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14.3.09

OS SONHOS NA OBRA DE KARDEC

Sonho de uma noite de verão, de Edward Hughes

Cada vez mais espíritas iniciam-se no estudo do Espiritismo através de obras contemporâneas. Em Minas Gerais, André Luiz é um autor muito discutido nas casas espíritas, dado o prestígio da mediunidade, vida e obra de Chico Xavier.

Não obstante, muitos núcleos têm perdido o hábito de estudar os livros de Kardec e dos espíritas do século XIX, que tiveram o interesse de desenvolver uma teoria espírita mais ampla, em diálogo com os espíritos.

Um dos resultados inesperados, são os equívocos que a geração sem Kardec vai cometendo, de boa fé, por falta de conhecimento do corpo teórico do Espiritismo. Um dos casos ilustrativos desta situação é a visão que se tem dos sonhos.
Ao longo de sua obra, algumas vezes André Luiz narra e explica sonhos de personagens que tinham percepções do mundo espiritual, que passavam por alguma vivência com outros espíritos, e o ex-médico mostra as deformações de conteúdo entre a percepção espiritual do espírito do sonhador e as imagens oníricas, as quais ele recordaria após despertar.
Isto levou muitos espíritas dedicados a reduzirem os sonhos às vivências do espírito encarnado temporariamente liberto do corpo.


O Sonho, de Pablo Picasso

Embora Allan Kardec aceitasse esta possibilidade, ele propõe um quadro muito mais amplo.
Em "O Livro dos Espíritos", no capítulo intitulado "Da Emancipação da Alma", Kardec conclui que muitas podem ser as causas das imagens oníricas percebidas pela pessoa que dorme. Irei apenas listar e citar as origens dos sonhos propostas pelo codificador:

1) A recordação do passado (questão 402)

2) A recordação de encarnações anteriores (comentário da questão 402)

3) A previsão do futuro (questão 402)

4) O pressentimento do momento da morte (questão 410)

5) A comunicação com espíritos desse mundo (questão 402)

6) A comunicação com espíritos encarnados (questão 404)

7) A comunicação com espíritos de outros mundos (questão 402 e comentários)

8) A percepção do que se passa em outros lugares, para onde a alma se transporta (questão 404)

9) A representação de preocupações do estado de vigília, efeito da imaginação (questão 405)

Não satisfeito com a abordagem do tema, Allan Kardec o retoma em "A Gênese". Neste novo texto ele adicionaria: a percepção de "criações fluídicas do pensamento" do próprio sonhador, causadas possivelmente pela "exaltação das crenças, por lembranças retrospectivas, por gostos, desejos, paixões, temor, remorsos, pelas preocupações habituais, pelas necessidades do corpo ou por um embaraço nas funções do organismo; finalmente, por outros espíritos, com objetivo benévolo ou malévolo, conforme sua natureza." (páginas 292 a 293 da edição de 1973)

Como se pode ver, Kardec propõe causas orgânicas, psicológicas, parapsicológicas e espirituais dos sonhos, três décadas antes de Freud escrever "A Interpretação dos Sonhos".

17.9.08

Letargia e Catalepsia

Figura 1: Yvonne Pereira, médium brasileira, quase foi enterrada na tenra infância por ter sido considerada morta pelos médicos (letargia).


Allan Kardec utilizou alguns conceitos próprios de sua época para a exposição de teses espíritas. Alguns deixaram de ser usados pelas respectivas áreas da ciência, o que exige do leitor da codificação um resgate do sentido dos termos na época e do contexto teórico no qual eles foram utilizados para uma compreensão clara do raciocínio do codificador e dos espíritos que dialogaram com ele.

Letargia e Catalepsia são conceitos associados à tese da emancipação da alma e que com o passar do tempo foram ganhando novos sentidos até caírem em desuso na Medicina e na Psicologia.

É possível que o sentido utilizado por Kardec tenha sido obtido nas teorias do magnetismo animal desenvolvidas depois de Mesmer, especialmente na obtenção do sonambulismo provocado.

Letargia, em “O Livro dos Espíritos” significa em estado de “perda temporária da sensibilidade e do movimento”, em que o corpo parece morto, no qual os sinais vitais se tornam quase imperceptíveis, a respiração reduz-se bastante e a pessoa pode ser tomada como morta.

Catalepsia em Kardec é uma espécie de letargia parcial, que atinge apenas alguns órgãos do corpo e que pode não prejudicar a comunicação com o seu portador, que poderia ter este estado induzido pelo magnetismo animal (passes, como dizemos hoje).

Alguns fenômenos parapsicológicos (humanos, mas não estudados convenientemente pela Psicologia) podem ser encontrados concomitantemente a estes dois estados. Um deles é a hiperestesia, ou seja, uma ampliação paradoxal da capacidade dos sentidos. Há registros de casos de sonâmbulos que, em estado cataléptico, eram capazes de descrever o que acontecia a uma distância muito superior à capacidade de nossos órgãos, ou de descrever, por exemplo, percepções que eles alegavam ter de órgãos internos do organismo de pacientes que lhes eram trazidos.

Kardec analisou situações de quase-morte na Revista Espírita. Há diversos casos de letárgicos, pessoas que chegaram a ser consideradas mortas pela medicina da época como a Sra. Schwabenhaus (Revista Espírita, 1858) ou que passaram por situações de claro risco de morte, ou como o Dr. D. (Revista Espírita, 1867), que ficou mais de meia hora debaixo d’água e foi resgatado e retomou a consciência.

Outro caso apresentado por Kardec é o da jovem cataléptica de Souabe, que após um evento traumático (morte da irmã), entrou em um estado entre cataléptico e letárgico e passou a ser capaz de descrever pessoas enterradas, bastando ser levada próxima ao túmulo e a descrever a aparência de pessoas idosas que a visitavam quando eram jovens e sem modificações do tempo e das doenças.

Eles narram histórias envolvendo o contato com pessoas desencarnadas e descrições do plano espiritual. Por esta razão, Kardec teorizou que os sonâmbulos, letárgicos e catalépticos perceberiam o plano espiritual, ou dariam notícias de eventos à distância porque perceberiam com a alma, semi-liberta do corpo (emancipação) que transmitiria suas sensações espirituais ao cérebro.

Posteriormente, o hipnotismo e a neurologia dariam um outro sentido à letargia e à catalepsia, que hoje se encontram em desuso (muitos hipnotizadores ainda os utilizam), substituídas pelo conceito mais preciso de “coma”, mas os estranhos fenômenos descritos por Kardec continuam acontecendo, como se pode ler no livro “Vida além da Vida” do Dr. Raymond Mood Jr. e nos estudos de experiências de quase-morte, que se transformou em linha de pesquisa de médicos e parapsicólogos modernos.