30.1.23

MESSE DE LUZ E OUTRAS HISTÓRIAS: UMA VIDA MARCADA PELO ESPIRITISMO E OUTRAS BOAS INFLUÊNCIAS


Capa do livro


Jáder Sampaio

“Messe de Luz” e outras histórias é o título do novo livro lançado por Elaine Alves Ribeiro do Vale, graças à dedicação e trabalho de sua filha Clícia Ribeiro do Vale e da rede de amigos, escritores, editor, revisor, artista que ela mobilizou.

Na capa, ilustrada pelo artista Heleno Nunes, há a representação de uma mulher semeadora, pano na cabeça, cristã, pés descalços, que vai lançando, curvada e sob o sol vermelho, muitas sementes no solo, que já tem alguns brotos de plantas. 

O livro tem o selo da Lachâtre, ou seja, é visto como livro espírita pelo seu conhecido editor, Pedro Camilo. 

A apresentação é de Fátima Delgado, que hoje está em nossa casa e tem anos de dedicação à creche da Sociedade Espírita Joanna de Ângelis – SEJA, na cidade de Belo Horizonte.  Na medida em que vamos lendo percebemos o laço sutil que une os participantes: a influência cultural e espiritual de Yvonne Pereira, que tem suas cartas para Elaine transcritas no livro.

A história é longa. Começa com uma obsessão de diversos familiares que suicidaram, a influência espiritual, uma experiência ruim com a medicina e a psiquiatria da época, e a voz de diversas pessoas, como a avó Querubina, que dizia: “Essa menina está é com espírito”, mesmo sendo evangélica.  A narrativa apresenta com detalhes o contato “apavorado” com diversos espíritas de cidades diferentes, muitos já esquecidos por terem “trabalhado em silêncio” e não terem sido lembrados pelos seus. A Associação Espírita Célia Xavier entra na narrativa com a saudosa figura de Virgílio de Almeida, que levou dezenas de espíritas na Fazenda da família (Belo Vale, em Pains-MG) e pôs-se ao trabalho da mediunidade e da desobsessão. Escravos, um “trabalho enterrado” e muitas outras coisas vão sendo descobertas até que o sofrimento de Elaine vai sendo mitigado.

O texto tem “o dedo” da Dra. Míriam Hermeto, hoje professora do Departamento de História, que ensinou aos espíritas da região a empregar técnicas de história oral, para a construção de livros de memória, como esse. Elaine foi contando e Clícia gravou e transcreveu, por isso o leitor tem a impressão que está ouvindo uma contadora de histórias recordando e falando, com algum suave toque de mineiridade, na medida em que vai lendo. São “causos”, como dizemos por aqui, que se enredam como uma colcha de retalhos, cujo sentido só será apreendido pelo exame da peça completa, então vamos lendo, ávidos do enredo. Para mim, tem um significado especial porque conheci pessoalmente ou ouvi as histórias de quase todos os personagens, participei de muitos dos acontecimentos que são recordados, então me sinto como se fizesse uma viagem no tempo e recordo com muito afeto de tudo o que está no livro.

Elaine tem uma habilidade que só percebi durante a leitura. Ela é capaz de aproximar pessoas notáveis que trabalharam em diferentes grupos ou espaços sociais do movimento espírita, e retirar o melhor de cada um. Fiquei muito surpreso em encontrar Honório Abreu e Damasceno Sobral, de saudosa lembrança, ao longo do texto. Ela percebeu com clareza que não havia limites para a divulgação espírita nesses dois trabalhadores, nem de distância, nem de número de assistentes, nem de dinheiro para o deslocamento, nem nada. Aposentados, eles dedicaram o corpo e a alma à divulgação do Espiritismo, da obra de Kardec e de Chico Xavier, e são respeitados por quem quer que os tenha conhecido.

O nascimento do Centro Espírita “Messe de Luz” em Pains-MG, cujo nome veio da percepção de Seu Virgílio, já no plano espiritual, retrata o preconceito e a luta, não contra as pessoas, mas contra a intolerância, a ignorância, a violência dos pequenos atos e comentários contra o que não tivesse o rótulo de católico, mesmo estando ligado aos valores cristãos, contra o medo do novo, do diferente. A voz de Elaine, agora baixinha, contrapõe violência com caridade e amor. Na história, muitas pessoas lançaram pedras (e moedas de uma unidade econômica da época, cruzeiro, cruzado, sei lá o quê!), desligaram disjuntores, quebraram vidraças, fizeram barulho para calar os expositores e outras atitudes pequenas, próprias de quem está na infância do espírito. Essas memórias são quase confessadas, recordadas, talvez com sofrimento, mas seguidas de satisfação, quando se descobre que o “centro” auxiliou mesmo quem se declarou inimigo. É lindo ler isso! Apercebo-me que convivi com uma personagem muito semelhante aos heróis cristãos, que empunham a compreensão e a disposição de ajudar como armas poderosas que quebram muralhas de medo e preconceito.

Leprosos (assim eram chamados os hansenianos), garimpeiros miseráveis, presidiários, pobres em sofrimento e com fome, crianças de pés descalços, vão desfilando aos olhos da nossa imaginação em cada lembrança que é contada. Eles são todos tratados como irmãos, e não como párias ou marginais. Depressão, desespero, ódio e outras doenças da alma, vão sendo tratados com o diálogo, a suave influência da imposição de mãos sobre a cabeça, a voz de espíritos bondosos e sábios, a inclusão nos grupos de trabalho a favor dos excluídos e dos que sofrem, com os livros oriundos das mãos de médiuns que dormiam tarde e acordavam cedo para realizar sua parte no pacto espírita da fraternidade. 

A narrativa sai de Minas Gerais e vai para o sul do estado do Pará, repleto de contradições, de sofrimento, de sonhos, e carente de luz, não a luz do sol, nem a luz levada pelos fios de cobre, mas a luz da alma, aquela que dá sentido à vida. Pequenos trechos de estradas malconservadas que levam dias para ser percorridos, quando aqui, no Estado de Minas Gerais, teriam sido gastas horas, e às vezes minutos. 

Os livros espíritas, que ela aprendeu a divulgar em praça pública, são levados pelos caminhos de terra, em ambiente chuvoso, por lugares inóspitos. Trens cujo ponto final está no meio da majestosa floresta amazônica, exigindo “baldeação” em veículos movidos com gasolina ou álcool, passando por estradas barrentas ou mesmo trilhas esburacadas. A criação de um centro espírita a mais, em Marabá, que se tornou um centro de luz, um lugar em que se recebem os miseráveis, diminuem a fome, fazem apologia do bem que podemos fazer e não do mal que corre de boca em boca, mesmo dos que nada testemunharam.

De volta a Minas, Elaine se recorda do Yoga, em academias, mas também em salas de aula de escolas, das muitas cidades em que ela esteve. Ela não foi apenas semeadora, foi andarilha, deixando sementes de árvores frutíferas onde passava, movida pela esperança de crescimento no futuro, que talvez, como Moisés, ela não terá o prazer de ver florescer.

Minha modesta contribuição no projeto foi com fotos e biografias: a de Virgílio de Almeida, que é apenas uma teimosia para que não se esqueçam dele, e a de Marlene Assis, outra lutadora pela doutrina.

As poesias, algumas premiadas, terminam o livro. É onde podemos ler a alma da autora, seus anseios, suas preocupações, sua visão aguçada do mundo em que viveu, sua condição de mulher. 

Foram impressos poucos livros, então só pude trazer uma dezena, para dar a alguns que viveram estas histórias, e deixar na livraria da Associação Espírita Célia Xavier para venda. Quem quiser ler, e não souber onde lançará os olhos por uma tarde, essas são minhas impressões.

14.1.23

DUAS CONCEPÇÕES DE DEUS NA BÍBLIA: A TORÁ E A EPÍSTOLA AOS GÁLATAS

 


Paulo na prisão romana

Jáder Sampaio


Lendo a epístola aos Gálatas, escrita por Paulo de Tarso, encontrei uma pérola: "E porque sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Abba, Pai! De  forma que não já és mais escravo, mas filho. Se és filho, és também herdeiro, graças a Deus." (Gálatas 4:6)

Esse é um versículo muito rico, que, no contexto dessa carta, nos faz tecer muitas considerações.

Como sabemos, Paulo está, ao longo da missiva, combatendo as ideias nucleares das tendências judaizantes no cristianismo primitivo. Se antes ele usou sua autoridade para dizer que era errado, agora ele argumenta teologicamente, justificando aos cristãos a diferença entre ser cristão e ser judeu.

Há alguns meses estava lendo os livros da Torá, e muitas, mas muitas vezes, se vê Yaweh afirmando: "Eu sou o Senhor". Quando se lê esses livros que contém não apenas orientações éticas de Yaweh, mas um código de leis, com estabelecimento de penas e obrigações para as vidas do povo que antes era escravo no Egito. O que se vê é que essa concepção de Deus da Torá, pressupõe um ser sobrehumano, criador, poderoso, voluntarioso, que teria libertado os hebreus mas se colocado no lugar que antes pertencia ao Faraó. Como Paulo diz, de certa forma, o Deus hebraico é o novo Senhor, o novo escravizador, e os hebreus deixaram de ser escravos do Faraó para se tornarem escravos de Deus. Esse Deus do Torá promete uma terra própria para viverem como agricultores e proteção. Ele estabelece seus representantes e o que devem fazer e exige que os hebreus sigam suas leis. Eles terão, portanto, a Terra Prometida, e a proteção dos povos vizinhos e dos conquistadores, desde que sigam a vontade de Deus.

Por outro lado, a concepção de Deus pregada por Jesus é a de Pai, que ele chama de Abba, uma palavra hebraica (אבא) que significa Pai. Nessa concepção cristã (que é o que Paulo está desenvolvendo nessa epístola), somos filhos do mesmo pai, herdeiros, portanto, e não mais escravos.

Mas na sequência do texto, Paulo mostra que durante a infância, os filhos ou herdeiros seriam como os escravos, no sentido de terem que obedecer as autoridades que se responsabilizam por eles até tornarem-se adultos. (Gl 4:1-3) Ele faz uma imagem, a das crianças que ficam sobre o cuidado do pedagogo (ou aio, na tradução de Ferreira de Almeida) até serem entregues ao Mestre (Jesus). Ele usa essa analogia para explicar a necessidade de viver sob a lei (uma espécie de infância espiritual) e de depois substituir a lei pela fé em Jesus Cristo (uma nova lógica de vida, que dispensa a observação estrita às exigências da lei e dos profetas)

A relação do homem com Deus, portanto, vai da submissão-obediência infantis, repleta de prescrições comportamentais, para a autonomia em Jesus, que trabalha em nível de atitudes. Isso também traz novas luzes para distinguir entre a "obra da lei" (Gl 3:2) e a "fé cristã".

Esse entendimento paulino, também nos permite discutir a expressão "Filho Unigênito", filho de mulher, e a dogmática da concepção divina de Jesus, mas isso fica para o futuro.

6.1.23

POR QUE O LIVRO DE CANUTO ABREU SE CHAMA "O EVANGELHO POR FORA"?


Capa de "O evangelho por fora"

Li este livro pela primeira vez há décadas. O autor, Canuto Abreu, era um intelectual espírita muito interessado na questão evangélica, que resolveu estudar mais a fundo o cristianismo e as escrituras. Na década de 50 ele já tinha domínio de hermenêutica bíblica, de grego, de latim e outros conhecimentos que cada dia mais têm sido desvalorizados, com o avanço do individualismo e da cultura de base materialista. Esses conhecimentos estão presentes nos temas que ele escolhe desenvolver. Até mesmo o entendimento de "evangelho" como significando Boa Nova, é discutido e ampliado.

Sempre me questionei por que ele denominou o livro como "O evangelho por fora", e hoje tenho pelo menos uma hipótese para explicar o significado do título.

Estava lendo o livro "Orígenes: uma introdução à sua vida e pensamento", de Heine (2019) e vi que o autor de Alexandria, Orígenes, um dos grandes estudiosos do evangelho e da filosofia dos séculos 2 e 3, se deteve em uma passagem do Apocalipse, no qual se diz o seguinte:

"E vi na destra do que estava assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos." Apocalipse 5:1 (Tradução de Ferreira de Almeida)

Orígenes entende que o livro se tratava da Bíblia “o que estava revelado pelo livro estava escrito por fora, porque sua interpretação era fácil e o que estava escrito por dentro, é porque era oculto e espiritual”. (HEINE, 2019, p. 62) Cabe como comentário que Orígenes foi um dos primeiros cristãos a usar o Antigo Testamento para compreender determinadas passagens do Novo Testamento (Evangelho), e já tinha consciência que interpretando literalmente, muitas passagens históricas dos Hebreus e muitas narrativas não seriam nem lógicas, nem reais. Elas, portanto, teriam que ser interpretadas para que se compreendesse seu sentido oculto.

Não tenho como afirmar com certeza, mas ao falar de "O Evangelho por fora", estaria Canuto Abreu referindo-se à interpretação literal do Novo Testamento? Ele apresenta no conteúdo do livro seu entendimento e adesão de diferentes níveis de interpretação do Evangelho, quando trata da hermenêutica, mas esse não é o núcleo do livro. Seria o livro uma espécie de introdução, para um trabalho maior que ele pretendia fazer? 

Deixo as questões aos leitores, em busca de mais entendimento do livro e do pensamento de Canuto Abreu.


Referências

ABREU, Canuto. O evangelho por fora. São Paulo, LFU, 1996.

HEINE, Ronald. Origen: an introdution to his life and thought. OR-USA: Cascade Books, 2019.

17.12.22

ESTUDO MINUCIOSO DO EVANGELHO E ANÁLISE DE CONTEXTO


 

A revista Reformador, editada pela Federação Espírita Brasileira, publicou um artigo do autor de Espiritismo Comentado sobre a "análise minuciosa do Evangelho" e um técnica chamada de análise contextual, que envolve uma análise interna (no caso, do próprio texto, em comparação com o todo, a perícope ou a unidade do texto) em conjunto com informações do autor, geográficas, históricas.

Abaixo o resumo do artigo.

Resumo

A análise minuciosa do Evangelho foi explicada pelo espírito Emmanuel em dois de seus livros: "Caminho, verdade e vida" e "Renúncia", publicados em 1948 e 1944, respectivamente. Ele propõe a leitura de um único versículo (que usa como epígrafe em seus textos publicados) e a meditação profunda dele. Não há proposta de se fazer hermenêutica nem exegese, é uma reflexão. Além de analisar a proposta de Emmanuel, este artigo compara a análise minuciosa, baseada em versículo isolado ou lógion, com a análise contextual, em cujo contexto interno se baseia em perícopes, nas comparações com outras partes do texto evangélico e da Bíblia e com informações históricas, geográficas e arqueológicas.

 

Palavras-chave

Evangelho, Emmanuel, Hermenêutica, Reflexão Pessoal, Exegese, Eisegese


Se você é leitor espírita, a revista Reformador pode ser assinada em papel ou em formato apenas digital, anualmente. Verifique os preços em https://souleitorespirita.com.br/

O acervo da revista, desde os primeiros números no século 19 pode ser acessada gratuitamente no site da Federação Espírita Brasileira.

30.11.22

UMA CANÇÃO PARA OUVIR NO NATAL, TAMBÉM!

 

Jáder Sampaio


Um dia me disseram que a música espírita é de má qualidade. Penso que há todo tipo de canções no meio espírita, desde composições realmente simples até composições e arranjos de músicos muito talentosos. O mesmo acontece com os periódicos, os expositores e toda atividade na qual predomina o voluntariado e o encontro.

James Marotta dirigiu o Coral Pedro Helvécio, da União Espírita Mineira, por muitos anos. É músico e tem composições e arranjos para o canto orfeônico que quem ouve, e o conhece, percebe sua assinatura. 

Ladston do Nascimento é músico profissional e junto com Cacau Lopes (saudades), de voz maravilhosa, fizeram um arranjo em inglês e português da música intitulada "Noite Igual" que fala da natividade de Jesus e parece se dirigir a quem quer que seja cristão, não importa a denominação.

Está chegando dezembro de 2022, um ano marcado ainda pela pandemia de COVID, de um clima de conflito ligado às eleições e que termina com uma Copa do Mundo de futebol.

No Célia Xavier estamos trabalhando para a Campanha de Natal e para marcar o aniversário do nosso mestre, lembrando daqueles "pequeninos irmãos", conforme ele mesmo disse segundo Mateus, no capítulo 25, versículo 40.

Peço que ouçam e vejam o trabalho que foi apresentado no Seminário Lítero-Musical de Nova Lima e registrem sua impressão sobre a canção e sua interpretação.

27.11.22

RUBENS ROMANELLI: QUANDO

 

Rubens Romanelli


Quando...

 

Filho meu!

QUANDO nas horas de íntimo desgosto o desalento te invadir a alma e as lágrimas te aflorarem aos olhos, busca-me: eu sou aquele que sabe sufocar-te o pranto e estancar-te as lágrimas;

QUANDO te julgares incompreendido dos que te circundam e vires que, em torno, a indiferença recrudesce, acerca-te de mim: eu sou a luz, sob cujos raios se aclaram a pureza de tuas intenções e a nobreza de teus sentimentos;

QUANDO se te extinguir o ânimo para arrastares as vicissitudes da vida e te achares na iminência de desfalecer, chama-me: eu sou a força capaz de remover-te as pedras dos caminhos e sobrepor-te às adversidades do mundo;

QUANDO, inclementes, te açoitarem os vendavais da sorte e já não souberes onde reclinar a cabeça, corre para junto de mim: eu sou o refúgio, em cujo seio encontrarás guarida para o teu corpo e tranquilidade para o teu espírito;

QUANDO te faltar a calma, nos momentos de maior aflição, e te considerares incapaz de conservar a serenidade de espírito, invoca-me: eu sou a paciência que te faz vencer os transes mais dolorosos e triunfar das situações mais difíceis;

QUANDO te debateres nos paroxismos da dor e tiveres a alma ulcerada pelos abrolhos dos caminhos, grita por mim: eu sou o bálsamo que te cicatriza as chagas e te minora os padecimentos;

QUANDO o mundo te iludir com suas promessas falazes e perceberes que já ninguém pode inspirar-te confiança, vem a mim: eu sou a sinceridade, que sabe corresponder à franqueza de tuas atitudes e à nobreza de teus ideais;

QUANDO a tristeza e a melancolia te povoarem o coração e tudo te causar aborrecimento, clama por mim: eu sou a alegria, que te insufla um alento novo e te faz conhecer os encantos do teu mundo interior;

QUANDO, um a um, te fenecerem os ideais mais belos e te sentires no auge do desespero, apela para mim: eu sou a esperança, que te robustece a fé e te acalenta os sonhos;

QUANDO a impiedade recusar-se a relevar-te as faltas e experimentares a dureza do coração humano, procura-me: eu sou o perdão, que te levanta o ânimo e promove a reabilitação de teu espírito;

QUANDO duvidares de tudo, até de tuas próprias convicções, e o ceticismo te avassalar a alma, recorre a mim: eu sou a crença, que te inunda de luz o entendimento e te habilita para a conquista da Felicidade;

QUANDO já não provares a sublimidade de uma afeição terna e sincera e te desiludires do sentimento de teu semelhante, aproxima-te de mim: eu sou a renúncia, que te ensina a olvidar a ingratidão dos homens e a esquecer a incompreensão do mundo;

E QUANDO, enfim, quiseres saber quem sou, pergunta ao riacho que murmura e ao pássaro que canta, à flor que desabrocha e à estreia que cintila, ao moço que espera e ao velho que recorda. Eu sou a dinâmica da vida e a harmonia da Natureza: chamo-me amor, o remédio para todos os males que te atormentam o espírito.

Estende-me, pois, a tua mão, ó alma filha de minhalma, que eu te conduzirei, numa sequência de êxtases e deslumbramentos, às serenas mansões do Infinito, sob a luz brilhante da Eternidade.

 

Autor: Rubens Romanelli

Livro: O Primado do Espíritos

Editora: Lachâtre

Disponível para aquisição (últimos dez exemplares) na Livraria Ysnard Machado Ennes, na Associação Espírita Célia Xavier.

Rubens Romanelli foi livre docente e professor titular concursado na antiga cátedra de língua latina na Universidade Federal de Minas Gerais. Bacharel e licenciado em línguas clássicas. Foi diretor do antigo Instituto de Humanidades da Faculdade de Filosofia da UFMG. Importante expoente do Movimento Espírita Mineiro.


16.11.22

A AÇÃO HUMANITÁRIA SEM DISTINÇÃO DE RAÇAS E CRENÇAS É UM IMPERATIVO ÉTICO ESPÍRITA?





Faz 18 anos que defendi a tese Voluntários: um estudo sobre a motivação de pessoas e a cultura em uma organização do terceiro setor. Tive que voltar a ela e acessei o catálogo de teses e dissertações na USP, onde há uma cópia digitalizada. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-24052007-160054/pt-br.php

Para minha surpresa, apenas nesse canal, foram 17.099 visitas e 9095 downloads; ou seja, quase dez mil pessoas acessaram a tese, e, segundo o Google Acadêmico, foram 54 citações diretas à tese publicada em forma de livro e 6 citações à tese citada em forma de arquivo pdf , e das citações indiretas, encontrei as seguintes:

O Maslow desconhecido: uma revisão dos seus principais trabalhos de motivação - 137 citações

A dinâmica de grupos de Bion e as organizações de trabalho - 25 citações

A gestão de pessoas e a motivação - 16 citações

Resgate da teoria de motivação de Joseph Nuttin - 7 citações

Motivação de voluntários em creche no terceiro setor - 5 citações

Ethos, sincretismo e identidade no espiritismo brasileiro - 2 citações

O livro da tese está na segunda edição e ainda no mercado. Como diria meu colega, Prof. Miguel Mahfoud, "o livro está vivo".

Para adquirir o livro, peça à distância em https://ccdpe.org.br/loja/

Vou retirar parágrafos que são muito contemporâneos hoje, mesmo tendo sido escritos há 18 anos, e ir publicando em formato de gotas no Espiritismo Comentado. Um tema polêmico, hoje, tem sido o trabalho social espírita. Ao tentar propor um ethos espírita na obra de Allan Kardec, escrevi:


"Enquanto ser-no-mundo, espírito encarnado, é dever ético do espírita o seu autoconhecimento (LE, q. 918-919), o seu autodesenvolvimento intelectual e moral (LE, q. 779-780), e a sua ação humanitária "sem distinção de raças, nem de crenças" (LE, q. 918), seja como membro da sociedade ou membro de uma instituição" 

Jáder Sampaio.

24.10.22

RESENHA DE "ESPIRITISMO EM PERSPECTIVAS" É PUBLICADO NA REVISTA INTERAÇÕES, DA PUC MINAS.

 


A revista Interações, da PUC Minas, acaba de ser lançada em formato digital e gratuito. Nesse número 17, o tema central é "O espiritismo em perspectivas", tornando-se um grande dossiê de pesquisas sobre a doutrina nas áreas de ciência da religião, história, filosofia e outras ciências humanas. 

Contribuí com uma resenha crítica sobre o livro "Espiritismo em perspectivas", publicado pela Saga Editora em 2019, organizado por Adriana Gomes, André Seal e Marcelo Gulão. Quem se interessar pelo nosso trabalho, basta acessar: http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/27588

O número DOI da Interações é http://dx.dox.org/10.5752/p.1983-2478

Recomendo aos leitores de Espiritismo Comentado a leitura de "Um panorama histórico da trajetória do espiritismo da França até o Brasil", de Angélica Almeida, Adriana Gomes e Marcelo Gulão Pimentel.    http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/29088 

Recomendo também o texto de Humberto Schubert, "As bases filosóficas do niilismo e do espiritismo explicadas segundo o conflito ciência e religião". http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/27092

Fausto Nogueira escreveu um artigo sobre a imprensa espírita em São Paulo (1873-1911). Se a memória não me engana ele tem uma tese de doutoramento sobre Batuíra, e usou o acervo do Centro de Cultura e Documentação do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro, em São Paulo.

Pedro Simões, professor da UFSC, escreveu um artigo sobre seu tema: O assistencialismo espírita. Ele publicou um livro com o selo do CCDPE-ECM, chamado "Dá-me de comer", no qual apresenta uma pesquisa nas sociedades espíritas de Santa Catarina e analisa o pensamento de Kardec com relação à ação social. 

Ainda não li a maioria dos artigos da revista, mas os autores merecem ser lidos por espíritas e simpatizantes, que desejam conhecer os trabalhos acadêmicos sobre o espiritismo e o movimento espírita.

11.10.22

ESQUINA DO CÉLIA TRAZ FILHA DE HERMÍNIO MIRANDA PARA FALAR DE RECORDAÇÕES

 


Há nove anos desencarnava o escritor Hermínio Corrêa de Miranda, no dia 08/07/2013. Passados mais de nove anos, conseguimos entrevistar a filha para falar do Hermínio-Pai e das suas memórias sobre o Hermínio-Escritor Espírita.

Foi pouco mais de uma hora de entrevista na qual ficamos sabendo de muitos acontecimentos na vida do nosso herói intelectual. Os livros Os Procuradores de Deus, Os senhores do mundo, Nossos filhos são espíritos e A diversidade dos Carismas são os que aparecem nessa conversa, mais parecida com um café na boca do forno à lenha que com as sizudas entrevistas técnicas que vemos em muitos canais de televisão.

Se você já leu e gosta do Hermínio, essa entrevista é um presente, Não deixe de assistir! Ela está no endereço eletrônico: https://youtu.be/p52GQDPdANI

11.9.22

ATUALIZADA A LISTA DE ENTREVISTAS NO ESQUINA DO CÉLIA

 


Ao lado da página inicial, na régua superior do blog, há duas outras páginas. A que circulei em roxo na imagem acima é uma lista contendo em ordem de apresentação todas as entrevistas do programa "Esquina do Célia" na TV Célia Xavier. Trata-se de um roteiro com dez ou mais perguntas, que são feitas a convidados de todo o Brasil. Tem por objetivo divulgar novos autores, novos livros de temática espírita, teses, dissertações e atividades levadas em curso no meio espírita.

Já trouxemos convidados do Paraná ao Ceará, muitos ligados à LIHPE e ao CCDPE-ECM, mas não exclusivamente. Quase sempre damos o "caminho das pedras" para que o leitor possa acessar ou adquirir o livro que está sendo apresentado, ou conhecer o trabalho pessoalmente.

Recomendo aos leitores do Espiritismo Comentário, que gostam de livros novos, eventos, conhecer outras atividades, a frequentarem pelo menos mensalmente essa "orelhinha" do EC. As entrevistas são feitas no segundo sábado do mês às 20 horas na TV Célia Xavier, e participando ao vivo, o leitor pode fazer perguntas ao entrevistado via chat.

Abaixo da apresentação de cada entrevistado, há um link que leva o leitor diretamente ao YouTube, abrindo no início da entrevista ou em uma propaganda curta, após a qual inicia-se a vinheta do programa.,

31.8.22

CIÊNCIA NATURAL OU CIÊNCIA DO ESPÍRITO: O QUE É O ESPIRITISMO?

 

Natureza


"A natureza nós explicamos, a vida da alma nós a compreendemos." 

Wilhelm Dilthey


No 17º Enlihpe, apresentamos um trabalho intitulado "Allan Kardec entre Comte e Dilthey, ou porque o espiritismo não é apenas ciência natural". É o segundo capítulo do livro "Coerência doutrinária na pesquisa espírita", publicado pelo Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro (CCDPE-ECM) e pela Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE) agora em 2022.

Dilthey é um dos autores que entende que há um método próprio para se compreender o espírito humano, visto como um todo de vivências, pensamentos, e talhado com os elementos da cultura, da religião, das leis e da história. Algo que não se explica, mas se compreende, se formos capazes de escutar e viver na nossa mente o que o nosso paciente vivencia. 

O que argumento no capítulo é que foi isso que Allan Kardec fez com os espíritos desencarnados na elaboração do espiritismo: ouviu, compreendeu e analisou. Ele não trabalhou como um astrônomo, um químico ou um médico, no geral, porque quem percebia os espíritos e os interpretava eram os médiuns, não ele. Por consequência, o espiritismo, de forma geral, foi mais construído a partir de técnicas de pesquisa usadas em ciências humanas, que com técnicas de pesquisa usadas em ciências naturais. 



Se puderem, confiram.

O livro está em formato de e-book na amazon.com.br  e em papel na livraria do CCDPE-ECM.



24.8.22

QUE LIVROS SERÃO LANÇADOS NO 17º ENLIHPE E JÁ ESTÃO EM FORMATO DE E-BOOK?


Lançamentos de livros no 17º ENLIHPE


No Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo (17º ENLIHPE) serão lançados quatro livros impressos (e em e-book, na Loja Kindle - www.amazon.com.br)



Chico Xavier e o mundo dos espíritos: um estudo de representações sociais - Tiago Paz e Albuquerque. 7º volume da Coleção Espiritismo na Universidade

(Grátis para assinatura ilimitada no Kindle)

R$24,90 para compra em e-book

Livro impresso à venda na USE-SP e no CCDPE-ECM

O livro é uma tese de doutorado na área de psicologia social, com métodos quantitativos, que investiga como Chico Xavier é visto por brasileiros de diversas religiões, idades, gêneros, etc. Foi feita uma entrevista com o autor no Esquina do Célia: https://www.youtube.com/watch?v=bXk_DG5BKAA



160 anos de O livro dos Médiuns

Apresenta o conjunto dos trabalhos submetidos e aprovados para o 16º Enlihpe, realizado à distância e ao vivo em 2021. Seu tema central é a mediunidade. 

As apresentações dos Enlihpes podem ser acessadas na lista do portal Espiritualidade e Sociedade. 


Preço do impresso em papel R$42,90

Preço promocional no Enlihpe R$34,00

Preço do e-book na Amazon R$ 24,90




Coerência Doutrinária na Pesquisa Espírita 

(Grátis para assinatura ilimitada no Kindle)
 
Preço do impresso em papel R$42,90

Preço promocional no 17º Enlihpe R$34,00

Preço do e-book na Amazon R$ 24,90

Apresenta o conjunto dos trabalhos submetidos e aprovados para o 17º Enlihpe.



A obra esquecida de Angeli Torteroli: o espiritismo no Brasil e em Portugal. (Adair Ribeiro Júnior) 

Quase 800 páginas (Livro impresso)

(Grátis para assinatura ilimitada no Kindle) 

R$49,90 para compra em e-book

Preço do impresso em papel R$150,00 

Preço promocional no 17º Enlihpe R$110,00

Trata da Pesquisa realizada em busca de informações do Professor Angeli Torteroli, um dos trabalhadores da primeira hora do espiritismo no Brasil. É praticamente um dossiê com transcrição de grande parte das fontes consultadas, tratando de diversos aspectos da vida e atividades realizadas pelo Prof. T, no espiritismo, na família, na política, na caridade e na ação social.

 

Ciência da vida após a morte (em inglês)

Prof. Humberto Schubert, um dos coorganizadores desse livro em língua inglesa estará no 17º ENLIHPE. Não é um lançamento no ENLIHPE, mas uma oportunidade de conversar com dois dos autores.

O livro pode ser comprado na Amazon.com.br:

R$212,49 para compra em e-book

Preço do impresso em papel R$459,45 (183 páginas)

Não será vendido no 17º ENLIHPE.

16.8.22

PROGRAMAÇÃO DO 17º ENLIHPE

 


 

 17º ENLIHPE Tema central: Coerência Doutrinária na Pesquisa Espírita

 

PROGRAMAÇÃO – 27/08/22

 

Sábado – Abertura e Homenagem

 

8h00 Recepção e credenciamento

 

8h30 Abertura – Prece e Palavras iniciais: LIHPE / CCDPE-ECM / USE

Alexandre Fontes da Fonseca, Julia Nezu e Rosana Gaspar

 

9h00 Homenagem – 20 anos de LIHPE: Vida e Obra de Eduardo Carvalho Monteiro

 

Julia Nezu

 

Seção Trabalhos de Pesquisa – Parte I

 

9h25 Apresentação 1 – COERÊNCIA DOUTRINÁRIA ESPÍRITA: limites e desafios

 Marco A. F. Milani

 

9h45 Perguntas

 

9h55 Apresentação 2 – Allan Kardec: entre Comte e Dilthey, ou porque o espiritismo não é apenas ciência natural.

 Jáder Sampaio

 

10h15 Perguntas

 

10h25 Intervalo 1 (café)

 

10h40 Apresentação 3 – Reflexões históricas sobre as propostas da versão definitiva de A Gênese: revista, corrigida e aumentada por Allan Kardec ou adulterada pós-Kardec?

 Adair Ribeiro Jr., Carlos Seth Bastos e Luciana Farias

 

11h00 Perguntas

 

Seção Lançamento de Livros

 

11h10 Lançamento do Livro: Science of Life After Death

 Alexander Moreira-Almeida, Marianna de Abreu Costa, Humberto S. Coelho

 

11h35 Lançamento do Livro: A Obra Esquecida de Angeli Torteroli

Adair Ribeiro Jr.

 

12h00 Intervalo 2 (almoço)

 

Mesa de autógrafos

 

13h15 Mesa de autógrafos – A Obra Esquecida de Angeli Torteroli, coletâneas do 16º e 17º ENLIHPE.

 Adair Ribeiro Jr, e demais autores das coletâneas.

Autógrafos de Tiago Paz e Albuquerque - "Chico Xavier e o mundo dos espíritos: um estudo de representações sociais"

Seção Trabalhos de Pesquisa – Parte II

 

14h00 Apresentação 4 – As classificações dos fenômenos estudados no espiritismo, metapsíquica e parapsicologia. 

Ricardo Andrade Terini

 

14h20 Perguntas e comentários

 

14h30 Intervalo 3 (café)

 

Seção Palestras convidadas – Parte I

 

14h40 Plenária – Autoria e psicografia: a hipótese da sobrevivência em obras de Chico Xavier

 Alexandre Caroli Rocha, Marina Weiler e Raphael Fernandes Casseb

 

15h20 Perguntas e comentários

 

Seção Trabalhos de Pesquisa – Parte III

 

15h30 Apresentação 5 – Coerência Doutrinária no Cap. 12 de Nos Domínios da Mediunidade

 Allê de Paula e Alexandre Fontes da Fonseca

15h50 Perguntas e comentários

 

Seção Palestras convidadas – Parte II

 

16h00 Plenária de encerramento das atividades do dia – Kardec, Hume e a "Ciência do Homem" – Silvio S. Chibeni

 

16h50 Perguntas

 

17h00 Encerramento das atividades do dia

 

17h15 Assembleia Presencial – membros da LIHPE

 

17º ENLIHPE Tema central: Coerência Doutrinária na Pesquisa Espírita

 

PROGRAMAÇÃO – 28/08/22

 

Domingo - Abertura

 

8h00 Recepção

 

9h00 Abertura do 2º dia de ENLIHPE

 

Seção Projetos de Pesquisa

 

9h10 Projeto - A alteração da escrita nos textos psicografados é um ato voluntário do médium ou a caligrafia do comunicante? Proposta de estudo piloto usando grafoscopia

 Marcelo Saad e Roberta de Medeiros

 

9h30 Perguntas e comentários

 

9h40 Intervalo 4 (café)

 

Seção Roda de Conversa

 

9h55 Roda de Conversa – “Coerência Doutrinária da Pesquisa Espírita”

Alexandre Fontes da Fonseca, Marco Milani, Jader Sampaio e Humberto Schubert

 

10h40 Perguntas e comentários

 

11h50 Encerramento

13.8.22

17º ENLIHPE TEM COMO TEMA "COERÊNCIA DOUTRINÁRIA NA PESQUISA ESPÍRITA"

 


Hoje. sábado, às 20 horas, no programa "Esquina do Célia" vamos conversar com o atual coordenador da LIHPE e com o coordenador do 17º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo sobre o encontro no final do mês, que será híbrido, pode ser presencial (o interessado precisa inscrever-se) ou à distância (não é necessário inscrever-se, basta acessar o evento ao vivo).

O 17º ENLIHPE acontecerá nos dias 27 e 28 de Agosto de 2022. Será na sede da USE-Estadual, à Rua Gabriel Piza 433, Bairro Santana, em São Paulo - Capital.

As mesas, debates e apresentação de trabalhos serão transmitidos pelos canais do CCDPE Eduardo Carvalho Monteiro no Youtube e Facebook f/ccdpe.ecm 

Mais próximo da data do evento, divulgaremos os links.


23.7.22

O PROBLEMA DO VOLUNTARIADO NO MUNDO E NAS CASAS ESPÍRITAS

 


Capa do Relatório de Atividades de 2021 do IDIS - Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social

"Nenhuma violação do direito autoral pretendida."


Jáder Sampaio

 

Um convite para participar de uma entrevista em canal televisivo fez-me rever as estatísticas atuais do trabalho voluntário no mundo.


WORLD GIVING INDEX - WGI (ÍNDICE MUNDIAL DE DOAÇÃO)

Encontrei uma instituição internacional, de sede inglesa (e em outros cinco países, inclusive Brasil), que se dedica, entre outros trabalhos, à manutenção do WGI, Índice Mundial de Doações. Essa instituição chama-se Fundação de Ajuda a Organizações de Caridade (CAF, que é a sigla de Charities Aid Foundation). No Brasil seu escritório foi registrado como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) com o nome de IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social.

O WGI é construído com informações obtidas em 114 países (mais de 90% dos países do mundo, segundo o impresso da CAF) pelo Instituto Gallup. Ele mensura três indicadores que formam um índice geral, utilizado para colocar os países em ordem.

Eles perguntam aos participantes se:

    (1) Ajudou a um estranho ou alguém que você não conhece e que necessita de ajuda.

(2) Doou dinheiro a uma instituição de caridade

(3) Voluntariou seu tempo a uma instituição

A metodologia da pesquisa busca se orientar por uma amostra representativa, feita em áreas urbanas e rurais, público civil não institucionalizado com idade superior a 14 anos, amostras maiores em países mais populosos, mais de 121 mil pessoas entrevistadas em 2020, colhidos por telefone, com nível de confiança de 95% e arredondamento com o critério de número inteiro mais alto. Vamos considerar que os resultados são representativos e que as medidas obtidas se ajustam em uma distribuição normal, ou seja, podemos considerá-las iguais às medidas da população, com uma faixa de erro.

Os resultados do Brasil em 2020 o situou em 68º lugar dentre os 114 países, com cerca de 15% da população brasileira tendo voluntariado seu tempo a uma instituição no ano da pesquisa.


WGI X PESQUISA DE VOLUNTARIADO NA PNAD - IBGE

Causa estranheza a diferença de valores entre os resultados do IBGE, que tem uma série de indicadores de voluntariado construída a partir de dados do PNAD (Plano Nacional de Amostras por domicílio). Em 2019, na 5ª visita o indicador acusou apenas 6,6% de pessoas prestando serviços voluntários na população brasileira como um todo. Apesar de semelhante o conceito de voluntário nas duas instituições, como são feitos há muitos anos com séries relativamente congruentes, deve haver alguma diferença metodológica não identificada.

O primeiro lugar da pesquisa de voluntários da CAF foi a Indonésia, que computa 60% da população com mais de 14 anos de idade prestando serviços voluntários. A Indonésia ficou em primeiro lugar geral da pesquisa em 2020 e primeiro lugar nos indicadores de Doação de dinheiro a instituições e de serviços voluntários.

Curiosamente, em último lugar da pesquisa vem o Japão, que ofereceu apenas 12% de serviços voluntário, estando muito próximo ao percentual apresentado pelo Brasil, que se considerava um país comprometido com o voluntariado.


ANÁLISE DE PAULA FABIANI PARA O BRASIL

Analisando os dados, a CEO do IDIS, Paula Fabiani, destacou o impacto das políticas de lockdown, para o controle da COVID nos índices de voluntariado, com destaque para Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Irlanda e Países Baixos que tiveram uma queda significativa de sua posição e sempre figuravam entre os dez primeiros países no ranking.

O Brasil teve seu recorde em “ajuda a um estranho” (63%), possivelmente em função da pandemia, como afirma Fabiani, mas posso arriscar que eventos como queimadas, enchentes e outros podem ter também auxiliado no impacto desse número. A doação a instituições de caridade também cresceu mais que nos cinco anos anteriores à pesquisa (31%).

O indicador de trabalho voluntário ficou inalterado com relação às pesquisas anteriores.


VOLUNTARIADO NAS CASAS ESPÍRITAS

Com o lockdown, a maioria dos centros espíritas fechou, segundo as instruções para o enfrentamento da COVID dadas por órgãos sanitários de Estado ou de Município. É natural que os quadros de pessoal tenham diminuído ou interrompido suas atividades de assistência e promoção social e que os trabalhadores que faziam a divulgação doutrinária à distância agora retomem atividades presenciais ou híbridas, e, por isso, haja a criação de novas funções e tarefas a serem feitas por voluntários ou profissionais nessa área. 

Vemos diversas casas espíritas em busca da reorganização dos quadros de voluntários, e, se possível, aprimorando essa relação com os trabalhadores contratados para atividades que demandam maior continuidade.


FONTE BIBLIOGRÁFICA.

CAF World Giving Index: 2021. A Global Pandemic Special Report. June 2021. Charities Aid Foundation, 2021. Disponível em https://www.idis.org.br/publicacoesidis/ranking-global-solidariedade-10-anos/ Acesso em 24/07/2022. 22 p.

[Observação: preencher nome, e-mail e organização e clicar em dowload. Texto em língua inglesa e gratuito.]

16.5.22

O MOVIMENTO ESPÍRITA PAULISTA

O Movimento Espírita Paulista - Coordenação: Marco Milani pela USE Campinas 


Quatro pessoas que já ocuparam a presidência da União das Sociedades Espíritas de São Paulo fazem uma roda de conversa em que tratam dos desafios que enfrentaram durante suas gestões, as contribuições, o contexto atual da sociedade e das casas espíritas e os novos projetos e questões a serem tratadas pelos órgãos federativos espíritas em nível estadual no Brasil.

Um debate rico, com interlocutores qualificados e propostas instigantes. Um tema que geralmente não se trata nas reuniões públicas das casas espíritas por dizer respeito à gestão das federativas, que geralmente tratam mais com os dirigentes que com as casas em si, fornecem espaços de formação em geral, entre outras questões.

Destaca-se na discussão uma interrogação sobre os espaços híbridos no movimento espíritas (no sentido da mescla entre atividades presenciais e à distância).

Quase duas horas de uma conversa que os dirigentes espíritas deveriam ouvir e refletir.

 

20.4.22

ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO: CONCEITOS, ORIGENS E SIGNIFICADOS


BUSTO DE KARDEC


A autora Françoise Parot escreveu um artigo na Revista de História das Ciências (francesa), tomo 57, n.1, p. 33-63, 2004, no qual ela analisa o surgimento do espiritismo na França. 

Uma curiosidade é que Parot afirma que a palavra espiritismo foi dicionarizada na França em 1860, no Dicionário Francês Ilustrado e na Enciclopédia Universal, que penso ser a publicada por Maurice Lachâtre, como conhecemos aqui. 

Outro ponto conhecido que a psicóloga destaca é que o uso do termo espiritualismo era bem difundido à época, como "uma reunião de todos os que desejavam se diferenciar de um materialismo concebido como um apego às coisas materiais e no sentido mais filosófico de convicção na existência única da matéria" (p. 36)

Ela explica que o espiritualismo era um movimento popular na Inglaterra desde 1840 e que criou muitos "clubes, associações, sociedades e congressos". Os espiritualistas procuravam mostrar uma independência dos fenômenos espirituais.

Ela busca "O livro dos Espíritos" que Kardec criou o termo "espiritismo" para substituir o espiritualismo porque além de acreditar em algo além da matéria (espiritualista), os espíritas aceitam também os Espíritos, em seu retorno e manifestação. 

Desta forma, fica clara a afirmação do Prof. Humberto Schubert de que o espiritismo é um ramo do espiritualismo, e que a criação do termo espiritismo, com esse sentido, é obra de Kardec na França.

2.4.22

NOTÍCIAS DO 17º ENLIHPE

 



Muitas pessoas estão me perguntando sobre a organização do 17º ENLIHPE. Este ano não estou participando da comissão organizadora, mas dedicando-me a regularizar a entrega de muitos trabalhos escritos que aceitei fazer e fui acumulando nos últimos anos. Todavia, continuo presente na rede de participantes da LIHPE e contribuindo da forma possível para que o 17º ENLIHPE dê bons frutos.

Que notícias temos até o momento do encontro que costuma acontecer no final do mês de Agosto?

Tema: Coerência doutrinária na pesquisa espírita

Questão central: "É possível estabelecer uma identidade clara a partir da qual seja possível averiguar minimamente a consistência e a coerência de cada proposta em face de um paradigma ou de uma identidade espírita"?

Chamada de Trabalhos: O encontro é feito a partir de trabalhos submetidos por autores e avaliados por "pareceristas" em um sistema no qual eles não sabem quem é o autor. Em 2022, a data-limite para a submissão será dia 15 de abril

Submissão: Os trabalhos deverão ser enviados para o e-mail: 17enlihpe@lihpe.net . Mais informações sobre as normas que envolvem o texto e como submeter podem ser vistos em: https://ccdpe.org.br/2022/02/04/17-enlihpe-aceita-submissao-de-trabalhos-ate-15-de-abril/

Tradicionalmente, nos ENLIHPEs se avaliam trabalhos que não estão diretamente situados dentro do tema central, mas que sejam do interesse da comunidade espírita. Não são aceitos trabalhos do tipo jornalísticos, de divulgação ou "resumos de palestras" que são apenas dissertativos. É necessário atender à estrutura, composição, argumentação e fundamentação de um trabalho técnico, concluindo como uma espécie de resposta à questão de pesquisa, empregando a literatura que foi revisada, as informações obtidas com um  método empírico,  coleta de dados ou intersubjetivo segundo uma metodologia (se for considerado necessário para responder à questão de pesquisa).

Participação: Além dos autores dos trabalhos e dos membros da LIHPE, o encontro está aberto a toda a comunidade espírita ou interessada no espiritismo. Em breve a comissão divulgará se será ou não necessário fazer inscrição para participar. 

Bem, o que tenho é isso. Perguntas sobre submissão dos trabalhos podem ser encaminhadas para o e-mail 17enlihpe@lihpe.net, da Liga de Pesquisadores do Espiritismo. Convido toda a comunidade Espiritismo Comentado a participar como melhor lhe convier.

8.3.22

UM GRANDE DOSSIÊ SOBRE BEZERRA DE MENEZES

 



Jáder Sampaio

Recebi há um mês o mais novo livro escrito por Luciano Klein Filho: Bezerra de Menezes: o homem, seu tempo e sua missão. Na verdade, mais um dossiê que um livro, porque o autor publica o texto na íntegra de muitas de suas fontes, obtidas ao longo de décadas de estudo. Em princípio, ele assusta aqueles que estão acostumados a ler livros de 200 ou 300 páginas, pelo seu tamanho – são 1187 páginas até o final das referências bibliográficas.

Ao contrário da primeira impressão, a leitura tem sido muito agradável. Uma das primeiras coisas que o autor fez foi pesquisar as notas de falecimento dos jornais e periódicos da época e como leitor tive uma recordação dos evangelhos: Jesus havia voltado do deserto e começa a visitar as cidades da Galileia, na narrativa de Lucas , até que chega em Nazaré e, após ler uma profecia de Isaías  Is 61:1-2, intitulada, na Bíblia de Jerusalém, “vocação de um profeta”, Jesus anuncia a seus conterrâneos:

“Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura”  Lc 4:21

Os nazarenos começaram a comentar que ele era o filho de José e a cobrar dele curas em sua própria cidade. Ele, então disse uma frase curiosa:

“... nenhum profeta é bem recebido em sua pátria.” Lc 4:24

Cito essa passagem evangélica para explicar que Bezerra mereceu notas nos mais importantes jornais da República Velha, e recebeu muitas palavras de reconhecimento por suas muitas qualidades tornadas públicas. Apenas o jornal cearense “A República” (CE) escreveu algo depreciativo sobre ele e sobre o espiritismo:


“Da escola ultramontana, em princípio, foi descendo na escala das crendices humanas, até declarar-se espírita, aos últimos dias da sua existência, já materialmente enfraquecida pelos insultos da idade, logo, intelectualmente decaída (...)”  KLEIN FILHO, Luciano. (2021, p. 42)


Outros jornais, do Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco, diriam outras coisas:


“Amigo e estimado clínico desta capital ... um dos mais prestimosos chefes do Partido Liberal, por vezes escolhido pelo corpo eleitoral da cidade do Rio de Janeiro” Cidade do Rio, 11 de abril de 1900


... concorria grandemente seu espírito de caridade, pois que era médico dos pobres, dedicado e afetuoso” Cidade do Rio, 11 de abril de 1900


“... Retirado da política, o Dr. Bezerra de Menezes dedicava-se exclusivamente à sua numerosa clínica como um dos médicos mais humanitários desta capital.” A Notícia (RJ), 11 e 12 de abril de 1900


“Um dos poucos indivíduos que, depois de terem dominado as posições mais elevadas, sabem olhar para elas sem saudades e empregam em benefício dos seus semelhantes todas as energias de que serviram para sobressair e elevar-se sobre o nível comum.” Gazeta de Notícias (RJ) 12 de abril de 1900


“... Médico, e médico hábil... um contínuo labutar pelo benefício da pobreza. ... Por isso morreu paupérrimo.”  Jornal do Brasil (RJ), 12 de abril de 1900.


“Há muito tempo que abandonando a política entregou-se ao exercício de sua profissão de médico, onde também se distinguiu pelo seu desinteresse e atos de caridade” Jornal do Comércio (RJ), 12 de abril de 1900


“... em todas essas manifestações da sua atividade (política) deu sempre (...) as mais brilhantes provas da sua capacidade e do seu valor moral e intelectual; mas foi sobretudo no abnegado sacerdócio da sua clínica e na doce penumbra da sua vida íntima que mais refulgiram os peregrinos dotes de seus espírito...” O País (RJ) 12 de abril de 1900


“Notável médico homeopata...”  Correio Paulistano (SP), 12 de abril de 1900


“... o grande e humanitário cidadão Dr Adolfo Bezerra de Menezes, presidente da Federação Espírita do Rio de Janeiro (...) eminente espírito que tomou como divisa – amar ao próximo como a si mesmo.” O Guia (PE) 15 de abril de 1900


Muitas outras fontes foram citadas pelo autor do livro, mas recomendo a leitura do novo trabalho sobre Bezerra de Menezes que nos chegou às mãos através de um pedido à Amazon.com.br que comercializa o título.

Conhecer os que construíram as instituições espíritas que “herdamos”, sem sermos proprietários, é muito importante para definirmos os objetivos do nosso trabalho de hoje ao futuro.