos para receber Esmeralda. Orquestra de escravos? Nunca havia ouvido falar nisso, e parti para a internet em busca de informações. Qual não foi minha surpresa quando encontrei uma orquestra de escravos na região em que a história se passa.
O comendador Souza Breves, considerado o maior senhor de escravos do Brasil Imperial, mantinha uma orquestra de escravos em suas propriedades para tocar em suas festas. Souza Breves era dono de fazendas na região de Piraí - RJ, situada no Vale do Paraíba a uma altitude de 387 metros do nível do mar.
Comendador Souza Breves
Os dados biográficos do Comendador Souza Breves não o tornam candidato a ser o personagem do livro, mas a localização e a altitude de tornam a região bem passível de ser próxima da Fazenda Santa Maria, quem sabe vizinha das fazendas de Souza Breves.
Ribeiro e Nogueira (2016) escreveram um artigo para a revista "Anais do museu paulista: história e cultura material" (1) , na qual, coincidentemente, explicam que em uma fazenda chamada Santa Maria, da região de Campinas-SP, havia uma orquestra de escravos (p. 64), dirigida pelo maestro, compositor e professor Sabino Antônio da Silva, que morou por cerca de três anos na referida fazenda.
Fazenda Imperial Santa Cruz
Outro exemplo da existência de orquestras de escravos no Brasil Colônia e no Brasil Império é a Fazenda Imperial de Santa Cruz, fundada em 1556, no Rio de Janeiro. Na Wikipédia se aponta o funcionamento de "uma Escola de Música, de uma Orquestra e de um Coral, integrados por escravos, que tocavam e cantavam nas missas e nas festividades quer na Fazenda, quer na Capital da Capitania"
Dá para ver que a novela de Bezerra de Menezes apresenta alguns detalhes pouco conhecidos de quando viveu, especialmente com relação à escravidão. Ela também retrata uma época e os costumes da sociedade fluminense em que viveu. Embora não se possa falar em prova, é uma boa pista que o autor espiritual deixa no texto indicando sua autoria.