A expulsão dos judeus em 1497
Estamos estudando o livro “Dramas
da Obsessão”, ditado pelo Espírito Bezerra de Menezes a Yvonne Pereira. Como a
leitura é feita aos poucos em nosso grupo de estudos (um pequeno capítulo por
sessão), conseguimos observar alguns detalhes que geralmente escapam a uma
leitura do livro como romance apenas.
A trama do romance, desde o
início, remete o leitor ao livro “A Loucura sob Novo Prisma”, publicado
postumamente. Nesse livro, o médico cearense defende a tese da existência de pessoas
avaliadas como loucas por médicos da época, que na verdade sofreriam apenas a
obsessão espiritual (provocada por espíritos inferiores). A história, que
parece ter origem em fatos reais, trata de suicidas que foram levados ao ato
por obsessão espiritual.
Durante a narrativa se descobre
que os obsessores do livro haviam sido convertidos compulsoriamente ao
cristianismo no século XVI, e depois torturados e mortos apenas por terem
fortuna, sob o pretexto de cultuarem sua religião em segredo.
Na narrativa, Bezerra mostra como
eles foram obrigados a adotar nomes cristãos após a conversão. O rabino Timóteo
Aboab passou a ser chamado de Silvério Fontes Oliveira, seus filhos Joel, Saulo
e Rubem, tiveram que adotar os nomes de Henrique, José e Joaquim,
respectivamente.
Nas páginas 66 e 67 da minha
edição, Bezerra traça uma explicação sobre o significado hebraico dos nomes da
família, voltando até mesmo à descendência de Israel (ou Jacó). A mudança
obrigatória de nomes é, portanto, uma violência simbólica e uma tentativa de
apagar as origens judaicas da família.
Curiosamente, Bezerra faz um
comentário muito relevante, relacionado a este fato:
“Nestas
páginas, não obstante, continuaremos a tratar nossas personagens pelos seus
nomes de origem, uma vez que, liberais que deveremos ser, respeitaremos
o direito que eles têm, ou quem quer que seja, de se nomearem conforme lhes
aprouver.”
Por isso, ele continua chamando
os autores com seus nomes hebraicos durante a narrativa.
Vemos, portanto, que o autor
espiritual admite a influência das ideias liberais, que ele defendeu pela
política quando estava encarnado. Bezerra era político do partido liberal, na
segunda metade do século XIX. Embora pontual, não deixa de ser uma marca de
identidade do autor.
O tema do livro, como uma
ilustração de uma tese que ele quase defendeu quando encarnado[1]
e sua identificação com as ideias liberais, são dois pontos que trazem a marca
de Adolfo Bezerra de Menezes no livro ditado a Yvonne Pereira.
[1]
Segundo Luciano Klein Filho, Bezerra escreveu “A loucura sob novo prisma” para
apresentar como tese no Congresso Espírita e Espiritualista Internacional em Paris-França, em 1900, mas desencarnou antes do evento.
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