Mostrando postagens com marcador transtornos mentais. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador transtornos mentais. Mostrar todas as postagens

8.6.21

AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICA DE DIVALDO FRANCO GERA DISCUSSÃO EM REVISTA INTERNACIONAL SOBRE PSICOSE E EXPERIÊNCIA RELIGIOSA

 

Divaldo Franco

Pesquisadores brasileiros da área de psiquiatria fizeram uma avaliação do médium Divaldo P. Franco e uma revisão de literatura  e publicaram suas conclusões na revista Journal of Nervous and Mental Disease, em junho de 2021, na coluna Brief Report.

Quem desejar ler o trabalho irá encontrar em The Journal of Nervous and Mental Disease • Volume 209, Number 6, June 2021, e o DOI: 10.1097/NMD.0000000000001290

Abaixo o Dr Alexander, um dos autores, faz uma síntese da parte de avaliação psiquiátrica para a TV Nupes:





"Este é o primeiro estudo a descrever um caso de uma pessoa com múltiplos, frequentes e persistentes experiências do tipo psicótico (alucinações auditivas, visuais, sensoriais e olfativas; inserções de pensamentos; e experiências de controle externo) e diversas experiências espirituais ou do tipo dissociativo (xenoglossia, fenômeno de transe dissociativo, memórias de vidas passadas) que continuou estável por 90 anos, nunca sendo tratado por esses sintomas, e permaneceu bem, cognitivamente e afetivamente, tendo recentemente um comprometimento cognitivo leve e um transtorno depressivo leve." (página 451)

Os autores defendem a existência de uma experiência não patológica e sugerem seis critérios (a serem mais estudados) para a distinção de casos com psicopatologia.


13.5.21

O QUE É MONOMANIA, TERMO PSIQUIÁTRICO EMPREGADO POR ALLAN KARDEC?

Esquirol (1772-1840)


Esquirol foi um médico francês nascido em Tolouse, na França, que dedicou sua vida e carreira ao estudo das doenças mentais. Possivelmente suas ideias ainda eram influentes na época em que Allan Kardec publicava suas obras, e sua classificação das doenças mentais deve lançar luz a alguns termos, hoje em desuso, usados pelo fundador do espiritismo.

Uma das classificações de Esquirol para a doença mental, usado diversas vezes por Kardec eram as monomanias. Pacheco (2003, p. 154) identificou quatro grandes categorias psicopatológicas em Esquirol:

1. Idiotia

2. Demência (aguda ou crônica)

3. Mania

4. Monomanias

A mania se distingue das monomanias por ser um delírio (falsa crença) total com exaltação. Afeta todas as funções mentais: inteligência, percepção, volição e atenção, por exemplo. A monomania afetaria apenas uma das funções mentais, mantendo as demais íntegras. Pacheco (2003) afirma que haveria um delírio parcial, que poderia ter uma forma alegre ou triste. 

Esquirol identificou monomanias que poderiam levar o sujeito a cometer atos anti-sociais, como o assassinato, sem motivo aparente.

Kardec escreveu sobre monomanias algumas vezes na Revista Espírita.

Em junho de 1858 ele relata o caso do Sr. Morrison, um milionário inglês que se acreditava pobre, a quem era permitido trabalhar nos jardins de suas propriedades, remunerando-o com seu próprio dinheiro por tal. Ele foi evocado por Kardec e possivelmente comunicou-se através da mediunidade de Ermance Dufaux. Ele se mostrava ainda perturbado mentalmente após a morte, ao que concordou o espírito São Luís. Kardec identifica ao final da comunicação traços de melancolia na fala do espírito. Trata-se de monomania devido a um delírio que não o impedia de realizar outras atividades e que preservava sua inteligência, percepção e atenção.

Em julho de 1866 ele relata um caso de uma criança, filha de operários de seda, que desde os dezoito meses acendia fósforos e sentia prazer em ver as chamas. Aos dois anos ele incendiou o sofá da sala e à época com quatro anos, respondia as reprimendas dos pais com ameaças de incêndio. Trata-se de ato anti-social que aparece na infância, por essa razão, é tratado à época como monomania. Kardec discute as possíveis explicações e indaga dois espíritos sobre a condição da criança. Eles lhe respondem que a criança traz o instinto de encarnações passadas e que ele se manifesta tão precocemente para que os pais fiquem atentos e tudo o façam para corrigi-lo.

Pesquisar o significado de termos técnicos empregados no século 19, na França, se torna muito importante para uma compreensão clara do que escreve Allan Kardec, principalmente para quem faz pesquisas no grande universo de textos que é a Revista Espírita, à época em que ele foi editor.

Fontes Bibliográficas

Pacheco, Maria Vera Pompêo de Camargo. Esquirol e o surgimento da psiquiatria contemporânea. Revista Latinoamericana de Psicopatologia  Fundamental, vol. VI, n. 2, 2003, p. 152-157.



30.11.17

RELIGIÃO PODE SER BOA PARA A SAÚDE MENTAL?



Vivemos uma época curiosa, na qual o avanço das ciências é visto como a derrocada das religiões. Nos ambientes acadêmicos, muitas pessoas creem que a religião, em função da sua fragilidade em tratar de temas próprios das ciências naturais, é algo a ser banido do mundo. O visível avanço tecnológico do mundo trouxe uma imensa credibilidade ao que se diz científico, mesmo ante os muitos problemas que trouxe ao mundo. Alguns cientistas famosos usam do prestígio que obtiveram em sua área de conhecimento para fazer uma espécie de ativismo contra as religiões, argumentando geralmente que as religiões são um mal para a humanidade e destacando alguns pontos realmente problemáticos.

As religiões e as instituições religiosas certamente têm seus problemas, mas em tempos de um “individualismo selvagem”, em que muitas pessoas não querem “abrir mão” de seus desejos pessoais, há um discurso que valoriza a espiritualidade e desvaloriza as religiões, a religiosidade e os grupos religiosos. Sempre achei que espiritualidade sem grupo religioso é como empada sem azeitona, porque a espiritualidade não é algo construído individualmente, mas aprendido ou desenvolvido coletivamente.

Estou lendo o livro “Religião, psicopatologia e saúde mental”, escrito por Dalgalarrondo, professor titular de psiquiatria da Unicamp. O livro foi publicado em 2008, mas a qualidade das revisões de literatura é muito boa, até a data.

São muitos os estudos que estudam a relação entre religião e saúde mental. Bergin (1993) não encontrou relação entre psicopatologia e religiosidade (metanálise de 24 estudos). Payne e colaboradores (1991) mostra que a religiosidade está associada a um menor uso de álcool e drogas e melhores medidas de bem estar psicológico, auto-estima, ajustamento familiar e social e menor permissividade sexual.

Koenig e Larson (2001) concluíram existir uma associação positiva entre saúde mental e religião (sujeitos mais religiosos são mais saudáveis e com menos transtornos mentais) e o impacto positivo da religião fica mais evidente em situações de envelhecimento, doenças físicas e perda de habilidades físicas e sociais. Koenig mostra que maior frequência à igreja (ou comunidade religiosa) está associado a uma menor prevalência de doença mental.

Kendler (1997). Muito elogiado por Dalgalarrondo, estudou 1698 pares de gêmeas e mostrou que a “devoção religiosa pessoal” protege as mulheres da depressão ante efeitos estressantes. Em um segundo estudo (2003) com 2616 gêmeos de ambos os sexos, ele mostrou que a religiosidade geral e outras categorias da religião estão associadas a menor prevalência de transtornos externalizantes (dependência de álcool e nicotina, abuso e dependência de drogas ilícitas e comportamento anti-social).

O autor também fala dos aspectos negativos da religião sobre a saúde mental, mas trataremos em outra matéria.