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7.7.20

"MEMÓRIAS DE UM SUICIDA" E YVONNE PEREIRA


LIVRARIA YVONNE: MEMÓRIAS DE UM SUICIDA | Fraternidade Espírita ...

A TV Célia Xavier, conjuntamente com a reunião de pais das tardes de sábado produziram uma live, na qual o prof. Sandro Márcio nos entrevistou sobre a médium Yvonne Pereira e, principalmente, seu livro "Memórias de um suicida". Depois veio a conversa com o público. Confiram! Se gostarem, não se esqueçam de avaliar.


Um errinho: o escritor português para quem Camilo Castelo Branco escreveu após sua desencarnação chama-se Silva Pinto, e não, Souza Pinto. É a idade...


6.7.20

LIVROS: YVONNE A. PEREIRA




 Cronologia dos livros de Yvonne Pereira



Livros de Yvonne A. Pereira

Literários

Memórias de um Suicida (Rio de Janeiro: FEB, 1956. 568p.) – atribuída aos espíritos Camilo Castelo Branco (com o pseudônimo de Camilo Cândido Botelho), que escreveu a parte narrativa e literária e Léon Denis, que redigiu as explicações doutrinárias dos eventos narrados. É a materialização do projeto do escritor português, que decidiu, durante seu atendimento, buscar médiuns para descrever como é a vida no mundo espiritual dos que voluntariamente se matam. Na primeira parte estão as descrições do sofrimento e confusão imediatamente após a morte. Nas partes seguintes o espírito descreve o Instituto Maria de Nazaré, as diferentes trajetórias e histórias de suicidas portugueses e brasileiros, sua assistência, recuperação, desenvolvimento e preparação para a reencarnação. 

Nas Telas do Infinito – apresenta duas narrativas curtas. A primeira, de Adolfo Bezerra de Menezes, que mostra a reencarnação da cortesã Palmira, do final do século 19, no Morro do Querosene, cidade do Rio de Janeiro, ao qual a médium é levada em estado sonambúlico. O segundo, de Camilo Castelo Branco, é uma narrativa na qual Yvonne, igualmente em estado sonambúlico (vale a pena a descrição de como ela sentia o corpo ao “se afastar” dele), em 1930, período em que está em Barra do Piraí, conta uma história ambientada em Portugal de 1640, na qual um nobre lega um Castelo e tudo o que se encontra dentro dele a uma prima que lhe fora afeto na juventude. 

Amor e Ódio (Rio de Janeiro: FEB, 1956. 553p.) – atribuída ao espírito Charles, enfoca o drama de um ex-aluno francês do Prof. Rivail (Allan Kardec), o artista Gaston de Saint-Pierre, acusado de um crime que não cometera. Após grandes padecimentos, recebe os esclarecimentos elucidativos por meio de um exemplar de O Livro dos Espíritos, à época em que este foi lançado pelo codificador.

A Tragédia de Santa Maria (Rio de Janeiro: FEB, 1957. 267p.) – atribuído ao espírito Bezerra de Menezes, ambientado em uma fazenda de café no Rio de Janeiro, trata da história de uma rica família escravocrata, na qual acontecerão eventos trágicos. O romance trata da reencarnação dos membros da família e analisa as conexões entre a nova vida e a anterior.

Ressurreição e Vida (Rio de Janeiro: FEB, 1963. 314p.) – um belo livro elaborado pelo espírito Tolstoi, com uma novela curta e cinco contos, apresenta diversos personagens que viveram na mãe Rússia, com descrições detalhadas e sempre um tema que lança luz em uma ou mais questões doutrinárias.

Nas Voragens do Pecado (Rio de Janeiro: FEB, 1960. 317p.) – “primeiro volume de uma trilogia atribuído ao espírito Charles, relata a trágica história do massacre dos huguenotes na Noite de São Bartolomeu (23 de Agosto de 1572), durante o que seria uma encarnação anterior da médium, na personalidade de Ruth-Carolina de la Chapelle.”

O Cavaleiro de Numiers (Rio de Janeiro: FEB, 1976. 216p.) – “segundo volume da trilogia, mostra outra suposta encarnação da médium, ainda na França, na personalidade de Berth de Sourmeville.”

O Drama da Bretanha (Rio de Janeiro: FEB, 1974. 206p.) – “terceiro e último volume da trilogia, ilustra como a médium, agora na personalidade Andrea de Guzman, não consegue suportar os embates de sua expiação e se suicida por afogamento.”

Dramas da Obsessão (Rio de Janeiro: FEB, 1964. 209p.) – atribuído ao espírito Bezerra de Menezes, compreende duas novelas abordando o tema obsessão. A primeira retrata os tempos da inquisição portuguesa e da perseguição aos judeus. A segunda mostra duas encarnações de um grupo de espíritos ligado ao período do Brasil-colônia.

Sublimação (Rio de Janeiro: FEB, 1974. 221p.) – “apresenta dois contos atribuídos ao espírito Charles (um ambientado na Pérsia e outro na Espanha) e três contos atribuídos ao espírito Leon Tolstoi (ambientados na Rússia).”

Memórias e Experiências

Devassando o Invisível (Rio de Janeiro: FEB, 1963. 232p.) – um livro autobiográfico, focalizando as diversas experiências com a mediunidade que a autora viveu.

Recordações da Mediunidade (Rio de Janeiro: FEB, 1966.) – a autora discorre sobre reminiscências de vidas passadas, arquivos da alma, materializações, premonição e obsessão.

Artigos e outros

À Luz do Consolador (Rio de Janeiro: FEB, 1997) – “coletânea de artigos da médium na revista Reformador, originalmente entre a década de 1960 e a de 1980.”

A Família Espírita (Rio de Janeiro, FEB, 1973) - o leitor será apresentado à família Vasconcelos, que vive em harmonia de acordo com os preceitos da Doutrina Espírita. Um livro de histórias muito simples voltadas a princípios e valores fundamentais espíritas, possivelmente pensada para o emprego em “Evangelho no Lar” ou no ensino do espiritismo para a infância.

Evangelho aos Simples (Rio de Janeiro, FEB) - o leitor será apresentado à família Vasconcelos, que vive em harmonia de acordo com os preceitos da Doutrina Espírita. Um livro de histórias muito simples voltadas a princípios e valores fundamentais espíritas, possivelmente pensada para o emprego em “Evangelho no Lar” ou no ensino do espiritismo para a infância.

As Três Revelações da Lei de Deus (Rio de Janeiro, FEB) - o leitor será apresentado à família Vasconcelos, que vive em harmonia de acordo com os preceitos da Doutrina Espírita. Um livro de histórias muito simples voltadas a princípios e valores fundamentais espíritas, possivelmente pensada para o emprego em “Evangelho no Lar” ou no ensino do espiritismo para a infância.

Contos amigos (Rio de Janeiro, FEB) - "com quatro histórias fundamentadas nos ensinos e exemplos de Jesus e explicadas, em espírito e verdade, pela revelação dos Espíritos"

Cânticos do Coração (Rio de Janeiro: Ed. CELD. 1994. 2 v. 246 p.) – “coletânea de artigos publicados no jornal Obreiros do Bem.”


Pelos caminhos da mediunidade serena – Pedro Camilo (organizador) (São Paulo-SP. Lachâtre, 2006) – Nesse livro Pedro Camilo apresenta sete entrevistas radiofônicas de Yvonne Pereira, transcritas e repletas de notas de rodapé. Além delas, algumas publicações em periódicos locais, menos conhecidas. Um aprofundamento sobre a teoria e prática da mediunidade segundo a médium fluminense de nascimento e mineira de criação.

Livros sobre Yvonne

Leila, A Filha de Charles: a obra não é de autoria de Yvonne, e sim de Denise Corrêa de Macedo pelo espírito Arnold de Numiers. Porém o romance retrata a penúltima reencarnação de Yvonne como Leila de Vilares Montalban Guzman, uma jovem espanhola que acabou por suicidar-se no rio Tejo. O Espírito Charles que acompanhou Yvonne seria seu pai quando a mesma era Leila e o espírito Roberto de Canallejas seria seu marido.

Yvonne Pereira: entre cartas e recordações – Pedro Camilo (Salvador-BA, Mente Aberta, 2016) – 38 cartas de Yvonne escritas para Domério de Oliveira, Dora Incontri e outros.

Yvonne Pereira: uma heroína silenciosa – Pedro Camilo (Bragança Paulista-SP, Lachâtre, 2004) – uma biografia incomum, que focaliza temas da vida de Yvonne, como suas faculdades mediúnicas, produções literárias, suicídio, obsessão, entre outros assuntos

Devassando a mediunidade: estudo da obra de Yvonne Pereira – Pedro Camilo (São Paulo-SP, Lachâtre, 2009) Este livro se constitui de diversas questões sobre a mediunidade respondidas a partir do “verbo” de Yvonne Pereira, muito pesquisado pelo autor. Destina-se aos que praticam a mediunidade e são atropelados pelas questões do nosso tempo.

Yvonne: a médium iluminada – Gérson Sestini (Rio de Janeiro – CELD, 2012) Um livro de crônicas escritas a partir do conhecimento e do convívio do autor com a médium, principalmente visitas na casa de sua irmã, Amália.

Tuti, a menina médium - Pedro Camilo (Salvador-BA, Mente Aberta, 2015) Escrito em versos para o público infantil, o livro conta a história de Tuti, apelido afetivo com que era tratada a médium Yvonne do Amaral Pereira na intimidade familiar. O livro nos fala de sua mediunidade, da presença de espíritos com Charles, Bezerra de Menezes e León Tolstói, do livro Memórias de um suicida e muito mais.

Vidas de Yvonne do Amaral Pereira - Denise Corrêa de Macedo (Capivari-SP,  EME) Denise fez uma pesquisa nos diversos livros e documentos disponíveis sobre as diversas encarnações de Yvonne Pereira. O leitor consegue acompanhar a sequência das encarnações de Yvonne com os recortes dos textos informativos. É uma espécie de scrapbook cuja leitura nos dá a visão de todo das encarnações da médium de alma mineira.

Yvonne do Amaral Pereira: o voo de uma alma - Augusto Marques Freitas (Rio de Janeiro, CELD) "Retrata a vida de Yvonne Pereira, dedicada ao bem e à doutrina espírita, mostrando o aspecto humano que mais caracterizou a grande trabalhadora."  

Triunfo de uma alma: recordações das existências de Yvonne do Amaral Pereira - Ricardo Orestes Forni (Capivari-SP, EME)

Livros atribuídos a Yvonne Pereira (espírito)

Encontros com Jesus – Wallace Neves (médium), (Bragança Paulista – SP, Lachâtre, 2018) – Narrativas de histórias evangélicas, aos moldes das que devem ter sido contadas por Aníbal de Silas a Camilo Castelo Branco no Memórias de um Suicida. 

(Observação - Os textos entre aspas foram transcritos da Wikipédia e dos sites das editoras. A lista não é exaustiva.)

24.2.20

PRIMEIRO CONTATO DE CHICO XAVIER COM O LIVRO MEMÓRIAS DE UM SUICIDA





Ontem estivemos conversando sobre a trajetória de Camilo Castelo Branco, desde sua vida em Portugal até sua notícia de reencarnação em um centro espírita da capital mineira. Entre outras coisas, apresentamos a comparação entre as descrições dadas por ele de sua desencarnação a Yvonne Pereira, a partir de 1926 e a Chico Xavier em 1936, que foi publicada no livro O Martírio dos Suicidas, da editora da Federação Espírita Brasileira - FEB, compilado por Almerindo Martins de Castro.

Na saída, Danilo chamou minha atenção para o livro Testemunho de Chico Xavier, escrito pela Suely C. Schubert, que analisa a correspondência entre o Chico e os dirigentes da Federação Espírita Brasileira. Foi muito boa a referência.

Encontramos duas cartas escritas pelo médium mineiro, que tratam da médium fluminense. As duas referem-se aos dois primeiros livros publicados pela FEB. 

A primeira carta escrita pelo Chico data de 28/11/1955. Ele recebeu um exemplar do livro Nas telas do infinitoassinado pela Yvonne, e ficou curioso quanto ao contato da médium com o espírito Léon Denis. O Chico confessa que não conhece o “estilo camiliano”, não se colocando em condições de analisar a pequena novela O tesouro do castelo, que é uma das duas narrativas que compõem o livro, mas gosta muito do conteúdo doutrinário do texto. Esta carta nos permite supor que ele não conhecia pessoalmente a médium, já que pedia notícias que poderiam ter sido dadas por ela, pessoalmente.

A segunda foi escrita em 12 de dezembro do mesmo ano e trata do livro Memórias de um suicida. Faz sugestões muito pontuais para o texto do livro, o que dá a entender que a FEB teria enviado uma prova do livro ou cópia do texto datilografado para obter as impressões do médium mineiro. Ele antevia o sucesso do livro, que realmente aconteceu.

Agradeço ao Danilo a lembrança que contribui com o trabalho que publicamos no livro O espiritismo, da França ao Brasil, ano passado. Mais uma evidência de que o Chico não conhecia pessoalmente Yvonne, nem teve acesso ao texto do Memórias quando psicografou Camilo Castelo Branco em 1936.

24.11.19

SINAIS DE NASCENÇA EM "A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA"



Esmeralda fala a Barbedo que reencarnaria com uma mesma mancha de pele que tinha na vida passada.



Continuamos escrevendo sobre detalhes do livro “A Tragédia de Santa Maria”, ditado por Bezerra de Menezes e psicografado por Yvonne Pereira.

Na página 262 da terceira edição (capítulo quarto da quarta parte, com o título “E quando Deus permite!"), na trama da narrativa, o espírito Esmeralda comunica a seu pai, Barbedo, que vai reencarnar. Ela pede que ele examine o corpo físico da filha do casal de parentes em busca de um sinal de nascença que ela apresentava em sua encarnação passada, para certificar-se de que se tratava dela própria, reencarnada.

Os estudos sobre reencarnação são antigos, datam do início do século 20, mas o pesquisador que conheço ter tratado de marcas de nascença foi Ian Stevenson. Ele se popularizou no meio espírita brasileiro no final dos anos 60 com a tradução do livro "20 casos sugestivos de reencarnação" para o português. Ele publicou posteriormente um livro sobre reencarnação e biologia, no qual trata de forma cuidadosa da questão das marcas de nascença (birthmarks).

A pesquisa de Stevenson sobre memórias de vidas passadas em crianças, geralmente iniciadas entre dois e quatro anos, era muito dependente dos relatos feitos pelas famílias, às vezes muitos anos depois das primeiras lembranças. As memórias não são uma fonte muito segura, por que é sabido que esquecemos e nos enganamos sobre eventos acontecidos no passado, quanto mais distantes estamos do ocorrido. Stevenson desejava outras evidências de vidas passadas que pudessem ter sido registradas e verificadas de forma mais confiável.

Em 1961, em sua primeira visita ao Sri Lanka, ele estudou o caso de Wijeratne, que tinha um defeito de nascença severo associado a eventos de vida passada. Depois ele encontrou, no Alasca, os casos de Charles Porter e de Henry Elkin, que tinham marcas relacionadas a uma facada e um tiro ocorridos em suas vidas passadas. Apesar dos relatos, Stevenson diz que levou vários anos para perceber a importância dos registros, cujo insight o levou a colher muitos relatos como esses em um único trabalho, com mais fôlego[1].

Nesse trabalho, Stevenson disserta sobre os casos estudados, e fala dos diversos tipos de marcas, sinais ou defeitos de nascença. Embora sejam muito divulgadas as marcas de nascença correspondentes a feridas e lesões cirúrgicas em vidas passadas, no capítulo 8, Stevenson disserta sobre marcas de nascença correspondentes a outros tipos de feridas ou marcas de pessoas mortas.

Ele conta o caso de Santosh Sukla, que se recordava de ter sido Maya, na Índia. Os dois tinham listras vermelhas nos olhos, causados por arteríolas muito dilatadas na esclera, e não eram parentes, além de serem os únicos membros das respectivas famílias com essa característica física[2]. Stevenson fotografou Santosh aos 25 anos, ainda apresentando essa anormalidade.

Ele relata também o caso de John Rose, do Alasca, que nasceu com uma mancha branca no dorso da mão esquerda, lugar onde, na vida passada ele havia tatuado um lobo.

Stevenson relata casos de “fendas” de nascença onde havia piercings, que depois cicatrizaram, e locais de aumento de pigmentação, onde anteriormente havia pigmentação maior (pintas, onde haviam manchas, pelo que entendi). (p. 66)

Como se vê, o relato de Bezerra de Menezes parece antecipar a descoberta de Stevenson. Não tenho conhecimento da literatura de sinais de nascença associados à reencarnação, anteriores a esse pesquisador, o que daria uma bela pesquisa.

Mais uma vez encontramos uma contribuição interessante na psicografia de Yvonne Pereira, que normalmente passa despercebida  ao leitor da nossa época.




[1] STEVENSON, Ian. Where reincarnation and biology intersect. USA, Praeger Publishers, 1997. p. 2.
[2] STEVENSON, Ian. Where reincarnation and biology intersect. USA, Praeger Publishers, 1997. p. 63-64..


31.10.19

A TORTURA DE BENTINHO NA PRISÃO


Aquedutos do Rio de Janeiro


Raquel F. Lima

Estamos estudando em nossa reunião a obra mediúnica Tragédia de Santa Maria, psicografada por Yvonne A. Pereira, autor espiritual Bezerra de Menezes, e em certo momento da história, ocorreu o assassinato da doce Esmeralda, filha do pomposo Comendador Barbedo. Este, por sua vez, enceguecido pela dor lancinante que dilacerava seu coração de pai, afirmou às autoridades policiais que os responsáveis por tal atrocidade seriam o escravo liberto Cassiano e seu genro e advogado, Bentinho.

Ambos foram imediatamente recolhidos à prisão, lá, foram submetidos aos castigos dos açoites, e estes fatos despertaram nossa curiosidade, enquanto operadores do Direito. Seria permitido pela legislação da época este tipo de tratamento a um advogado? O autor espiritual narra que Bentinho fora castigado, mantido isolado, segregado e incomunicável, e que ele por vezes intercedeu em favor do advogado, solicitando entrevistas com o preso, porém, não fora atendido. Como isso foi possível, sendo Bentinho advogado e branco?

De acordo com o Estatuto da Advocacia da OAB, vigente desde 1994, é prerrogativa do advogado ”não ser recolhido preso, antes da sentença transitado em julgado, senão em Sala de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar” (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm). O advogado é considerado pelo Estado Brasileiro como indispensável à administração da justiça, conforme art. 133 da Constituição Federal de 1988 (https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_12.07.2016/art_133_.asp), e o referido Estatuto da OAB, no parágrafo primeiro do artigo 2º  considera que o serviço prestado pelos advogados tem função social, devido à sua relevância (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm). Diante de tantas prerrogativas, é natural à todo advogado questionar e analisar o tratamento deferido a um colega de profissão, mesmo que os fatos tenham ocorrido nos anos de 1880.

Analisando a legislação da época, estava vigente o Código Criminal de 1830, de influência portuguesa, sancionado quando D. Pedro II era o Imperador do Brasil, sendo revogado pelo Código Penal dos Estados Unidos do Brasil, em 1891, (Decreto nº 847/1890 e 1.127/1890), este de cunho republicano, porém não menos violento que o primeiro. Quando comparado à legislação portuguesa que o inspirou, o Código de 1830 avançou em questões quanto à preservação da integridade física para os homens livres, quanto à inviolabilidade dos direitos civis garantidos a partir da Constituição de 1824. Porém, em relação aos escravos, no artigo 60 da referida legislação penal brasileira, havia a previsão legal para os castigos corporais, como por exemplo, os açoites.

Fato é que as autoridades responsáveis pelo esclarecimento do crime descumpriram os preceitos legais aplicáveis ao caso em tela, relegados sob a influência política do orgulhoso Comendador Barbedo, aplicando a Bentinho tratamento que não estava previsto na legislação, o que levou Bentinho à loucura e à morte.

São tantos os detalhes e tão peculiares as circunstâncias que só mesmo estando lá, no calor dos acontecimentos, para descrevê-los com tantas minudências inclusive quanto ao contexto histórico, e é neste ponto que rendemos homenagens à excelência da mediunidade de Yvonne A. Pereira, que fielmente relatou a história contada pelo autor espiritual, Bezerra de Menezes. A médium descreveu acontecimentos desconhecidos de per si, fatos que não presenciou e que pelo estudo da legislação penal da época, verificou-se que estavam presentes no cotidiano dos viventes, que até os consideravam normais e necessários à repressão de crimes e à manutenção da ordem. Constata-se quão fidedigna é a sua descrição de detalhes tão peculiares ao cotidiano do século XIX.
Assim sendo, fica aqui nossa singela homenagem e a nossa gratidão à esta notável trabalhadora espírita, Yvonne A. Pereira.



A Tragédia de Santa Maria - página 207 (3a. edição)

"Todas as provas recaíam sobre o desgraçado esposo da vítima, o advogado Bento José de Souza Gonçalves. Detido para averiguações no próprio dia do crime, sem haver sequer iniciado a defesa a que se comprometera com o Júri, logo de início se reconheceu enleado por uma série esmagadora de circunstâncias que, efetivamente, apontavam a possibilidade de ser ele próprio o estrangulador da esposa. Em vão o infeliz moço debatia-se, apelando para os recursos de que, como intérprete das leis vigentes no País, poderia dispor, exigindo, no dia fatal, por entre lágrimas de rescaldantes revoltas, lhe concedessem o direito sagrado de visitar o cadáver da esposa e de, como advogado, auxiliar as demarches para a descoberta do verdadeiro criminoso, pois que se proclamava acima de quaisquer suspeitas." 

27.8.19

BEZERRA E A ORQUESTRA DE ESCRAVOS


Ponte dos Jesuítas, na Fazenda Imperial Santa Cruz

Continuamos a leitura do livro A tragédia de Santa Maria em nossa reunião mediúnica, e mais uma surpresa nos aguardava. Minha esposa preparou o capítulo 5 da segunda parte, que trata da volta de Esmeralda ao Brasil, e das festividades preparadas para recebê-la. Não acontece muita coisa no enredo literário, mas, mais uma vez, Bezerra de Menezes se aproveita da narrativa para tratar de uma questão que lhe foi muito cara em vida: a abolição da escravatura.

A primeira surpresa do capítulo é a preparação de uma orquestra de escravos para receber Esmeralda. Orquestra de escravos? Nunca havia ouvido falar nisso, e parti para a internet em busca de informações. Qual não foi minha surpresa quando encontrei uma orquestra de escravos na região em que a história se passa.

O comendador Souza Breves, considerado o maior senhor de escravos do Brasil Imperial, mantinha uma orquestra de escravos em suas propriedades para tocar em suas festas. Souza Breves era dono de fazendas na região de Piraí - RJ, situada no Vale do Paraíba a uma altitude de 387 metros do nível do mar.


Comendador Souza Breves

Os dados biográficos do Comendador Souza Breves não o tornam candidato a ser o personagem do livro, mas a localização e a altitude de tornam a região bem passível de ser próxima da Fazenda Santa Maria, quem sabe vizinha das fazendas de Souza Breves.

Ribeiro e Nogueira (2016) escreveram um artigo para a revista "Anais do museu paulista: história e cultura material" (1) , na qual, coincidentemente, explicam que em uma fazenda chamada Santa Maria, da região de Campinas-SP, havia uma orquestra de escravos (p. 64),  dirigida pelo maestro, compositor e professor Sabino Antônio da Silva, que morou por cerca de três anos na referida fazenda.



Fazenda Imperial Santa Cruz

Outro exemplo da existência de orquestras de escravos no Brasil Colônia e no Brasil Império é a Fazenda Imperial de Santa Cruz, fundada em 1556, no Rio de Janeiro. Na Wikipédia se aponta o funcionamento de "uma Escola de Música, de uma Orquestra e de um Coral, integrados por escravos, que tocavam e cantavam nas missas e nas festividades quer na Fazenda, quer na Capital da Capitania"

Dá para ver que a novela de Bezerra de Menezes apresenta alguns detalhes pouco conhecidos de quando viveu, especialmente com relação à escravidão. Ela também retrata uma época e os costumes da sociedade fluminense em que viveu. Embora não se possa falar em prova, é uma boa pista que o autor espiritual deixa no texto indicando sua autoria.


(1) http://dx.doi.org/10.1590/1982-02672016v24n0202


10.8.19

YVONNE PEREIRA, AS IRMÃS DE SION E OS DETALHES DE SUAS NARRATIVAS



Estamos estudando o livro “A Tragédia de Santa Maria”, ditado por Bezerra de Menezes a Yvonne Pereira e publicado pela Federação Espírita Brasileira, em nossa reunião de sábado.

Fiquei encarregado do capítulo 4 da segunda parte, que, a princípio, seria apenas uma mera narrativa do encontro dos personagens Esmeralda e Bentinho, via correspondência em Portugal e pessoalmente na Suíça.

Inicialmente é a descrição de um piano Pleyel para concertos, que é o tipo tocado por Chopin, por exemplo. Segundo o site do fabricante, ele começa a ser fabricado em 1807 (pleyel.com), ou seja, é provável que fosse comercializado e disponível em Portugal nos anos 1880.



Ao ler com cuidado, observam-se alguns detalhes muito curiosos. Primeiro é a descrição de flores e árvores da Quinta Feliz, em Coimbra-Portugal. Tive a curiosidade de procurar uma por uma na internet, e todas elas são encontradas no país lusitano. Algumas são trazidas de outros lugares, e são encontradas lá na época dos eventos da novela.

Depois, quando os personagens vão à Suíça, passar férias, a vegetação descrita é diferente e muito coerente com altitudes maiores e clima mais frio. Não há nenhuma flor igual à da primeira descrição. Algo muito difícil de ser feito apenas com imaginação, especialmente por uma pessoa que nunca saiu do Brasil.

O mais curioso, no entanto, é uma pequena frase escrita por Bentinho. Ele havia sido informado que Esmeralda iria estudar no “Educandário das Freiras de Sion em Paris”. À primeira vista, pareceu-me muito estranho. Freiras de Sion? Lembrei-me inicialmente do Sionismo, que era um movimento para a formação do estado de Israel. Olhando no dicionário, vi que Sion é uma palavra que originalmente designava uma fortaleza próxima a Jerusalém e que passou a ser usada para significar “a terra prometida dos Judeus”.

O que algo Judeu teria a ver com a igreja? Freiras de Sion? Saí à procura da expressão “Nossa Senhora de Sion”, em busca de alguma ordem religiosa católica, e da explicação do nome. Deu para descobrir muita coisa.

Théodore Ratisbonne era um descendente de judeus da cidade de Estrasburgo que se converteu ao cristianismo em 1827, ano em que batizou-se. Os textos consultados apontam para uma conversão pessoal, simultânea à conversão de outros amigos. Posteriormente ele converteu também seu irmão Alphonse, estudou e foi ordenado padre em 1830.



Alphonse o convenceu a fundar um espaço para a educação (catecumenato, segundo alguns autores) de filhas de judeus convertidos, em 1842, ano em que se encontrava em Paris. Eles fundaram, então a ordem de Nossa Senhora de Sion, com o objetivo de converter judeus à fé cristã. A ordem foi reconhecida por Roma em 1842. 

Nesse ponto da história, estava achando que havia algum erro na narrativa do médico dos pobres-espírito. Esmeralda não era descendente de judeus, mas uma filha de latifundiário brasileiro em estudo na Europa. Por que ela estudaria em uma instituição dessa ordem?

Entre 1843 e 1884, a ordem foi crescendo e criou uma espécie de segundo objetivo. Criou 13 internatos de elite, em decorrência da reputação de Madre Rose Valentin. Os internatos lhe davam recursos para que ela pudesse dar consecução ao seu objetivo maior que era a conversão de judeus. (E assim o foi até o Concílio Vaticano Segundo, no século 20).

Bezerra de Menezes estava certo. Havia em Paris uma ordem das freiras de Sion e um internato para moças da elite!

Passados alguns anos, o governo francês promoveu reformas de laicização do ensino, especialmente o fundamental, que envolveu gratuidade e a obrigatoriedade do primário. Algumas das irmãs foram, então, convidadas a fundar uma instituição de ensino aos moldes franceses no Rio de Janeiro, pela nobreza brasileira com o apoio da princesa Isabel. Elas vieram em 1888.

Encontrei uma escola das Irmãs de Sion em Paris, mas parece ter sido fundada no século 20, em parceria com outra ordem religiosa. 

A questão dos detalhes da literatura produzida por Yvonne Pereira, em contato com os autores espirituais é impressionante. Autores contemporâneos que fazem literatura com temas históricos, como Ken Follet, têm um número enorme de consultores, que são especialistas em aspectos pontuais da história e que o permitem escrever sem cometer equívocos. Yvonne tinha apenas lápis, papel e a assistência dos espíritos que lhe contavam as histórias.

21.12.18

DOIS INDÍCIOS DA IDENTIDADE DE BEZERRA DE MENEZES NO LIVRO "DRAMAS DA OBSESSÃO"





A expulsão dos judeus em 1497



Estamos estudando o livro “Dramas da Obsessão”, ditado pelo Espírito Bezerra de Menezes a Yvonne Pereira. Como a leitura é feita aos poucos em nosso grupo de estudos (um pequeno capítulo por sessão), conseguimos observar alguns detalhes que geralmente escapam a uma leitura do livro como romance apenas.

A trama do romance, desde o início, remete o leitor ao livro “A Loucura sob Novo Prisma”, publicado postumamente. Nesse livro, o médico cearense defende a tese da existência de pessoas avaliadas como loucas por médicos da época, que na verdade sofreriam apenas a obsessão espiritual (provocada por espíritos inferiores). A história, que parece ter origem em fatos reais, trata de suicidas que foram levados ao ato por obsessão espiritual.

Durante a narrativa se descobre que os obsessores do livro haviam sido convertidos compulsoriamente ao cristianismo no século XVI, e depois torturados e mortos apenas por terem fortuna, sob o pretexto de cultuarem sua religião em segredo.

Na narrativa, Bezerra mostra como eles foram obrigados a adotar nomes cristãos após a conversão. O rabino Timóteo Aboab passou a ser chamado de Silvério Fontes Oliveira, seus filhos Joel, Saulo e Rubem, tiveram que adotar os nomes de Henrique, José e Joaquim, respectivamente.

Nas páginas 66 e 67 da minha edição, Bezerra traça uma explicação sobre o significado hebraico dos nomes da família, voltando até mesmo à descendência de Israel (ou Jacó). A mudança obrigatória de nomes é, portanto, uma violência simbólica e uma tentativa de apagar as origens judaicas da família.

Curiosamente, Bezerra faz um comentário muito relevante, relacionado a este fato:

“Nestas páginas, não obstante, continuaremos a tratar nossas personagens pelos seus nomes de origem, uma vez que, liberais que deveremos ser, respeitaremos o direito que eles têm, ou quem quer que seja, de se nomearem conforme lhes aprouver.”

Por isso, ele continua chamando os autores com seus nomes hebraicos durante a narrativa.

Vemos, portanto, que o autor espiritual admite a influência das ideias liberais, que ele defendeu pela política quando estava encarnado. Bezerra era político do partido liberal, na segunda metade do século XIX. Embora pontual, não deixa de ser uma marca de identidade do autor.

O tema do livro, como uma ilustração de uma tese que ele quase defendeu quando encarnado[1] e sua identificação com as ideias liberais, são dois pontos que trazem a marca de Adolfo Bezerra de Menezes no livro ditado a Yvonne Pereira.

Bezerra de Menezes (espírito). Dramas da Obsessão. 4 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1981. [psicografado por Yvonne A. Pereira]




[1] Segundo Luciano Klein Filho, Bezerra escreveu “A loucura sob novo prisma” para apresentar como tese no Congresso Espírita e Espiritualista Internacional em Paris-França, em 1900, mas desencarnou antes do evento.

16.4.16

ARNALDO ROCHA APRESENTA SUAS MEMÓRIAS DA VIVÊNCIA COM CHICO XAVIER




Encontrei este vídeo que apresenta uma entrevista feita por Wagner Paixão e Haroldo Dutra com o conhecido espírita da capital mineira, Arnaldo Rocha. O entrevistado conversa de forma franca e pessoal, fala de suas impressões e baixa os olhos como quem recupera histórias do fundo da mente. Arnaldo às vezes ri, às vezes se emociona. Ele, em sua franqueza, é imensamente humano, não ocultando suas vergonhas, seus atos impulsivos, seus pequenos arrependimentos.

Além de Chico Xavier, que foi muito presente em sua vida, ele apresenta memórias das sessões com Yvonne Pereira,  as sessões de materialização que ele presenciou, Rubens Romanelli, Clóvis Tavares, Peixotinho, entre outros.

A simplicidade de Arnaldo não consegue ocultar seu conhecimento do espiritismo e da obra psicografada de Chico, que aparece nos comentários e nas explicações. Esta entrevista pública nos mostra a relevância da história oral, capaz de perceber dimensões que não se encontram nos documentos, ainda que evidencie a forma peculiar das pessoas recordarem e narrarem o que vivenciaram.

18.3.16

ESPIRITISMO DE OITIVA?




Estamos estudando ainda o livro “À luz do consolador”, de Yvonne Pereira, que é constituído de artigos que ela publicou na revista Reformador, entre as décadas de 1960 e 1980, a maioria sob o pseudônimo de Frederico Francisco.
Ela escreveu o seguinte:

“Está-nos a parecer, pois, que determinados leitores desprezam o verdadeiro estudo doutrinário, preferindo aceitar o espiritismo por ouvirem dele falar.” (PEREIRA, 2014, p. 145)

Lembrei-me  de um expositor que trabalhava em nome de uma federativa. Fiquei muito amigo dele e o estimava muito, mas ele só falava de oitiva. Quando alguém perguntava ou questionava algo, ele dizia: fulano disse assim, ou é a opinião de beltrano.

Uma vez alguém tomou a liberdade de falar com ele que ele deveria ler, para conhecer a origem e o sentido claro daquilo que ele falava. Ele redarguiu:

- Tenho um filho pequeno que exige minha atenção, por isso não posso ler.

Fiquei pensando como alguém pode expor sem estudar, com todo o respeito à dedicação do companheiro.

Uma das primeiras críticas que recebi na vida acadêmica veio de uma professora muito experiente, que analisou meu texto e questionou se algumas coisas que eu houvera escrito não eram “de oitiva”. Tive que rever e citar corretamente as fontes das partes do texto analisado.

O espiritismo não pode ser conhecido apenas por “ouvir falar”. No Brasil o movimento espírita sempre promoveu a divulgação do livro impresso, montou livrarias, criou bibliotecas, inventou “feiras do livro espírita”, fez edições populares para dar acesso aos que tinham poucos recursos financeiros. Nosso grupo de mocidade tinha um “mimeógrafo” à tinta, onde se imprimiram muitos textos de apoio aos estudos, apostilas, jornaizinhos entre outros.

Yvonne tem razão. É preciso que os centros espíritas prezem o incentivo à leitura, principalmente dos clássicos, cujo tempo tornou a linguagem mais distante da empregada hoje, para que o movimento não fique à mercê de opiniões.


29.2.16

LER OU NÃO LER OS EVANGELHOS?





A médium Yvonne A. Pereira escrevia na Revista Reformador com o pseudônimo de Frederico Francisco, nome que emprestou do grande compositor Chopin. Estamos lendo o livro À luz do consolador, publicado pela FEB, em nossa reunião mediúnica, que é uma coletânea desses artigos.

Fiquei encarregado de ler e comentar o texto intitulado “Panorama”, que originalmente foi publicado pelo Reformador em 1970. Para minha surpresa, é um dos “textos indignados” da médium.

Yvonne recebeu carta de um jovem que se mostrava confuso em função de uma palestra que assistira na sua casa espírita. Ele diz que o expositor defendia que não era necessário “o estudo completo dos Evangelhos, bastando que apenas conheçamos os pontos esclarecidos por Allan Kardec em “O evangelho segundo o espiritismo”. “ Disse ainda que o estudo dos evangelhos é perigoso e que o estudo das parábolas é inútil porque cada um as interpreta a seu bel-prazer. Concluindo, o jovem comunicou ter ouvido que o estudo das epístolas é inútil porque “nem mesmo se sabe se Pedro e Paulo existiram”.

Yvonne vai à carga, alegando que o projeto do expositor é destrutivo e que ele nada repõe no lugar dos Evangelhos que ataca. Questiona se poder-se-ia interpretar “A parábola do filho pródigo”, do “Bom samaritano” e da “casa sobre a rocha” sob diversas óticas, focalizando, assim, a mensagem central das mesmas.

Não vou me estender, deixando aos interessados o link para que ele possa ler o artigo completo:



Yvonne fecha o texto focalizando a importância dos evangelhos para os que sofrem, e recomenda a estes que busquem a companhia de Pedro e Paulo “a fim de se consolarem meditando no heroísmo deles a frente das penúrias suportadas, ao mesmo tempo que aproveitando dos ensinamentos por eles deixados há dois mil anos aos corações humildes e de boa-vontade.”

Quanto à existência ou não de Paulo e Pedro, a leitura que venho fazendo das cartas dos cristãos dos primeiros séculos é repleta de citações dos textos evangélicos. Vez por outra tenho comparado o texto dos documentos que leio com os da tradução da vulgata ou dos textos gregos contemporâneos, e são em sua grande maioria, iguais. Ou estaríamos diante de uma conspiração de ampla monta, na qual foram forjados os textos evangélicos em diferentes pontos do mundo, depois modificados em todos eles e apagados da história todos os documentos contrários, ou eles são o registro possível da experiência dos primeiros cristãos com Jesus.

8.2.15

YVONNE E O AMBIENTE METAETÉRICO



Yvonne é uma das raras médiuns que estudou seus próprios fenômenos, sempre empregando os clássicos do espiritismo e da pesquisa psíquica. No livro Devassando o Invisível encontramos a médium em uma residência do Rio de Janeiro, da época do segundo império, passando alguns dias com amigos.

Ao deitar, Yvonne não conseguia dormir e tinha seu campo de percepção alterado. A casa onde estava desaparecia e em seu lugar se encontrava uma fazenda com senzala, milharais e canaviais. As ruas desapareciam e ela via a paisagem rural, com escravos cantando, carregando cestas e sacos, feixes de lenha, ferramentas e enxadas.

Uma escrava de saia preta e camisa de algodão, com lenço branco e colher de pau mexia um tacho onde se fazia o antigo sabão de cinza. Outra escrava servia-se da palmatória para corrigir um moleque de oito a doze anos, em seu colo.

Um escravo idoso, no pelourinho, preso pelos pulsos, era chicoteado e repetia em voz alta:

- "Meu Deus do céu! Meu anjo da guarda! Tenham dó de mim!"

Ele via também uma dama de aspecto senhorial, esbelta, bonita, trajando um vestido de tafetá azul forte, com cabelos negros "penteados com esmero" e brincos com pingentes de ouro.

Ao levantar-se pela manhã, conversou com a dona da casa que confirmou que antigamente ali funcionava uma fazenda de escravos, levando Yvonne para conhecer as ruínas de um pelourinho que resistira ao tempo.

Yvonne parece ver as cenas como as de um filme ou porta retratos digital, distinguindo os personagens que viu dos espíritos, com quem usualmente conseguia interagir.

Então ela nos recorda da teoria do ambiente metaetérico, de Myers, que afirmava ser possível encontrar virtualmente "organismos vivos" que eram percebidos pelos sensitivos que pesquisou. São criações  mentais fluídicas, ou, como denominou André Luiz, "formas pensamento", que se mantém após terem sido criadas pelas pessoas que lá viveram e sofreram. Yvonne denomina sua faculdade com a expressão psicometria "de ambiente", ou seja, ela tem percepções psicométricas ao entrar em contato com um local e não apenas com um objeto dele. Mais informações sobre esta faculdade no capítulo VIII do livro Devassando o Invisível, publicado pela Federação Espírita Brasileira.






17.10.14

POR QUE OS ESPÍRITOS APRESENTAM-SE TRAJADOS PARA OS MÉDIUNS?





Estamos estudando o livro Devassando o Invisível, de Yvonne Pereira, em nossa reunião mediúnica e fizemos uma espécie de estudo preparatório, sobre a vida da autora-médium. Pesquisa aqui e ali,  tivemos a satisfação de encontrar uma autobiografia nas páginas do Reformador de janeiro e fevereiro de 1982.

Yvonne fez apenas o ensino primário, que era equivalente à primeira metade do ensino fundamental dos dias de hoje. Ela, contudo, nunca deixou de ler e escrever, o que fez com que muitos de seus leitores perguntassem-lhe se era professora. Sempre me surpreendi favoravelmente com os detalhes dos romances que ela psicografou, acho que já tive a oportunidade de comentar anteriormente.

O capítulo 2 do “Devassando” é sobre as roupas dos espíritos. Talvez Yvonne tenha sido questionada sobre suas descrições detalhadas da aparência dos espíritos que percebia e aproveitasse a oportunidade para discutir a questão.

A médium de Tolstoi começa argumentando em Allan Kardec, e faz uma análise detida de dois capítulos importantes das obras dele: o capítulo 14 de A Gênese (que trata dos fluidos) e “O laboratório do mundo invisível”, de O Livro dos Médiuns. Vê-se que ela se baseia na teoria espírita para discutir a questão proposta. Depois Yvonne mostra seu conhecimento dos clássicos, citando Denis e Bozzano, com a finalidade não apenas de mostrar a posição dos autores, mas de resgatar em outras fontes descrições detalhadas das roupas dos espíritos percebidas por médiuns outros, que não ela, e distantes do seu meio de relações.

Observei que Yvonne não ficou fazendo comparações de trechos isolados dos autores, mas construiu um texto argumentativo que expõe claramente a literatura que dispunha em sua época.

Ao fim da leitura do capítulo do livro, pudemos concluir que não há nada de estranho nos espíritos apresentarem-se vestidos. As roupas são elementos identitários, possibilitam que médiuns e outros espíritos sejam capazes de reconhecê-los, além de expressarem sua psique, que funciona como instrumento de ação nos fluidos espirituais e no períspirito. Como a autora tem um pé na literatura, ela ilustra sua tese com a forte frase de Joana D’Arc, respondendo ao inquisidor que lhe pergunta se São Miguel lhe aparecia desnudo: “Pensas que Deus não tenha com que vesti-lo?”



O trabalho de Yvonne merece ser lido e relido por nossa geração. Fui aos poucos identificando um capítulo que tinha revisão teórica, problema de pesquisa, relatos de percepções mediúnicas oriundas de médiuns diversos, argumentação e conclusão. Como se vê, não é a escolaridade, isoladamente, que ensina as pessoas a pensar.


Ainda em tempo, a Federação Espírita Brasileira publicou um livro com o título “À Luz do Consolador”, no qual agrupou muitas das publicações de Yvonne na revista Reformador ao longo dos anos. Ele não pode passar despercebido a quem se interessa pelo estudo do espiritismo.

18.6.14

HEROÍNA SILENCIOSA




Em viagem de lua de mel, uma amiga querida foi conhecer Dona Yvonne. Era o início dos anos 80, e a grande médium fluminense viveria apenas mais um par de anos em seu corpo físico. Ela acolheu os recém-casados com cordialidade e conversaram muito sobre as atividades nos centros espíritas. Yvonne queixava-se de uma certa transformação dos grupos em clubes recreativos.

Eu já conhecia a obra da médium. O estilo vívido de Tolstoi através das mãos de Yvonne sempre me impressionaram muito. Os detalhes da vida na Rússia dos Czares, da igreja ortodoxa, do campesinato e da nobreza, fluem com vida incomum no texto de Ressurreição e Vida ou em alguns contos de Sublimação.

Esta semana recebi o livro do amigo Pedro Camilo, já publicado desde 2004 e em sua 5ª. edição, chegando aos 11 mil exemplares. Comecei a leitura dentro do CTI, em recuperação de uma pequena cirurgia que havia feito. As palavras se transformavam em imagens muito vivas, e entrei em uma oscilação psíquica que vai da recordação à imaginação ativa. Eu já havia lido quase todos os livros citados por Pedro, alguns diversas vezes, mas o seu texto admirado fez-me recordar. As passagens da vida de Yvonne foram misturadas e reorganizadas em uma linha singular, belíssima, porque a literatura mediúnica desta médium traz uma narrativa de muitas vidas.

Charles, Roberto de Canalejas, Victor Hugo, Denis, Bezerra, e muitos outros homens e mulheres espíritos povoaram meus olhos novamente. Os suicídios e suicidas, tratados como seres humanos e parceiros na via dolorosa da recuperação da alma que atentou contra sua própria vida, vidas a fio, como Camilo Castelo Branco, invadiram a baia de tratamento intensivo, com suas memórias. Yvonne consegue traduzir não apenas a dor, mas as cores, os cheiros, as visões, como se fôssemos todos expectadores, vendo e entendendo à luz do consolador.

Um técnico puxou conversa, no plantão interminável do tratamento intensivo e confessou-me: você não imagina quantas pessoas vêm parar aqui por atentar contra a própria vida, sem sucesso. Jamais havia pensado nisso. O sofrimento dos suicidas e dos familiares dos suicidas que falharam (felizmente) está impregnado naquelas paredes muito limpas e brancas. A dor deles é compartilhada pelos encarnados que cuidam dos corpos mutilados, ainda vivos, não se sabe por quanto tempo.

Os amigos dela também são meus amigos. Eu os conheci pessoalmente ou através do rastro de luz que deixaram no movimento espírita. Chico Xavier, Divaldo Franco, Carlos Imbassahy, Hermínio Miranda, Rizzini, Affonso Soares...

Pedro conta a história de um agricultor do interior do nordeste, perdido na capital por ter dado um passo em falso e vendido todas as suas posses em busca da esperança de um emprego que desse uma existência digna aos filhos e a ele mesmo. Desiludido, abandonado nas ruas, possivelmente atordoado com a fome e o frio dos filhos, veio-lhe à mente à ideia nefasta quando uma senhora de cabelos brancos puxou conversa. Que palavras diríamos a um homem sem futuro, só sofrimento, com uma ideia fixa na mente? Ela soube exatamente o que dizer e reacendeu-lhe a esperança, mais uma vez. Coisa perigosa para quem já chegou à beira do precipício. Ele escreveu, ante sua orientação uma carta nominal a uma diretora do Centro Espírita Yvonne Pereira, em Rio das Flores – RJ, terra natal de Yvonne. Num misto de admiração e espanto, os trabalhadores daquela casa conseguiram que ele voltasse à sua terrinha, espantados que em 1989, uma pessoa morta em 1984 pudesse fazer-se vista, ouvida e identificada em lugar tão remoto, atraída pelo socorro a um candidato ao suicídio de outro plano.

Eu saí do CTI cheio de vida e de amor à vida. Eu já conhecia a história e as histórias, mas foram contadas de forma tão bela que deu vontade de compartilhar com os leitores do EC.

23.6.10

CRISTIANE BAHIA LEVANTA FUNDOS PARA FAZER CURTA METRAGEM SOBRE SUICÍDIO


Em uma sociedade cada vez mais materialista e consumista, a perda de condição econômica e status social é vista como um problema insuperável por muitas pessoas. Este assunto é o foco do curta-metragem que está sendo viabilizado por Cristiane Bahia, jovem cineasta mineira.
O suicídio tem aumentado no Brasil, afirma a cineasta, que se baseia em dados comparativos do Ministério da Saúde, que propõe que o tema seja tratado como problema de saúde pública e que se realizem ações de prevenção.
Cristiane escreveu o roteiro do filme "O Décimo Segundo", que foi aprovado pela comissão pública que avalia pedidos de apoio à cultura ligados à Lei Rouanet.
Em sintonia com a Campanha em Defesa da Vida, da Federação Espírita Brasileira, que mobiliza esforços de todo o movimento espírita brasileiro, e inspirada pela leitura de Memórias de um Suicida, obra-prima da mediunidade de Yvonne Pereira, o curta promete promover a discussão em torno do tema e dos valores que dão sentido à vida.

Uma forma de apoio é participar do Cine Música Festival, que acontece no teatro do Clube dos Oficiais, à rua Diabase 200 - Prado, e que terá o apoio do Grupo Nossa Ópera e de outros artistas. O valor do ingresso é de 10 reais. Mais informações no Eventos Espíritas (http://eventoespirita.blogspot.com).