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9.9.11

AS FOX E A MEDIUNIDADE COMO OFÍCIO


Peça publicitária da época

Dando continuidade à biografia das Irmãs Fox escrita por  Weisberg, ela trata como nenhum outro que li sobre a mediunidade paga. Para Barbara é como se as Fox houvessem criado um novo ofício, mais bem remunerado que qualquer outro ao seu alcance social, como mulheres de classe média-baixa dos Estados Unidos.

Um dólar por atendimento, é o preço que aparece em algumas partes do texto, em outras elas negociam o valor de uma temporada a serviço de pesquisadores, por exemplo, que ficam na faixa de milhares de dólares. Dependendo do ofício, elas receberiam três dólares por semana em uma fábrica, para termos noção do valor da moeda americana àquela época.

Apesar da vigilância de Margaretta Fox, em sua juventude, e dos cuidados de alguns amigos na idade adulta, o ofício as expunha em demasia para a época. Homens as procuravam em um misto de curiosidade e com um desejo interessado no toque de mãos para a realização dos fenômenos. Alguns, mais rudes, gabavam-se disto.

Outra coisa curiosa eram as tourneés por cidades norte-americanas. As médiuns viajavam em busca de um público novo que as pudesse remunerar por algum tempo. O fenômeno tornava-se mais importante que o conteúdo do que diziam os espíritos através delas.


William Crookes (?)  examina uma médium

Barbara não poupa tinta para tratar das fraudes de médiuns profissionais para se manterem nesta nova indústria. Cúmplices, truques de magia, articulações estalantes, ventriloquia, sapatos com chumbo para serem seguros pelos ingênuos observadores, tudo isso é descrito, e as Fox dão mostras de conhecerem estes artifícios. Teriam utilizado estes truques para não descontinuarem suas sessões? Não se sabe. Barbara afirma que não foram flagradas fazendo truques em quarenta anos. O máximo que se conseguiu foi o relatório dos observadores de Buffalo, que não obtiveram batidas após imobilizarem com as mãos os joelhos das jovens.

Penso que muito sofrimento seria poupado se elas aceitassem o conselho evangélico de Allan Kardec: "Dai de graça o que de graça recebestes", ou a sabedoria prática de Chico Xavier. "O telefone toca de lá para cá."

8.9.11

MAGGIE E ELISHA KANE


Capa do livro em inglês

Outro ponto alto do livro "Falando com os mortos" é o envolvimento de Maggie Fox com o Sr. Elisha Kane. Barbara Weisberg desenha um Kane igualmente contraditório. Ao mesmo tempo que se apresenta à sociedade norte-americana como herói, é uma pessoa dependente dos pais, do dinheiro dos pais e da imagem que ele cria de si mesmo na sociedade.
Não se sabe se ele se apaixona por Maggie ou se ela se torna um de seus caprichos, mas ele a proíbe de praticar a mediunidade, a interna em uma escola para mulheres e exige sua conversão ao catolicismo, em vão, posto que suas tentativas de fazê-la aceitável pela rígida sociedade vitoriana e por seus pais não é bem sucedida. Margareth vai viver à sombra deste homem, que resolve sair em expedição ao ártico.
Como não foi aceita pelos pais, Kane exige que um jornal retrate a notícia de que ela iria casar-se com ele após sua volta do Ártico, mas continua a procurá-la. Para o Kane público, Maggie era apenas um ato de caridade, mas para o Kane privado, Maggie parece ser uma fixação.
Elisha Kane no ártico
Kane resolve fazer uma cerimônia particular e não oficial de casamento, enfrentando a oposição de Margaretta Fox (mãe de Maggie). Margareth se submete a esta situação e fica na ingrata situação de ser esposa de Kane sem o ser formalmente. A morte de Elisha Kane a deixará em uma situação ingrata, abandonada pela família, sem profissão (a não ser médium) e sem herança, apenas com as cartas de amor que trocaram e que ela resolve publicar em forma de livro.
Abandonada e frustrada em seus sonhos de mulher, ela voltará a fazer sessões mediúnicas após a morte de seu companheiro, que ela insiste em apresentar como marido, mas que não será capaz de lhe assegurar o futuro após a morte.

Eu pesquisei alguns sites norte-americanos que tratam do tema e achei muito curiosa a identificação das autoras com Margareth. Por que mulheres do século XXI consideram-se semelhantes a uma mulher do século XIX, à parte da sociedade, em busca do amor de um homem que a tripudia? Mistério.

6.9.11

O ALCOOLISMO NA FAMÍLIA FOX



A história das Irmãs Fox se encontra repleta de contradições, uma vez que foi contada por simpatizantes e adversários. Seguramente, seu pioneirismo em assumir publicamente a condição de médiuns lhes trouxe mais adversários que simpatizantes em uma sociedade de origens protestantes, como é a norte-americana, e em uma época vitoriana, como é o século XIX.

Inspirados pela versão adversária, e com algum gosto pelo trágico, Stine Nymand Svensson and Elianna Morningstar Hansen fizeram este curta-metragem de animação.

Kate aparece alcoólatra desde a infância e com a aceitação da família, especialmente de Leah, sua irmã mais velha, o que é difícil de aceitar. Leah aparece como uma exploradora da mediunidade das irmãs, e Margaretta (mãe das Fox) está ausente, o que é também incoerente com o que se tem nos trabalhos encontrados sobre a família.

Barbara Weisberg, citada na última publicação do EC, afirma que na juventude o pai das Fox era alcoólatra e jogador (p. 60), o que gerou o afastamento entre ele e a esposa.

John abandonou seus hábitos em 1830, tornando-se metodista e líder em sua comunidade. (p. 63) As doutrinas evangélicas do livre-arbítrio desta época, que atingiram a comunidade batista, metodista e presbiteriana (p. 63) podem ter sido a razão para o abandono do álcool pelo Sr. John, que iniciou vida nova. É nesta vida nova que ele reatou seu casamento com Margaretta e nasceram suas filhas Margareth e Kate.

As meninas devem ter sido criadas em um ambiente de austeridade, contudo, o alcoolismo manifestaria-se na história de Kate. Weisberg relata problemas domésticos e sociais de Kate em 1886, quando ela é flagrada bêbada em um bar, após a morte de seu marido Henry Jenken. Em 1888 ela foi presa, acusada de negligenciar seus filhos, Ferdie e Henry. "Altos e esguios, com olhos brilhantes, Ferdie e Henry pareciam muito bem-cuidados  aos oficiais de polícia, mas Kate estava inegavelmente bêbada". (p. 335)

Kate afirmou ao jornal World, de Nova York, que "... quando ela e a irmã, Maggie, eram jovens e famosas, forma levadas para inúmeros jantares e festas regadas a álcool; as pessoas lhes enviavam cestas com garrafas de champagne. Foi assim que nasceu seu hábito de beber." (p. 335)

A referência mais antiga que encontrei envolvendo as Fox ao álcool (mas não ao alcoolismo) no trabalho de Weinberg (p. 2690, foi publicada por George Templeton Strong, que se limitava a dizer, em torno de 1852, que "ópio, álcool e excitação mental" desempenhavam papel importante nas manifestações.

Conan Doyle (p. 115) no seu "História do espiritualismo" (traduzido indevidamente como "História do espiritismo") entende que após um fenômeno de efeito físico, muitos médiuns tentavam recuperar suas forças por meio de álcool, e que sentiam-se tentados a fraudar "quando as forças se ausentam" e que sofrem a influência de espíritos "que cercam um grupo promíscuo".

Seguramente a questão do alcoolismo das Fox vai além do uso após as sessões, e como propõe Barbara Weinberg, tem base na sua história familiar, e, arrisco dizer, na situação de franca hostilidade e pressão a qual se encontravam constantemente expostas, associada a aceitação social e pessoal do uso de álcool.

Se os autores do curta acima não são fiéis às biografias existentes (não posso dizer que maldosamente), não se pode deixar de reconhecer a triste trajetória das irmãs Fox pela mediunidade profissional, e pela fragilidade, principalmente de Kate, ao alcoolismo

5.9.11

MAIS SOBRE A VIDA DAS IRMÃS FOX

Margareth e Katie Fox


Barbara Weisberg fez a incursão que muitos de nós gostaríamos de fazer e publicou seu diário de viagens com o título “Talking to the dead: Kate and Maggie Fox and the rise of spiritualism” indevidamente traduzido para “Falando com os mortos: as irmãs americanas e o surgimento do espiritismo”, possivelmente para atingir o público espírita.

O passeio é generoso. Barbara consultou livros, revistas e documentos de diversos arquivos em busca das Fox. Discutiu seus manuscritos com muitos especialistas, procurou descendentes e nos ofereceu não apenas um trabalho biográfico, mas todo um cenário dos eventos sociopolíticos e culturais dos Estados Unidos e Inglaterra no período da vida das Fox.

A primeira pergunta que se faz quando se está diante de um trabalho biográfico polêmico como este é: qual é a visão da autora? Ela é espiritualista? Ela é cética? Ela é uma feminista escrevendo sobre mulheres do século XIX? Não tenho uma resposta. Seu texto oscila entre cada uma destas três tendências, ou, pelo menos, das duas últimas.

Um ponto positivo: ela se esforça para apresentar sempre as opiniões dos que creem nos fenômenos e dos que estão obsessivamente procurando pelos truques que Kate e Maggie Fox teriam produzido.

Apesar da simpatia que ela desenvolve por Kate e Maggie, talvez por percebê-las como mulheres ativas em um mundo extremamente limitado para a mulher, Barbara não oculta os fatos, nem os dissimula: relatórios favoráveis e desfavoráveis, o alcoolismo do pai e depois das duas irmãs, a prisão a que se submeteu Maggie Fox na esperança do amor, ou pelo menos do casamento de Elisha Kane, as fantasias, as declarações que elas fizeram de ter fraudado os fenômenos, seguida do desmentido de sua própria declaração, tudo isso é descrito e exaustivamente referenciado ao longo do seu texto.

O livro aponta para uma época esquizofrenicamente intolerante e interessada. As Fox sofrem ao mesmo tempo o assédio público e o repúdio, comum a muitas personalidades famosas dos dias de hoje, o que legou ao futuro controvérsias e versões sobre sua vida.