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3.3.20

A EDIÇÃO DE 1869 DE A GÊNESE É CLANDESTINA?




Desde quando Carlos Seth Bastos publicou a descoberta de um exemplar de A Gênese publicado em 1869, e Samuel Magalhães publicou imagens de propaganda do mesmo em um exemplar de O Livro dos Médiuns, do mesmo ano, surgiu uma acusação feita pelo estudioso Paulo Henrique de Figueiredo, que denominou a edição de clandestina. Diversos leitores do EC me enviaram o texto desse autor. Carlos já fez comentários ao texto, estou publicando minhas observações. 

Como se pode ver, a ideia de uma edição clandestina é especulativa, inconsistente com as informações publicadas na capa e atingiriam não apenas os diretores da Sociedade Anônima da Caixa Geral e Central do Espiritismo, como a própria Amélie Boudet, que era dona dos direitos autorais do livro e participou da fundação da Sociedade e a partir de julho de 1869 como membro do Conselho Supervisor. 

Segue abaixo o texto de Paulo Henrique e meus comentários em cor vermelha.

Agradeço aos colegas que me auxiliaram com o texto. 

Jáder Sampaio, 03 de março de 2020

SOBRE A 5ª EDIÇÃO CLANDESTINA DE A GÊNESE DE 1869

Esclarecimentos do Pesquisador e Historiador Espírita
Paulo Henrique de Figueiredo

Foi encontrado um exemplar da 5ª edição de La Genèse, les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, que possui em sua capa o ano de 1869. Uma relevante descoberta, que está relacionada com a questão da adulteração da obra em 1872. (A ideia da adulteração de A Gênese é especulativa).
Já sabíamos da existência dessa edição desde o ano passado e passamos a estudar profundamente o contexto desse fato novo.

Todavia, seria impossível para a Simoni Privato Goidanich citar essa edição em sua obra O Legado de Allan Kardec, (Se ela tivesse encontrado, a citaria e possivelmente reinterpretaria o material de estudo) quando pesquisou os documentos na França, pois ela é não só uma adulteração, mas também clandestina! (Afirmação especulativa; se fosse levada a sério, deveríamos considerar clandestinas outras edições de livros de Kardec, conforme aponta a pesquisa do Carlos Seth) Vamos demonstrar.

Compare a 4ª edição e a 5ª edição de A Gênese, ambas de 1869. Simplesmente analisando os detalhes das duas capas, já se pode deduzir informações importantes.

O pedido de impressão da 4ª edição foi feito em 4 de fevereiro de 1869. Allan Kardec pediu que fizessem 2.000 exemplares. Todavia, por desencarnar em 31 de março, no mês seguinte, não pode anunciar essa reimpressão na Revista Espírita. Ele morreu antes (um dia antes) do estabelecimento da Livraria Espírita, em seu novo endereço. Por isso, indica na capa, como em todas as suas edições: “bureau de la Revue Spirite, 59, rue et passage Ste-Anne”.

Veja agora a 5ª edição de 1869 agora encontrada, na capa: “Librairie Spirite et des Sciences Psychologiques”, em “7, rue de Lille”. Isso registra que essa edição foi publicada pelos continuadores responsáveis pela livraria após a morte de Kardec, ou seja, em data posterior à sua morte. (Possivelmente) Assim sendo, não foi publicada por Allan Kardec! (Possivelmente)

E quanto aos documentos legais desta 5ª edição que confirmariam oficialmente todas as informações sobre ela, existem? Não existem. (Especulativo, pois os documentos levantados comportam mais de uma interpretação) Simplesmente, após uma pesquisa minuciosa tanto na Biblioteca Nacional quanto nos Arquivos Nacionais da França, empreendidos por mais de uma vez este ano, por pessoas diferentes, confirmam que NÃO existe (não encontraram) nem pedido de impressão nem depósito legal. (Carlos Seth Bastos mostra que isso aconteceu em outra oportunidade na qual Kardec estava vivo. O Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas, nova edição aumentada, de 1865, não consta no registro dos depósitos legais.) 

Como se trata de conteúdo novo em relação à edição original, seria obrigação legal fazer tanto o pedido ao Ministério do Interior como depositar um exemplar na Biblioteca. (Na Biblioteca, não, na Prefeitura de Polícia) Temerariamente, nada disso foi feito! (Especulação) Trata-se de uma edição clandestina! (Uma edição cujos registros não foram encontrados até o momento) Poderíamos até dizer, criminosa. (Segundo a lei vigente à época, não há crime, deixar de registrar é contravenção. Só há crime se houver a intenção de atacar a França ou o Imperador)

Nada foi noticiado na Revista Espírita sobre essa nova edição revista, corrigida e aumentada. Nem uma nota. Quando seria fundamental avisar aos espíritas sobre isso! (Houve diversos pedidos de publicação de novos livros em 1869, além dos problemas da constituição da nova Sociedade) Kardec não o fez, pois foi posterior à sua morte. Os responsáveis pela livraria não o fizeram, pois se tratava de uma edição adulterada e clandestina. (Mega-especulação. A gráfica que trabalhou anos a fio com Kardec colocou seu nome em uma obra clandestina, correndo o risco de incorrer no artigo 41 da lei de Napoleão I, e de ser acionada judicialmente pela livraria? Como diz Carlos Seth Bastos, foram feitas quase 400 mudanças no período entre 31 de março e junho de 1869, mudados os clichês, impresso, em um período no qual se estava praticamente fundando a Sociedade  Anônima da Caixa Geral e Central do Espiritismo?)

Há uma menção a essa edição clandestina de A Gênese de 1869. E é a única. Está na referência das obras de Allan Kardec em Le Livre des Médiums, edição 11ª. na contracapa foi grafado: “ La Genèse, les miracles et les prédictions selon le Spiritisme, 1 vol., in-12, 5e édition”. (Então ou houve um erro do tipógrafo, ou a Livraria é responsável pela edição)

Temos a declaração do impressor e depósito legal dessa edição de O Livro dos Médiuns: Declaração de impressor em 09/07/1869 e depósito legal em 16/07/1869. Ou seja, a única menção sobre essa quinta edição clandestina de A Gênese de 1869 foi feita somente em julho (feita em julho, mas referente a junho, segundo a Revista Espírita) de 1869, quatro meses após a morte do professor Rivail. Pelos mesmos responsáveis por essa edição clandestina de A Gênese! (Diretoria aclamada em abril: Levent, Canguier, Ravan, Desliens, Delanne, Tailleur e Mallet – este último presidente. Diretoria eleita em julho de 1869 na residência de Amelie Boudet: Desliens, Tailleur, Monvoisin, Guilbert, Bittard e Joly, sendo que Amélie Boudet e Guilbet eram membros do Conselho Supervisor)
Como essa edição de A Gênese de 1869 foi, além de adulterada (especulação), também clandestina (especulação), o que fez Leymarie quando precisava publicar uma edição nova da obra em 1872? Ele sabia que a 5ª de 1869 era falsa (especulação), pois, tratando-se de um conteúdo novo, teve que fazer um depósito legal em 23/12/1872. Deveria ter declarado tratar-se de uma sexta edição. Revela sua culpa, ao repetir a numeração, omitir o ano na capa e publicar essa nova como sendo novamente 5a edição! (No registro, consta 5ª edição e 2ª edição, segundo Simone Privato. O que entendo é que foi registrado que era uma reimpressão (ou segunda impressão) da quinta edição. A explicação de Simone não faz sentido. Ela diz que é quinta edição porque veio após a quarta e que é segunda porque foi a primeira a conter alterações. Pág. 164-166 do livro O Legado de Allan Kardec)

A garantia da autenticidade da obra e de que seu conteúdo de fato espelha a vontade do autor repousa sobre o preenchimento dos requisitos formais de autorização de impressão e do depósito legal. (Sem o depósito legal, não há como provar que a obra foi publicada na data do registro, e se cria a possibilidade de alguém registrar a obra em seu nome. Não é o caso.) Sem isso, seu conteúdo é falso, apócrifo, (Mais uma dedução incorreta, sem isso fica mais complicado provar a autoria) segundo a legislação da época. (Não está escrito isso na lei) Alguém imagina, por absurdo, que o professor Rivail, tão cuidadoso com todos os seus documentos e sem nunca ter incorrido em qualquer ilegalidade em suas publicações, faria uma edição sem registro oficial? (Quem fez a edição foi A Livraria Espírita, em um período de extrema influência de Mme Kardec.)

Portanto ilegal, clandestina e toda modificada? (Frase de efeito, vimos que não há como provar isso. Atribuir crime à Livraria Espírita, sem provas, é calúnia) Sem avisar ninguém pela Revista Espírita? Está claro que Kardec pretendia fazer modificações nesse livro segundo os seus manuscritos, mas não o fez até a sua morte. (A FEAL tem os manuscritos, mas não deu ainda acesso às pessoas. Sem uma análise desses documentos, é também uma especulação) Nem foram certamente essas falsas que encontramos nas edições adulteradas. (Outra especulação)

Conclusão: tudo o que a Simoni Privato Goidanich afirmou em sua obra está vigente e intocável. (O trabalho dela é muito bom, especialmente a recuperação de informações e documentos. As conclusões e análises que ela faz se baseiam neles. Quando surgem novos documentos, há que se rever as análises. Não há nada de errado nisso, e nenhum demérito para ela.)  Apenas se acrescenta que a conspiração para adulterar a obra de Allan Kardec já se iniciou logo após a sua morte, (uma metaespeculação: especulação fundamentada em especulações)  alguns meses depois, por aqueles, como Desliens, que passariam o bastão do desvio (um ataque sem provas, que atinge a esposa de Kardec, que era membro do Conselho Supervisor, como nos mostra Privato) para Leymarie desde 1871.

Temos muitas outras informações e documentos sobre o caso. (Que não estão públicas, por isso, não se constituem como documentos a serem verificados. Nós temos que confiar que o argumentador tem acesso privilegiado e que por isso está interpretando corretamente os documentos a que teve acesso, ainda que Carlos Seth também tenha acesso aos mesmos documentos e tenha chegado a diferente conclusão) Mas uma investigação adequada deve ser divulgada publicamente somente quando todos os fatos e detalhes estão apurados e esclarecidos ao máximo. (Então poderemos rever nossas posições) Uma conclusão precipitada serve apenas para causar dúvidas, polêmica e divisão. (É o que está acontecendo, e esse seu texto se presta a isso, ao fazer acusações sem provas documentais) Nada disso interessa à divulgação do Espiritismo. (Concordamos) Portanto, vamos voltar ao assunto somente daqui a algumas semanas, quando vamos apresentar trabalho completo, como já havíamos planejado anteriormente. (Aguardamos)

Esperamos, assim, contribuir com os estudos desta Doutrina libertadora que não nos pertence, mas sim aos Espíritos Superiores que deram seus ensinamentos. Nós, espíritas, somos todos estudantes, e devemos divulgar e restabelecer a teoria original de Allan Kardec, com o objetivo de colaborar com a Regeneração da Humanidade. Os tempos estão chegados!

Paulo Henrique de Figueiredo, 2 de março de 2020.

8.3.17

UMA HISTÓRIA DE AMÉLIE GABRIELLE BOUDET




Ao contrário do livro "Em nome de Kardec", fui obrigado a ler "Madame Kardec: a história que o tempo quase apagou" em migalhas. O texto de Adriano continua leve de se ler e agradável. Ele transforma a narrativa em uma espécie de seriado de suspense, no qual cada capítulo é uma história.

Conhecemos mais de Allan Kardec que de sua esposa, em função, talvez, do livro "Obras Póstumas" e pelo acesso à Revista Espírita. Obviamente a visibilidade do escritor é muito maior que a de seu editor ou revisor, o que é uma das primeiras surpresas do livro. Amélie participou ativamente de toda a obra kardequiana, revendo e relendo para o marido.

Sua história como mulher francesa no século XIX mostra que ela foi muito além do esperado pelas convenções sociais da época. Após a desencarnação de Rivail, ela se tornou (se é que já não era) administradora dos bens do casal, que não eram desprezíveis, em função de heranças recebidas das famílias.

Seu compromisso com o trabalho do marido e seu tirocínio quanto às decisões que os homens das instituições criadas para dar continuidade ao trabalho de Kardec são pacientemente recuperados por Calsone. Uma das principais fontes usadas são os escritos de Berthe Fropo, amiga de Amélia. Ela coloca no papel sua visão sobre as decisões da Sociedade Científica de Estudos Psicológicos, que, salvo engano, foi fruto de uma transformação da Sociedade para a continuação das obras de Allan Kardec.

Do ponto de vista da história, Calsone tenta mostrar, sempre que possível, a visão dos dois lados, mas não esconde sua simpatia por Berthe e Amélie. Sei por experiência própria que quando há conflito, as posições se polarizam, e mesmo quem tem razão, costuma exorbitar em algumas situações.

Calsone faz uma releitura do episódio do Processo dos Espíritas, e atribui aos interesses comerciais de Leymarie, sua associação inadvertida com o "médium" farsante, que produzia fotografias espíritas. Na medida em que se vai lendo, vê-se que Leymarie não tinha a formação necessária para entender o alcance do trabalho de Kardec. Entendendo o espiritismo mais como movimento a ser tornado público que como doutrina filosófica, sem o mínimo conhecimento das ciências, ele vai fazendo associações com Roustainguistas (Guérin), Teosofistas (Blavastsky) e outros espiritualismos, não importa seu método de desenvolvimento da teoria, nem suas contradições com o exposto por Kardec em seu trabalho. Não sei se exagero, mas Calsone parece perceber o efeito dos títulos que vão sendo concedidos a Leymarie, e de sua indiferença ante a adoção de adornos, como bandeiras cheias de imagens com significados simbólicos de Guérin. 

Tudo isso não passou despercebido aos espíritas com melhor formação, como Delanne e Denis, que se dispuseram à criação do órgão "Le Espiritisme" e da "União Espírita Francesa". Calsone mostra com perfeição que a criação de uma nova instituição espírita não foi bem vista pelos membros da Sociedade, muito menos a comercialização de um novo órgão de divulgação, visto como concorrente à Revue.

Na leitura do livro, entendi melhor o significado do apoio que a Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, aqui do Brasil, deu à "União Espírita Universal" (elemento pré-textual de A Gênese, traduzida em 1882), bem como dos conflitos e divisões que foram descritos por Canuto Abreu no movimento espírita do Rio de Janeiro no seu livro "Bezerra de Menezes: subsídios para a história do espiritismo no Brasil até o ano de 1895". 

Não vou falar sobre os pais e a infância de Amélie, o processo de herança, sobre as acusações de destruição de documentos, nem sobre a sucessão de Leymarie e os processos judiciários que afetaram o movimento espírita profundamente. Isso fica para o leitor interessado, já que não quero ser acusado de fazer "spoiler"...

Livro: Madame Kardec: a história que o tempo quase apagou
Autor: Adriano Calsone
Editora: Vivaluz
282 páginas

23.11.11

ANIVERSÁRIO DE AMÉLIE-GABRIELLE BOUDET: VOCÊ CONHECE?




A TV Mundo Maior publicou este pequeno vídeo sobre a Sra. Rivail, que nasceu no dia 23 de novembro de 1795 (2 do Frimário do ano 4, segundo o calendário da revolução francesa, cf. Zêus Wantuil e Francisco Thiesen). 

Agradeço à Magali Bishop a dica.