9.6.15
5.6.15
I ENCONTRO DA CULTURA E PESQUISA ESPÍRITA FRANÇA-BRASIL
O 38o. Conselho Espírita da Unificação de Niterói, ligado ao CEERJ e o Programa de Estudos e Pesquisas das Religiões do Centro de Ciências Sociais da UERJ estão organizando o 1o. Encontro da Cultura e Pesquisa Espírita e, ao mesmo tempo, o XII Colóquio França-Brasil.
Este evento conta com pesquisadores e estudiosos do movimento espírita dos dois países. Ele tem por objetivo aproximar brasileiros e franceses interessados no estudo do espiritismo.
Já estão confirmados: Alexander Moreira-Almeida, Antônio Cesar Perri de Carvalho, Evandro Noleto Bezerra, Dora Incontri, François Gaudin, Jorge Brito, Luciano Klein Filho, Marcelo Gulão, Marion Aubrée, Nadja do Couto Valle, Olivier Geneviève, Paulo Peixoto, Samuel Magalhães, Vincent Fleurot e Yasmim Madeira.
Já estão confirmados: Alexander Moreira-Almeida, Antônio Cesar Perri de Carvalho, Evandro Noleto Bezerra, Dora Incontri, François Gaudin, Jorge Brito, Luciano Klein Filho, Marcelo Gulão, Marion Aubrée, Nadja do Couto Valle, Olivier Geneviève, Paulo Peixoto, Samuel Magalhães, Vincent Fleurot e Yasmim Madeira.
O evento se realizará no Teatro Odylo Costa Filho, que tem espaço para 900 pessoas, contará com tradução simultânea para as duas línguas e está aberto a todos os interessados.
A UERJ fica na Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã - Rio de Janeiro-RJ, quase em frente ao Centro Espírita Regeneração, fundado por Bezerra de Menezes no século XIX.
É uma ótima oportunidade para espíritas do Brasil e da Europa se encontrarem, estabelecerem laços, e conhecerem o que se tem produzido sobre o espiritismo pelas universidades.
A taxa de inscrição de 50 reais dá direito ao livro "Em torno de Rivail: o mundo em que viveu Allan Kardec", da Editora Lachâtre. Inscrições e informações, no momento, já podem ser feitas nos telefones do GEPAR - 021-2619-2448 ou 021-3026-5831, com Paulo Menezes ou Márcia Stephano, no horário comercial.
Estão apoiando o evento (ordem alfabética):
Conselho Espírita Internacional- CEI, Conseil Spirite Français- CSF, , Correio Espírita, Correio Fraterno, CEERJ TV, Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro - CCDPE-ECM, Grupo Espírita Paz, Amor e Renovação - GEPAR, Instituto Lachâtre, Liga dos Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE, Programa de Estudos e Pesquisas das Religiões - PROEPER, Rádio Boa Nova, Rádio Rio de Janeiro, Webtv Espírita Nova Luz
Estão apoiando o evento (ordem alfabética):
Conselho Espírita Internacional- CEI, Conseil Spirite Français- CSF, , Correio Espírita, Correio Fraterno, CEERJ TV, Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro - CCDPE-ECM, Grupo Espírita Paz, Amor e Renovação - GEPAR, Instituto Lachâtre, Liga dos Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE, Programa de Estudos e Pesquisas das Religiões - PROEPER, Rádio Boa Nova, Rádio Rio de Janeiro, Webtv Espírita Nova Luz
A partir do dia 30/06/2015, estará disponível a inscrição no site http://www.1epce.com.br
O evento acontece nos dias 31 de julho a 2 de agosto próximos.
Será um grande prazer encontrar neste evento, leitores do Espiritismo Comentado que conhecemos apenas pela internet.
O evento acontece nos dias 31 de julho a 2 de agosto próximos.
Será um grande prazer encontrar neste evento, leitores do Espiritismo Comentado que conhecemos apenas pela internet.
Ajudem a divulgar, por gentileza. Repassem esta matéria.
CORREÇÃO: Publicamos originalmente um cartaz que contém o nome de Charles Kempf, na lista de expositores. Gostaríamos de explicar que o nome dele estava cotado para participar presencialmente do evento, mas ele foi impedido de estar presente por razões profissionais. Estamos providenciando mudanças no cartaz digital e voltaremos a publicar com a lista correta.
3.6.15
DANIEL DUNGLAS HOME E O TEÓLOGO
Em 1851, Daniel visitou o Sr. C., em Nova York (Brooklin),
onde ficou conhecendo o Prof. George Bush. Tratava-se de um teólogo eminente e
professor de hebreu e línguas orientais em Nova York. Ele estava preparado para
reconhecer os fenômenos que envolviam Home, porque estava familiarizado com os
escritos de Swedenborg e com o mesmerismo, além das experiências espirituais de
Julian Stilling e de outros. Ao declarar-se publicamente favorável aos
trabalhos de Swedenborg, Bush prejudicou seu próprio futuro na igreja.
Seu maior interesse era nos fenômenos mentais que ocorriam
com Daniel. Ele recebeu, segundo Home, comunicações tais que não deixavam
espaço à dúvida em sua mente da presença dos que já haviam falecido. Bush afirmou que o médium havia dado o nome de um colega antigo de escola, de quem já
havia esquecido há muitos anos, e que este colega se referiu a um sonho que o professor
havia tido na noite de sua morte. No sonho, eles brincavam juntos,
quando o pequeno Bush viu subitamente seu colega de escola ser tirado dele, e
ouviu uma voz que dizia: “Eu deixo você, George, mas não para sempre”. O sonho
de quarenta anos atrás veio à sua mente imediatamente.
George Bush ficou tão impressionado que convidou Home para
morar com ele, a fim de estudar para ser ministro swedenborguiano (adepto da doutrina de Emmanuel Swedenborg, médium precursor do espiritismo na Europa). Daniel
voltou para casa com a intenção de fazê-lo, mas em 48 horas ele viu, estando
desperto, o espírito de sua mãe, que dizia: “Meu filho, você não deve aceitar
este tipo de oferta, porque sua missão é maior que a de um pregador.” Home
contou ao professor a mensagem do espírito. Ele ficou pesaroso, mas não
surpreso e Home retornou à casa do Sr. C.
Adaptado do livro "Incidents of my life" de Daniel Dunglas Home
Adaptado do livro "Incidents of my life" de Daniel Dunglas Home
1.6.15
NO CÉU DA VIBRAÇÃO
Sábado de noite na Praça Sete,
coração do centro de Belo Horizonte. Eu já havia assistido muito cinema no Cine Teatro Brasil, que foi totalmente restaurado há alguns
anos com a parceria da Vallourec e tornou-se novamente um espaço de cultura da
capital.
Fomos assistir “No Céu da
Vibração” um musical sobre a vida de Chico Xavier. Ao chegarmos no teatro, já
fui vendo luz. A fachada exterior ganhou uma iluminação interna, que passa
pelos vitrais e ilumina toda a frente e lateral do teatro. Ele estava morto e
reviveu.
Como comprei de véspera, o que
não é hábito de mineiro que se preza, consegui lugar apenas a última fila da plateia,
embaixo do balcão, mas já encontrei uma colega de mocidade espírita que ficou
ao lado da minha esposa e pudemos trocar impressões ao longo da peça.
Como todo musical, tinha um belo
e chamativo figurino, uma caracterização dos personagens genial, especialmente
a do nosso Chico, que vai da infância à idade avançada ao longo dos nossos
olhos. Chapéu, peruca e boina, uma boina bem paulistana, ítalo-paulistana,
saída das mãos de Marlene Nobre. Os artistas cantavam, dançavam, representavam.
A iluminação completava o figurino.
O maestro, com um chapéu-boné que
evocava o personagem Chico Xavier, regia a pequena orquestra que ficou ao fundo
do palco, meio escondida pelo cenário, porque o Cine Teatro é mais cine que
teatro, mesmo depois da reforma.
O espetáculo aos olhos mineiros
tem algo que, por exemplo, não se vê na direção carioca do filme de Daniel
Filho. Trata-se da mineiridade. Aos olhos das pessoas de centros mais
tradicionais e ricos de nosso país, a mineiridade soa a brejeirice ou a ser
jeca, um tolo alegre de quem todo mundo gosta. No texto do musical, o sotaque
atrai gargalhadas gostosas, mas os personagens apresentam uma grandeza, uma
luta, uma humanidade que não os torna inferiores, mas sublimes aos nossos
olhos.
Daniel Kostás, diretor do musical, captou o espírito das
lavadeiras, das beatas, dos homens de cidade pequena do interior, até mesmo das intrigas em torno do padre, que foi o menos mineiro dos personagens. Li algures que nosso sotaque
deve muito à escravidão, que foi extensa por aqui, por causa do ouro, da
colonização, da roça. E entendi bem a negritude da alma mineira quando vi os
personagens em ação. A história do Chico, muito abrandada pela habilidade do
roteiro, é uma história de muita violência, de morte, de dor. É uma história triste da violência que herdamos da relação entre senhor e escravo. Chico é o homem
da superação. Ele tinha tudo para adoecer, para encher-se de bebida, para ser
um homem mesquinho, mas resolveu trilhar um caminho diferente. Ele é o fraco que ficou forte na dor.
O personagem do pai de Chico não
é o vendedor de bilhetes de loteria que povoa a minha infância. Daniel fez um
upgrade. Ele é um jovem, e sua violência não convence. Penso que a violência do
pai de Chico, hoje livre da carne, foi uma violência rude.
O romance com sua segunda esposa
também não retrata o que vi com olhos de menino das relações verticais de
marido e mulher, que como uma balança romana, a cada momento pendia para um
lado, mercê da força e capacidade da mulher mineira. Cidália é uma jovem
apaixonada e cheia de convicções, que escolheu o amado e teve romance. Essa
Cidália saiu do fundo da alma de Daniel e não de relatos reais, mas encheu nossos olhos, porque é
cheia de mineiridade.
Maria, conhecida nas casas
espíritas como Maria João de Deus, é um espírito superior, mulher bonita e
vistosa, mas humilde e altaneira, como uma montanha. Seu sotaque carregado
atrai a admiração da multidão de cabeças que estava na minha frente.
A Rita, a madrinha-madrasta, é
também um arquétipo, mais que uma pessoa. Eu escuto até agora o grito da
infância “Chiiiiico!”, bem à moda dos lugares cheios de espaços e com poucos
vizinhos para incomodar. A agressão foi oculta, minimizada pelo cenário, mas
povoou nossas mentes. Doses homeopáticas.
Faltou dor nos olhos de
Maria-espírito. Ela parecia superior à violência contra seu filho. Na minha mente pequena, seu
lugar é o de quem não tem como interferir, que precisa dar forças ao pequeno, mas duvido que
faltasse dor nos seus olhos, aquela dor estoica que ensinou o Chico a lidar
com as atribulações da vida.
Emmanuel é um arquétipo da
masculinidade, uma masculinidade estrangeira. É diferente do Emmanuel que fui
construindo na mente ao ler a obra e ouvir os "causos" que falam do Chico. Por sinal, em
Minas o Chico é mais um personagem de causos que um autor ou médium
excepcional. É mais um homem bom, que uma liderança incansável de uma obra
imensurável. É mais um homem simples, que uma potência política. Ele nos enganou
direitinho. Tanto falou que é um cisco, que nós perdemos a real dimensão de quem estava conosco.
André Luiz é um personagem
secundário. Entra, aparece e some. Falta a todos nós espíritas entender a
intimidade do doutor com o Chico, intimidade que sobrou na relação com o
senador romano. Ele é um sofredor que dita suas histórias após o resgate.
Os espíritos são um show à parte.
Daniel os enfiou literalmente no meio das pessoas encarnadas, com uma roupagem clara
esvoaçante, mas nada semelhante ao branco pobre das produções globais. Eles não
são seres desumanos, sem cor nem nada. Estão com suas emoções preservadas, como
o seu “dos Anjos” poeta simbolista, cuja morte não o tornou sem alma.
A cena do espírito que fala pelo
Chico é sem adjetivos. Perfeita! Não posso falar muito para não roubar a
surpresa do show.
Gostei da dor. A dor das mães sem
filhos, das esposas sem marido, dos maridos sem esposa que procuravam o Chico.
Gostei da dor dos que não encontraram na mediunidade um telefone que toca e
recebe. Gostei da dor da espera, da paciência. Gostei da dor do médium que
gostaria de poder fazer o impossível para alentar a dor dos que o procuravam.
Os artistas se superaram.
Uma palavra de desprezo aos
historiadores que enxergam Chico Xavier apenas como colaboracionista da
ditadura. Um pouco de profundidade, doutores! Um pouco de psicologia não faria
mal à sua história. Só entenderão resistência quando a matizarem, quando virem
mais que apenas a resistência das armas e das revoltas. Se os autores de seus
textos tivessem humanidade, talvez vocês entendessem mais. Isso o Daniel Kostás conseguiu.
Entendi perfeitamente o que é
unificação quando vi o musical. Música do paranaense Plínio Oliveira, que
ganhou corpo e expressão no trabalho de Kostás, completamente mineiro, em meio
ao sotaque paulistano de dona Marlene. Uma encarnação! Esta foi a impressão
que tive quando vi a música de Plínio ganhar forma diante de meus olhos.
O musical terminava. Aquela
multidão de cabeças na minha frente, assoava os narizes, enxugava lágrimas
discretamente. Por um momento, não havia homens e mulheres na minha frente. O
musical interpretava “um cisco”. Os mortos vivem para sempre em nossas
memórias.
30.5.15
O ESPIRITISMO NO JAPÃO
Parque Abana Achi Ken - Túnel de flores e luzes,
Adriano Marques, conhecido na mídia como o mochileiro, fez recentemente uma extensa visita para o Japão, fazendo estudos pelo movimento deste país. O Espiritismo Comentado conversou com ele sobre suas impressões e experiências no outro lado do mundo, e ele nos acolheu de forma atenciosa, jovial e pronta.
Além do Programa Roteiro, da Rádio Boa Nova, ele coordena a Mocidade Espírita Eurípedes Barsanulfo no Centro Espírita Wantuil de Freitas - São Paulo.
Além do Programa Roteiro, da Rádio Boa Nova, ele coordena a Mocidade Espírita Eurípedes Barsanulfo no Centro Espírita Wantuil de Freitas - São Paulo.
EC –
Adriano, você esteve recentemente visitando o movimento espírita japonês.
Quantas horas de viagem de São Paulo até Tóquio?
Mochileiro –
Jáder, são 30 horas de voo sendo 14 até Abu Dhabi e depois mais 12 até o Japão
com mais ou menos 3 a 4 horas de espera entre um voo e outro.
EC – Suas
palestras foram traduzidas para o japonês?
Mochileiro -
Não tivemos essa alegria e necessidade, até porque são poucos os Japoneses que
frequentam ou conhecem o espiritismo. Porém, nessa segunda vez que estivemos no
Japão, mais japoneses estiveram em nossas palestras e os acompanhantes,
geralmente esposa ou marido, traduziam ao longo da palestra os pontos
principais.
Cidade de Suzuka-shi - Província Mie Ken - Grupo de Estudos Espíritas Amigos da Luz
EC – Nas
grandes cidades japonesas os imóveis são muito caros e geralmente menores que
os que temos no Brasil. Qual é o tamanho dos centros espíritas que você
visitou? Há muitos anos li no GEAE que havia um grupo no qual as pessoas se
reuniam em uma pequena sala e parte dos assistentes ficava em um van, na rua,
acompanhando por meios eletrônicos a reunião.
Mochileiro -
Não tenho essa informação sobre a van, mas, por exemplo, o grupo de orações na
cidade de Honjo, na província/estado de Saitama durante 2 anos se reuniu dentro
de um automóvel pequeno para fazer evangelho no lar nas ruas na cidade. Em média,
as casas são pequenas e os grupos se reúnem em reuniões de 10 a 20 pessoas,
exceto alguns grupos que chegam a 40 60 pessoas, como em Honjo, Toki e
Kakegawa.
Para se ter
uma ideia, Ginza, um bairro de Tokyo, é o metro quadrado mais caro do mundo. Com
isso imaginamos qual o valor de um imóvel em Tokyo. Porém, a maioria das casas
espiritas estão situadas em casas de presidentes ou de fundadores do grupo, ou
em espaços alugados da prefeitura onde se pagam por hora, uma média de mil yenes,
o equivalente a 25 reais por 3 horas de uso, aos sábados ou domingos. Outros
grupos possuem sede própria e outros ainda dividem o espaço físico com casas de umbanda.
EC – O
movimento espírita no Japão é nipo-brasileiro ou apenas de brasileiros que foram trabalhar por lá?
Mochileiro -
Se compreendi bem sua pergunta, o movimento espirita no Japão é feito por
brasileiros para brasileiros, sendo descendentes ou não.
Grupo de Orações Cidade Honro Shi - Província Saitama Ken
EC – A
sociedade japonesa recebe bem os núcleos espíritas?
Mochileiro -
Não há divergência, até porque o movimento espirita todo é realizado na língua
portuguesa. Então até para que os japoneses não recebam bem, terão que
compreender o que está sendo feito. Devido ao incidente há alguns atrás, da
seita que matou centenas de pessoas no metrô de Tokyo, o governo proibiu a
regulamentação de novas seitas religiões etc. Com isso o espiritismo não é
visto pelos japoneses como uma religião.
EC – Como
podemos apoiar o movimento japonês?
Mochileiro -
Primeiramente, com prece, orações e buscar ajudá-los à medida que os pedidos
dos grupos forem sendo realizados. A nossa ida até o Japão demorou 6 anos,
devido aos grupos fechados, desconfiança etc., pois, infelizmente, muitas
pessoas ao longo dos anos tentaram se aproximar somente para obter vantagens
chegando ao ponto de cobrarem pelas palestras. Em outros momentos temos
palestrantes no Brasil que fazem muitas exigências como passagem de primeira classe,
hotel cinco estrelas, público acima de X número de pessoas e etc. Com isso, é
natural o bloqueio e a insegurança dos dirigentes e trabalhadores.
EC – Você
entrevistou crianças japonesas sendo evangelizadas, como foi isto?
Mochileiro -
Não entrevistei porque não existe esse trabalho sendo realizado, pelo menos nas
15 casas espiritas que visitei. O que existe são trabalhos esporádicos sendo
realizados por pessoas dentro de alguns grupos, porém com filhos de trabalhadores
e frequentadores, em português, até porque são crianças brasileiras que até
falam japonês, porém tudo é feito em português.
EC – O Japão
é a terceira economia do mundo, com uma distribuição de renda muito melhor que
a nossa. Você teve contato com trabalhos de assistência e promoção social lá?
Qual é a diferença dos nossos trabalhos?
Mochileiro -
Sim, realmente o Japão é um país de primeiro mundo e somente isso já dá uma
visão geral das grandes diferenças entre eles e nós. Visitei e trabalhei em
dois grupos assistenciais, tanto na primeira como dessa segunda vez que
visitamos o Japão. A diferença, basicamente. é a forma que é conduzido
trabalho, os alimentos, a preparação, e os dias de funcionamento. Basicamente,
os trabalhos sociais se resumem em atendimento aos homeless, moradores de rua. O grupo que participei fica na cidade
de Hamamatsu na província de Shizuoka talvez o lugar com mais brasileiros no
Japão, devido à grande quantidade de brasileiros. Até as placas na estação de
metrô e shinkansen - trem bala - em hamamatsu estão escritas em português. E,
por incrível que pareça, todos os assistidos, dessa vez que participei, 89,
eram japoneses. Ano passado havia brasileiros e outras nacionalidades.
EC – Nas
reuniões mediúnicas, há médiuns japoneses, psicografando ou falando em japonês?
Já existem publicações de livros espíritas produzidos por “filhos do sol”?
Mochileiro -
Não se tem notícia de japoneses nas reuniões mediúnicas nem à frente de
trabalhos espíritas. Tive contato com pessoas que afirmam ter grupos espíritas
criados por japoneses para japoneses, porém não obtive êxito em conseguir
contato ou entrevista para a rádio Boa Nova.
Livros,
existem sim. O mais conhecido é o evangelho segundo o espiritismo, traduzido
pelo Sr Tomoh Sumi, que é japonês e morou no Brasil, em Juiz de Fora-MG, onde
fez faculdade de Letras. Há também O livro dos médiuns, O céu e o inferno em
dois volumes e O livro dos espíritos, mas traduzido por grupos diferentes,
inclusive por não espíritas.
Nas reuniões
mediúnicas, cheguei a participar de algumas, quando a comunicação pode ser
realizada na língua japonesa. Em um dos grupos havia pessoas capacitadas para
fazer a doutrinação em japonês, noutro grupo fizemos prece e encaminhamos o
espírito, já que não havia como dialogar, devido a ninguém na sala conhecer a
fundo a língua nativa.
EC – Conte
para nós como foi a entrevista na Globo – Japão.
Mochileiro -
A entrevista aconteceu devido à ajuda da Alice, dirigente do Grupo de Estudos
Espíritas Amigos da Luz, da cidade de Suzuka que, em contato com Edson Xavier,
combinou nossa participação. Fui muito bem atendido pelo apresentador e o bate
papo fluiu tranquilo. Confesso não imaginar a repercussão que a entrevista
daria, quando fosse ao ar. Até hoje tenho recebido e-mails do Japão inteiro
dizendo que ouviram e assistiram a entrevista. Em meu face o vídeo chegou a mais de 3 mil visualizações. De uma maneira
tranquila, falamos aquilo que em duas viagens ao Japão, sendo 30 dias cada
visita, conseguimos conhecer. Como dissemos anteriormente, o movimento espirita
japonês ainda está no início e muita coisa precisa ser esclarecida aprendida e
ensinada. Por isso há muita desconfiança, no sentido de conhecer nosso trabalho
para abrir as portas dos grupos, até porque muitos estão localizados nas
próprias residências das pessoas etc. Mas muito nos alegra termos participado
dessa entrevista num veiculo mundialmente conhecido e termos falado por mais de
4 minutos.
EC – Você
pode contar ao nosso leitor alguma peculiaridade dos centros espíritas
japoneses?
Mochileiro -
São várias, mas tentarei resumir. O fato de, na entrada, você ter que tirar o
sapato, como é o costume japonês, já nos causa estranheza. O segundo ponto é
que, como a grande maioria, arrisco dizer que como 90% dos espíritas japoneses
conheceu o espiritismo no Japão, ainda existem as orações reminiscentes do
catolicismo como o Pai Nosso, Ave Maria etc., seja no estudo do evangelho ou
nas reuniões mediúnicas e palestras públicas. As comunicações de espiritos na
reunião mediúnica, em Japonês, na minha opinião é a peculiaridade mais especial.
Como sou apaixonado pela língua japonesa acaba sendo gostoso e nos desperta mais
amor no momento da comunicação, por exemplo, de espíritos que, sofredores
ainda, não conseguem discernir que já estão desencarnados e são levados pela
espiritualidade maior para tratamento.
EC – Que
autores/médiuns ocidentais espíritas são lidos pelos japoneses, além de Kardec
e Chico Xavier?
Mochileiro -
São muitos, porém Zíbia Gasparetto é a mais lida, sem sombra de duvida, devido
aos romances.
EC – O que
emocionou você na viagem?
Mochileiro -
Jáder, a viagem toda, em si, é uma emoção. Há muitos anos sonhávamos viajar o mundo
levando livros, espiritismo e a Rádio Boa Nova, e por duas vezes em dois anos
demos a volta ao mundo. Ir ao Japão é a realização não somente de um sonho, mas
sim, de um projeto que provavelmente durará por longas décadas. Primeiro, pelo
que plantamos e por todo trabalho iniciado na seara espirita. Segundo, porque
há muito o que ser feito e realizado e graças ao nosso trabalho e temos tido
total apoio, respeito e convite para retornarmos e darmos continuidade ao
trabalho iniciado em 2014.
Passar 30
horas de voo, com a sensação de que tudo será novo, é algo imensurável. Em 2014
não conhecíamos ninguém, nem sequer onde ficaríamos hospedados, eram ouvintes
que nos convidaram e nós aceitamos. Imagina o nervosismo, as dúvidas, o medo,
porém a fé em cristo foi maior e colocamos a mochila nas costas e levamos 310 livros
para distribuição em 2014. Neste ano foram 450 livros da lavra de Francisco
Candido Xavier doados pela editora GEEM. Então entregar os livros, dar palestras,
entrar ao vivo pela Rádio Boa Nova em nosso programa Roteiro, direto do Japão,
foi algo esplendoroso até porque a Radio Boa Nova tem 50 anos de existência e
fomos os primeiros a ir ao outro lado do mundo.
E, por fim,
mas não menos importante, fazer amizades, conhecer uma nova cultura, lugares,
religiões, grupos que, com muita dificuldade, longe da família e do pais de
origem, seguem firme, mantendo alto a bandeira do espiritismo.
EC – Você
tem um link que possibilite, aos espíritas latino-americanos e aos japoneses
interessados, conhecer um centro espírita no Japão?
Mochileiro -
Não tem um link especifico, mas quem quiser pode nos adicionar no Facebook -
Adriano Marques - Programa Roteiro - que indicaremos os grupos de cada região: http://radioboanova.com.br/wp-content/uploads/2014/02/adriano_marques.png
28.5.15
UMA ANIMAÇÃO COM AS IRMÃS FOX E COM ALLAN KARDEC
Chrystiann Lavarini escreveu-me da Escócia, indicando um vídeo de animação de cerca de quatro minutos.
É uma delícia de se assistir. Trata dos eventos das irmãs Fox nos Estados Unidos e de uma rápida biografia de Allan Kardec, toda ilustrada sob a forma de animação acelerada.
Pensei como seria útil em aulas de evangelização infantil, em cursos de introdução ao espiritismo, como apoio didático-pedagógico. Já imaginei as crianças conversando sobre a animação, perguntando, opinando, desenhando...
O trabalho foi desenvolvido pela TV Mundial de Espiritismo - Associação Mundo Espírita. Eu não a conheço mas espero que tenha mais trabalhos com esta qualidade e utilidade.
Clique no link abaixo para assistir.
22.5.15
BANCO DE TROCA DE LIVROS ESPÍRITAS EM BELO HORIZONTE
A FECFAS é uma instituição espírita que fica no bairro Vista Alegre, em Belo Horizonte-MG. Ainda não tenho detalhes sobre sua mais nova iniciativa, mas parece ser uma ideia muito interessante: um banco de troca de livro espírita.
Muitos dos livros que compramos são lidos por uma ou duas pessoas em casa e ficam tomando poeira nas estantes, sem uso. O banco possibilita às pessoas com hábito de leitura e aos colecionadores o acesso mais fácil e desburocratizado aos livros espíritas, delimitando melhor o papel de uma biblioteca em um centro espírita, porque possibilita a adoção de uma política de acervo voltada à preservação e acessibilidade do conhecimento.
Antevejo algumas questões que envolvem a classificação dos livros (o que é ou não livro espírita? O que pode ser trocado?) e as condições dos livros (pode-se aceitar um livro muito velho, ou faltando páginas?) De qualquer forma, estas questões não são impeditivas, se a finalidade do trabalho for a divulgação do conhecimento espírita.
Saudamos a iniciativa e aguardamos a experiência deste grupo e de outros que talvez já estejam realizando algo semelhante, nos comentários do blog ou na página Espiritismo Comentado do Facebook.
19.5.15
VIVER: UMA CONTRIBUIÇÃO AO ENTENDIMENTO DO SUICÍDIO
Fechei a página 190 com a clara
impressão de ter navegado por dois dias em um texto suave e muito informativo, em
alguns momentos, reflexivo. Esta foi minha experiência com o livro “Viver é a
melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo.”
André Trigueiro, o autor, é
conhecido jornalista da Rede Globo, engajado em temas ligados à ecologia e à
preservação da vida. Atuante no movimento espírita há muitos anos,
discretamente, ele retoma neste livro o tema que o motivou no início dos seus
trabalhos: o suicídio.
A primeira parte do livro informa
e desconstrói muitos mitos que se tem propagado sobre o suicídio. Trigueiro dá
dicas ao profissional de mídia para superar o tabu de se falar do suicídio e os
cuidados para que a informação seja benéfica, e não indutora do ato. Uma
contribuição importante para o entendimento do tema é a insistência que se
trata de um ato com diversos fatores explicativos, ou seja, não pode ser
explicado apenas pelo que pode ser visto como um fator desencadeante (uma
desilusão amorosa, uma falência ou outro acontecimento estressor na vida do
autocida).
Trigueiro destaca bastante a
influência da depressão e de outros transtornos mentais, bem como do alcoolismo
e do uso de drogas, na maioria das
histórias de pessoas que tentaram o ato. Ele explica com clareza e objetividade
como as políticas públicas podem agir na prevenção do suicídio e como nós
podemos, em escala menor, identificar pessoas que correm o risco de matar-se e
como auxiliá-las.
O Centro de Valorização da Vida é
tratado e historiado de forma muito interessante para nós, espíritas, mas não
vou me deter no assunto para não estragar a surpresa da leitura.
A segunda parte do livro trata da
visão espírita do suicídio e apresenta de forma clara o pensamento de Kardec e o de autores atuais,
como Yvonne Pereira, Joanna de Ângelis, Simonetti e Jáider de Paula, por
exemplo.
Uma palavrinha sobre a edição: o projeto editorial do livro é muito cuidadoso, agradável de ver e ler. Descansa os olhos.
O livro merece ser lido pela
comunidade espírita com atenção e, ao contrário do que o autor humildemente
propõe, ele traz novas questões e abordagens ao que já conhecemos e lemos na
literatura espírita. Como pessoas com este tipo de problema nos procuram diariamente
na casa espírita, seria um livro interessante para ser estudado e discutido pelas
equipes de atendimento fraterno ou acolhimento.
17.5.15
OS ESPÍRITOS REÚNEM UMA FAMÍLIA AMERICANA ATRAVÉS DE HOME
A tia de Daniel Dunglas Home era avessa aos fenômenos de efeitos físicos em sua casa, mas seus vizinhos não tinham tantos escrúpulos religiosos, e convidaram o jovem médium para realizar uma sessão em
sua casa.
A Sra. Force, uma das interessadas, usou um alfabeto para dialogar com a origem inteligente dos raps (batidas ou pancadas) que se
manifestavam em sua casa. Ela obteve o nome de sua mãe, e, a seguir, houve uma
comunicação em que a Sra. Force foi advertida por ter se esquecido de sua
meia-irmã, que havia se casado com um fazendeiro há mais de trinta anos e
mudado para o oeste dos Estados Unidos. Os "raps" deram-lhe o nome da cidade em que a irmã morava
com o marido, o número de filhos e o nome de cada um deles. Force escreveu para o
endereço e recebeu uma carta em resposta, confirmando todas as informações
obtidas. A comunicação reuniu a família.
8.5.15
A TIA DE DUNGLAS HOME
Após a desencarnação da mãe de Home, iniciaram-se raps
(batidas) na mesa da casa de sua tia. Eles haviam ouvido falar nos fenômenos de
Hydesville e nas irmãs Fox. A tia disse-lhe, ao ver que os fenômenos
continuavam:
- “Então, você trouxe o diabo para a minha casa, não
trouxe?” E atirou-lhe uma cadeira.
Ela chamou três ministros de diferentes orientações
religiosas (todos protestantes) para rezar em sua casa, por Home, e expulsar o
demônio. O ministro Batista ouvia os raps aumentarem, quando ele falava em
Jesus ou em Deus, vindos de diferentes partes do cômodo em que se encontravam.
Home ficou muito emocionado com todos estes fenômenos, e, orando
de joelhos, colocou-se à disposição de Deus.
Em outra oportunidade, uma mesa movia-se em direção a Daniel
Douglas Home, na casa de sua tia, enquanto ele se via no espelho. Incomodada
com o fenômeno, a tia jogou uma Bíblia sobre a mesa, dizendo:
-“Vai levar o diabo para longe!”
Ao contrário do que ela esperava, a mesa moveu-se ainda mais
vividamente. Atônita, ela decidiu subir sobre a mesa para terminar aquela
movimentação de uma vez por todas. A mesa elevou-se acima do solo, para uma
surpresa ainda maior.
Preocupado com os incidentes, que haviam começado, não havia
uma semana, Home orava quando viu a mãe, que lhe disse:
“Meu filho, não tema. Deus é por você, quem será contra?
Procure fazer o bem. Seja verdadeiro e amante da verdade, e você irá prosperar,
minha criança. A sua é uma missão gloriosa. Você irá convencer as pessoas sem
fé, curar os doentes e consolar os que choram”
Pouco depois, aos dezoito anos, foi expulso da casa de sua
tia.
Fonte: adaptação do livro "Incidents of my life" de Daniel Dunglas Home.
Fonte: adaptação do livro "Incidents of my life" de Daniel Dunglas Home.
6.5.15
EXPIRA ESTE MÊS A SUBMISSÃO DE TRABALHOS PARA O ENCONTRO DA LIHPE - SÃO PAULO
A Liga de Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE, está fazendo a chamada de trabalhos para o encontro de 2015, que acontecerá nos dias 29 e 30 de agosto, no auditório da União das Sociedades Espíritas de São Paulo (USE-SP).
Se você tem algum trabalho escrito, fruto de pesquisa bibliográfica ou de campo, convido-o a colocá-lo no formato proposto em http://www.lihpe.net/wordpress/?p=1450 e submetê-lo à comissão organizadora (nesta mesma página há os links de submissão). Ele será encaminhado a dois pareceristas que o avaliarão e selecionarão os melhores trabalhos para apresentação. Você receberá o resultado das análises, sigilosamente.
O tema de 2015 é "Panorama Atual das Pesquisas Científicas sobre Reencarnação". Basicamente, a coordenação do evento fez um levantamento dos artigos científicos sobre reencarnação na base Periódicos CAPES, selecionou os que efetivamente tratam do tema e dividiu-os em assuntos, uma vez que conseguiu-se dezenas de trabalhos.
Vamos apresentar temas como Reencarnação e História, Reencarnação e Medicina, além de trabalhos sobre os principais pesquisadores do fenômeno no século XX e XXI.
Pesquisas de outras temáticas podem ser submetidas, mas dar-se-á preferência ao tema central do evento.
Agradeço todo esforço para divulgação no meio espírita e no meio universitário.
5.5.15
O PRIMEIRO FENÔMENO MEDIÚNICO DE DANIEL DUNGLAS HOME
Foto: Daniel Dunglas Home, adulto
Daniel Dunglas Home foi uma famoso médium de efeitos físicos, contemporâneo a Allan Kardec. Ele nasceu em Edimburgo (Escócia) em 1833, e
foi adotado pela tia com um ano de idade. Não sabemos ao certo porque isto
aconteceu, já que sua mãe era viva e teve contato com ele até a adolescência,
quando desencarnou.
Daniel, assim como outros médiuns de efeitos físicos, tem
percepções espirituais desde a infância. Aos treze anos, ele tinha um amigo
cristão chamado Edwin e fizeram um acordo de mostrar-se um ao outro após a
morte. Home mudou-se para uma cidade norte-americana a cerca de 300 milhas
distante da residência do amigo.
Um mês depois, quando fazia suas preces, sentou-se na cama e
a escuridão invadiu a sala, que até então estava bem iluminada pela luz da lua.
Home percebeu uma presença espiritual que apareceu em uma nuvem brilhante. Ele reconheceu
a face do seu amigo Edwin, sem diferenças marcantes, apenas os cabelos mais
longos. O amigo sorriu para Daniel, que ficou sabendo dias mais tarde que ele
havia desencarnado, vítima de uma disenteria maligna.
(Fonte: Incidents of my life, de Daniel Dunglas Home. Guilford - UK, White Crow, 2009)
1.5.15
A TERRA DA BRUMA
Há alguns meses meu amigo
Alexandre Caroli me sugeriu a leitura do livro “A Terra da Bruma”, que acabava
de ser publicado em língua portuguesa, depois de um século em inglês e total desconhecimento
por parte do público espírita do nosso país. Conan Doyle ainda é conhecido
apenas como o “autor de Sherlock Holmes”, personagem que continua estimulando
filmes e séries de TV até os nossos dias. Os espíritas conhecem o seu História
do Espiritualismo Moderno (traduzido com o nome de História do Espiritismo), e
talvez conheçam “A Nova Revelação”, publicado pela Federação Espírita
Brasileira.
A Terra da Bruma é uma ficção com
raízes profundas na realidade. Ele gira ao redor de dois ou três personagens
que vão aos poucos conhecendo o Espiritualismo Moderno inglês e europeu, em
princípio, para escrever matérias para um jornal. Céticos, eles vão a diversos
espaços onde a mediunidade é praticada.
Não vou falar muito do enredo,
para não estragar a leitura de quem ainda não o fez. Apenas antecipo que é diferente do texto de suspense de Doyle. Ele parece ter escolhido instituições e situações que desejava apresentar ao leitor e inseriu no enredo. É um livro para quem deseja conhecer mais do espiritismo e do espiritualismo europeus do século XIX, e não para quem deseja um romance de suspense.
O que mais me chamou a atenção no
livro são as diferenças entre o modern spiritualism,
a cultura inglesa e o espiritismo brasileiro. Creio que é uma leitura boa para
quem já conhece bem nosso movimento espírita e a obra de Allan Kardec. Pode
gerar alguma confusão nos iniciantes ou desconhecedores do espiritismo. Vou destacar algumas diferenças:
Mediunidade paga: o autor defende a mediunidade paga, ao contrário
de Allan Kardec, como uma forma do médium poder se dedicar ao desenvolvimento
de sua faculdade e poder atender a um público maior de consulentes. No próprio
livro, Doyle mostra também pessoas que resolvem se fazer passar por médiuns
apenas pelo dinheiro e a ação da polícia inglesa, implacável, mesmo com os
médiuns honestos. Do pouco que conheço da história, apesar de ficção, está
muito próxima do que realmente aconteceu na Inglaterra do início do século XX.
Relação com padres da Igreja Anglicana: A Igreja Católica adotou
uma posição de rechaço ao espiritismo de Allan Kardec ainda no século XIX.
Conan Doyle tem personagens que são padres, possivelmente anglicanos, e que
articulam sua fé cristã à mediunidade. Lembrei-me de pessoas como Dale Owen,
Stainton Moses e Haraldur Nielson. Qual terá sido a posição oficial da igreja
anglicana, uma vez que o modern
spiritualism é visto como uma religião pelos ingleses?
Relações com doutrinas orientais: Doyle apresenta ideias esotéricas
e de origem oriental como aceitas pelos espiritualistas. A doutrina das esferas
celestes e a doutrina dos sete céus (judaica, hindu e cristã medieval), por
exemplo, aparecem na boca de guias e expositores. Eliphas Levi (pseudônimo de
Papus), que chegou a ser lido pelos espíritas brasileiros da primeira metade do
século XX, é referido como uma influência de parte do movimento inglês. Como se
deu a aproximação entre o movimento espírita francês e o movimento
espiritualista inglês com o esoterismo, a teosofia e outras doutrinas
ocidentais de influência oriental?
Interesse em fenômenos da mediunidade de efeitos físicos: Doyle
vive a época posterior às pesquisas de Crookes, mas o Instituto Metapsíquico
Internacional, criado por Jean Meyer, está em seu auge. Gustave Geley é um dos
personagens que aparecem na trama com
nome trocado, e as reuniões de materializações, transportes,
transfigurações, voz direta e outros parecem ser comuns em círculos restritos.
Casas mal-assombradas: como não poderia passar batido, há uma
visita a uma casa mal assombrada, coisa que não é muito valorizada hoje por
aqui como objeto de discussão pelos espíritas (exceção feita ao livro sobre
Poltergeist, escrito por Carlos A. F. Guimarães e Carlos Alberto Tinoco). A
relação do espiritualistas ingleses com os espíritos perturbadores é muito
curiosa.
Preces: As preces estão presentes nas reuniões públicas, onde se
fazia mediunidade pública, ao contrário do que acontece hoje nos centros
espíritas brasileiros. O pai nosso aparece como uma referência cristã, mas há
preces ditadas pelos espíritos. Não me recordo de haver lido fazerem preces
espontâneas, muito comuns em nosso meio.
Maçonaria: Há uma citação da maçonaria na página 90. Parece que
havia uma proximidade entre os maçons e os espiritualistas ingleses, assim como
com os espíritas brasileiros, na mesma época.
Mediunidade curativa: Há um relato de trabalhos envolvendo médiuns
curadores. Não me recordo de menção à homeopatia no livro de Conan Doyle, como
acontecia no movimento espírita brasileiro daquela época.
Cientistas pesquisando fenômenos espirituais: Conan Doyle cita em
diversos momentos do texto cientistas da época interessados nos fenômenos
espirituais. Eles são quase todos conhecidos pelo movimento brasileiro de hoje,
embora estejam sendo lidos cada vez menos. Hoje temos um pequeno número de
cientistas dedicados ao estudo da mediunidade, reencarnação, entre outros
fenômenos, embora haja um grande número de antropólogos de franceses e
brasileiros interessados no espiritismo como movimento.
Hábitos da sociedade inglesa e europeia: Alguns hábitos dos
espiritualistas ingleses nos causam hoje algum desconforto. Frequentar sala de
fumantes, discussões regadas a vinho e agressão física a médiuns farsantes,
buscando retratação pública, certamente seriam vistos como inadequados entre
nós.
O médium como pessoa, e não como santo: Para concluir, acho a visão
que Conan Doyle tem dos médiuns muito próxima à de Kardec. Ele não os endeusa,
não os aproxima à imagem dos santos. Os médiuns ingleses são humanos, talvez
“demasiado humanos”. Eles não leram “O evangelho segundo o espiritismo”, nem “o
livro dos médiuns”, então os personagens não parecem se preocupar com uma
transformação moral, embora não sejam devassos. Gostei muito de uma frase que
Conan Doyle escreveu, após um personagem se incomodar com um médium: “É preciso
separar o homem, da coisa” (pág. 241)
A Terra da Bruma
Arthur Conan Doyle
332 páginas
Zahar
2014
1ª Edição Portuguesa
Encontra-se também em formato de
e-book
30.4.15
MEIO MILHÃO
Estamos comemorando meio milhão de acessos do Espiritismo Comentado, desde 2008, computados pelo instrumento do Google.
Mais uma vez agradeço à comunidade espírita e espiritualista, que nos tem incentivado e partilhado as despretensiosas publicações. Agradeço à Telma Núbia, que ainda encarnada, muito antes de haver internet, havia me incentivado a escrever e publicar os trabalhos que esquematizava e apresentava oralmente nas casas espíritas.
Como espaço interativo, o EC tem sido muito beneficiado dos comentários, compartilhamentos, sugestões e discussões que os leitores fazem, sempre mantendo o bom nível e o respeito às ideias alheias.
Agradeço aos brasileiros do Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte, a comunidade norte-americana, aos interessados de Portugal, Japão e da Europa como um todo, que têm participado dos esforços do EC para entender e discutir o pensamento espírita.
25.4.15
O DIVALDO DE ANA LANDI
A jornalista e historiadora Ana
Landi acaba de publicar o livro “Divaldo Franco: a trajetória de um dos maiores
médiuns de todos os tempos”, pela editora Bella. Recebi a notícia de primeira
mão, pelo confrade Washington Fernandes, que estava feliz com a venda do
pré-lançamento, cerca de 40 mil livros.
O livro é delicioso de ler, mercê
do lado jornalístico de Ana. Ela não fez um texto linear, mas um texto que, embora siga a linha da vida de Divaldo, vai e volta no tempo, detalhando
situações que ela vai narrando. Ao ler, eu parecia estar ouvindo o próprio
Divaldo, que já vi contar pessoalmente um grande número dos eventos biográficos
escolhidos pela autora.
Apesar do interesse pelo
Divaldo-médium, o que mais me tocou foi a preocupação de se mostrar sua
dimensão humana e o alcance de sua obra. As histórias de Divaldo são quase
inacreditáveis, se eu não o tivesse conhecido pessoalmente e visto um pouco de
suas faculdades e qualidades.
A mais grata surpresa do livro
não foi o texto fluente e magnético, nem as fotos muito bem escolhidas de
diferentes momentos da vida do médium, assim como de algumas de suas
psicografias. Foi a extensa narrativa sobre a relação de Divaldo com Chico
Xavier, outro personagem que conheci em vida, embora muito rapidamente, e cujos amigos, livros e espíritos estão muito presentes na minha história pessoal como espírita.
Para quem conhece um pouco da
história do espiritismo, o texto traz uma surpresa após a outra, dada a
quantidade de personagens espíritas que aparecem na vida do baiano, oriundos do
mundo físico e do mundo espiritual.
A Mansão do Caminho vai sendo
construída, passo a passo, aos olhos do leitor. É uma espécie de patrimônio
coletivo, porque tem as mãos e a generosidade de um número enorme de pessoas e
instituições, que geralmente contribuem e passam. A mão amiga de Nilson está
presente o tempo todo, fazendo justiça àquele que foi o esteio para que Divaldo
pudesse realizar sua missão como expositor e psicógrafo.
O livro emociona, faz rir e
chorar, assim como o próprio Divaldo. Ana não trabalhou como historiadora, uma
vez que posso até estar errado, mas penso que o médium baiano insere “o seu
tempero” nas histórias, já que são contadas para um público que o escuta por
uma hora ou mais. Ganham um tom humorístico, mesmo em situações claramente
dramáticas. Ela foi uma bela médium do médium, transmitindo a história que ele
escolheu contar para todos nós.
O livro não foge dos temas polêmicos
que envolveram a vida de Divaldo, e que tanto impactaram na terra de Chico
Xavier, de onde escrevo a vocês. Não vou falar muito, para que fique aquela
dúvida intrigante que faz com que o leitor desta história resolva adquirir,
ajudando a obra social do médium (os direitos autorais foram cedidos) e
embeber-se do texto.
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